De maneira sucinta, podemos definir cultura como tudo aquilo que faz parte da construção humana ao longo do tempo. Essas ações produzidas pelos homens ganham importância e relevância, devido a valores atribuídos pelos indivíduos e pelos grupos sociais.
Já patrimônio cultural pode ser definido como:
Um conjunto de bens de natureza material ou imaterial que preserva a memória e a identidade dos mais diversos grupos sociais, sendo um aspecto importante ao acesso à cidadania.
A memória coletiva sofre influência das correlações de forças sociais. Lembrar e ser esquecido se torna uma preocupação de governos, classes, grupos e indivíduos. De acordo com o historiador Jacques Le Goff,
“Os esquecimentos e os silêncios da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da memória coletiva”.
Como podemos depreender das reflexões de Le Goff, a memória coletiva é um instrumento e um objeto de poder. Por exemplo, na transição do Império para a República houve um esforço para substituir símbolos que remetessem ao Império. Assim, tentaram criar um novo hino nacional, elaboraram uma nova bandeira, expulsaram a Família Real, criaram novas instituições, etc.
Infelizmente, a maior parte da sociedade brasileira não incorporou a valorização dos bens culturais e os governos refletem a sociedade que tem, por isso os investimentos nas áreas de cultura são escassos, tratando a identidade e a memória coletiva como “artigo de perfumaria”. Isso ficou muito evidente com o incêndio do dia 02/09/2018, que destruiu o Museu Nacional – um caso de total descaso de nossos governantes há décadas.
O Museu Nacional é a instituição científica mais antiga do Brasil. Foi fundado por Dom João VI em 06 de junho de 1818 com o nome de Museu Real. Ironicamente, completou 200 anos no ano de 2018, data de sua “morte”.
O prédio que abrigou o Museu era o antigo Palácio de São Cristóvão, localizado no parque da Quinta da Boa Vista.
O palácio serviu de residência à família real portuguesa de 1808 a 1889 e sediou a Assembleia Constituinte que resultou na primeira constituição republicana (1891).
O Museu Nacional abrigava mais de 20 milhões de itens de registros da memória brasileira em diversas áreas do saber, com destaque para as famosas coleções do Egito Antigo (maior da América Latina) e o mais antigo fóssil humano encontrado no país (Luzia).
Conheça algumas exposições por meio dos vídeos institucionais:
http://www.museunacional.ufrj.br/videos/index.html
Certamente, esse tema é muito quente para aparecer nas propostas de redação e até mesmo nas provas de atualidades. Aliás, já apareceu! A banca FCC foi a primeira a cobrar o tema no concurso do SEAD-AP, cargo de analista.
Texto Motivador I: Com o incêndio do Museu Nacional não pusemos a perder somente pesquisas e peças antiquíssimas de um valor que não se pode ser medido, mas registros fonográficos de povos indígenas cujas línguas não não existem e que constituem não apenas um documento linguístico, mas compunham o retrato de uma cultura.
Texto motivador II: O regramento social dentro de uma cultura plural e mesmo entre culturas distintas não se pauta apenas em noções abstratas de justiça e igualdade, mas em noções concretas extraídas de experiências, das necessidades e anseios das pessoas.
Tema: o papel da memória na compreensão de uma sociedade.
Essa realidade de total descaso com os museus, com a memória e com a identidade não é um caso isolado. A título de exemplo temos o Museu Cabangu, na cidade de Santos Dumont/MG, que possui um acervo rico do aviador, mas que se encontra em estado calamitoso. Inclusive, por falta de repasses dos entes da federação, a Fundação que faz sua gerência está realizando uma vaquinha online (https://www.kickante.com.br/campanhas/ajude-museu-cabangu-0) para não “fechar as portas”. Outro exemplo é o Museu Mariano Procópio, um dos mais importantes do Brasil, localizado na minha cidade, Juiz de Fora/MG, que está fechado há 15 anos.
A maioria da população ainda não dá a devida importância ao patrimônio cultural, visto a ausência de uma educação patrimonial nas escolas e não há nenhum esforço dos governos para que isso possa acontecer.
Em nossa atualidade, marcada por características como o individualismo, incertezas, pressa, ritmo social acelerado, acaba comprometendo a contemplação e o tempo necessário para a construção e apropriação de identidades. Ou seja, para que uma pessoa denote valor a algo é preciso que ela tenha pertencimento, tome determinado espaço como seu, por isso, a importância de ter tempo livre para conhecer e usufruir os patrimônios culturais.
Para o emérito pensador Zygmunt Bauman vivenciamos uma “Modernidade Líquida”, na qual tudo está em estado de liquidez, isto é, as relações são frágeis e efêmeras. É uma sociedade marcada por práticas consumistas, na qual o descarte do “velho” e o surgimento do “novo” é uma constante. Nesse tipo de sociedade, há uma pressa em consumir e obter o máximo de prazer num intervalo de tempo pequeno. Contudo, contemplar um patrimônio histórico e sentir uma beleza natural demanda tempo, reflexão.
Visto esse contexto nada animador, é preciso pensar numa educação cultural que permita aos indivíduos ultrapassarem os limites de uma sociedade acostumada em consumir coisas rápidas e descartáveis.
De alguma forma é preciso reformular as relações entre o sujeito e as produções culturais, a fim de garantir o direito à memória e acesso à cidadania. É importante lembrar que essa tarefa não é tão somente da escola, mas também da família, da comunidade e dos governos.
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Ver comentários
Excelente professor.
Olá, Olivia! Boa tarde.
Obrigado por ler o artigo :)
Obrigada professor!!!!
Suas aulas e comentários são excelentes, não percebemos a hora passar.
: )
Olá, Rosicler! Boa tarde.
Fico muito feliz em saber disso :) Abs
Que coisa boa!
Já dizia vovó, ``não ajuntemos galinhas demais no terreiro, pois decerto que alguma praga dará cabo a todas algum dia!´´; Alexandre Magno da Macedonia (O Grande), sem luta alguma, entrou no Egito e ao ser eleito Faraó, em Menphis (332-323 AC), pelo próprio povo egípcio, em seguida e ainda no final da era de incertezas dos reinados de Faraó daquele Egito antigo, fundou Alexandria e lá construiu a maior biblioteca de todos os tempos... inevitavelmente foi incendiada criminosamente. A história então já é bem conhecida da humanidade e guardar conhecimento cultural étnico, não faz parte da nossa evolução neste planeta, inclusive porque muitas outras culturas até mais avançadas do que a nossa do seculo XXI que já passaram por este planeta, simplesmente não temos os seus registros culturais. Percebe-se que ao longo dos tempos a memória precisa ser ``apagada-dizimada da face da terra´´como as galinhas da vovó, para que outras culturas evoluam sem quaisquer influências de outras sociedades étnicas, buscando com isto uma evolução de cada cultura, buscando talvez com isto descobrir-se qual será a melhor cultura para a espécie, sem as influências do passado, mirando tão e somente no futuro da sobrevivência da humanidade!
Olá, Simoes! Boa tarde.
Obrigado pela participação e pela contribuição. Particularmente, discordo do seu ponto de vista. Nele, há uma reflexão de superioridade cultural que, antropologicamente e historicamente, não faz sentido algum. Não há como uma sociedade avançar em termos de civilização sem considerar o seu passado. Abs
Tema muito bom para quem vai fazer a redação discursiva com atualidades. Gostei da abordagem em relação ao tema e quando cita alguns teóricos pois é fundamental para o concurseiro
Olá, Claudineia!
Que bom que gostou :) Acho que você poderá gostar deste curso: https://www.estrategiaconcursos.com.br/curso/ciencias-humanas-para-redacao-2019/
Abs
Professor boa tarde, ótimo post, ajudou bastante!!! Alguma sugestão de temas para o concurso do CBM-MG que será no dia 20/01/2019 (faltam poucos dias).
Parabéns pela contribuição social, como legado cultural a uma população sôfrega de orientações e saberes diferentes, como aludido pelo educador pernambucano Paulo Freire. Certamente, essa explanação e elucidação sobre este tema atual, no ajudará a termos repertórios para a dissertação.