Artigo

TRT 4ªR Comentário da Prova de Português

Parabéns, aos guerreiros e guerreiras que enfrentaram o concurso do TRT RS!!!!

Muita gente mandando mensagem e mostrando que foi bem, isso é ótimo! É sinal de que o esforço valeu a pena!

Mas alguns concurseiros comentaram que tiveram problemas em algumas questões de Português, basicamente a prova de Analista Administrativo, e é por isso que vou comentar as que suscitaram dúvidas, ok?!

A minha prova de referência é a “AA”, tipo 002.

Alguns candidatos reclamaram da questão 3, a qual segue abaixo:

Questão 3: A frase em que o segmento destacado expressa uma circunstância restritiva é:

(A) (linha 13) Nosso objetivo é lidar com uma forma de arte cujas obras mais populares e duradouras foram quase sempre escritas num distante passado europeu.

(B) (linha 2) Nesse sentido, é muito óbvio que ela não seja realística. […]

(C) (linha 3) Além disso, é quase sempre bastante cara de se encenar e de se assistir.

(D) (linha 4) Em nenhum momento da história a sociedade, como um todo, conseguiu sustentar facilmente os custos exorbitantes da ópera.

(E) (linha 10) Essas perguntas são mais sobre a ópera tal como ela é hoje em dia […]

“O que seria esta circunstância restritiva, Terror?”

Moçada, para resolver esta questão, bastava vocês se lembrarem de que elemento restritivo é aquele que seleciona elementos de um grupo, isto é, não se quer o grupo todo, mas parte dele. Sintaticamente, temos o adjunto adnominal e a oração subordinada adjetiva restritiva, elementos que são restritivos por natureza. Assim, o pronome “Nosso”, da alternativa (A), “Nesse”, da alternativa (B), e “Essas”, da alternativa (E), já transmitem valor restritivo por serem adjuntos adnominais.

Vale lembrar que a expressão “Além disso” é denotativa de inclusão, não possui valor de restrição, mas simples adição. Assim, eliminamos a alternativa (C).

A expressão “Em nenhum momento da história” é adjunto adverbial de tempo. Note que o pronome “nenhum” não transmite valor restritivo, mas pura e simplesmente valor de anulação, negação. Assim, também temos certeza de que a alternativa (D) deve ser excluída.

Relendo as alternativas (A), (B) e (E), as quais possuem pronomes com valor restritivo, e lendo novamente o pedido da questão, vemos que a banca quer uma circunstância restritiva. Sabemos que a circunstância é um valor peculiar do adjunto adverbial. Assim, fica fácil notar que a expressão “Nesse sentido” ocupa tal função, fazendo com que a alternativa (B) seja a correta.

As alternativas (A) e (E) não apresentam circunstância, porque as expressões sublinhadas ocupam a função de sujeito.

Bom, matamos a questão simplesmente pelos conhecimentos adquiridos da palavra “circunstância” e “restritivo”.

Gramaticalmente, a expressão “Nesse sentido” tem a classificação sintática de adjunto adverbial de enquadramento semântico, segundo um dos “papas” da língua materna, Evanildo Bechara. A peculiaridade desse adjunto adverbial é justamente transmitir uma circunstância restritiva. Mas, logicamente, você não precisava ter estudado isso para resolver esta questão, ok?!

Agora, vamos para outra:

Questão 4: Queremos investigar por quê. (final do texto)

Ficarão preservadas a correção e a clareza da frase acima, sem prejuízo do sentido original, com a substituição do segmento destacado por

(A) seja qual for as motivações disso.

(B) suas razões.

(C) o seu porquê.

(D) por que motivos.

(E) porque ela nos transforma.

Esta questão cobrou o uso dos porquês e do pronome possessivo. Para resolvê-la rapidamente, bastaria trocar o pronome interrogativo substantivo “quê”, em “por quê” pelo pronome interrogativo adjetivo “que”, em “por que motivos”.

Assim, já sabemos que a alternativa correta é a (D).

Porém, esta foi a saída gramatical e estudamos isso quando nos aprofundamos no emprego dos pronomes. Mas, se o candidato não estudou aprofundadamente isso, poderia muito bem matar a questão, sem problemas, partindo de análises de coerência. Vamos achar primeiro as alternativas evidentemente erradas. Basta substituir e perceber que não há coerência.

A alternativa (A) está errada e logo se vê que a expressão “seja qual for” fica incoerente após o verbo “investigar“. Se excluíssemos a expressão “seja qual for“, seria esta a resposta.

A alternativa (E) está errada, pois o verbo “investigar” força o emprego de uma oração subordinada substantiva objetiva direta, a qual faria parte de uma frase interrogativa indireta. Assim, caberia apenas a expressão interrogativa “por que“, prova disso é que conseguimos subentender a palavra “motivos“. Veja: Queremos investigar por que (motivos) ela nos transforma.

Agora vamos a três alternativas que fizeram com que alguns candidatos quebrassem a cabeça:

Primeiramente, veja que as expressões “suas razões” e “o seu porquê” têm o mesmo sentido, a mesma ideia e estariam gramaticalmente corretas. Assim, você já sabe que há algo errado: não pode haver duas respostas corretas.

Bom, a banca queria que você percebesse que o pronome possessivo (“seu”, “suas”) deve se referir a um substantivo, por exemplo: sua casa, isto é, casa de Fulano. Assim, o valor de posse deve se referir a um substantivo.

Mas vamos ao contexto. Veja que a frase interrogativa indireta “Queremos investigar por quê.” faz referência à ação anterior: o fato de a ópera poder nos transformar. Assim, não é o porquê da ópera, não são as razões da ópera. Mas sim a razão de a ópera poder nos transformar. Por esse motivo, eliminamos as alternativas (B) e (C).

Agora, sim, sobra a correta: a alternativa (D), pois a expressão interrogativa indireta “por quê” tem o mesmo valor de “por que motivos”. Inclusive a banca só queria que você percebesse que, para termos certeza de que há uma expressão interrogativa, basta inserir a palavra “motivo” em seguida.

A questão foi simples, mas deixou alguns candidatos com a pulga atrás da orelha na hora da prova!!

 

Agora, vamos a uma questão que foi mal formulada, mas não acredito que a banca a anule e mostro abaixo por quê.

Questão 7: Em nenhum momento da história a sociedade, como um todo, conseguiu sustentar facilmente os custos exorbitantes da ópera.

Na frase acima, a locução verbal está empregada com regência idêntica à presente em:

(A) Jamais se afastou daquele velho conselho do pai.

(B) O crítico elegeu o jovem cantor o maior artista da temporada.

(C) Apresentou-nos currículo repleto de menções honrosas.

(D) Sem falsa modéstia, recebeu a ovação com elegância e alegria.

(E) Tentou cantar de modo condizente com as recomendações do maestro.

A locução verbal é “conseguiu sustentar”, cujo verbo principal (“sustentar”) é transitivo direto e o termo “os custos exorbitantes da ópera” é o objeto direto. Vale lembrar que o advérbio “facilmente” é o adjunto adverbial de modo.

Assim, a mesma regência seria apenas acharmos o verbo transitivo direto, com seu objeto direto.

A alternativa (A) está errada, pois o verbo “afastou” é transitivo direto e indireto, o pronome reflexivo “se” é o objeto direto e “daquele velho conselho do pai” é o objeto indireto.

A alternativa (B) estaria correta, pois o verbo “elegeu” é transitivo direto e seu objeto direto é o termo “o jovem cantor”. Note que o termo “o maior artista da temporada” é o predicativo do objeto direto.

A alternativa (C) está errada, pois o verbo “Apresentou” é transitivo direto e indireto, o pronome “nos” é o objeto indireto, “currículo repleto” é o objeto direto e “de menções honrosas” é o complemento nominal.

A alternativa (D) também estaria correta, pois o verbo “recebeu” é transitivo direto e seu objeto direto é o termo “a ovação”. Note que o termo “com elegância e alegria” é o adjunto adverbial de modo.

A alternativa (E) está errada, pois o verbo “cantar”, neste contexto, é intransitivo e o termo “de modo condizente com as recomendações do maestro” é o adjunto adverbial de modo.

Bom, vimos duas alternativas corretas. Na hora da prova, sabemos que alguma coisa está errada. Então, devemos ver o que aproxima mais a frase da questão e a de uma das alternativas.

No pedido da questão, temos, além do objeto direto, o adjunto adverbial de modo “facilmente”, termo que não aparece na alternativa (B).

Analisando mais atentamente, a alternativa (D) é a correta, pois, assim como ocorre na frase do pedido da questão, há o objeto direto e o adjunto adverbial de modo.

 

Sinceramente, a questão foi mal bolada, pois regência trabalha a transitividade e pronto. A regência verbal trabalha a transitividade verbal e seus complementos verbais. A regência nominal trabalha a transitividade nominal e o complemento nominal. Os demais termos não dizem respeito à regência, à transitividade. A questão poderia ter pedido os mesmos valores sintáticos. Isso deixaria a questão mais clara e correta.

Acho difícil a banca anular uma questão por esse vício no pedido da questão, porque, por eliminação, todos teriam condições de chegar a esta alternativa.

 

 

 

Se você teve mais dúvida nesta prova ou na de nível técnico, especifique a questão e o motivo de sua dúvida, eu explico a você.

 

Também pode mandar para o meu whatsapp: (32) 8447 5981.

 

Abraço a todos!

Professor Terror

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Veja os comentários
  • Obrigada, professor. Ajudou muito!!!
    Thaci em 16/09/15 às 11:45
  • Professor, obrigado pelos esclarecimentos! Reitero a pergunta do colega acima quanto à questão 3 da prova tipo 4 AJAJ: Tem sustentação no texto a ideia de que (A) a efemeridade é um traço característico de todo objeto, fato, ou acontecimento cultural, que merece reprovação. (B) obras eruditas têm, como sempre tiveram, público cativo, mas, em vista das atuais tendências musicais, ele está prestes a se esgotar. (C) as formas de arte que mais se eternizam são as que têm raízes na tradição popular, sustentáculo das legítimas expressões culturais. (D) obras de arte concebidas em certa cultura podem ter seu valor depreciado quando o eventual fruidor fizer parte de outro contexto cultural. (E) as questões fundamentais sobre a ópera são passíveis de ser postas e respondidas somente no contexto do século XXI, depois de uma jornada de quatrocentos anos até a contemporaneidade.
    Everton Carpinete de Oliveira em 15/09/15 às 23:24
  • Ola Prof. Décio, Poderia comentar as questões 1 e 2 do Caderno de Prova AX, Tipo 002. (o enunciado delas diz o seguinte: 1) Os autores do texo; 2) Tem sustentação no texto a ideia de que). Grato.
    Heraclio em 15/09/15 às 21:48
  • Prof, boa noite! Nesta questão 3, prova tipo 4, AJAJ, não estariam todas as alternativas extrapolando o exposto no texto?! Desde já, muito obrigada. Tem sustentação no texto a ideia de que (A) a efemeridade é um traço característico de todo objeto, fato, ou acontecimento cultural, que merece reprovação. (B) obras eruditas têm, como sempre tiveram, público cativo, mas, em vista das atuais tendências musicais, ele está prestes a se esgotar. (C) as formas de arte que mais se eternizam são as que têm raízes na tradição popular, sustentáculo das legítimas expressões culturais. (D) obras de arte concebidas em certa cultura podem ter seu valor depreciado quando o eventual fruidor fizer parte de outro contexto cultural. (E) as questões fundamentais sobre a ópera são passíveis de ser postas e respondidas somente no contexto do século XXI, depois de uma jornada de quatrocentos anos até a contemporaneidade.
    claudia ferreira em 15/09/15 às 21:25
  • Professor, muito obrigada pelos comentários. Não achei a prova fácil. Errei muito português. Sugestão: faça um curso com resolução de questão da "NOVA" FCC. Há de convir ELA mudou muito nos últimos concursos. abraços. Seja muito bem vindo ao Time Estratégia!!!
    Ieda de Oliveira em 15/09/15 às 20:26
  • Professor, muito obrigado e seja bem-vindo à família do ´´estratégia´´. :)
    LENNILSON em 15/09/15 às 17:39