Olá, pessoal, neste artigo trago o comentário das provas de técnico judiciário, analista judiciário e oficial de justiça do concurso TRF4 região, realizado no último domingo.
No final do artigo, você encontra um link para correção em vídeo.
Vamos lá!
Atenção: Considere o texto abaixo para responder às questões de números 1 a 5.
Tendo em vista a textura volitiva da mente individual, a perene tensão entre o presente e o futuro nas nossas deliberações, entre o que seria melhor do ponto de vista tático ou local, de um lado, e o melhor do ponto de vista estratégico, mais abrangente, de outro, resulta em conflito.
Comer um doce é decisão tática; controlar a dieta, estratégica. Estudar (ou não) para a prova de amanhã é uma escolha tática; fazer um curso de longa duração faz parte de um plano de vida. As decisões estratégicas, assim como as táticas, são tomadas no presente. A diferença é que aquelas têm o longo prazo como horizonte e visam à realização de objetivos mais remotos e permanentes.
O homem, observou o poeta Paul Valéry, “é herdeiro e refém do tempo”. A principal morada do homem está no passado ou no futuro. Foi a capacidade de reter o passado e agir no presente tendo em vista o futuro que nos tirou da condição de animais errantes. Contudo, a faculdade de arbitrar entre as premências do presente e os objetivos do futuro imaginado é muitas vezes prejudicada pela propensão espontânea a atribuir um valor desproporcional àquilo que está mais próximo no tempo.
Como observa David Hume, “não existe atributo da natureza humana que provoque mais erros em nossa conduta do que aquele que nos leva a preferir o que quer que esteja presente em relação ao que está distante e remoto, e que nos faz desejar os objetos mais de acordo com a sua situação do que com o seu valor intrínseco”.
(Adaptado de: GIANNETTI, Eduardo. Auto-engano. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, edição digital)
1. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Considere as afirmações abaixo.
I. Escolhas táticas sabiamente visam à realização de objetivos de longo prazo, cujas consequências positivas podem ser sentidas já no momento presente.
II. Por meio de decisões estratégicas, perseguem-se resultados mais duradouros, embora distantes.
III. Segundo a reflexão de David Hume, seria prudente fazer escolhas no presente considerando suas consequências para o futuro.
Está correto o que consta de
(A) I e III. (B) I e II. (C) II e III. (D) II. (E) III.
Comentários:
I. Incorreta. Escolhas ESTRATÉGICAS sabiamente visam à realização de objetivos de longo prazo, cujas consequências positivas podem ser sentidas já no momento presente.
II. Correta. Veja:
As decisões estratégicas, assim como as táticas, são tomadas no presente. A diferença é que aquelas têm o longo prazo como horizonte e visam à REALIZAÇÃO DE OBJETIVOS MAIS REMOTOS E PERMANENTES.
III. Correta. Segundo a reflexão de David Hume, seria prudente fazer escolhas no presente considerando suas consequências para o futuro. Isso porque desejar só o aquilo que está próximo é uma fonte de erros.
[tributo da natureza humana que provoque mais erros em nossa conduta do que aquele que nos leva a preferir o que quer que esteja presente em relação ao que está distante e remoto].
Gabarito letra C.
2. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
De acordo com o texto, o homem comete enganos porque
(A) imagina que renúncias feitas no presente levem a um futuro melhor.
(B) desconsidera os acertos do passado ao planejar o futuro.
(C) tem a propensão de repetir, no presente, os mesmos erros do passado.
(D) tende a dar importância desmedida ao que está mais próximo no tempo.
(E) atribui valor exagerado a objetivos situados em um futuro imaginado.
Comentários:
A fonte de erros mencionada no texto é o desejo por aquilo que está mais próximo:
Como observa David Hume, “não existe atributo da natureza humana que provoque mais erros em nossa conduta do que aquele que nos leva a PREFERIR O QUE QUER QUE ESTEJA PRESENTE em relação ao que está distante e remoto
Gabarito letra D.
(A) imagina que renúncias feitas no presente levem a um futuro melhor.
Não. O homem deseja o que está mais próximo.
(B) desconsidera os acertos do passado ao planejar o futuro.
Não desconsidera, isso foi o que nos fez deixar de ser animais errantes.
(C) tem a propensão de repetir, no presente, os mesmos erros do passado.
Não foi dito isso no texto, o homem aprende com o passado também.
(E) atribui valor exagerado a objetivos situados em um futuro imaginado.
O homem faz isso em relação ao presente: tem a propensão a atribuir um valor desproporcional àquilo que está mais próximo no tempo.
3. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Contudo, a faculdade de arbitrar entre as premências do presente e os objetivos do futuro imaginado… (3º parágrafo)
O elemento sublinhado acima introduz, em relação ao que se afirmou antes, uma
(A) oposição.
(B) causa.
(C) consequência.
(D) finalidade.
(E) conclusão.
Comentários:
Questão direta: “contudo” é conjunção adversativa e expressa oposição. Gabarito letra A.
4. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Foi a capacidade de […] agir no presente tendo em vista o futuro que nos tirou da condição de animais errantes. (3º parágrafo)
Uma redação alternativa para o trecho acima, escrita com correção e lógica, está em:
(A) Uma vez que tivéssemos tido a capacidade de vislumbrar o futuro, ao tomarmos uma decisão no presente, deixemos a condição de animais errantes.
(B) Por termos tido a capacidade de agir no presente visando o futuro, viemos a sermos tirados da condição de animais errantes.
(C) Em razão da capacidade de considerar o futuro ao agir no presente, deixamos a condição de animais errantes.
(D) Conforme a capacidade de agir, no presente com olhos postos no futuro, teremos sido tirados da condição de animais errantes.
(E) À medida que tivermos a capacidade de agir no presente considerando o futuro, sairíamos da condição de animais errantes.
Comentários:
Apontemos erros que eliminam imediatamente a alternativa.
a) Há erro de correlação: deixaríamos a condição…
b) Há erro de concordância, na locução verbal não há flexão no verbo principal: viemos a ser…
c) Correta. Aqui se reflete a relação causa-efeito original, com uso da expressão: em razão de.
d) “Conforme” é expressão conformativa que não faz marte da mensagem original; além disso, seria adequado isolar “com os olhos postos no futuro” entre vírgulas.
e) “à medida que” indica proporção, o que não consta na mensagem original. Além disso, há erro de correlação. Ambos os verbos deveriam estar em tempo futuro: tivermos e sairemos.
Gabarito letra C.
5. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
O homem […] “é herdeiro e refém do tempo”. A principal morada do homem está no passado ou no futuro. (3º parágrafo)
Considerado o contexto, o sentido do que se diz acima está corretamente reproduzido em um único período em:
(A) A principal morada do homem está no passado ou no futuro, mas este é herdeiro e refém do tempo.
(B) A principal morada do homem, na qual é herdeiro e refém do tempo, está no passado ou no futuro.
(C) O homem é herdeiro e refém do tempo, conquanto sua principal morada esteja no passado ou no futuro.
(D) Embora o homem seja herdeiro e refém do tempo, sua principal morada está no passado ou no futuro.
(E) O homem, cuja principal morada está no passado ou no futuro, é herdeiro e refém do tempo.
Comentários:
O texto original menciona a “morada do homem”, expressando “posse”. Isso está refletido em “O homem, cuja principal morada…”
Gabarito letra E.
Vejamos as demais:
(A) O “mas” traz sentido de oposição, que não aparece na mensagem original.
(B) Esse “na qual” traz uma ideia de posicionamento, o “homem é herdeiro NUMA morada”; não é a mensagem original, que é de mera posse. Sutil, mas incorreta.
(C) “conquanto” é conjunção concessiva, não faz parte da mensagem original.
(D) “embora” é conjunção concessiva, não faz parte da mensagem original.
Atenção: Considere o texto abaixo para responder às questões de números 6 a 11.
Seis de janeiro, Epifania ou Dia de Reis (em referência aos reis magos), fecha o ciclo natalino que, entre os romanos, festejava o renascimento do sol depois do solstício de inverno (o dia mais curto do ano).
Era uma festa de invocação do sol, pelo fim das noites invernais. Durante esses festejos pagãos, os papéis sociais se confundiam. Havia troca de presentes e de identidades. O escravo assumia o lugar de senhor, o homem se vestia de mulher – como se, para agradar à natureza, tivéssemos de reconhecer a arbitrariedade das convenções culturais.
Nesse intervalo de poucos dias, o homem aceitava como natural o que por convenção as relações sociais e de poder não permitiam. Ameaçado pelos caprichos da natureza, reconhecia que as coisas são mais complexas do que estamos dispostos a ver.
É plausível que Shakespeare tenha escrito “Noite de Reis”, segundo Harold Bloom sua comédia mais bem-sucedida, pensando nessa carnavalização solar, para comemorar a Epifania. A peça conta a história de Viola e Sebastian, gêmeos que naufragam ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia, e que no texto se chama Ilíria. Viola acredita que o irmão se afogou. Ao oferecer seus serviços ao duque de Ilíria, ela se disfarça de homem, assumindo o nome de Cesário. É o suficiente para pôr em andamento uma comédia de erros na qual as identidades serão confrontadas com a relatividade das nossas convicções.
O sentido irônico do subtítulo da peça − “o que bem quiserem ou desejarem” − dá a entender que os desejos desafiam as convenções que os encobrem. As convenções se modificam conforme a necessidade. Os desejos as contradizem. Identidade e desejo são muitas vezes incompatíveis.
É o que reivindica a filósofa Rosi Braidotti. Braidotti critica a banalização dos discursos identitários, uma incapacidade de lidar com a complexidade, análoga às soluções simplistas que certos discursos contrapõem às contradições. Diante da complexidade, é natural seguir a ilusão das respostas mais simples.
Sob a graça da comédia, Shakespeare trata da fluidez das identidades. Epifania tem a ver com a luz, com o entendimento e a compreensão. Mas para voltar a ver e compreender é preciso admitir que as contradições são parte constitutiva do mundo. A democracia, em sua imperfeição e irrealização permanentes, depende disso.
(Adaptado de: CARVALHO, Bernardo. Disponível em: www1.folha.uol.com.br)
6. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Depreende-se do texto que, durante os festejos romanos mencionados,
(A) havia troca de presentes entre senhores e escravos, cujos papéis sociais, entretanto, não se confundiam.
(B) eram aceitas com naturalidade certas trocas de identidade habitualmente proibidas pela organização social.
(C) pessoas do povo recuperavam tradições culturais que haviam sido abolidas pelas classes dominantes.
(D) tradições religiosas eram temporariamente suspensas e retomadas após o solstício.
(E) ritos pagãos de veneração à natureza mesclavam-se a manifestações religiosas para homenagear os reis magos.
Comentários:
Questão direta e literal: eram aceitas com naturalidade certas trocas de identidade habitualmente proibidas pela organização social.
Veja no texto:
Durante esses festejos pagãos, os papéis sociais se confundiam. Havia troca de presentes e de identidades. O ESCRAVO ASSUMIA O LUGAR DE SENHOR, O HOMEM SE VESTIA DE MULHER – como se, para agradar à natureza, tivéssemos de reconhecer a arbitrariedade das convenções culturais.
Nesse intervalo de poucos dias, O HOMEM ACEITAVA COMO NATURAL O QUE POR CONVENÇÃO AS RELAÇÕES SOCIAIS E DE PODER NÃO PERMITIAM.
Gabarito letra B.
Vejamos as demais:
a) confundiam-se sim, eram trocados.
c) as tradições não foram abolidas, não foi dito isso no texto.
d) a festa era pagã, mas não foi dito que as tradições religiosas eram suspensas
e) a festa em referência aos reis magos era pagã.
7. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
A referência à comédia de Shakespeare acentua a seguinte ideia:
(A) O aspecto lúdico dos rituais de celebração da natureza visa à aceitação dos limites impostos pelas normas sociais.
(B) Normas sociais, ainda que arbitrárias, devem ser impostas no intuito de se dominar a natureza humana.
(C) As convenções sociais lembram ao homem que a soberania da natureza deve ser reconhecida.
(D) O impulso de transpor limites convencionais gera consequências indesejáveis e deve ser evitado.
(E) As convenções sociais são arbitrárias e costumam ir de encontro a desejos humanos.
Comentários:
O texto traz inicialmente a referência à troca de papeis: “homem vestindo-se de mulher”, troca de papéis. Em seguida, menciona a peça de Shakespeare, na qual isso também ocorre:
Ao oferecer seus serviços ao duque de Ilíria, ELA SE DISFARÇA DE HOMEM, assumindo o nome de Cesário. É o suficiente para pôr em andamento uma comédia de erros na qual AS IDENTIDADES SERÃO CONFRONTADAS COM A RELATIVIDADE DAS NOSSAS CONVICÇÕES.
Portanto, a referência à peça reforça o argumento de que as convenções são arbitrárias e costumam ir de encontro a desejos humanos.
Isso fica consolidado na seguinte passagem:
O sentido irônico do subtítulo da peça − “o que bem quiserem ou desejarem” − dá a entender que OS DESEJOS DESAFIAM AS CONVENÇÕES QUE OS ENCOBREM. As convenções se modificam conforme a necessidade. Os desejos as contradizem. IDENTIDADE E DESEJO SÃO MUITAS VEZES INCOMPATÍVEIS.
Gabarito letra E.
8. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Leia as afirmações abaixo a respeito da pontuação do texto.
I. As vírgulas que isolam o segmento segundo Harold Bloom sua comédia mais bem-sucedida (4º parágrafo) podem ser substituídas por parênteses sem prejuízo das relações de sentido estabelecidas no contexto.
II. Sem prejuízo do sentido original, uma pontuação alternativa para o segmento O sentido irônico do subtítulo da peça − “o que bem quiserem ou desejarem” − dá a entender que… (5º parágrafo) é: O sentido irônico do subtítulo da peça: “o que bem quiserem ou desejarem”, dá a entender que…
III. No segmento …como se, para agradar à natureza, tivéssemos de reconhecer a arbitrariedade das convenções culturais (2º parágrafo), o segmento isolado por vírgulas assinala noção de finalidade.
Está correto o que se afirma APENAS em
(A) I e III. (B) I. (C) II e III. (D) I e II. (E) III.
Comentários:
I- Sim. A expressão conformativa possui caráter adverbial e acessório, então pode ser isolada por vírgulas, travessões ou parênteses.
II- Não. A vírgula separaria o sujeito do verbo “dá”…
III- Sim; “para agradar à natureza” é uma oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo; ou seja, um adjunto adverbial com valor de propósito.
Gabarito letra A.
9. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
É plausível que Shakespeare tenha escrito “Noite de Reis” […] para comemorar a Epifania. A peça conta a história de Viola e Sebastian, gêmeos que naufragam ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia… (4º parágrafo)
Está correta a redação da seguinte frase, em que se contemplam as principais ideias do segmento transcrito acima:
(A) Admite-se que “Noite de Reis”, de Shakespeare, em cuja a peça se conta a história dos gêmeos, Viola e Sebastian, que naufragam ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia, fora escrita em comemoração à Epifania.
(B) A peça “Noite de Reis”, em que se conta a história dos gêmeos Viola e Sebastian, naufragados ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia, pode ter sido escrita por Shakespeare em comemoração da Epifania.
(C) A fim de comemorar a Epifania, conforme se atesta, Shakespeare escreveu “Noite de Reis”, peça à qual revela a história dos gêmeos Viola e Sebastian naufragando ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia.
(D) A partir da presunção de que Shakespeare escrevera “Noite de Reis” em comemoração à Epifania, têm-se, na peça, a história dos gêmeos Viola e Sebastian cujo naufrágio se deu ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia.
(E) Conforme se atribui à Shakespeare a comemoração da Epifania por meio da peça “Noite de Reis”, em que conta-se a história dos gêmeos Viola e Sebastian, que naufragam ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia.
Comentários:
A expressão modalizadora de possibilidade “é plausível” foi resgatada pelo auxiliar “pode”. A oração final foi substantivada: para comemorar>em comemoração… Vejam a reescritura das passagens:
É plausível que Shakespeare tenha escrito “Noite de Reis” […] para comemorar a Epifania. A peça conta a história de Viola e Sebastian, gêmeos que naufragam ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia…
A peça “Noite de Reis”, em que se conta a história dos gêmeos Viola e Sebastian, naufragados ao largo do que hoje seria Croácia, Montenegro ou Albânia, pode ter sido escrita por Shakespeare em comemoração da Epifania.
Gabarito letra B.
Agora vejamos o problema das demais:
a) em cuja a peça… Não há artigo após cujo (a)(s)
10. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Depreende-se do contexto que a filósofa Rosi Braidotti, mencionada no 6º parágrafo,
(A) lança dúvida sobre a noção de que identidade e desejo possam ser conciliados.
(B) incentiva a busca de respostas simples para problemas intrincados.
(C) critica a simplificação de questões identitárias complexas.
(D) considera ilusória a complexidade dos discursos identitários.
(E) defende a ideia de que ao discurso devem corresponder ações práticas.
Comentários:
A ideia de Rosi é que as identidades são complexas e que não devem ser tratadas com simplismo, ou seja, critica a simplificação de questões identitárias complexas:
É o que reivindica a filósofa Rosi Braidotti. Braidotti CRITICA A BANALIZAÇÃO DOS DISCURSOS IDENTITÁRIOS, uma incapacidade de lidar com a complexidade, análoga às soluções simplistas que certos discursos contrapõem às contradições. DIANTE DA COMPLEXIDADE, É NATURAL SEGUIR A ILUSÃO DAS RESPOSTAS MAIS SIMPLES.
Gabarito letra C.
(A) lança dúvida sobre a noção de que identidade e desejo possam ser conciliados.
Incorreta. Não lança dúvida, o autor diz: Identidade e desejo são muitas vezes incompatíveis.
(B) incentiva a busca de respostas simples para problemas intrincados.
Incorreta. Ela condena a simplificação demasiada das identidades, que são muito complexas.
(D) considera ilusória a complexidade dos discursos identitários.
Incorreta. Considera ilusória a simplificação.
(E) defende a ideia de que ao discurso devem corresponder ações práticas.
Não disse isso em momento algum.
11. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Está correta a redação deste livre comentário:
(A) Na medida em que nossas convicções sociais são relativas, não surpreendem que as noções de identidade sejam confrontadas a elas.
(B) Deve ser visto como fator inerente à consolidação da democracia as contradições que existem na sociedade.
(C) As convenções sociais podem ser assimiladas com clareza, mas o desejo que lhes confrontam costumam ser incompreensíveis.
(D) Demanda a democracia, sistema em permanente construção, o reconhecimento de que contradições são inerentes às sociedades humanas.
(E) Em nome do temor da instabilidade da natureza, já se criou rituais onde se suspendem critérios de controle de impulsos inconscientes.
Comentários:
A letra D está perfeita: Entre o verbo e o complemento, há intercalado um aposto explicativo de democracia: “sistema em permanente construção”.
Vejamos o problema de concordância nas demais:
(A) Na medida em que nossas convicções sociais são relativas, não surpreendem que as noções de identidade sejam confrontadas a elas.
O sujeito é oracional e o verbo deve ficar no singular: não SURPREENDE que as noções de identidade sejam confrontadas a elas.
(B) DeveM ser vistAS como fator inerente à consolidação da democracia AS CONTRADIÇÕES que existem na sociedade.
(C) As convenções sociais podem ser assimiladas com clareza, mas o DESEJO que lhes CONFRONTA costumam ser incompreensíveis.
(E) Em nome do temor da instabilidade da natureza, já SE CRIARAM RITUAIS EM QUE se suspendem critérios de controle de impulsos inconscientes.
“onde” deve ser usado apenas para lugar físico.
Gabarito letra D.
Atenção: Considere o texto abaixo para responder às questões de números 12 a 14.
Renato Janine Ribeiro: A velocidade ficou maior do que as pessoas conseguem alcançar. Somos bombardeados diariamente sobre novidades na produção do hardware e do software dos computadores. O indivíduo tem um computador e, em pouco tempo, é lançado outro mais potente. Talvez em breve as pessoas se convençam de que não há necessidade de uma renovação tão frequente. A grande maioria das pessoas usam bem pouco dos recursos de seus computadores. Devemos sempre lembrar que as invenções existem para nos servir, e não o contrário. Quer dizer, a demanda é que as pessoas se adaptem às máquinas, e não que as máquinas se adaptem às pessoas.
Flávio Gikovate: Tenho a impressão de que isso não ocorre só com a tecnologia. Tenho a sensação de que sempre chegamos tarde. As pessoas compram muitas coisas desnecessárias. Veja o caso das roupas: só porque a cintura da calça subiu ou desceu ligeiramente, elas trocam todas as que possuíam. Trata-se de um movimento em que as pessoas estão sempre devendo.
(Adaptado de: GIKOVATE, Flávio & RIBEIRO, Renato Janine. Nossa sorte, nosso norte. Campinas: Papirus, 2012)
12. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Depreende-se corretamente do texto:
(A) Ao se referir ao caso das roupas (2º parágrafo), o autor assinala que a indústria da moda impõe estilos de beleza com os quais nem todos concordam.
(B) Com a afirmação de que isso não ocorre só com a tecnologia (2º parágrafo), critica-se o uso inadequado dos recursos oferecidos pelos computadores.
(C) No segmento e não o contrário (1º parágrafo), o autor reforça a ideia de que as invenções existem para servir às pessoas.
(D) Com o uso do termo bombardeados (1º parágrafo), o autor conclui que, se fosse possível, as pessoas prefeririam ser menos dependentes da tecnologia.
(E) Ao mencionar a velocidade (1º parágrafo) dos dias de hoje, o autor enaltece a tendência da indústria tecnológica de estar sempre à procura de ultrapassar a si mesma.
Comentários:
(A) Ao se referir ao caso das roupas (2º parágrafo), o autor assinala que a indústria da moda impõe estilos de beleza com os quais nem todos concordam.
Incorreto. O autor sugere que as mulheres seguem os estilos e trocam as roupas.
(B) Com a afirmação de que isso não ocorre só com a tecnologia (2º parágrafo), critica-se o uso inadequado dos recursos oferecidos pelos computadores.
Incorreto. Critica-se o consumo desnecessário. Não se falou especificamente do uso inadequado dos recursos, na verdade, foi dito que mal usamos os recursos que os computadores têm e já trocamos por superiores.
(C) No segmento e não o contrário (1º parágrafo), o autor reforça a ideia de que as invenções existem para servir às pessoas.
Correta:
Devemos sempre lembrar que as invenções existem para nos servir, e não o contrário. Quer dizer, a demanda é que as pessoas se adaptem às máquinas, e não que as máquinas se adaptem às pessoas.
A mensagem é que as pessoas é que devem usar os computadores, não servir a eles.
(D) Com o uso do termo bombardeados (1º parágrafo), o autor conclui que, se fosse possível, as pessoas prefeririam ser menos dependentes da tecnologia.
Incorreto. Com esse termo, expressa excesso de oferta.
(E) Ao mencionar a velocidade (1º parágrafo) dos dias de hoje, o autor enaltece a tendência da indústria tecnológica de estar sempre à procura de ultrapassar a si mesma.
Incorreto. Não enaltece, na verdade critica. Além disso, não se resume a falar da tecnologia, mas também das roupas.
Gabarito letra C.
13. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
Flávio Gikovate: Tenho a impressão de que isso não ocorre só com a tecnologia. (2º parágrafo)
Transposto para o discurso indireto, o trecho acima assume a seguinte redação:
(A) Flávio disse que teria a impressão de que isso não ocorrerá só com a tecnologia.
(B) Flávio afirmou que teve a impressão de que isso não ocorreria só com tecnologia.
(C) Tem-se a impressão, conforme afirma Flávio, de que isso não ocorrerá só com a tecnologia.
(D) Flávio disse que tinha a impressão de que isso não ocorreu só com a tecnologia.
(E) Flávio afirmou que tinha a impressão de que isso não ocorria só com a tecnologia.
Comentários:
Na transposição para o discurso indireto, teremos uma verbo de elocução complementado por uma oração substantiva; o presente vira PRETÉRITO IMPERFEITO:
Tenho a impressão de que isso não ocorre só com a tecnologia.
Flávio afirmou que tinha a impressão de que isso não ocorria só com a tecnologia.
Gabarito letra E.
14. (FCC / TRF 4ª REGIÃO / TÉCNICO / 2019)
No contexto, o verbo que pode ser flexionado no singular, sem prejuízo das relações de sentido e da correção, está sublinhado em:
(A) que as invenções existem para nos servir.
(B) que as máquinas se adaptem às pessoas.
(C) elas trocam todas as que possuíam.
(D) A velocidade ficou maior do que as pessoas conseguem alcançar.
(E) A grande maioria das pessoas usam bem pouco dos recursos de seus computadores.
Comentários:
Com expressões partitivas seguidas de determinante, a concordância pode ser feita com o núcleo do sujeito (a própria parte- a maioria) ou com o determinante (a expressão preposicionada – das pessoas)
A grande maioria das PESSOAS USAM bem pouco dos recursos de seus computadores.
A grande MAIORIA das pessoas USA bem pouco dos recursos de seus computadores.
Nos demais casos, o verbo concorda com o núcleo do sujeito.
Gabarito letra E.
PROVA ANALISTA JUDICIÁRIO
Atenção: Para responder às questões de números 1 a 6, considere o texto abaixo.
Educação familiar
A família cumpre cada vez menos a sua função de instituição de aprendizagem e educação. Ouve-se dizer hoje, repetidamente, o mesmo a respeito dos filhos de famílias das camadas superiores da sociedade, “nada trouxeram de casa”. Os professores universitários comprovam até que ponto é escassa a formação substancial, realmente experimentada pelos jovens, que possa ser considerada como pré-adquirida.
Mas isso depende do fato de que a formação cultural perdeu a sua utilidade prática. Mesmo que a família ainda se esforçasse por transmiti-la, a tentativa estaria condenada ao fracasso porque, com a certeza dos bens familiares hereditários, esvaziaram-se alguns motivos de insegurança e sentimento de desproteção. Por parte dos filhos, a tendência atual consiste em furtarem-se a essa educação, que se apresenta como uma introversão inoportuna, e em orientarem-se, de preferência, pelas exigências da chamada “vida real”.
O momento específico da renúncia pessoal, que hoje mutila os indivíduos, impedindo a individuação, não é a proibição familiar, ou não o é inteiramente, mas a frieza, a indiferença tanto mais penetrante quanto mais desagregada e vulnerável a família se torna.
(Adaptado de: HORKHEIMER, Max, e ADORNO, Theodor (orgs.). Temas básicos da Sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973, p. 143)
De acordo com o primeiro parágrafo do texto,
(A) a irrelevância da família na formação educativa de seus filhos deve-se ao papel assumido pelos professores universitários.
(B) a frase “nada trouxeram de casa” situa com precisão a causa de a educação familiar ter perdido toda a sua relevância.
(C) a crescente irrelevância da família como instituição educativa transparece na escassa formação apresentada pelos jovens.
(D) o cumprimento da função educativa que cabe à família compromete-se por conta de uma formação pré-adquirida.
(E) as camadas superiores da sociedade têm repetido que seus filhos já nada podem levar de casa como processo educativo.
Comentários:
O primeiro parágrafo menciona a ideia de que a família cumpre cada vez menos a função educativa na vida dos filhos, o que se comprova pela frase “nada trouxeram de casa”, feita em referência aos professores universitários, que experimentam justamente esse efeito de uma educação deficiente. Em outras palavras: a crescente irrelevância da família como instituição educativa transparece na escassa formação apresentada pelos jovens.
Gabarito letra C.
Vejamos as demais:
a) a família não é irrelevante na educação.
b) a frase traz a consequência, não a causa.
c) compromete-se por outro motivo: o fato de que a formação cultural perdeu a sua utilidade prática
e) as camadas superiores da sociedade não tem repetido uma fala, como a alternativa faz crer: na verdade o fenômeno de decadência na educação familiar é que se repete, ocorre de maneira igual, nas famílias das camadas superiores.
No segundo parágrafo, a expressão introversão inoportuna indica
(A) o juízo que fazem os jovens de hoje de uma eventual iniciativa educacional da família.
(B) a maneira pela qual reage a sociedade quando está em risco a educação familiar.
(C) a reação dos pais quando solicitados a se encarregarem de iniciativas educacionais.
(D) o programa que antigamente pautava a escolarização dos estudantes universitários.
(E) o modo pelo qual se planeja reconstituir a importância da educação familiar.
Comentários:
A referência é ao comportamento dos filhos.
Introversão é ação ou resultado de voltar a si mesmo. O texto usa o vocabulário “inoportuno” para referir-se à atitude dos jovens, que rejeitam cada vez mais a “intromissão” dos pais que tentam educá-los e tentam pautar-se por uma suposta “vida real”:
Por parte dos filhos, a tendência atual consiste em furtarem-se a essa educação, que se apresenta como uma introversão inoportuna, e em orientarem-se, de preferência, pelas exigências da chamada “vida real”.
Gabarito letra A.
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em:
(A) a sua função de instituição (1º parágrafo) = a sua identidade funcional
(B) é escassa a formação substancial (1º parágrafo) = é substanciosa a escassez formativa
(C) esvaziaram-se alguns motivos (2º parágrafo) = restringiram-se certos pretextos
(D) consiste em furtarem-se (2º parágrafo) = reside em se esquivarem
(E) impedindo a individuação (3º parágrafo) = expurgando o individualismo
Comentários:
Clássica função de sinônimos:
a) Jesus! Identidade funcional é sua carteira de servidor público, nada a ver!
b) “formação substancial” remete à formação básica; escassez formativa não diz do que é a formação, é apenas uma nominalização sem sentido.
c) “esvaziar”, tornar vazio, é diferente de “restringir”, limitar.
e) “individuação” é a separação como indivíduo; “individualismo” é uma convicção que toma como centro a própria pessoa, um sinônimo para egoísmo.
Gabarito letra D.
Está plenamente clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:
(A) No caso de a educação formal for insuficiente, apelem-se para as providências que cabem à família tomar.
(B) Aos jovens de hoje reserva-se poucos cuidados no que tocam à sua educação, restringindo à bem poucas iniciativas.
(C) Os filhos de hoje recusam-se à admitir que lhes cabe alguma educação que provisse de seus pais ou responsáveis.
(D) A razão onde melhor se justifica a irrelevância da presente educação familiar estima-se que é a frieza dos que são indiferentes.
(E) Os indivíduos de nosso tempo, impedidos de se determinarem como tais, são como que mutilados por essa privação de si mesmos.
Comentários:
a) apelar é verbo transitivo indireto, temos caso de sujeito indeterminado, então o verbo fica no singular: apele-se
b) há voz passiva, então temos que fazer a concordância com o sujeito: cuidados são reservados>reservam-se cuidados…
c) não há crase antes de verbo, a redação seria: a partir; além disso, a forma do verbo “provir” no pretérito imperfeito do subjuntivo é: proviesse.
d) razão não é lugar físico, não se deve usar “onde”.
Gabarito letra E.
Há ocorrência de forma verbal na voz passiva e pleno atendimento às regras de concordância na frase:
(A) As funções educativas que em nossos dias deveriam assumir a família do jovem passaram a ocupar um plano inteiramente secundário.
(B) No caso de ser assumido pelas famílias seu papel educativo, os jovens passariam a ser os grandes beneficiários dessa iniciativa.
(C) Assumir a família um papel complementar no processo educacional corresponde a uma das iniciativas de que não podem se esquivar.
(D) Ainda que não caibam às famílias assumir o protagonismo do processo educacional, não há como se furtarem a participar desse processo.
(E) Imagina-se que em algum momento as famílias venham a assumir o papel que delas se esperam ao longo de um processo educacional.
Comentários:
Em questões de voz passiva, devemos procurar
SER+particípio: carros são alugados (voz passiva analítica)
ou
VTD+SE: alugam-se carros (voz passiva sintética ou pronominal – com “SE” pronome apassivador)
a) não há voz passiva, a sentença está na voz ativa
b) Correta. há voz passiva: SER+Particípio> ser assumido pelas famílias; “pelas famílias” é o agente da passiva
c) não há voz passiva, o “se” não é pronome apassivador, é parte integrante do verbo “esquivar-se”
d) o sujeito é oracional, o verbo, então, deveria estar no plural: assumir o protagonismo educacional cabe às famílias> ISTO cabe às famílias.
e) o papel é esperado, então a concordância correta seria: o papel que delas se espera.
Gabarito letra B.
Numa nova redação de um segmento do texto, mantém-se a adequada correlação entre tempos e modos verbais em:
(A) Os professores universitários comprovariam até que ponto seja escassa a formação substancial dos jovens.
(B) Mas isso dependerá do fato de que a formação cultural perdia sua utilidade prática.
(C) Mesmo que a família venha a se esforçar por transmiti-la, a tentativa estará condenada ao fracasso.
(D) A tendência atual consistiria em que hão de se furtar a essa educação.
(E) O momento específico da renúncia pessoal, não sendo a proibição familiar, ou não o fosse inteiramente, é a frieza, a indiferença.
Comentários:
Como sempre, devemos tentar aplicar como modelo as correlações fundamentais:
Se pudesse, faria
Se puder, farei
Caso eu possa, farei…
(A) Os professores universitários comprovariam até que ponto ERA escassa a formação substancial dos jovens.
Como o sentido não é hipotético, mas de passado contínuo, usamos o pretérito imperfeito.
(B) Mas isso dependerá do fato de que a formação cultural perde/perdeu sua utilidade prática.
Se há uma consequência no futuro, o fato deve ser já ocorrido ou deve ser apresentado também como hipótese futura. A correlação utilizada não faz sentido.
(C) Mesmo que a família venha a se esforçar por transmiti-la, a tentativa estará condenada ao fracasso.
Perfeita: Caso eu possa, farei: venha, estará…
(D) A tendência atual consistiria em que HOUVESSE de se furtar a essa educação.
O verbo “hão” está no presente, não faz sentido correlacioná-lo com o futuro do pretérito aqui.
(E) O momento específico da renúncia pessoal, não sendo a proibição familiar, ou não o fosse inteiramente, SERIA a frieza, SERIA indiferença.
Gabarito letra C.
Atenção: Para responder às questões de números 7 a 12, baseie-se no texto abaixo.
[Pai e filho]
No romance Paradiso o grande escritor cubano José Lezama Lima diz que um ser humano só começa a envelhecer depois da morte do pai. Freud atribui a essa morte um dos grandes traumas de um filho.
A amizade e a cumplicidade quase sempre prevalecem sobre as discussões, discórdias e outras asperezas de uma relação às vezes complicada, mas sempre profunda. Às vezes você lamenta não ter conversado mais com o seu pai, não ter convivido mais tempo com ele. Mas há também pais terríveis, opressores e tirânicos.
Exemplo desse caso está na literatura, na Carta ao pai, de Franz Kafka. É esse um dos exemplos notáveis do pai castrador, que interfere nas relações amorosas e na profissão do filho. Um pai que não se conforma com um grão de felicidade do jovem Franz. A Carta é o inventário de uma vida infernal. É difícil saber até que ponto o pai de Kafka na Carta é totalmente verdadeiro. Pode se tratar de uma construção ficcional ou um pai figurado, mais ou menos próximo do verdadeiro. Mas isso atenua o sofrimento do narrador? O leitor acredita na figuração desse pai. Em cada página, o que prevalece é uma alternância de sofrimento e humilhação, imposta por um homem prepotente e autoritário.
(Adaptado de: HATOUM, Milton. Um solitário à espreita. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 204-205)
Se bem observados na sequência do texto, os três parágrafos constituem
(A) uma progressão lógica para a tese defendida por Freud, segundo a qual a morte de um pai é um grande trauma para o filho.
(B) a defesa da tese geral do escritor José Lezama Lima, a partir da qual se considera a existência opressiva de pais tirânicos.
(C) uma trajetória que parte da constatação e da afirmação do valor de um pai para culminar num caso de paternidade cruel e prepotente.
(D) o desenvolvimento de um raciocínio que apresenta uma tese no primeiro parágrafo, contradita-a no segundo e a retoma no terceiro.
(E) diferentes posições que, ao enfocarem o fenômeno da paternidade, não estabelecem relação entre si.
Comentários:
Vejamos a estrutura do texto:
A primeira afirmação é sobre o valor do pai, reforçada pela citação de Freud. O segundo parágrafo divide o tema, menciona pais “bons” (amigos e cúmplices) e pais ruins (tiranos, opressores). O último parágrafo traz exemplo literário desse último tipo: tirano, cruel e prepotente.
Gabarito letra C.
O autor relativiza uma percepção positiva da relação entre pai e filho para dar início a uma percepção inteiramente contrária com esta frase:
(A) um ser humano só começa a envelhecer depois da morte do pai (1º parágrafo).
(B) Às vezes você lamenta não ter conversado mais com o seu pai (2º parágrafo).
(C) A Carta é o inventário de uma vida infernal (3º parágrafo).
(D) Mas há também pais terríveis, opressores e tirânicos (2º parágrafo).
(E) A amizade e a cumplicidade quase sempre prevalecem (2º parágrafo).
Comentários:
A questão é direta: há uma contraposição entre pais bons e ruins.
A relativização, suavização, ressalva sobre o comentário positivo sobre o pai (o pai é amigo, cúmplice, faz falta etc) é introduzida pela conjunção adversativa “mas”, que introduz um contraponto e a parte mais forte do argumento:
A amizade e a cumplicidade quase sempre prevalecem sobre as discussões, discórdias e outras asperezas de uma relação às vezes complicada, mas sempre profunda. Às vezes você lamenta não ter conversado mais com o seu pai, não ter convivido mais tempo com ele. Mas há também pais terríveis, opressores e tirânicos.
Gabarito letra D.
Ao supor que a Carta seja uma construção ficcional, o autor
(A) nem por isso esvazia a possibilidade de que o sofrimento e a humilhação nela expostos atinjam o leitor.
(B) desse modo acentua o evidente exagero das páginas cruéis em que o filho atormentado acusa a malignidade do pai.
(C) ressalva assim o fato de que o narrador forjou inteiramente seus sofrimentos para ganhar a adesão emocional do leitor.
(D) lembra por isso que a literatura vive de invenções que pouco têm a ver com situações que se possam comprovar na vida real.
(E) mostra com isso que nessa suposta carta, provinda de um impostor literário, não há mais que a projeção de um filho e de um pai hipotéticos.
Comentários:
O autor defende que, embora não haja certeza de que tudo dito sobre o pai é verdade, isso não afeta a mensagem do livro. O narrador sofre da mesma forma e o leitor se identifica com essa dor da mesma forma, seja ela exagerada ou não. Isso inclusive se confirma pela pergunta retórica: Mas isso atenua o sofrimento do narrador? (está implícito que não atenua).
É difícil saber até que ponto o pai de Kafka na Carta é totalmente verdadeiro. Pode se tratar de uma construção ficcional ou um pai figurado, mais ou menos próximo do verdadeiro. Mas isso atenua o sofrimento do narrador? O leitor acredita na figuração desse pai. Em cada página, o que prevalece é uma alternância de sofrimento e humilhação, imposta por um homem prepotente e autoritário.
(B) desse modo acentua o evidente exagero das páginas cruéis em que o filho atormentado acusa a malignidade do pai.
Incorreto. Não acentua o exagero, apenas diz que, ainda que se assuma um exagero, não faz diferença para o narrador.
(C) ressalva assim o fato de que o narrador forjou inteiramente seus sofrimentos para ganhar a adesão emocional do leitor.
Incorreto. Não diz que forjou nem que não forjou, diz apenas que não faz diferença.
(D) lembra por isso que a literatura vive de invenções que pouco têm a ver com situações que se possam comprovar na vida real.
Incorreto. Não faz nenhum comentário sobre aquilo de que vive a literatura.
(E) mostra com isso que nessa suposta carta, provinda de um impostor literário, não há mais que a projeção de um filho e de um pai hipotéticos.
Incorreto. Não disse que há nenhum impostor, nem garante que o pai seja hipotético, nem que não seja; pura extrapolação.
Gabarito letra A.
A frase Pode se tratar de uma construção ficcional ou um pai figurado, mais ou menos próximo do verdadeiro ganha nova redação, na qual mantém seu sentido básico, em:
(A) Tratando-se provavelmente de uma construção de ficção, ou mesmo de um pai figurante, pode ainda estar próximo da verdade.
(B) É possível que se trate de uma operação ficcional ou da figuração de um pai que lembre aproximadamente o pai real.
(C) Tratando-se de uma ficção, pela qual se reproduz a figura do pai, pode ainda assim estar perto de ser convincente.
(D) Considerando como construção ficcional tal figura do pai, trata-se de se aproximar um tanto da verdadeira.
(E) Pode-se considerar que tal construção, sendo fictícia, venha a preservar a imagem verdadeira do pai assim figurado.
Comentários:
Houve apenas sutis trocas com mesmo sentido. A oração reduzida foi desenvolvida; “pai figurado” virou “figuração de um pai”, mantendo o sentido passivo e o adjetivo “próximo” virou advérbio “aproximadamente”.
Pode se tratar de uma construção ficcional ou um pai figurado, mais ou menos próximo do verdadeiro
É possível que se trate de uma operação ficcional ou da figuração de um pai que lembre aproximadamente o pai real.
Gabarito letra B.
Está plenamente adequada a pontuação da seguinte frase:
(A) O grande escritor cubano José Lezama Lima no romance Paradiso, tece uma consideração, a respeito da morte do pai.
(B) Freud ao tratar da morte do pai, considera-a um dos grandes traumas, que podem acometer a um filho.
(C) Embora haja asperezas, na relação de um pai e um filho, há também, por outro lado muita amizade e cumplicidade.
(D) Ao escrever a Carta ao pai em que faz uma espécie de inventário infernal, Kafka não deixa de mostrar-se alternadamente, sofrido e humilhado.
(E) Ainda que afastada da figura do pai real, sua construção ficcional, promovida por Kafka, expressa em alto grau o sofrimento de um filho.
Comentários:
Façamos as devidas correções:
(A) O grande escritor cubano José Lezama Lima, no romance Paradiso, tece uma consideração a respeito da morte do pai.
Não se pode separar o sujeito do verbo com vírgula nem o nome de seu complemento/adjunto.
(B) Freud, ao tratar da morte do pai, considera-a um dos grandes traumas que podem acometer a um filho.
A oração “ao tratar da morte do pai” é adverbial temporal reduzida de infinitivo (=quando trata) e deve ser separada por vírgula; além disso, o sentido restritivo da oração adjetiva impede o uso da vírgula.
(C) Embora haja asperezas, na relação de um pai e um filho, há também, por outro lado, muita amizade e cumplicidade.
O adjunto adverbial deslocado “por outro lado” deve ser isolado por vírgulas.
(D) Ao escrever a Carta ao pai em que faz uma espécie de inventário infernal, Kafka não deixa de mostrar-se alternadamente, sofrido e humilhado.
O advérbio “alternadamente” poderia vir entre vírgulas ou sem vírgula alguma; com uma vírgula apenas, a separação indevida entre o verbo “mostrar-se” e seu predicativo.
(E) Ainda que afastada da figura do pai real, sua construção ficcional, promovida por Kafka, expressa em alto grau o sofrimento de um filho.
Perfeita a pontuação, a oração adverbial concessiva está antecipada e devidamente marcada por vírgula. A segunda e a terceira vírgulas isolam uma oração intercalada.
Gabarito letra E.
É plenamente adequado o emprego de pronomes e do sinal indicativo de crase em:
(A) Diante da morte do pai, o filho não apenas lhe lamenta como se vê submetido à culpas inconsoláveis e a profundos remorsos.
(B) Kafka escreveu uma Carta ao pai, carregando-lhe de sentimentos duros, que o leitor à muito custo acompanhará.
(C) Ninguém se sentirá alheio às provações que Kafka nos conta em sua carta, a propósito das dores que o pai lhe infligiu.
(D) As emoções que provoca no leitor à leitura da carta de Kafka ao pai devem-se ao poder da ficção que lhe captura.
(E) As palavras da Carta conduzem o leitor, passo à passo, pelas dores e humilhações que o pai de Kafka fez-lhe passar.
Comentários:
A redação perfeita está em:
Ninguém se sentirá alheio às provações que Kafka nos conta em sua carta, a propósito das dores que o pai lhe infligiu.
Há crase pela fusão de “alheio A+As provocações” e o “lhe” foi utilizado para substituir “nele”: infligiu nele.
Gabarito letra C.
Vejamos o problema das demais:
(A) Diante da morte do pai, o filho não apenas A lamenta como se vê submetido A culpas inconsoláveis e a profundos remorsos.
Não se usa “lhe” para substituir objeto direto, nem há crase se não houver artigo, nesse caso, no plural.
(B) Kafka escreveu uma Carta ao pai, carregando-A de sentimentos duros, que o leitor A muito custo acompanhará.
Não há crase antes de palavra masculina (custo).
(D) As emoções que provoca no leitor a leitura da carta de Kafka ao pai devem-se ao poder da ficção que o captura.
A leitura da carta provoca emoções, o “A” é apenas artigo.
(E) As palavras da Carta conduzem o leitor, passo a passo, pelas dores e humilhações que o pai de Kafka o fez passar.
Não há crase entre palavras repetidas em uma locução. Novamente, aqui não podemos usar o LHE, uma vez que não estamos substituindo um complemento preposicionado. Usa-se O, em próclise, pela atração do pronome relativo “que”.
Atenção: Para responder às questões de números 13 a 16, baseie-se no texto abaixo.
[Valores da propaganda]
Na sociedade moderna, a mesma voz que prega sobre as coisas superiores da vida, tais como a arte, a amizade ou a religião, exorta o ouvinte a escolher uma determinada marca de sabão. Os panfletos sobre como melhorar a linguagem, como compreender a música, como ajudar-se etc. são escritos no mesmo estilo de propaganda que exalta as vantagens de um laxativo. Na verdade, um redator hábil pode ter escrito qualquer um deles.
Na altamente desenvolvida divisão de trabalho, a expressão tornou-se um instrumento utilizado pelos técnicos a serviço do mercado. Um romance é escrito tendo-se em mente as suas possibilidades de filmagem, uma sinfonia ou poema são compostos com um olho no seu valor de propaganda. Outrora pensava-se que cada expressão, palavra, grito ou gesto tivesse um significado intrínseco; hoje é apenas um incidente em busca de visibilidade.
(Adaptado de: HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Trad. Sebastião Uchoa Leite. Rio de Janeiro: Editorial Labor do Brasil, 1976, p. 112)
No primeiro parágrafo do texto, o autor
(A) valoriza a arte dos grandes redatores, a partir da qual se torna possível distinguir um texto comercial de um texto convincente.
(B) acusa a discriminação que atinge os publicitários, em vez de criticar mais duramente os maus profissionais de outras áreas.
(C) afirma que aqueles que dominam a linguagem da propaganda comercial estão aptos a propagar matérias de maior relevância.
(D) defende a ideia de que marcas de sabão ou laxativos não podem vender tão bem quanto produtos sobre os quais pesa menos preconceito.
(E) atesta que os panfletos redigidos com maior arte são aqueles cujos autores também dominam a linguagem das artes ou da religião.
Comentários:
Questão direta e literal, já com o parágrafo da resposta indicado pela banca.
Do primeiro parágrafo, extraímos que um bom redator pode fazer propaganda de produtos cotidianos, como sabão ou laxativo, ou até mesmo das grandes questões da vida com a mesma habilidade, pois a linguagem, agora, é basicamente a mesma:
Na sociedade moderna, a mesma voz que prega sobre as coisas superiores da vida, tais como a arte, a amizade ou a religião, exorta o ouvinte a escolher uma determinada marca de sabão.
Na verdade, um redator hábil pode ter escrito qualquer um deles.
Gabarito letra C.
Na frase Na altamente desenvolvida divisão de trabalho, a expressão tornou-se um instrumento utilizado pelos técnicos a serviço do mercado (2º parágrafo), o segmento sublinhado pode ser substituído, sem prejuízo para o sentido básico do contexto, por:
(A) uma ferramenta do uso de especialistas em operações comerciais.
(B) um utensílio desenvolvido por trabalhadores servis do sistema de negócios.
(C) um atributo próprio de quem gerencia as operações do mercado.
(D) uma operação que beneficia os especialistas empresariais.
(E) um fator decisivo para que os acionistas de uma empresa façam-na lucrativa.
Comentários:
Instrumento e ferramenta são sinônimos; técnicos são pessoas que trazem algum conhecimento especializado, então podem ser chamados de especialistas em algo técnico; mercado é o ambiente em que ocorrem as transações comerciais; portanto, a sinonímia está em:
uma ferramenta do uso de especialistas em operações comerciais.
Gabarito letra A.
No contexto, relacionam-se numa oposição de sentido os segmentos:
(A) exorta o ouvinte / exalta as vantagens (1º parágrafo).
(B) as coisas superiores da vida / como melhorar a linguagem (1º parágrafo).
(C) Um romance é escrito / uma sinfonia ou poema são compostos (2º parágrafo).
(D) instrumento utilizado pelos técnicos / valor de propaganda (2º parágrafo).
(E) um significado intrínseco / um incidente em busca de visibilidade (2º parágrafo).
Comentários:
“intrínseco” é algo interno, inerente, profundo, não superficial; a visibilidade dá ideia de algo artificial, feito para aparecer, focado no que é externo, raso, superficial. Então, temos aí clara oposição de sentidos.
Não há qualquer relação de oposição entre os demais pares. Gabarito letra E.
No centro da argumentação desenvolvida no texto, está suposto que
(A) é o aprendizado de técnicas de propaganda que melhor serve à compreensão das artes.
(B) para a linguagem da propaganda é indiferente o produto que se disponha a vender.
(C) na venda de um produto de excelência a propaganda torna-se dispensável.
(D) a eventual ineficácia de um produto é compensada pela eficácia da propaganda.
(E) o trabalho dos publicitários modernos deve tudo ao que as grandes artes lhe legaram.
Comentários:
Se uma mesma pessoa pode fazer, com igual habilidade, propaganda de algo profundo ou de algo superficial, de um laxante ou de autoajuda, isso significa que o produto é indiferente para a linguagem do publicitário. A linguagem é a mesma: para a linguagem da propaganda é indiferente o produto que se disponha a vender. Veja novamente:
Na sociedade moderna, a mesma voz que prega sobre as coisas superiores da vida, tais como a arte, a amizade ou a religião, exorta o ouvinte a escolher uma determinada marca de sabão. Os panfletos sobre como melhorar a linguagem, como compreender a música, como ajudar-se etc. são escritos no mesmo estilo de propaganda que exalta as vantagens de um laxativo. Na verdade, um redator hábil pode ter escrito qualquer um deles.
Gabarito letra B.
Prova Oficial de Justiça
Atenção: Para responder às questões de números 1 a 6, considere o texto abaixo.
O motorista do 8-100
Fui convidado por um colega da redação de jornal, outro dia, a ver um belo espetáculo. Que eu estivesse pela manhã bem cedo junto ao último edifício da Avenida Rio Branco para assistir à coleta de lixo. Fui. Vi chegar o caminhão 8-100 da Limpeza Urbana e saltarem os ajudantes que se puseram a carregar e despejar as latas de lixo. Enquanto isso, que fazia o motorista? O mesmo de toda manhã. Pegava um espanador e um pedaço de flanela, e fazia o seu carro ficar rebrilhando de beleza.
É costume dizer que a esperança é a última que morre. Nisso está uma das crueldades da vida: a esperança vive à custa de mutilações. Vai minguando e secando devagar, se despedindo dos pedaços de si mesma, se apequenando e empobrecendo, e no fim é tão mesquinha e despojada que se reduz ao mais elementar instinto de sobrevivência e ao conformismo.
Esse motorista, que limpa seu caminhão, não é um conformado, é o herói silencioso que lança um protesto superior. A vida o obriga a catar lixo e imundície; ele aceita a sua missão, mas a supera com esse protesto de beleza e dignidade. Muitos recebem com a mão suja os bens mais excitantes e tentadores da vida; e as flores que vão colhendo no jardim de uma existência fácil logo têm, presa em seus dedos frios, uma corrupção que as desmerece e avilta. O motorista do caminhão 8-100 parece dizer aos homens da cidade: “O lixo é vosso: meus são estes metais que brilham, meus são estes vidros que esplendem, minha é esta consciência limpa”.
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. O homem rouco. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963, p. 145-146)
Os três parágrafos em que se estrutura o texto podem ser identificados, nesta ordem, pelos seguintes procedimentos:
(A) descrição de um incidente; reflexão sobre esse incidente particular; conclusão genérica, de sentido moral.
(B) narração de uma visita; reconhecimento do caráter prosaico de uma cena; divagação sobre o valor social do trabalho.
(C) introdução a uma análise política; exemplificação de um sentimento edificante; reconhecimento moral do bom conformismo.
(D) reconhecimento de uma cena insólita; reflexão sobre a pauperização de um sentimento; valorização conclusiva da cena inicial.
(E) testemunho de uma ação extravagante; cogitação sobre o sentido dessa ação; enaltecimento da humildade de um simples trabalhador.
Comentários:
Essa questão é bastante difícil. Na verdade, é lendo as opções que você consegue perceber melhor a estruturação do texto e perceber a resposta correta. E aí você já elimina todas as outras ao perceber como a própria banca explica seu próprio texto.
Primeiramente, temos uma cena insólita (não costumeira — o motorista que encera o caminhão de lixo); depois, temos a reflexão sobre a decadência da esperança (pauperização é o processo de ficar cada vez mais pobre— o sentimento pauperizado é a esperança, que vai definhando, minguando); por fim, o autor volta à cena inicial para trazer uma reflexão final sobre o contraste (lixo – limpeza) que a cena inicial sugere. Então, conclui seu texto com a ideia de que muita gente vive em meio à imundície mas resiste a ela, ao passo que muita gente torna feio o que é belo em seu ambiente.
Nas palavras da banca:
reconhecimento de uma cena insólita; reflexão sobre a pauperização de um sentimento; valorização conclusiva da cena inicial.
Gabarito letra D.
Vejamos o problema das demais:
(A) descrição de um incidente; reflexão sobre esse incidente particular; conclusão genérica, de sentido moral.
A conclusão não é genérica, é específica e totalmente contextualizada à particularidade da cena.
(B) narração de uma visita; reconhecimento do caráter prosaico de uma cena; divagação sobre o valor social do trabalho.
Não há descrição de visita alguma.
(C) introdução a uma análise política; exemplificação de um sentimento edificante; reconhecimento moral do bom conformismo.
A análise inicial não é política, não há valoração moral da cena a princípio; depois é que há um desenvolvimento de reflexão a partir dela.
(E) testemunho de uma ação extravagante; cogitação sobre o sentido dessa ação; enaltecimento da humildade de um simples trabalhador.
Não há nada de extravagante na ação do motorista; pelo contrário, a ação dele diz muito sobre seu caráter e sobre sua visão de mundo, visão esta que o autor toma como uma moral admirável e digna de uma reflexão. Também não há cogitação, especulação sobre o sentido da ação do motorista, o sentido está claro para o autor, que explica ao leitor o que pode ser extraído dela.
Ao se deter no tema da esperança, no 2º parágrafo do texto, o autor mostra-se convencido de que esse sentimento
(A) comprova, em cada uma de nossas experiências, o sentido e o valor que lhe reconhece o referido dito popular.
(B) traz consigo a crueldade singular de se tornar mais ativo em nós na exata proporção em que vai nos iludindo.
(C) degrada-se num longo e contínuo processo, ao fim do qual seu reducionismo só deixa lugar para o conformismo.
(D) alimenta-se do conformismo que há em nós para se instalar desde cedo como uma espécie de precavida sabedoria.
(E) deteriora-se a cada vez que o imaginamos mais consistente, razão pela qual nos vamos iludindo de modo progressivo.
Comentários:
Segundo o autor, a esperança ser a última a morrer é, antes de algo belo, algo cruel, pois ela não morre de uma vez, mas adoece e apodrece lentamente, ficando pobre e mesquinha. Veja no texto:
É costume dizer que a esperança é a última que morre. Nisso está uma das crueldades da vida: a esperança vive à custa de mutilações. Vai minguando e secando devagar, se despedindo dos pedaços de si mesma, se apequenando e empobrecendo, e no fim é tão mesquinha e despojada que se reduz ao mais elementar instinto de sobrevivência e ao conformismo.
Na paráfrase da banca, essas ideias estão expressas em: a esperança degrada-se num longo e contínuo processo, ao fim do qual seu reducionismo só deixa lugar para o conformismo.
Vejamos o problema das demais:
(A) comprova, em cada uma de nossas experiências, o sentido e o valor que lhe reconhece o referido dito popular.
Incorreto. Não comprova o dito popular, mas sim o refuta, o contradiz.
(B) traz consigo a crueldade singular de se tornar mais ativo em nós na exata proporção em que vai nos iludindo.
Incorreto. Não se torna mais ativo, mas sim mais passivo, mesquinho, fraco, doente.
(D) alimenta-se do conformismo que há em nós para se instalar desde cedo como uma espécie de precavida sabedoria.
Incorreto. Não há sabedoria alguma; segundo o autor, há um conformismo cruel, uma ilusão que causa dor e enfraquecimento contínuo.
(E) deteriora-se a cada vez que o imaginamos mais consistente, razão pela qual nos vamos iludindo de modo progressivo.
Esta alternativa está muito próxima de estar certa, mas há uma sutileza: não deteriora a cada vez que imaginamos a esperança consistente; ela deteriora-se continuamente e vamos imaginando a esperança cada vez menos consistente.
Gabarito letra C.
Explora-se no texto o emprego de expressões que constituem uma oposição de sentido, tal como se observa na relação entre
(A) um espanador e um pedaço de flanela / ficar rebrilhando de beleza (1º parágrafo).
(B) vive à custa de mutilações / se apequenando e empobrecendo (2º parágrafo).
(C) herói silencioso / lança um protesto superior (3º parágrafo).
(D) recebem com a mão suja / uma corrupção que as desmerece (3º parágrafo).
(E) A vida o obriga a catar lixo e imundície / protesto de beleza e dignidade (3º parágrafo).
Comentários:
Muito cuidado, a oposição é sempre contextual. Não adianta olhar as palavras de maneira isolada.
No contexto, há um contraste entre a feiura do lixo e a beleza do carro lustrado, entre limpeza e sujeira, vergonha e orgulho. Então, temos oposição entre as duas passagens:
A vida o obriga a catar lixo e imundície / protesto de beleza e dignidade (3º parágrafo).
Nas demais alternativas, não há essa clara contraposição de ideias.
Gabarito letra E.
Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento do texto em:
(A) Que eu estivesse pela manhã bem cedo (1º parágrafo) = Talvez eu fosse ainda cedinho.
(B) vive à custa de mutilações (2º parágrafo) = destroça-se para poder subsistir.
(C) tão mesquinha e despojada (2º parágrafo) = algo simplória e despreparada.
(D) protesto de beleza e dignidade (3º parágrafo) = recusa dos excessos da beleza digna.
(E) os bens mais excitantes e tentadores (3º parágrafo) = as posses luxuosas e pecaminosas.
Comentários:
a) Incorreto; “ir” é diferente de “estar”
b) Correto. A mutilação, a fragmentação em pedaços, em destroços é como a esperança sobrevive.
c) Incorreto; despojado é aquilo que foi privado de suas posses, não é sinônimo de despreparado.
d) Incorreto. Protesto é uma manifestação contra alguma coisa; no caso, o protesto é contra a sujeira e a favor da beleza e da dignidade. Não há recusa da beleza, portanto.
e) Incorreto. Luxo e excitação são noções bem diferentes; além disso, nem tudo que é tentador é pecaminoso. O pecado é um momento já posterior à tentação, é uma tentação que não foi resistida, por assim dizer.
Gabarito letra B.
Está clara e correta a redação desta observação apoiada no texto:
(A) O motorista referido no texto constitui, aos olhos do autor, o exemplo de uma dignidade que não cede às mais duras circunstâncias.
(B) O autor foca-se no lugar-comum de um provérbio ao qual se deseja dar uma nova versão menos otimista do que a habitual.
(C) Quanto mais nos promete a esperança, em seu processo degradativo, à medida em que nos tornamos presas fáceis de sua sujeição.
(D) O conformismo, em cujo pendor a gente acaba se postando, pode ser o derradeiro degrau aonde se aloja a esperança.
(E) Tanto mais limpas são as dádivas na proporção mesma em que as recebamos com a condecendência de toda a nossa dignidade.
Comentários:
A letra A está correta. A crase se justifica pela fusão de ceder A + AS duras circunstâncias.
b) Incorreto. Aqui, o problema principal é a falta de clareza. A nova versão não é dada ao provérbio, mas sim a uma visão otimista da esperança, à interpretação do provérbio. Além disso, o autor “foca”, não há motivo para o pronome. Também é inadequado esse “se deseja dar”, o autor é que deseja dar, ele é o sujeito, não cabe esse pronome também.
c) Incorreto. O vocábulo “degradativo” não existe oficialmente em língua portuguesa; a palavra seria “degradante”. Além disso, não existe a expressão “à medida em que”; temos “na medida em que”, indicativa de causa, e “à medida que”, com sentido de proporção.
d) Incorreto. Aonde só deve ser usado se houver algum verbo que peça a preposição “a”; aqui o verbo é “alojar”, que pede preposição “em”.
e) Incorreto. Além da redação confusa, há erro crasso de ortografia. A palavra é “condescendência”.
Gabarito letra A.
Há ocorrência de verbo na voz passiva e pleno atendimento às normas de concordância verbal na frase:
(A) Uma vez tendo aceitado o convite do colega de redação, eis que logo se impuseram aos olhos admirados do autor a força de uma cena singular.
(B) Não competem aos homens pregarem conformismo quando tem diante de si um exemplo como o do motorista do caminhão de lixo.
(C) Tira muito proveito o autor do texto dos paralelismos que lhe ocorrem fazer entre a sujeira de um ofício e a dignidade de uma atitude.
(D) Repetem-se provérbios cuja sabedoria, no entanto, não se comprova no decurso das nossas mais duras experiências, ao longo da vida.
(E) Nos que nascem em berço de ouro quase raramente se notam, nas provações da vida, a fortaleza moral que pode estar nos mais carentes.
Comentários:
A redação correta está em:
Repetem-se provérbios cuja sabedoria, no entanto, não se comprova no decurso das nossas mais duras experiências, ao longo da vida.
Os provérbios são repetidos; a sabedoria não se comprova.
Façamos as devidas correções:
(A) Uma vez tendo aceitado o convite do colega de redação, eis que logo SE IMPÔS aos olhos admirados do autor A FORÇA de uma cena singular.
O sujeito é singular.
(B) Não COMPETE aos homens pregarem conformismo quando tem diante de si um exemplo como o do motorista do caminhão de lixo.
O sujeito é oracional, então o verbo “competir” fica no singular: ISTO não compete aos homens…
(C) Tira muito proveito o autor do texto dos paralelismos que lhe OCORRE fazer entre a sujeira de um ofício e a dignidade de uma atitude.
Fazer paralelismos ocorre ao autor –> lhe ocorre
(E) Nos que nascem em berço de ouro quase raramente SE NOTA, nas provações da vida, a fortaleza moral que pode estar nos mais carentes.
A fortaleza quase não é notada…
Gabarito letra D.
Atenção: Para responder às questões de números 7 a 12, baseie-se no texto abaixo.
A era das compras
A economia capitalista moderna deve aumentar a produção constantemente, se quiser sobreviver, como um tubarão que deve nadar para não morrer por asfixia. Mas a maioria das pessoas, ao longo da história, viveu em condições de escassez. A fragilidade era, portanto, sua palavra de ordem. A ética austera dos puritanos e a dos espartanos são apenas dois exemplos famosos. Uma pessoa boa evitava luxos e nunca desperdiçava comida. Somente reis e nobres se permitiam renunciar publicamente a tais valores e ostentar suas riquezas.
O consumismo vê o consumo de cada vez mais produtos e serviços como algo positivo. Encoraja as pessoas a cuidarem de si mesmas, a se mimarem e até a se matarem pouco a pouco por meio do consumo exagerado. A frugalidade é uma doença a ser curada. Não é preciso olhar muito longe para ver a ética do consumo em ação – basta ler a parte de trás de uma caixa de cereal: “Para uma refeição saborosa no meio do dia, perfeita para um estilo de vida saudável. Um verdadeiro deleite com o sabor maravilhoso do “quero mais!”.
Durante a maior parte da história, as pessoas teriam sido repelidas, e não atraídas, por esse texto. Elas o teriam considerado egoísta, indecente e moralmente corrupto. O consumismo trabalhou duro, com a ajuda da psicologia e da vontade popular, para convencer as pessoas de que a indulgência com os excessos é algo bom, ao passo que a frugalidade significa auto-opressão.
(Adaptado de: HARARI, Yuval Noah. Sapiens – uma breve história da humanidade. 38. ed. Porto Alegre: L&PM, 2018, p. 357-358)
Analisa-se nesse texto, basicamente, a divergência que se estabelece quanto
(A) ao papel econômico que desde sempre o consumismo desenfreado teria assumido como fator de aceleração do progresso social.
(B) aos valores constituídos numa sociedade atenta às demandas essenciais e aos daquela regida pela valorização do máximo consumo.
(C) às reações daqueles que, diante das práticas consumistas, ou louvam a moralidade dos mais pobres ou incriminam a dos mais ricos.
(D) às práticas consumistas que, em nossos dias, vêm provocando, por um lado, melhor distribuição de renda e, por outro, enriquecimento ilícito.
(E) à função dos economistas, que deveriam, segundo uns, criar um modelo austero e, segundo outros, administrar as condições de escassez.
Comentários:
A dicotomia básica do texto é: viver com o essencial x viver para o consumo
Veja no texto:
Uma pessoa boa evitava luxos e nunca desperdiçava comida. Somente reis e nobres se permitiam renunciar publicamente a tais valores e ostentar suas riquezas.
O consumismo vê o consumo de cada vez mais produtos e serviços como algo positivo. Encoraja as pessoas a cuidarem de si mesmas, a se mimarem e até a se matarem pouco a pouco por meio do consumo exagerado.
Essa ideia é recuperada em: aos valores constituídos numa sociedade atenta às demandas essenciais e aos daquela regida pela valorização do máximo consumo.
Vejamos as demais:
(A) ao papel econômico que desde sempre o consumismo desenfreado teria assumido como fator de aceleração do progresso social.
Incorreto. O consumismo não ocorre desde sempre, é visto no texto como algo mais recente.
(C) às reações daqueles que, diante das práticas consumistas, ou louvam a moralidade dos mais pobres ou incriminam a dos mais ricos.
Ninguém falou de moralidade dos pobres ou dos ricos, extrapolação pura.
(D) às práticas consumistas que, em nossos dias, vêm provocando, por um lado, melhor distribuição de renda e, por outro, enriquecimento ilícito.
Ninguém falou de distribuição de renda e enriquecimento ilícito também.
(E) à função dos economistas, que deveriam, segundo uns, criar um modelo austero e, segundo outros, administrar as condições de escassez.
Não há nenhuma referência no texto a funções de economistas.
Gabarito letra B.
Ocorrem numa mesma linha de argumentação, para caracterizar uma mesma posição histórica, os seguintes segmentos:
(A) economia capitalista moderna deve aumentar a produção / condições de escassez (1º parágrafo).
(B) ética austera dos puritanos / renunciar publicamente a tais valores (1º parágrafo).
(C) A fragilidade era, portanto, sua palavra de ordem (1º parágrafo) / ética do consumo em ação (2º parágrafo).
(D) A frugalidade é uma doença a ser curada / a parte de trás de uma caixa de cereal (2º parágrafo).
(E) a indulgência com os excessos é algo bom / as pessoas teriam sido repelidas, e não atraídas, por esse texto (3º parágrafo).
Comentários:
Questão difícil, mas direta. A embalagem do cereal é o exemplo dado para o consumismo em ação: a frugalidade é o consumo apenas do necessário, é o comedimento, que é tratado como se fosse uma doença pela propaganda:
A frugalidade é uma doença a ser curada. Não é preciso olhar muito longe para ver a ética do consumo em ação – basta ler a parte de trás de uma caixa de cereal: “Para uma refeição saborosa no meio do dia, perfeita para um estilo de vida saudável.
Um verdadeiro deleite com o sabor maravilhoso do “quero mais!”.
Consumir o cereal é ser saudável, então não consumir é não querer ser saudável. O cereal deixa gosto de “quero mais”, que é a essência simbólica do consumismo.
Então, essas passagens estão em sequência, pois uma ilustra a outra.
Gabarito letra D.
Ao retratar o consumismo moderno no âmbito da vida social e dos valores da pessoa, o autor
(A) coloca-se em posição de isenção, uma vez que não toma qualquer aspecto moral ou ético como referência válida para sua análise.
(B) inclina-se para aceitar a fatalidade histórica do consumo desenfreado, deixando ver que reconhece as inequívocas vantagens desse fenômeno.
(C) recrimina a antiga austeridade regida pela escassez, encontrando na realidade do mercado moderno um modelo a ser mantido.
(D) contrapõe posições historicamente divergentes quanto ao consumo de produtos e serviços, apontando traços essenciais dessa divergência.
(E) desconsidera o peso da vontade popular na dinâmica do consumo que o mercado moderno estabeleceu como um caminho inflexível.
Comentários:
Essa questão pede novamente a dicotomia básica do texto: pessoas atentas às necessidades básicas no passado x pessoas consumistas e apegadas ao desnecessário na sociedade moderna.
O autor usa esse paralelo histórico como argumento para criticar o consumismo atual: contrapõe posições historicamente divergentes quanto ao consumo de produtos e serviços, apontando traços essenciais dessa divergência.
Gabarito letra D.
(A) coloca-se em posição de isenção, uma vez que não toma qualquer aspecto moral ou ético como referência válida para sua análise.
Incorreto. Não é isento, está claramente contra o consumismo.
(B) inclina-se para aceitar a fatalidade histórica do consumo desenfreado, deixando ver que reconhece as inequívocas vantagens desse fenômeno.
Não aceita nada como fatalidade histórica, mas sim algo a ser mudado e combatido na sociedade atual.
(C) recrimina a antiga austeridade regida pela escassez, encontrando na realidade do mercado moderno um modelo a ser mantido.
Não recrimina, apenas usa como exemplo para mostrar o seu lado oposto: o consumismo atual.
(E) desconsidera o peso da vontade popular na dinâmica do consumo que o mercado moderno estabeleceu como um caminho inflexível.
Não desconsidera, inclusive diz que a psicologia e a vontade popular convencem as pessoas a consumir mais.
O que se lê na parte de trás de uma caixa de cereal deixa ver que a propaganda
(A) estabelece metas e protocolos claros para uma vida efetivamente saudável.
(B) associa positivamente a frugalidade dos hábitos alimentares à saúde do consumidor.
(C) justifica o valor do produto pela voracidade que ele desperta nos consumidores.
(D) dissocia criticamente as vantagens do produto e a expectativa do comprador.
(E) busca atrair o consumidor para as qualidades intrínsecas de um produto saudável.
Comentários:
A propaganda traz essencialmente a seguinte mensagem: se você comer este cereal no meio da tarde, estará tendo uma vida saudável. Então, o cereal deixa o gosto de “quero mais”, instiga o consumo contínuo, instiga a voracidade. Em outras palavras: é bom porque dá vontade de comer mais e mais.
Não é preciso olhar muito longe para ver a ética do consumo em ação – basta ler a parte de trás de uma caixa de cereal: “Para uma refeição saborosa no meio do dia, perfeita para um estilo de vida saudável. Um verdadeiro deleite com o sabor maravilhoso do “quero mais!”.
Gabarito letra C.
Há adequada correlação entre os tempos e os modos verbais empregados na frase:
(A) Há quem queira que a economia capitalista deva aumentar sua produção para que sobrevivesse de modo mais consistente.
(B) Caso retornássemos às antigas situações de escassez em que viviam os antigos, talvez venhamos a sentir saudade do presente consumismo.
(C) A menos que venha a encorajar as pessoas a um consumismo desenfreado, a propaganda poderia não ver sentido na linguagem de que se vale.
(D) Quem esperasse encontrar informações úteis e objetivas numa caixa de cereal terá se decepcionado com a linguagem apenas persuasiva.
(E) Na hipótese de virem a ser contrariadas em sua inclinação para o consumo, muitas pessoas não hesitariam em maldizer seus críticos.
Comentários:
Questão clássica de correlação verbal, façamos alguns ajustes:
(A) Há quem queira que a economia capitalista deva aumentar sua produção para que SOBREVIVA de modo mais consistente.
(B) Caso retornássemos às antigas situações de escassez em que viviam os antigos, talvez VIÉSSEMOS a sentir saudade do presente consumismo.
(C) A menos que VIESSE a encorajar as pessoas a um consumismo desenfreado, a propaganda poderia não ver sentido na linguagem de que se vale.
(D) Quem esperasse encontrar informações úteis e objetivas numa caixa de cereal TERIA se decepcionado com a linguagem apenas persuasiva.
(E) Na hipótese de virem a ser contrariadas em sua inclinação para o consumo, muitas pessoas não hesitariam em maldizer seus críticos.
A letra E está perfeita, cuidado: virem é infinitivo flexionado de VIR, não confunda com o futuro do subjuntivo: VIEREM.
Na hipótese de EU VIR
Na hipótese de ELAS VIREM (as pessoas virem)
Gabarito letra E.
Ao analisar os hábitos de consumo, o autor do texto avalia esses hábitos de consumo contrapondo os mesmos aos hábitos de consumo que havia em épocas de maior frugalidade.
Evitam-se as viciosas repetições da frase acima substituindo-se os elementos sublinhados, na ordem dada, por:
(A) os avalia − contrapondo-os − àqueles
(B) avalia-os − contrapondo-lhes − àqueles
(C) avalia-lhes − contrapondo-os − a esses
(D) lhes avalia − lhes contrapondo − a aqueles
(E) avalia a estes − contrapondo-os − a estes
Comentários:
“esses hábitos de consumo” e “os mesmos” são objetos diretos, então não poderiam ser trocados por LHE; assim, eliminaríamos B, C e D.
“aos hábitos de consumo que havia em época de maior frugalidade” foi substituído por “aqueles”
Na letra E, não cabe o uso de “a estes”, pois haveria dois complementos indiretos; temos avaliar e contrapor, cada um pede apenas um objeto direto. A regência é contrapor uma coisa A outra, há um objeto indireto apenas.
Assim, temos: os avalia − contrapondo-os – àqueles (contrapondo A+Aqueles)
Gabarito letra A.
Atenção: Para responder às questões de números 13 a 16, baseie-se no texto abaixo.
Fertilidade das utopias
Um ideal de vida pessoal ou coletivo precisa estar lastreado numa avaliação realista das circunstâncias e restrições existentes. Ocorre, porém, que a realidade objetiva não é toda a realidade. A vida dos povos, não menos que a dos indivíduos, é vivida em larga medida na imaginação.
A capacidade de sonho e o desejo de mudar fertilizam o real, expandem as fronteiras do possível e reembaralham as cartas do provável. Quando a vontade de mudança e a criação do novo estão em jogo, resignar-se a um covarde e defensivo realismo é condenar-se ao passado e à repetição medíocre. Se o sonho descuidado do real é vazio, o real desprovido de sonho é deserto. No universo das relações humanas, o futuro responde à força e à ousadia do nosso querer. O desejo move.
(Adaptado de: GIANETTI, Eduardo. Trópicos utópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p 145)
O autor do texto afirma que a realidade objetiva não é toda a realidade porque está convencido de que
(A) os fatos que julgamos indiscutíveis são frequentemente uma experiência ilusória da nossa percepção.
(B) a dimensão do sonho e dos desejos é também parte ativa dos nossos contatos com o chamado mundo real.
(C) as experiências essenciais que contam são aquelas ainda não vividas e que certamente viveremos.
(D) as vivências humanas experimentadas no passado são muito mais marcantes do que as aspirações abstratas.
(E) um universo místico onde se ocultam as verdades absolutas está acima das nossas possibilidades reais de conhecimento.
Comentários:
Segundo o autor, a dimensão do sonho e dos desejos é também parte ativa dos nossos contatos com o chamado mundo real. Isso está claro no texto:
A vida dos povos, não menos que a dos indivíduos, é vivida em larga medida na imaginação.
Veja também esta passagem:
Se o sonho descuidado do real é vazio, o real desprovido de sonho é deserto. No universo das relações humanas, o futuro responde à força e à ousadia do nosso querer. o desejo nos move.
O autor então sugere um equilíbrio entre sonho e realismo, ambos elementos essenciais da vida.
Gabarito letra B.
Demonstra-se perfeito entendimento de uma expressão do texto em:
(A) precisa estar lastreado numa avaliação realista (1º parágrafo) = um ideal de vida dispensa qualquer base material de apoio
(B) é vivida em larga medida na imaginação (1º parágrafo) = a vida dos povos só alcança largueza quando vivida ilusoriamente
(C) fertilizam o real (2º parágrafo) = os sonhos e os desejos resultam de experiências fecundas
(D) resignar-se a um covarde e defensivo realismo (2º parágrafo) = buscar no real já dado uma proteção medrosa
(E) condenar-se […] à repetição medíocre (2º parágrafo) = próprio de quem evita ser medíocre repetindo as mesmas virtudes
Comentários:
a) Incorreto. Se está lastreado, tem lastro naquilo, tem base naquilo; não podemos dizer que dispensa base material de apoio.
b) Incorreto. A vida não é toda ilusória, mas é parte vivida na imaginação, apenas parte.
c) Incorreto. Fertilizar o real é fazer o real fecundo, prolífico, produtivo, fértil; não é resultar de nada que já é fértil.
d) Correto. O realismo é usado como sinônimo de medo de sonhar, neste contexto.
e) Incorreto. A repetição é medíocre, não é a pessoa que é medíocre ou evita sê-lo.
Gabarito letra D.
Se o sonho descuidado do real é vazio, o real desprovido de sonho é deserto.
Nesse período do texto, as duas orações que o compõem
(A) expressam idêntico conteúdo valendo-se de sujeitos distintos.
(B) são, de fato, um jogo irônico e ardiloso de palavras, infenso à lógica.
(C) destacam a importância da complementaridade entre o sonho e o real.
(D) condenam o sonho e o real pelo que ambos têm de restritivo em sua relação.
(E) valorizam um e outro sujeitos pelo que têm de intrinsecamente valioso.
Comentários:
Questão direta. O autor basicamente diz que o sonho nos move, então o realismo puro é covarde e não produz nada, pois depende de uma dose de fantasia. Ao mesmo tempo, a fantasia não pode ser sem qualquer base real, ou configura pura ilusão e não gera nada concreto. Em suma, são forças complementares. Gabarito letra C.
O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se numa forma do singular na frase:
(A) Nem ao sonho, nem à realidade (caber) fazer restrições, uma vez que ambos sempre se compuseram em nossas experiências.
(B) Sempre (haver) de precipitar-se desavenças inúteis e inconsequentes entre os idealistas puros e os realistas radicais.
(C) Não (constar) em nosso passado de civilizados incongruências fatais entre sonhos e desejos possíveis.
(D) É comum que mesmo numa relação familiar (atingir) uma proporção inaudita as desavenças entre idealistas e realistas.
(E) Não deixa de ser uma ironia que a idealistas e realistas (poder) eventualmente contrapor-se os indiferentes ao destino humano.
Comentários:
Modelo clássico da FCC que pede basicamente a localização do núcleo, do termo que justifica a concordância:
(A) Nem ao sonho, nem à realidade (cabe) fazer restrições, uma vez que ambos sempre se compuseram em nossas experiências.
O verbo fica no singular pois o sujeito é oracional:
Fazer restrições não cabe ao sonho, nem cabe à realidade.
Nos demais casos, o verbo deve ficar no plural, para concordar com sujeito plural. Veja:
(B) Sempre (HAVERÃO) de precipitar-se DESAVENÇAS inúteis e inconsequentes entre os idealistas puros e os realistas radicais.
(C) Não (CONSTAM) em nosso passado de civilizados INCONGRUÊNCIAS fatais entre sonhos e desejos possíveis.
(D) É comum que mesmo numa relação familiar (ATINJAM) uma proporção inaudita as DESAVENÇAS entre idealistas e realistas.
(E) Não deixa de ser uma ironia que a idealistas e realistas (PODEM) eventualmente contrapor-se OS INDIFERENTES ao destino humano.
Gabarito letra A.
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Poderia comentar a prova de Portugês para Técnico em Segurança e Transporte?
Bom dia, serão postados comentários sobre as provas de Oficial de Justiça e de Analista Judiciário? Obrigado.