Artigo

Redemocratização, Plano Collor e manifestações de março de 2015

Olá, pessoal.

 

É um prazer retornar a este espaço. No artigo de hoje, comentarei a redemocratização com a posse de José Sarney, o confisco da poupança com o Plano Collor e as manifestações populares deste março de 2015.

 

Em abril de 1985, ou seja, há 30 anos, o Brasil assistia à posse de seu primeiro presidente civil após o regime militar. Contudo, quem se tornava presidente não era Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral com apoio da população, mas sim José Sarney, que fora membro da Arena e do PDS, partidos de apoio ao governo durante a ditadura. Sarney se tornava “opositor de última hora”, porém, e, com a morte de Tancredo, viria a ser o presidente efetivo da Nova República. Sarney era um dos principais nomes civis do governo militar, mas, já próximo ao fim do regime, quando seu partido PDS indicou Maluf para concorrer à presidência, ele passou para a Frente Liberal e passou a integrar a oposição. Assim, surgia a Aliança Democrática com Tancredo Neves e José Sarney.

 

Durante o governo Sarney, foi elaborada e promulgada a nova Constituição (1988). Também em seu período, foi elaborado o Plano Cruzado, que devolveu inicialmente o poder de compra à população. Entretanto, com o congelamento de preços e com mais três outros programas de estabalização que fracassaram, a economia declinou e a inflação chegou a mais de 50% ao mês, até que em 1989 os brasileiros elegiam Fernando Collor de Mello para a presidência.

 

Collor tornava-se, assim, o primeiro presidente eleito pelo voto popular após o regime militar, mas a esperança do povo não demoraria para se desfazer. Em 16 de março de 1990, um feriado bancário, exato um dia após tomar posse, Collor anuncia uma série de medidas econômicas, incluindo o confisco dos depósitos bancários e das cadernetas de poupança. O plano é considerado um dos mais graves e duros da história do país. Após mais uma série de medidas, incluindo controle de salários e preços e aumento da tributação, a hiperinflação chegaria a 82%. Diante da crise econômica e política, incluindo denúncias de corrupção, Collor sofreria impeachment em 1992.

 

Em março de 2015, o impeachment volta à boca do povo.

 

Parte da população, extremamente descontente com os rumos da economia e da administração pública brasileira, pede a saída da presidente Dilma, reeleita há menos de seis meses. O Brasil parece degringolar numa crise ética e de corrupção sem limites e, além disso, inflação, alta de juros, perda do poder de compra, desvalorização da moeda e desemprego crescente começam a atingir em cheio a parte mais sensível da população. É bem verdade que, por outro lado,  parte da população defende a manutenção de Dilma e a continuidade do PT no poder, muito por causa das conquistas sociais, com programas de transferência direta de renda para diminuição da desigualdade (embora essas conquistas já sejam discutíveis), defesa de pautas das minorias e discursos de esquerda que criticam as elites, a direita política, o empresariado e partidos como PSDB, principalmente. Há uma disputa de discurso e de ideologia, portanto.

 

Assim, aparentemente, temos um cenário de polarização: de um lado, o Dilma, o PT, os movimentos sociais organizados e simpatizantes da esquerda; de outro, Aécio, o PSDB, a elite, o empresariado e simpatizantes da direita. Contudo, o cenário é bem mais complexo do que recortes meramente ideológicos: há insatisfeitos por todos os lados e em todas as camadas sociais. Com a operação Lava Jato, que denuncia, em termos de quantias, o maior escândalo de corrupção conhecido no Brasil, a situação do governo fica praticamente insustentável politicamente.

 

Esse cenário levou a população às ruas: em 15 de março de 2015, milhares (sem entrar na tola discussão de exatidão dos números) de pessoas saíram às ruas protestando contra o governo, o PT e a Dilma. Essa é uma das maiores manifestações populares desde as Diretas Já. Apesar da diversidade de pautas que vão desde intervenção militar até impeachment, há um vetor comum: os brasileiros estão fustigados de problemas econômicos, incompetência gerencial e improbidade administrativa. Os rumos do país são assustadores: somos um país extremamente caro, pouco interessante para o investimento e que politicamente parece optar para o lado mais obscuro do latinismo “bolivarianista” dos tempos recentes. Isso sem contar que somos um dos países mais violentos do mundo.

 

É bem que verdade que nossa corrupção é orgânica: somos um país culturamente corrupto. É o famoso jeitinho brasileiro (leiam Roberto DaMatta). Desde Raimundo Faoro, para não voltar mais no tempo, estudos sociológicos debatem o patrimonialismo em nossa administração pública: nós nos aproveitamos dos recursos públicos em benefício próprio, sistematicamente. As torneiras, portanto, estão abertas e o dinheiro escoa para o bolso de facilitadores, doleiros, tesoureiros, pizzareiros, abastecendo os cofres de partidos, políticos e sabe-se lá de mais quem. Não há santos nem heróis – verdade-, mas isso não é defesa para um partido ou para uma presidenta. Se estão todos no mesmo saco, que sejam julgado e, se for o caso, punidos do mesmo jeito. Ou alguém acha que, depois da prisão de tanta gente “graúda” (Dirceu, Genoíno, Renato Duque, Alberto Yousseff, Nestor Serveró, etc.), os comandantes da barca não tenham de responder por responsabilidade? E, se não possuíram responsabilidade mesmo, que sejam inocentados (na justiça e não na mídia).

 

Se haverá impeachment? Creio que não, uma vez que o PT é um partido com muita força no Congresso e que não há denúncias do Ministério Público contra Dilma (segundo o MP não há provas de envolvimento da Presidente), mas a instabilidade política e econômica parece certa pelos próximo anos. Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha seguem de olho vivo.

 

Ficamos por aqui. Um abraço e bons estudos.

Qualquer dúvida, crítica ou sugestão mandem para [email protected]

 

 >> Cursos Online para Concursos abertos

 

 

 

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja os comentários
  • Discordo, não acredito que o texto foi isento, ao contrário, foi altamente ideológico. Apesar de acrescentar fatos históricos que lhe dão credibilidade e citar os 2 lados para transmitir imparcialidade, mas ao longo do texto acrescentou muitas informações que carecem de fontes e outras altamente ideológicas, só que disfarçadas. Começando por "crise econômica sem limites". A presidente atual tem a menor média de inflação dos últimos presidentes (pelo menos nos últimos 30 anos) e baixo índice de desemprego. Portanto, termos como "incompetência gerencial" e "crise econômica" estão longe de serem consensos. Somando a isso, o uso do termo "maiores manifestações populares desde as Diretas Já". Olhando para o perfil dos manifestantes: maioria com renda maior que 10 salários mínimos, brancos, votaram no Aécio e com pautas altamente anti-democráticas como golpe militar e impeachment de um presidente que nem acusado foi, que dirá condenado. Portanto, uma elite econômica, se manifestando nos maiores centros econômicos do país, pedindo um terceiro turno. Com certeza "maiores manifestações populares" está longe de ser um consenso. Adicionando a isso tudo, esse termo "lado mais obscuro do latinismo “bolivarianista”". Observando mais profundamente sua origem, Simon Bolivar permitiu a independência da America e buscava a integração latino-americana, algo que não aconteceu. Isso inspirou Chávez é chamar sua política de Bolivariana. Vide que é uma política e não regime, pois regime induz a termos como ditadura e socialismo, o que é bem diferente. Já que a grande mídia não abre para essas discussões, mas na verdade seu governo foi bem democrático, pois foi eleito democraticamente 3 vezes (inclusive referendado por Recall), possui todos os poderes e entes funcionando normalmente. Portanto, não pode ser caracterizado diretamente como ditadura. Outra indução maldosa é acreditar que seria um regime diretamente socialista. Pelo contrário, não este nem de perto planificação da economia e estatização dos meios de produção, já que ainda existem fortes empresas no país e uma alta desigualdade social. Enquanto isso, os outros países citados nunca afirmaram ser “bolivarianistas”, nem estão alinhados com as políticas de Chaves, como por exemplo, controle de preços. Acrescento a pergunta: por que os regimes latino-americanos seriam tão obscuros? Por fim, em um site voltado a conhecimento técnico, como é o Estratégia, esse artigo foi muito pouco técnico e altamente ideológico, portanto acredito ser inapropriado ser postado aqui. Seria mais propício no seu perfil do Facebook ou em um site de notícias da grande mídia.
    Bruno em 19/03/15 às 15:12
  • O texto é péssimo e apenas cita a ideologia golpista da grande mídia. Onde se viu confundir manifestações populares, a exemplo da "Diretas Já" com MICARETA. Essa parcela que foi às ruas está pouco se importando com a corrupção, pois trata-se apenas de um bando de inconformados com o resultado eleitoral para presidente. Se fosse mesmo uma manifestação popular teríamos visto cartazes e faixas com reivindicações sociais, tais como: mais empregos, saúde e educação de qualidade para todos, solução para a crise hídrica no Estado Paulista, reforma tributária, entre outros. Jamais haveria faixas em inglês, afinal falamos e escrevemos em Português; solicitação de intervenção militar, clamando pela volta da ditadura, tampouco mulher nua desfilando em carro aberto. Foi sim a maior MICARETA, um carnavalzinho fora de época pra queimar ainda mais a imagem do Brasil no exterior . Na verdade faltou a tal ESTRATÉGIA, se é que me entendem!!!!!
    Claudia Silva em 19/03/15 às 12:56
  • A verdade é, que em nosso país nunca tivemos uma democracia, mas sim uma demagogia.
    Ricardo Cardoso em 18/03/15 às 20:00
  • O texto é péssimo e apenas cita a ideologia golpista da grande mídia. Onde se viu confundir manifestações populares, a exemplo da "Diretas Já" com MICARETA. Essa parcela que foi às ruas está pouco se importando com a corrupção, pois trata-se de apenas de um bando de inconformados com o resultado eleitoral para presidente. Se fosse mesmo uma manifestação popular teríamos visto cartazes e faixas com reivindicações sociais, tais como: mais empregos, saúde e educação de qualidade para todos, solução para a crise hídrica no Estado Paulista, reforma tributária, entre outros. Jamais haveria faixas em inglês, afinal falamos e escrevemos em Português; solicitação de intervenção militar, clamando pela volta da ditadura, tampouco mulher nua desfilando em carro aberto. Foi sim a maior MICARETA, um carnavalzinho fora de época pra queimar ainda mais a imagem do Brasil no exterior . Na verdade faltou a tal ESTRATÉGIA, se é que me entendem!!!!!
    Claudia Silva em 18/03/15 às 15:37
  • O texto é bom e observei que tentou ser o mais isento possível em suas colocações, parabéns pelo profissionalismo, mas a verdade é que este petismo está acabando com o nosso país. Seria interessante falar sobre o FORO DE SÃO PAULO, as reuniões e projeto de um socialismo bolivariano, anti-imperialismo, anti-neoliberalismo, projeto este que está acabando com países como Venezuela, Argentina, Brasil... Eles colocam como democráticos um projeto que veio ser liderado por Lula e Fidel. Democrático? Estamos sendo enganados e estamos vendo cada vez mais este PT aparelhar o estado e ainda por cima financiar obras nestes parceiros do FORO. É a hora de todos reunir forças contra este projeto nada democráticos. Entendo a roubalheira cultural, mas o que estamos vendo é muito mais do que isto. Esta escalda de roubalheira é fruto de um projeto de perpetuação no poder e na tentativa de buscar um senso comum, hegemonia cultural.
    FABRICIO G BORGES em 17/03/15 às 16:52