Artigo

Redação TRT 15ª Região (TJAA ): comentários sobre o tema.

Redação TRT 15ª Região (TJAA ): comentários sobre o tema.

Olá, pessoal. Como já era esperado, a banca Fundação Carlos Chagas – FCC manteve a tradição de cobrar do candidato um texto dissertativo-argumentativo com abordagem de determinado assunto à luz de um pensamento filosófico na redação da prova para o cargo de  Técnico Judiciário (Área Administrativa) do TRT 15ª Região.

A “bola da vez” foi o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, que nos traz uma reflexão sobre a multiplicação do igual. A propósito, é importante ressaltar que o Professor Raphael Reis comentou sobre as reflexões dele na aula do nosso curso de discursivas p/ o TRT 15 que abordou “O mundo do trabalho“.

Para saber as possíveis linhas de argumentação, passo a expor breves comentários sobre a reflexão do nobre filósofo.

Para Han, “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”, mas, “nessa vontade de ser diferente, prossegue o igual”.  Sua principal crítica é sobre os praticantes de maratonas de séries, as quais são por ele denominadas de “binge watching” (compulsão em assistir algo repetitivamente). Segundo Han, esses praticantes só veem o que gostam, sem margem para exploração do novo.

É notório que a sociedade atual despende horas como “praticantes de maratonas de séries”. Entretanto, Han nos leva a uma reflexão: isso tem sido um hábito saudável para nós?

Segundo o filósofo, a resposta é não! Esse tipo de comportamento leva-nos a uma evasão da busca pelo o que é diferente, tornando-nos simples multiplicadores do que é comum, do igual. Agora, tem-se um agravante: a sociedade moderna não percebe que está sendo dominada, o que não acontecia antigamente.

Pessoal, essa afirmação do filósofo traz algumas possibilidades de argumentação em seu texto, tais como: dependência dos meios digitais para estabelecer convívio social; vinculação do processo de trabalho à disponibilização de internet, condicionamento do próprio conceito de felicidade à conectividade virtual, alienação da realidade natural, etc.

Outro aspecto abordado por Han é a autenticidade. As pessoas se vendem como autênticas porque “todos querem ser diferentes uns dos outros”, o que força a “produzir a si mesmo”. E é impossível ser verdadeiramente diferente hoje, pois “nessa vontade de ser diferente prossegue o igual”. Resultado: o sistema só permite que existam “diferenças comercializáveis”. Percebe-se que o conceito de “ser diferente” transcende as gerações de forma mutável, ou seja: o que era diferente para os nossos pais pode não ser mais para os nossos filhos.

Em minha opinião, a principal reflexão trazida por Han (que abrilhantaria seu texto) é a questão dos limites que temos de ter quanto à autoalienação na busca por dígitos (“A terra é mais do que dígitos”). “Vive-se com angústia de não estar fazendo tudo o que poderia ser feito”. É “exploração de si mesma achando que está se realizando; é a lógica traiçoeira que culmina na síndrome de burnout” (distúrbio psíquico de caráter depressivo, precedido de esgotamento físico e mental intenso). Obviamente, sabemos da importância, no mundo contemporâneo, dos dígitos e resultados. Contudo, em conformidade com a análise do filósofo, devemos nos ater também à realidade em cores reais: “precisamos de um tempo próprio que o sistema produtivo não nos deixa ter; necessitamos de um tempo livre, que significa ficar parado, sem nada produtivo a fazer, mas que não deve ser confundido com um tempo de recuperação para continuar trabalhando; o tempo trabalhado é tempo perdido, não é um tempo para nós”.

É isso, pessoal. Espero ter esclarecido-lhes acerca das possibilidades argumentativas para a redação do cargo de Técnico Judiciário (Área Administrativa) do TRT 15ª Região.

Que venham as nomeações!

Carlos Roberto

Instagram: prof_carlosroberto

 

 

 

 

 

 

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja os comentários
  • Professor , boa noite , falei sobre não termos tempo para reflexão , o chamado ócio criativo porque somos consumidos pela ideia de não ficar parado , assim não nos tornamos singulares. No segundo parágrafo abordei o desejo de ser autêntico nas redes sociais , porém não refletindo isso na vida real. Você acha que fugi muito do tema ? Muito obrigado
    Celso em 30/07/18 às 22:48
  • Olá professor, segue a seguinte linha de argumentação: afirmei que as pessoas são, na sua essência, diferentes entre si, no entanto, ao sofrerem influência dos padrões impostos pela sociedade, acabam deixando de lado suas características e peculiaridades pelo medo da rejeição social. Ambientei minha argumentação citando a influência da indústria cultural, conceito desenvolvido por Adorno e Horkheimer, afirmando que a lógica de produção em massa da cultura impõe padrões de comportamento e modo de pensar e as pessoas, ao perseguirem referidos padrões, acabam projetando uma imagem de si mesmas pré determinada pela sociedade. Segui argumentando que esses padrões são perseguidos pois as pessoas buscam vantagens e passam a ser tanto consumidoras como passam a ser produtos também, e entendem que tais padrões lhe trarão vantagens competitivas. No entanto, não percebem que os padrão são impostos a todos e que na busca de ser diferentes acabam todas sendo iguais, é a homogeneização em detrimento do diferente. Por fim, na conclusão tentei fazer a chamada "intervenção social", ou seja, afirmei que o senso crítico e uma educação voltada para a reflexão são capazes de mitigar os efeitos dessa influência exercida pela sociedade. Dessa maneira, os indivíduos poderiam desenvolver verdadeiros diferenciais competitivos. Espero não ter saído do tema, procurei uma abordagem mais crítica do tema que foi proposto... o que acha?
    márcio em 30/07/18 às 14:03
  • Professor, eu discordei do autor sobre a "tentativa de sermos todos iguais", falei sobre a luta pelas diferenças que ainda encontram entraves na sociedade e mencionei sobre as empresas, movidas por seus desejos capitalistas, que buscam favorecer o que já é tradicionalmente aceito, ou seja, o "igual". Tem problema ter discordado? Acredito que temas implicítos deixa um campo muito amplo para a redação, mas fico com medo da fuga ao tema..
    Carolina em 30/07/18 às 13:04
  • Professor, uma dúvida: como você conseguiu o tema da redação? Já publicaram os cadernos de provas? Obrigada.
    Helena em 30/07/18 às 00:46
  • Boa noite Professor! Defendi a tese de que as pessoas querem ser reconhecidas como autenticas por vaidade. Querem ser vistas como pessoas que seguem seus proprios conceitos e ideias. Mas na verdade, o que percebemos nos diversos circulos socias sao pessoas extremamente iguais, vestindo-se da mesma forma - ou na mesma linha - , com aparencias muito parecidas. Elas leem os mesmos livros, assistem as mesmas series, como se isso fosse um pre-requisito para serem aceitas naquele meio. Contudo, defendi a ideia de que se amoldar ao circulo de convivencia e algo bom, desde que nao se perca a sua essencia, e, em contrapartida, ser autentico tambem e bom, desde que de forma genuina, natural.
    sheila em 29/07/18 às 22:38
  • Mas qual foi o tema proposto pela banca?
    Debora em 29/07/18 às 20:25
  • Boa noite! Professor diante do proposto pela banca, no caso se utilizei as palavras chave do texto e ao contextualizar minha tese, citei um outro filósofo e dei exemplos. Acha que a banca pode entender como fuga do tema?
    Viviane em 29/07/18 às 18:24
    • Olá, Viviane. Desde que os argumentos apresentados estejam alinhados com o tema proposto pela banca, não há problemas quanto à citação de outros filósofos. Na verdade, acho que isso enriquece seu texto!
      Carlos Roberto em 29/07/18 às 18:29