Recursos TJ SC – Português- Fundamentação – TÉCNICO e ANALISTA
Olá, pessoal, boa tarde. Tudo bem?
Conforme antecipei no vídeo da correção (disponível no nosso canal), há recursos sólidos para várias questões. Fiquem tranquilos!
Estes recursos são da prova de técnico, versão 1. Façam as adaptações relativas à numeração do seu caderno específico. Usarei como fonte principal o livro Comunicação em Prosa Moderna, de Othon Moacyr Garcia, publicado pela própria FGV e do qual ela retirou várias questões dessa e de muitas outras provas.
Não há como formular “modelo de recurso”, pois recursos padronizados são sumariamente indeferidos. Elaborem seus recursos com suas próprias palavras, ok?
Há outras questões também que são discutíveis, porém vou focar só nos recursos mais realistas e viáveis. Vamos lá!
RECURSOS PROVA TÉCNICO
(FGV / TJ-SC / TÉCNICO / 2018)
“Disse que todo mundo ia rir de mim, por causa das meias vermelhas”.
Esse segmento do texto 1 está em discurso indireto; a frase correspondente em discurso direto é:
(A) todo mundo vai rir de mim, por causa das meias vermelhas;
(B) todo mundo riu de mim, por causa das meias vermelhas;
(C) todo mundo rirá de mim, por causa das meias vermelhas;
(D) todo mundo irá rir de mim, por causa das meias vermelhas;
(E) todo mundo ria de mim, por causa das meias vermelhas.
Comentários:
Gabarito oficial letra A.
Aqui, a banca apresenta uma fala da mãe em discurso indireto (reproduzida indiretamente pelo menino) e pede a forma correspondente em discurso DIRETO.
Vejamos brevemente a definição de discurso direto e indireto, segundo Othon Moacyr Garcia, referência clássica da FGV, com destaques meus:
“No discurso direto — a oratio recta do latim —, o narrador reproduz (ou imagina reproduzir) textualmente as palavras — i.e., a fala — das personagens ou interlocutores:
Carlota, que estava a meu lado, observou que, afinal, eu não tinha motivo
para deixar de atender ao pedido de Mère Blandine (…)
— [Eu] Estou com preguiça este ano, disse-lhe.
— Bom, é um motivo respeitável, respondeu; mas você não conseguirá escapar de Mère Blandine (…)
— Quem sabe valeria a pena voltar? [Eu] perguntei (…)
(Anjos, 1956:197)
No primeiro parágrafo, o autor transmite com as suas próprias palavras apenas a essência do pensamento da personagem ou interlocutora Carlota:
“Carlota (…) observou que, afinal, eu não tinha motivo para deixar de atender ao pedido de Mère Blandine”. Trata-se de discurso indireto.
A parte restante do trecho está em discurso direto: as palavras que traduzem o pensamento das personagens (uma das quais é o próprio narrador) são as mesmas que teriam sido, presumivelmente, proferidas. As mesmas ideias poderiam, em essência, assumir a seguinte versão em discurso indireto:
Eu disse-lhe [a Carlota] que estava com preguiça naquele ano, e ela me respondeu que era um motivo respeitável, mas que eu não conseguiria escapar de Mère Blandine. Então, perguntei se valeria a pena voltar.
(Othon Moacyr Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, 27ª edição, FGV editora)
Então, observe que, no discurso direto, a própria personagem pessoa fala, em primeira pessoa, marcada visivelmente pelo pronome [Eu].
Então, se a fala é literal da mãe, dirigindo-se ao menino, não faria sentido manter esse “de mim”, que remete ao discurso indireto. A conversão correta seria:
(A) todo mundo vai rir DE VOCÊ (O MENINO, OUVINTE), por causa das meias vermelhas;
A mãe nunca poderia usar “de mim” se referindo ao menino. Não iam rir da mãe, mas sim das meias do menino. Para não restar dúvidas, observem que, na segunda linha, o pronome VOCÊ usado para se referir ao ouvinte do discurso direto.
Além disso, há um outro problema. Vejamos:
Se o verbo da fala, no caso “ir”, estiver no presente (vai), a regra básica de conversão prescreve que no discurso indireto fique no pretérito imperfeito (ia).
“Quando o verbo da fala está no presente do indicativo e o da oração justaposta, no pretérito perfeito, o primeiro vai para o pretérito imperfeito do mesmo modo, mas o segundo não sofre alteração
DISCURSO DIRETO
— Estou com preguiça este ano, disse-lhe.
DISCURSO INDIRETO
Disse-lhe que estava com preguiça naquele ano.”
Isso foi sim respeitado pela banca de maneira literal e mecânica. Contudo, esse “vai” não é realmente um verbo solto, mas sim é um verbo auxiliar numa locução: “vai rir”, que em nossa língua, é uma forma perifrástica (de locução) do futuro do presente:
Vai rir = Rirá
Essa locução é um substituto do futuro simples, como registra Celso Cunha:
“Na língua falada o FUTURO SIMPLES é de emprego relativamente raro. Preferimos, na conversação, substituí-lo por locuções constituídas:
[…]
- C) presente do indicativo do verbo ir + infinitivo do verbo principal […]
Vai casar com o melhor amigo. (A. Abelaira, CF, 113)
O gerente foi demitido e o Costa vai substituí-lo. (Ferreira de Castro, OC, II, 613)
(Celso Cunha, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 7ª Edição, pág. 475)
Portanto, a forma “rirá” também seria igualmente correta no discurso direto.
Então, a questão deveria ser anulada, pois nenhuma das alternativas traz uma reescritura coerente da fala narrada e há também duas alternativas com formas verbais consideradas corretas.
(FGV / TJ-SC / TÉCNICO / 2018)
Ele falou, com simplicidade: “No ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo. Colocou em mim essas meias vermelhas. Eu reclamei. Comecei a chorar. Disse que todo mundo ia rir de mim, por causa das meias vermelhas.
Mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas. Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um menino de meias vermelhas, saberia que o filho era dela.”
Sobre os sinais de pontuação e sinais gráficos empregados nesse segmento do texto, é correto afirmar que:
(A) as aspas são empregadas para destacar um segmento importante da narrativa;
(B) o emprego de vírgula após “Ele falou” é obrigatório;
(C) o emprego de dois pontos após “colocar as meias vermelhas” seria também adequado;
(D) o emprego de ponto entre “Eu reclamei” e “Comecei a chorar” é incorreto, já que se deveria empregar a conjunção “e”;
(E) o emprego de uma vírgula antes de “quando visse um menino de meias vermelhas” é optativo.
Gabarito letra C.
Aqui o gabarito era bem direto. Contudo, quem quiser contestar, pode alegar seguramente que a letra C também tem problemas, pois o uso do sinal de dois-pontos não seria correto sem o devido ajuste de letras minúsculas, que a banca não mencionou. Trocando diretamente, haveria erro.
(FGV / TJ-SC / TÉCNICO / 2018)
A frase abaixo, do mesmo autor do texto 1, que NÃO estabelece ligação temática com o significado do texto é:
(A) “Lesadas em sua afetividade, vivem cada dia à espera do retorno dos amores…”;
(B) “Muitas almas existem, na Terra, solitárias e tristes, chorando um amor que se foi”;
(C) “Somos responsáveis pelos que cativamos ou nos confiam seus corações”;
(D) “Que o filho que tomou o rumo do mundo e não mais escreveu, nem deu notícia alguma, volte ao lar”;
(E) “Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura”.
Comentários:
Gabarito oficial letra D.
Aqui, a banca pede a alternativa que não tem ligação temática com o sentido do texto. No entanto, em todas as alternativas, reproduz partes do texto original, com comentários do próprio autor sobre os sentidos da narrativa! Todas são tematicamente pertinentes ao texto, são, inclusive, PARTE DELE! Vejam:
Garoto das Meias Vermelhas
Ele era um garoto triste. Procurava estudar muito.
Na hora do recreio ficava afastado dos colegas, como se estivesse procurando alguma coisa.
Todos os outros meninos zombavam dele, por causa das suas meias vermelhas.
Um dia, o cercaram e lhe perguntaram porque ele só usava meias vermelhas.
Ele falou, com simplicidade:
“no ano passado, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo”.
Colocou em mim essas meias vermelhas.
Eu reclamei. Comecei a chorar.
Disse que todo mundo iria rir de mim, por causa das meias vermelhas.
Mas ela disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as meias vermelhas.
Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse um menino
de meias vermelhas, saberia que o filho era dela.”
“Ora”, disseram os garotos. “mas você não está num circo.
Por que não tira essas meias vermelhas e as joga fora?”
O menino das meias vermelhas olhou para os próprios pés,
talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou:
“é que a minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora”.
Por isso eu continuo usando essas meias vermelhas.
“Quando ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja,
ela vai me encontrar e me levará com ela.”
Muitas almas existem, na Terra, solitárias e tristes, chorando um amor que se foi.
Colocam meias vermelhas, na expectativa de que alguém as identifique,
em meio à multidão, e as leve para a intimidade do próprio coração.
São crianças, cujos pais as deixaram, um dia, em braços alheios,
enquanto eles mesmos se lançaram à procura de tesouros, nem sempre reais.
Lesadas em sua afetividade, vivem cada dia à espera do retorno dos amores,
ou de alguém que lhes chegue e as aconchegue.
Têm sede de carinho e fome de afeto.
Trazem o olhar triste de quem se encontra sozinho e anseia por ternura.
São idosos recolhidos a lares e asilos, às dezenas.
Ficam sentados em suas cadeiras, tomando sol, as pernas estendidas,
aguardando que alguém identifique as meias vermelhas.
Aguardam gestos de carinho, atenções pequenas.
Marcam no calendário, para não se perderem, a data da próxima visita,
do aniversário, da festividade especial.
Aguardam…
São homens e mulheres que se levantam todos os dias, saem de casa,
andam pelas ruas, sempre à espera de alguém que partiu, retorne.
Que o filho que tomou o rumo do mundo e não mais escreveu,
nem deu notícia alguma, volte ao lar. (essa foi apontada como gabarito!)
São namorados, noivos, esposos que viram o outro sair de casa,
um dia, e esperam o retorno.
Almas solitárias. Lesadas na afetividade. Carentes.
Pense nisso!
O amor, sem dúvida, é lei da vida.
Ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração
quando abandonado por outro.
E nem pode aquilatar da qualidade das reações que virão daqueles
que emurchecem aos poucos, na dor da afeição incompreendida.
Todos devemos respeito uns aos outros.
Somos responsáveis pelos que cativamos ou nos confiam seus corações.
Se alguém estiver usando meias vermelhas, por nossa causa, pensemos se esse
não é o momento de recompor o que se encontra destroçado,
trabalhando a terra do nosso coração.
A maior de todas as artes é a arte de viver juntos.
Portanto, a questão deveria ser anulada, por trazer todas as alternativas com pertinência absoluta ao texto.
Texto 2 – Os Estatutos do Homem (segmento)
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Thiago de Mello, Os Estatutos do Homem
(FGV / TJ-SC / TÉCNICO / 2018)
O texto 2 é formulado impessoalmente; o segmento em que isso fica comprovado é:
(A) fica decretado;
(B) a maior dor sempre foi e será sempre;
(C) a quem se ama;
(D) saber que é a água;
(E) que dá à planta o milagre da flor.
Comentários:
Gabarito oficial letra C.
Aqui a banca pede o segmento que mostra que o texto foi formulado “impessoalmente”. Ora, sabemos que o uso da voz passiva é uma clássica ferramenta de impessoalização de um texto, pois configura um recurso de omissão da autoria de uma ação, isto é, de não apontar a pessoa (o agente) por trás de determinado verbo.
Esse entendimento de que a voz passiva é recurso para um texto impessoal foi cobrado muitas vezes pela FGV, mostrarei diversas questões abaixo.
Primeiro, mostro esse recurso no próprio livro de Othon Moacyr Garcia, referência da FGV. Segue abaixo um texto que é indicado pelo autor como “impessoal” e logo ao fim ele claramente diz que a voz passiva é o recurso utilizado para esse efeito impessoal.
Oxidação com permanganato em meio peridínico Dissolveram-se 0,5g de ciantolina em 500ml de piridina, em ebulição, e adicionaram-se com pequenos intervalos 2g de permanganato de potássio.
A mistura foi refluxada durante 7 horas e deixada em repouso por um dia. Após esse período, aqueceu-se mais uma hora e filtrou-se o líquido peridínico a quente. Destilou-se a maior parte da piridina, recolhendo-se ao esfriar 0,3g da ciantolina cristalizada com P. F. 278-279ºC. O resíduo do filtro foi lavado com 20ml de água quente (80ºC), quatro vezes, e o total dos líquidos, depois de frio, acidificado com ácido clorídrico ao vermelho Congo. Precipitou-se o ácido orgânico, com aspecto gelatinoso, que foi, por centrifugação, separado e lavado várias vezes, secando-se a seguir em um dessecador a vácuo. Obtiveram-se 0,086g (13,5%) do ácido I, fundindo-se a 368-372ºC. Depois do tratamento com água acidulada (aproximadamente pH 4; HCI), em ebulição, e ulterior cristalização em dioxano etanol (1:1), o seu ponto de fusão elevou-se a 375- 78ºC (decomposição).
(Martins Filho e colaboradores, 1963:192)
Note-se que, apesar do vocabulário técnico, a descrição se faz de maneira clara e objetiva: a cada fase ou estágio da experiência corresponde um período sucinto (o mais extenso deles tem apenas três orações) com escassa subordinação. Note-se ainda o feitio impessoal da exposição narrativa:
“dissolveram-se…”, “a mistura foi refluxada…”, “aqueceu-se…”, etc., em vez de
“dissolvemos”, “refluxamos” ou “aquecemos”, isto é, voz passiva e não ativa.
(Othon Moacyr Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, 27ª edição, Pág. 466, FGV editora)
Agora, seguem diversas questões provando que a banca entendeu ser a voz passiva um indicativo de texto impessoalmente construído:
Vejam a letra B, considerada CORRETA (IMPESSOALIDADE).
(FGV/ DPE-RO / Analista da Defensoria Pública – Analista em Redação)
A impessoalidade é marca da redação oficial; tal impessoalidade aparece em várias estratégias, EXCETO:
- a) no emprego de construções de sujeito indeterminado;
- b) no emprego de voz passiva sintética;
- c) na atribuição das ações a um órgão público;
- d) na ausência de impressões individuais do enunciador;
- e) no direcionamento da mensagem a uma pessoa não identificada.
(Gabarito Letra E)
(FGV / TJ-PI / ANALISTA / 2015)
Em 1997 foram criados os rodízios para diminuir a circulação de veículos em determinados horários na capital paulista. Também foram feitas ciclovias (17,5 km) e campanhas de conscientização. Mas nada disso resolveu o caos no trânsito.
No texto há duas formas verbais na voz passiva: “foram criadas” e “foram feitas”. A opção pela voz passiva faz com que as ações realizadas:
- a) não mostrem seus agentes;
- b) se localizem em passado distante;
- c) se processem simultaneamente;
- d) sejam atribuídas a agentes diferentes;
- e) indiquem ações potenciais e não reais.
Comentários:
O uso da voz passiva é uma estratégia para omitir o agente do verbo e dar destaque somente a quem sofreu a ação. Não é a voz passiva que indica o tempo, é o próprio verbo. A voz verbal indica se o sujeito sofre ou pratica a ação.
(Gabarito letra A)
(FGV / PREFEITURA DE CUIABÁ / TÉCNICO / 2015)
“Quando foi convidado…”
A forma verbal desse segmento está na voz passiva, que, nesse caso, traz a seguinte marca:
- a) situa a ação no passado distante.
- b) não identifica o agente da ação.
- c) mostra uma ação sem autoria.
- d) indica uma ação não terminada.
- e) marca uma ação com duração no passado.
Comentários:
O uso da voz passiva com agente da passiva omitido serve para não identificar o agente da ação e realçar só o sujeito paciente. Gabarito letra B
(FGV / TJ-RO / ADMINISTRADOR / 2015)
Vimos que o Vale do Silício é um tecnopolo importante, com indústria avançada, de ponta, em que são feitos altos investimentos. Mas, às vezes, uma simples ideia pode valer mais do que muita tecnologia. É o caso da maior rede social do mundo, o Facebook.
Na frase “…em que são feitos altos investimentos”, a forma verbal na voz passiva permite a:
- a) omissão do agente da ação;
- b) falta de indicações temporais;
- c) localização dos fatos no presente;
- d) indicação clara do término da ação;
- e) informação sobre o local da ação.
Comentários:
Mais uma vez: a voz passiva é usada para omitir o agente da ação e dar realce ao sujeito paciente. Gabarito letra A
Portanto, não há como sustentar que “fica decretado”, sentença em voz passiva, com agente omitido, não seja uma comprovação da impessoalidade do texto. A própria banca entende dessa forma.
A letra A está correta!
Texto 3 – O discurso da separação amorosa
Flávio Gikovate em 16/03/2015
Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade em relação ao destino do outro. Mesmo o parceiro que tomou a iniciativa fará de tudo para saber como o abandonado está passando. Esse interesse raras vezes resulta de uma genuína solidariedade. Decorre, na maioria dos casos, de uma situação ambivalente que lembra o mecanismo da gangorra. Por um lado, ver o sofrimento de uma pessoa tão íntima nos deixa tristes; por outro, satisfaz a vaidade. Num certo sentido, é gratificante saber que o ex-companheiro vive mal longe de nós e teve prejuízos com a separação. Esse aspecto menos nobre da personalidade humana, infelizmente, costuma predominar.
(FGV / TJ-SC / TÉCNICO / 2018)
O texto 3 deve ser visto como argumentativo; os argumentos apresentados pelo autor se fundamentam nos(na):
(A) opinião pessoal do autor;
(B) testemunhos de autoridade;
(C) experiência profissional de psicólogos;
(D) observação científica da natureza humana;
(E) depoimentos pessoais de pessoas separadas.
Comentários:
(Gabarito letra A)
Aqui, a banca parece ter feito uma inversão conceitual. Afirma que o texto é dissertativo-argumentativo, o que necessariamente implica que trará uma opinião e uma argumentação que a sustente. No enunciado, porém, ela inverte essa lógica básica da argumentação e diz que “os argumentos apresentados pelo autor se fundamentam na opinião pessoal do autor”.
Ora, é o argumento que fundamenta uma opinião, uma opinião pessoal não valida argumento. Primeiro se declara a opinião, depois se argumenta a favor dela.
Vejam:
Da validade das declarações
Declarações, apreciações, julgamentos, pronunciamentos expressam opinião pessoal, indicam aprovação ou desaprovação. Mas sua validade deve ser demonstrada ou provada. Ora, só os fatos provam; sem eles, que constituem a essência dos argumentos convincentes, toda declaração é gratuita, porque infundada, e, por isso, facilmente contestável. O pronunciamento “Fulano é ladrão” vale tanto quanto a sua contestação: “Não, Fulano não é ladrão”. E nenhum dos dois convence. Limitando-se apenas a afirmar ou negar sem fundamentação, isto é, sem a prova dos fatos, que são, grosso modo, especificações em que se apoiam as generalizações traduzidas em pronunciamentos, os interlocutores acabam travando um “bate-boca” estéril da mesma ordem daqueles a que seriam levados se argumentassem apenas com palavras de sentido intensional (rever 2. Voc., 1.5). Nenhum dos dois convence porque ambos expressam opinião pessoal, certamente não isenta de prevenções ou preconceitos.
(Othon Moacyr Garcia, Comunicação em Prosa Moderna, 27ª edição, Pág. 466, FGV editora)
Portanto, não se pode sustentar o entendimento que o autor usa opinião para embasar argumentos.
A resposta mais razoável entre as apresentadas seria a letra D, observação científica da natureza humana, pois o autor é um profissional do ramo das ciências humanas e ao longo de seu texto observa o comportamento humano (natureza humana) em um número de casos concretos e depois declara quais comportamentos são mais “comuns” entre os casos analisados. Veja o vocabulário marcado, que indica “observação da natureza humana em diversos casos”, que é justamente o que autor usa para sustentar sua opinião:
Flávio Gikovate em 16/03/2015
Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade em relação ao destino do outro. Mesmo o parceiro que tomou a iniciativa fará de tudo para saber como o abandonado está passando. Esse interesse raras vezes resulta de uma genuína solidariedade. Decorre, na maioria dos casos, de uma situação ambivalente que lembra o mecanismo da gangorra. Por um lado, ver o sofrimento de uma pessoa tão íntima nos deixa tristes; por outro, satisfaz a vaidade. Num certo sentido, é gratificante saber que o ex-companheiro vive mal longe de nós e teve prejuízos com a separação. Esse aspecto menos nobre da personalidade humana, infelizmente, costuma predominar.
Portanto, a letra A não pode ser considerada correta e o gabarito deve ser alterado para a letra D.
- (FGV / TJ-SC / TÉCNICO / 2018)
O segmento sublinhado do texto 3 que mostra uma substituição INADEQUADA é:
(A) “Por um lado, ver o sofrimento de uma pessoa tão íntima nos deixa tristes” / De forma parcial;
(B) “Num certo sentido, é gratificante saber que o excompanheiro vive mal longe de nós” / De certo modo;
(C) “Esse interesse raras vezes resulta de uma genuína solidariedade” / raramente;
(D) “Decorre, na maioria dos casos, de uma situação ambivalente” / geralmente;
(E) “Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade em relação ao destino do outro” / relativamente.
Comentários:
Gabarito oficial letra A.
Não há dúvidas de que a letra A traz uma troca inadequada. A correlação opositiva “Por um lado…por outro lado” é consolidada na língua e não se admite troca da primeira parte ‘por um lado’ por “De forma parcial”, tanto pela diferença semântica, que geraria incoerência, tanto pela quebra de paralelismo.
Porém, também está incorreta a troca feita na letra E, pois incorre em erro de regência: supressão de preposição obrigatória. A preposição “a” é obrigatória tanto na locução “em relação A” quanto em sua forma adverbializada: “relativamente A”. A banca sublinhou até a preposição, indicando que seria também suprimida na troca. Veja o problema que isso gera:
(E) “Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade em relação ao destino do outro” / relativamente.
(E) “Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade relativamente outro” / relativamente.
Dessa forma, a troca só estaria mesmo correta se tivéssemos:
(E) “Um dos sentimentos mais comuns depois de uma separação amorosa é a enorme curiosidade relativamente ao outro”
Portanto, há duas alternativas erradas.
RECURSOS PROVA ANALISTA
(FGV / TJ-SC / ANALISTA / 2018)
Na estruturação da notícia do texto 1, o jornal deu principal destaque ao seguinte papel de Stephen Hawking:
(A) possuir uma mente privilegiada;
(B) ter revolucionado o estudo da cosmologia;
(C) ser um símbolo de superação;
(D) ter tido papel decisivo na divulgação científica;
(E) ter virado um ídolo pop.
Comentários:
Gabarito preliminar letra C.
Como regra básica na construção textual, temos que a antecipação de termos dá a eles destaque, relevo, ênfase. Daí vem a orientação de o tópico frasal, informação principal, vir no início dos parágrafos.
Veja a lição de Othon Moacyr Garcia:
Diz-se que há inversão quando qualquer termo está fora da ordem direta, fora da sua posição normal ou habitual. A inversão pode dar à frase mais vigor e mais energia, o que é o mesmo que dizer: mais ênfase, realce ou relevo. Se, pela ordem direta, o objeto direto, o objeto indireto e o predicativo se pospõem ao verbo, basta antepô-los para que eles, por ocuparem uma posição insólita, ganhem maior relevo. Confrontem-se as duas versões seguintes:
Ordem direta: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança.
Ordem inversa: O homem, fê-lo Deus à sua imagem e semelhança.
É evidente que a posição incomum de homem no início da segunda versão lhe dá maior realce do que o que lhe advém da colocação normal na primeira.
Pode-se conseguir o mesmo efeito com os demais termos. Se se quisesse realçar “à sua imagem e semelhança”, bastaria, no caso, a anteposição:
À sua imagem e semelhança, fez Deus o homem.
Por isso também, marcamos com vírgula os adjuntos adverbiais antecipados. Veja as palavras de Sacconi:
“Usa-se vírgula […]
5 – para separar o adjunto adverbial, quando a ele se quer dar ênfase:
“Em um naufrágio, quem está só ajuda-se mais facilmente”
Observe no trecho abaixo as palavras em destaque:
“Hoje o céu e a terra me sorriram; hoje recebi o sol do fundo da minhalma. Hoje eu a vi, e ela olhou para mim. Hoje, acredito em Deus”.
A vírgula foi propositadamente usada apenas depois do último hoje, em virtude de o autor desejar ali maior ênfase. “
(Luiz Antônio Sacconi, Nossa Gramática, Teoria e Prática, 22ª edição, Editora Atual, pág.450)
Pois bem, temos exatamente um adjunto adverbial antecipado, marcado por vírgula, topicalizado em posição de destaque. Portanto, a ênfase recai na informação colocada como tópico frasal:
Em reverência ao gênio que revolucionou o estudo da cosmologia,
Portanto, propõe-se alteração do gabarito, para que conste a letra B como correta, tendo em vista que não há no texto informação objetiva que sustente o destaque não estar na informação topicalizada.
(FGV / TJ-SC / ANALISTA / 2018)
“Inteligência e sabedoria não são a mesma coisa. Entretanto, na linguagem cotidiana, usamos os dois termos indistintamente”.
Esse segmento do texto 2 mostra que nossa linguagem cotidiana:
(A) falha em determinar especificidades da realidade;
(B) é empregada de diferentes formas em função da situação comunicativa em que se insere;
(C) não possui todos os vocábulos necessários à perfeita comunicação humana;
(D) engloba todo o conhecimento humano, mas não é usada de forma coerente por todos;
(E) não é capaz de mostrar a diferença entre realidades próximas.
Comentários:
Considerando que o gabarito seja a letra A, a língua cotidiana falha em determinar especificidades da realidade, no caso, falha em determinar a diferença específica entre inteligência e sabedoria. Assumindo como verdade essa informação, como faz crer o gabarito letra A, essa informação é equivalente a: não é capaz de mostrar (falha em mostrar) a diferença entre realidades próximas.
Próximas porque, no contexto da língua cotidiana e também na abordagem mais técnica do texto, inteligência e sabedoria sim são conceitos com vários pontos de contato, inclusive sendo esta a razão de serem cotidianamente confundidos (usados indistintamente na linguagem cotidiana, por serem próximos, ainda que com diferenças específicas).
Portanto, o gabarito dá margem a aceitar mais de uma alternativa como correta.
Gabarito preliminar letra A.
(FGV / TJ-SC / ANALISTA / 2018)
“Em vista disso, inteligência e sabedoria são dois conceitos interessantes. Assim, poderemos ter uma ideia mais precisa e útil do que realmente são. Afinal, se queremos algo, além de ter um alto QI, é necessário desenvolver uma sabedoria excepcional e moldar uma personalidade virtuosa. Isso vai um passo além do cognitivo e do emocional”.
O conectivo sublinhado acima que tem seu valor semântico indicado INADEQUADAMENTE é:
(A) em vista disso / causa;
(B) assim / conclusão;
(C) do que / comparação;
(D) se / condição;
(E) além de / adição.
Comentários:
Na estrutura “Assim, poderemos ter uma ideia mais precisa e útil do que realmente são”, o “do que” não expressa comparação. Temos “preposição + pronome demonstrativo + pronome relativo”: “daquilo que” realmente são. O “que” é pronome relativo e retoma o pronome “o”, não havendo que se falar em comparação.
Além disso, o advérbio “assim” não introduz uma conclusão, pois não existe uma relação de decorrência lógica entre “inteligência e sabedoria são dois conceitos interessantes” e “poderemos ter uma ideia mais precisa e útil do que realmente são”.
Gabarito preliminar letra B.
Sugere-se a anulação ou mudança de gabarito para letra C.
OBS: Também considerei o gabarito da questão 1 (a seleção de temas de destaque) absurdo ou, no mínimo, pouco “objetivo”. A alternativa é muito “vaga”: não há “temas de destaque”, o tema é um só: “a morte de Stephen Hawking”, as informações relacionadas ao tema principal, como “ser gênio, revolucionar a cosmologia, ser britânico, ter tido papel decisivo e ser pop” não são todas “temas de destaque” que configuram a característica mais marcante de um texto resumido. Não tendo acesso à matéria completa, não se pode afirmar o quanto de “seleção” realmente houve. De objetivo, claro no texto, temos uma sequência de termos coordenados por pontuação, com ausência quase total de conectivos (daí “preferência” por sinais de pontuação). Então, o gabarito deveria ser alterado para letra B.
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Abraço e até amanhã!