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Recurso SEFAZ/AL – Raciocínio Lógico

Fala, pessoal!!

Tudo bem?

Tivemos uma divergência entre o meu gabarito extraoficial e o gabarito preliminar da banca CEBRASPE para o concurso da SEFAZ/AL (Auditor Fiscal e Auditor de Finanças e Controle).

Sugiro aqui um recurso para a questão de número 100 (prova para Auditor Fiscal) e questão número 93 (prova para Auditor de Finanças e Controle).

(CEBRASPE 2020/SEFAZ-AL)

No argumento seguinte, as proposições P1, P2, P3 e P4 são as premissas, e C é a conclusão.

  • P1: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor Alfa, então o trabalho dos servidores públicos que atuam nesse setor pode ficar prejudicado”.
  • P2: “Se há carência de recursos tecnológicos no setor Alfa, então os beneficiários dos serviços prestados por esse setor podem ser mal atendidos”.
  • P3: “Se o trabalho dos servidores públicos que atuam no setor Alfa fica prejudicado, então os servidores públicos que atuam nesse setor padecem”.
  • P4: “Se os beneficiários dos serviços prestados pelo setor Alfa são mal atendidos, então os beneficiários dos serviços prestados por esse setor padecem”.
  • C: Se há carência de recursos tecnológicos no setor Alfa, então os servidores públicos que atuam nesse setor padecem e os beneficiários dos serviços prestados por esse setor padecem”.

Considerando esse argumento, julgue os itens seguintes.

100. O argumento em questão é válido.

Resolução

Resolução

Para simplificar a resolução, vamos representar as proposições simples através de símbolos.

p: Há carência de recursos tecnológicos no setor Alfa.

q: O trabalho dos servidores públicos que atuam nesse setor pode ficar prejudicado.

r: Os beneficiários dos serviços prestados por esse setor podem ser mal atendidos.

s: Os servidores públicos que atuam nesse setor padecem.

t: Os beneficiários dos serviços prestados por esse setor padecem.

Assim, o argumento tem a seguinte estrutura simbólica.

  • P1: p –> q
  • P2: p –> r
  • P3: q –> s
  • P4: r –> t
  • C: p –> (s ^ t)

É importante lembrar da regra de inferência conhecida como “silogismo hipotético”.

Se A, então B.
Se B, então C.
Portanto, Se A, então C.

Assim, juntando as proposições P1 e P3 usando o silogismo hipotético, temos:

  • P1: p –> q
  • P3: q –> s
  • Portanto, p –> s.

Juntando agora as proposições P2 e P4 usando o silogismo hipotético, temos:

  • P2: p –> r
  • P4: r –> t
  • Portanto, p –> t.

Assim, até agora concluímos duas proposições:

p –> s

p –> t

É importante notar a seguinte equivalência:

Em outras palavras, se temos duas proposições condicionais com o mesmo antecedente p, podemos juntá-las colocando apenas um consequente composto pelo conectivo “e”.

Assim, podemos juntar as proposições p –> s e p –> t para obter a proposição p –> (s ^ t) , que é justamente a conclusão do argumento dado. Logo, o argumento é válido.

O item está certo.

Para a minha surpresa, o CEBRASPE considerou, em seu gabarito preliminar, inválido o argumento.

Eu acredito que a banca tenha adotado essa posição pela possível diferença de interpretação nas expressões “pode ficar prejudicado” e “fica prejudicado”. Há também possibilidade de diferença de sentido nas expressões “podem ser mal atendidos” e “são mal atendidos”.

A língua portuguesa é muito rica e, muitas vezes, a Lógica Simbólica não consegue captar as nuances da língua.

Por que fiquei surpreso com o gabarito do CEBRASPE? Ora, em muitas outras ocasiões, a banca foi leniente com as nuances da língua portuguesa.

Veja alguns exemplos.

(CEBRASPE 2015/MPOG – Administrador)

Considerando a proposição P: “Se João se esforçar o bastante, então João conseguirá o que desejar”, julgue o item a seguir.

A proposição “Se João não conseguiu o que desejava, então João não se esforçou o bastante” é logicamente equivalente à proposição P.

O gabarito oficial da banca foi CERTO.

Ora, a proposição P indica que se João se esforçar o bastante, então João conseguirá o que desejar. Em outras palavras, a proposição P indica que algo acontecerá no futuro se João se esforçar o bastante. Não podemos garantir que essa condicional era válida no passado.

Assim, a rigor, a questão acima está errada, pois as proposições não são equivalentes. É possível que algo seja verdadeiro no tempo futuro, mas que seja falso em um tempo passado.

Vejamos outro exemplo:

(CEBRASPE 2008/Banco do Brasil)

A proposição “Se as reservas internacionais em moeda forte aumentam, então o país fica protegido de ataques especulativos” pode também ser corretamente expressa por “O país ficar protegido de ataques especulativos é condição necessária para que as reservas internacionais aumentem”.

O gabarito oficial da banca foi CERTO.

Ora, na segunda frase, não sabemos que tipo de reservas internacionais aumentam. São reservas internacionais de moeda forte? São reservas internacionais de ouro? São reservas internacionais de que exatamente?

Assim, as proposições não são equivalentes e a questão deveria ter alterado o seu gabarito para ERRADO.

Reforço que a língua portuguesa é muito rica e que a lógica simbólica não é capaz de captar as nuances e múltiplas funções da língua.

A banca CEBRASPE em diversas ocasiões, como mostrado acima, foi leniente, mas decidiu adotar o maior rigor possível no concurso da SEFAZ/AL.

Esse tipo de atitude prejudica o candidato bem preparado, pois o candidato perde o foco do Raciocínio Lógico e entra em um dilema para descobrir se a banca quer fazer uma pegadinha ou se está sendo leniente mais uma vez.

Não é a primeira vez que a banca CEBRASPE altera sua maneira de pensar. Tivemos um caso parecido no último concurso da Polícia Federal (2018).

Diante do histórico da banca CEBRASPE, defendo que o gabarito da questão 100 tenha seu gabarito alterado para CERTO.

Abraços,

Guilherme Neves

Guilherme Neves

Ver comentários

  • Boa noite Professor Guilherme (xará! :D), a sua leitura do edital é de que ele contempla tabelas-verdade e Leis de Morgan? Pois pelos 3 itens pedidos para RL, meu entendimento (talvez equivocado) é de que a banca extrapolou os limites do edital... qual sua opinião? Grato!

  • Bom dia, prof! Para entender a CESPE, vi pelo lado de que em nenhum momento ela afirmou que as premissas são V ou F. Dava p ter várias situações diferentes se julgar cada uma das sentenças como V ou F, não dando então para afirmar que o argumento é necessariamente válido.

    • Para analisar a validade de um argumento, não é necessário saber os valores lógicos das premissas. Em um argumento, o que importa é a relação entre as premissas e a conclusão.

      Abs,

      Guilherme Neves

  • Professor, qual foi a justificativa da banca para manter o gabarito? Temos como saber? Pra fins de "CESPEPRUDÊNCIA" rsrs

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