Recurso de Química para prova da PF – Papiloscopista
Olá, pessoal!
Aqui é o Diego Souza, Perito Criminal e Prof. de Química. Como já havia adiantado tanto na correção em vídeo quanto nos comentários do gabarito extraoficial, o item da prova de Química para Papiloscopista que abordava interação intermolecular poderia vir com o gabarito divergente daquele que apontamos, justamente por abrir dupla interpretação e por existir conceitos da química e abordagem física que sustentem, respectivamente, as duas possibilidades de julgamento do item (CERTO e ERRADO).
Vamos relembrar o item e na sequência teço comentários que demonstram porque o item deveria ser anulado. Sugiro não copiarem na íntegra nossa argumentação e, se possível, modificar ou acrescentar alguma referência de Química Geral.
Item: A interação intermolecular citada no texto [retirado do texto: interação de Van der Waals] envolve atração entre cargas de sinais opostos.
Gabarito da Banca: CERTO
Pleito: ANULAÇÃO
Comentários
Interações de Van der Waals englobam interação entre moléculas que são espécies eletronicamente neutras pois apresentam equivalência entre o número de cargas positivas dos prótons e o número de cargas negativas dos elétrons que os orbitam. A interação atrativa entre moléculas polares (dipolo-dipolo) ou apolares (dipolo induzido) decorre da polarização de suas ligações e da polarizabilidade de suas densidades eletrônicas. Segundo Atkins (2018), as interações de London, que é um tipo de interação de Van der Waals, depende da polarizabilidade das moléculas e não da presença de cargas, conforme trecho transcrito a seguir:
“A energia das interações de London depende da polarizabilidade das moléculas, isto é, da facilidade de deformação das nuvens de elétrons.”
Desta forma, embora regiões com diferentes densidades eletrônicas correspondam a polos permanentes em moléculas polares ou a polos temporários em moléculas apolares, não há o que se falar em cargas em espécies neutras. Confirma essa compreensão a definição de íons que são espécies químicas carregadas positiva ou negativamente por apresentarem número de prótons diferentes do número de elétrons. E é exatamente pela diferença eletrônica entre moléculas (espécies neutras) e íons (espécies carregadas) que a interação entre íons e moléculas polares, interação íon-dipolo, não é considerada um tipo de interação intermolecular como aquela mencionada no item, conforme ensinam diferentes autores da área (Atkins, 2018; Kotz, 2016; Russel, 2002). Interações entre cargas são aquelas observadas entre íons de cargas opostas (cátions e ânions) em compostos iônicos.
Em vertente oposta, pode suscitar que as interações entre espécies químicas, inclusive as intermoleculares, são explicadas pela Lei de Coulomb na qual a atração entre dois objetos carregados é dependente de suas cargas e da distância entre eles. Ademais, o conceito de carga se adequa perfeitamente a átomos carregados por se assemelharem fisicamente de uma carga pontual. No entanto, quando se trata de polos (regiões) em moléculas (espécies neutras), a descrição da interação de Van der Waals, consagrada pela teoria na área de Química, é mais adequada justamente por não tratar de cargas e sim de densidade eletrônica.
Por isso mesmo, o candidato confia na compreensão da Banca para anular o item.
Referências:
ATKINS, Peter; JONES, Loretta; LAVERMAN, Leroy. Princípios de Química: Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente. Bookman Editora, 2018.
KOTZ, J. C. et al. Química geral e reações químicas, tradução. Brasil: Cengage Learning, v. 1, 2016.
RUSSEL, J. B. Química geral. Vol. 1. 2ª. Edição. São Paulo: editora Makron Books, 2002.
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Boa sorte, guerreiros!