Prova discursiva comentada – Bombeiros/AL – Cespe – Atualidades
Olá, galera do Estratégia Concursos,
Tudo bem com vocês? Creio que sim.
Neste artigo, comento a prova discursiva do concurso do Corpo de Bombeiros de Alagoas, cargo de Oficial, aplicada no dia 27/10/2017.
Vejamos a prova:
A “pós-verdade” despontou para a fama graças ao Dicionário Oxford, editado pela universidade britânica, que anualmente elege uma palavra de maior destaque na língua inglesa. Na definição britânica, “pós-verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. Não seria então, exatamente, o culto à mentira, mas a indiferença com a verdade dos fatos. Eles podem ou não existir, e ocorrer ou não da forma divulgada, que tanto faz para os indivíduos. Não afetam os seus julgamentos e preferências consolidados.
Internet: <www.cartacapital.com> (com adaptações)
O negócio é que, quando só falamos com nossos iguais, não temos de encarar contra-argumentos. Aí nossas opiniões vão se tornando mais rígidas, extremas e, muitas vezes, distorcidas. Liberais ficam mais liberais, conservadores mais conservadores. Cada lado se fecha com suas certezas. Pensando na “experiência do usuário”, as redes desenvolveram ferramentas e algoritmos que recortam e recontam o mundo para nos mostrar só o que queremos ver. Uma realidade ilusória, feita sob medida para cada um de nós, para satisfazer nossos gostos, interesses e crenças. Se algo não aparece na minha timeline, não existe. Se os outros não concordam comigo, eu ignoro. Se um dado me contradiz, é falso. Mas, se confirma o que penso, só pode ser verdadeiro. E ponto final. Mentiras, radicalismos e obscurantismos existem desde sempre, claro. Mas agora encontram nas bolhas, filtros e caixas de ressonância das redes sociais um ambiente perfeito para a proliferação. Os efeitos da pós-verdade estão aí para quem quiser ver. Ano passado, um dos responsáveis pela campanha do Brexit admitiu: “fatos não funcionam, é preciso se conectar com a emoção das pessoas.
Internet: <cultura.estadao.com.br> (com adaptações)
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Tendo os textos acima como referência inicial, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.
A INTOLERÂNCIA NAS RELAÇÕES SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS: A CULTURA DO ÓDIO
Em seu texto, discuta, por um lado, como as emoções e as crenças pessoais alimentam a cultura do ódio (valor: 19,00 pontos) e; por outro, como conhecimento dos fatos, em detrimento da emoção e das crenças pessoais, pode contribuir para a construção de uma “sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social” (valor: 19 pontos).
COMENTÁRIOS:
A banca não divulgou o padrão de resposta. Trata-se de um tema interessantíssimo, que vem sendo bastante comentado, nos últimos anos, no Brasil e no mundo: a intolerância.
O dicionário Oxford define o substantivo “pós-verdade” como “relativo ou referente a circunstâncias nas quais os fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. O significado disso é que, na sociedade atual, as interpretações e as versões de um fato teriam mais importância do que o acontecimento em si. Ou seja, a verdade factual torna-se irrelevante, e o que importa mesmo são as crenças, ideologias ou opiniões.
De acordo com o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o mundo pós-moderno, do segundo milênio, marcado pela globalização, contribui para o distanciamento dos seres humanos, apesar de estarem virtualmente conectados pela tecnologia da internet. Um distanciamento que leva a uma maior individualização do ser humano. Esse ser humano, cada vez mais individualizado, ao participar de um debate sobre a sociedade atual, traz consigo pré-conceitos baseados nas emoções e nas crenças pessoais, e não mais nos fatos objetivos.
Por mais realista e concreto que seja o argumento do outro, ele acaba não tendo importância ou sentido. O que vale mesmo é o que a pessoa considera ser verdadeiro, e pronto!
Instala-se um antagonismo cristalizado, algo que vemos com frequência nas redes sociais. Pessoas sendo agredidas, de forma ofensiva, por aqueles que discordam das suas opiniões, sem qualquer racionalidade no debate.
O indivíduo que se fecha na “bolha” das suas crenças e emoções pessoais torna-se incapaz de conviver com outros pontos de vista e construir consensos por meio do diálogo, um dos fundamentos dos ideais democráticos. Daí derivam posturas simplistas de ver o mundo, que alimentam o autoritarismo e a cultura do ódio.
Por outro lado, o conhecimento dos fatos, com base em dados e informações concretas, eleva o nível do debate, permite uma visão ampla dos problemas e a construção de propostas mais efetivas para o desenvolvimento da sociedade. É o que possibilita vermos a riqueza da diversidade das pessoas, das culturas e do mundo. O conhecimento dos fatos possibilita uma análise racional sobre os problemas e as soluções para a construção de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social.
Certo, galera, desejo aos meus alunos sucesso nos concursos do TRE-TO e TRF 1.
Um grande abraço,
Prof. Leandro Signori