PROVA COMENTADA DPE-RJ (PORTUGUÊS)
Olá, pessoal! Tudo beleza?
Segue o comentário da prova do DPE-RJ. Aproveitem a correção!
Grande abraço.
Texto 1
Uma revista de Educação mostrava o seguinte segmento:
“Os modelos pedagógicos de nossas escolas ainda são muito mais direcionados ao ensino teórico para passar no funil do vestibular, obrigando os alunos a decorar fórmulas matemáticas, afluentes de rios ou a morfologia dos insetos para ter depois seus conhecimentos testados e avaliados por notas que não diferenciam as vocações ou interesses individuais. É uma avaliação cruel, que prioriza a inteligência da decoreba ao invés da inteligência criativa”.
QUESTÃO 1
Entre as ideias defendidas no texto 1, a única que NÃO está presente é:
(A) a criatividade deve ser priorizada nos modelos pedagógicos;
(B) as notas dadas às provas não visam aos interesses pessoais;
(C) o ensino teórico é uma decorrência dos exames vestibulares;
(D) os exames vestibulares não avaliam com critérios válidos;
(E) alguns tópicos tradicionais do ensino são inúteis nos exames vestibulares.
Comentários:
Vejamos:
A) Correto. Se a avaliação é considerada “cruel” por não priorizar a criatividade, então está evidente no texto que a criatividade deve ser priorizada.
B) Correto. Literal do trecho “avaliados por notas que não diferenciam as vocações ou interesses individuais.”
C) Correto. Esse ensino reflete a decoreba que será cobrada no vestibular: “são muito mais direcionados ao ensino teórico para passar no funil do vestibular, obrigando os alunos a decorar fórmulas matemáticas, afluentes de rios ou a morfologia dos insetos para ter depois seus conhecimentos testados”
D) Correto. Avaliam privilegiando a decoreba, então não é um bom critério, segundo o texto.
E) Incorreto. Os tópicos tradicionais são úteis, pois o vestibular privilegia a decoreba.
Gabarito letra E.
QUESTÃO 2
“Os modelos pedagógicos de nossas escolas ainda são muito mais direcionados ao ensino teórico para passar no funil do vestibular, obrigando os alunos a decorar fórmulas matemáticas…”; o gerúndio “obrigando” (texto 1) poderia ser adequadamente substituído pela seguinte forma desenvolvida:
(A) e obrigam;
(B) e para obrigar;
(C) mesmo que obriguem;
(D) quando obrigam;
(E) à medida que obrigam.
Comentários:
Aqui temos o “e” com valor de consequência:
“Os modelos pedagógicos de nossas escolas ainda são muito mais direcionados ao ensino teórico para passar no funil do vestibular, e obrigam os alunos a decorar fórmulas matemáticas…”
Vejamos o erro das demais, baseados nos sentidos que os seus conectivos expressam:
b) não há sentido finalidade; c) não há sentido de concessão; d) não há sentido de tempo; e) não há sentido de proporção. Gabarito letra A.
QUESTÃO 3
“Os modelos pedagógicos de nossas escolas ainda são muito mais direcionados ao ensino teórico para passar no funil do vestibular…”; esse segmento (texto 1) mostra uma forma de voz passiva – “são direcionados” – sem que haja menção do agente dessa ação.
O pensamento abaixo em que há uma forma de voz passiva com a indicação do agente é:
(A) “A natureza só é comandada se é obedecida”;
(B) “Dada a causa, a natureza produz o efeito no modo mais breve em que pode ser produzido”;
(C) “O mundo será julgado pelas crianças. O espírito da infância julgará o mundo”;
(D) “Existe alguma religião cujos fiéis possam ser apontados como nitidamente mais amáveis e dignos de confiança do que os de qualquer outra?”;
(E) “A sabedoria não pode ser transmitida. A sabedoria que um sábio tenta transmitir soa mais como loucura”.
Comentários:
Questão direta, a banca queria a única alternativa com “agente da passiva” expresso:
“O mundo será julgado pelas crianças. O espírito da infância julgará o mundo”
Nas demais sentenças em voz passiva, o agente foi omitido. Gabarito letra C.
QUESTÃO 4
“É uma avaliação cruel, que prioriza a inteligência da decoreba ao invés da inteligência criativa”.
Nesse segmento do texto 1, há a correta utilização da expressão “ao invés de”, que é muitas vezes confundida com “em vez de”.
A frase abaixo em que se deveria empregar “em vez de” em lugar de “ao invés de” é:
(A) O pai decidiu matricular o filho numa escola pública ao invés de uma privada;
(B) Não é de hoje que as escolas brasileiras preferem o retrocesso ao invés do progresso;
(C) Muitos professores dão destaque à teoria ao invés de priorizar a prática;
(D) Os livros didáticos utilizam imagens ao invés de textos;
(E) As escolas utilizam processos de avaliação rápidos ao invés de processos mais lentos e mais eficientes.
Comentários:
“Ao invés de…” é locução prepositiva que expressa ideia de oposição: ao contrário de, então é utilizada adequadamente com antônimos ou ideias contrapostas contextualmente.
Ex: Ao invés de ficar nervoso, fiquei calmo.
“Em vez de” tem sentido de “no lugar de”, então pode ser usada em contextos em que uma coisa é feita no lugar da outra, seja com oposição clara ou não.
Ex: Em vez de você ficar pensando nele, pense em mim, chore por mim…
Então, deveríamos usar: Imagens em vez de textos, pois “imagem” e “textos” não são ideias diretamente opostas.
a) oposição entre pública x privada
b) oposição retrocesso x progresso
c) oposição entre teoria x prática
e) oposição entre rápido x lento
Gabarito letra D.
Texto 2
“Nós conhecemos você tanto quanto você nos conhece.
E não há nada melhor que isso: confiança.
O que nos move é você. Seu jeito de ser, o que valoriza.
Faz sentido pra você, faz sentido pra gente.
A gente veste a sua camisa”.
Esse texto está fixado na parede de uma loja de roupas masculinas e funciona como um texto publicitário da loja.
QUESTÃO 5
A finalidade principal do texto 2 é:
(A) indicar a sofisticação dos produtos da loja por meio de uma linguagem formal;
(B) mostrar a preocupação da loja com o que o cliente veste;
(C) demonstrar a informalidade no atendimento;
(D) produzir proximidade social entre loja e cliente;
(E) destacar o fácil acesso do cliente à loja.
Comentários:
Questão direta. O texto sugere uma relação de amizade e confiança entre cliente e loja, além de declarar expressamente que o que move a loja é o cliente. Então, a intenção é aproximar loja e cliente como se fossem íntimos, ao contrário de uma mera relação comercial.
(A) indicar a sofisticação dos produtos da loja por meio de uma linguagem formal;
A linguagem não é formal, inclusive temos “pra”, indício de informalidade, contração típica da fala.
(B) mostrar a preocupação da loja com o que o cliente veste;
A loja não liga para o que o cliente veste, deseja trazê-lo para comprar suas roupas.
(C) demonstrar a informalidade no atendimento;
Há indício de informalidade, mas isso de forma alguma é o objetivo principal do texto.
(E) destacar o fácil acesso do cliente à loja.
Não há referência a acesso fácil. Gabarito letra D.
QUESTÃO 6
Sobre a estruturação geral do texto 2, a afirmação INADEQUADA é:
(A) os pronomes “Nós” e “você” (linha 1) se referem, respectivamente, à loja e ao cliente potencial;
(B) na linha 2, o pronome “isso” deveria ser substituído por “isto”;
(C) o vocábulo “confiança” mostra a referência do pronome “isso”;
(D) a frase final do texto mostra ambiguidade intencional;
(E) a expressão “a gente” equivale perfeitamente ao pronome “nós”.
Comentários:
Vejamos:
A) Correto. “Nós”=loja; “você”=cliente hipotético.
B) Correto. Pela regra rígida da norma culta, “isto” deve ser utilizado para o que será dito depois, e “isso” para o que já foi dito anteriormente no texto.
C) Correto. Logo após do “isso” vem sua referência. Ah, Felipe, mas o “isso” não é catafórico (faz referência ao que já apareceu antes)?
Cuidado, ser anafórico ou não é algo do texto: se a referência é algo que já apareceu, a palavra é um recurso coesivo anafórico, se a palavra remete a algo ainda a ser dito, é catafórico, independentemente de ser “isso” ou “isto. Não é o pronome que faz ser anafórico ou não, o pronome não muda a posição da referência; o que gramática orienta é usar “isso” para o que já foi dito e “isto” para o que virá depois, então, primeiro você observa a referência no texto, depois usa o pronome adequadamente, não é o pronome que define. Tanto é assim que, nesse caso, o “isso” foi usado cataforicamente. De forma contrária à orientação da norma culta? Sim, mas não foi isso que a questão perguntou nessa alternativa. Esse raciocínio se confirma na letra B.
D) “Vestir a camisa” pode ser entendido de duas formas: a primeira leitura é literal (denotativa) e remete à peça de roupa propriamente dita; a segunda é figurada (conotativa) e constitui uma figura de linguagem no sentido de “abraçar suas ideias”, “seguir seus projetos”… Gabarito letra E.
QUESTÃO 7
Uma editora paulista mostra o seguinte texto publicitário na agenda que entrega a clientes e amigos:
DA SEMENTE AO LIVRO
Sustentabilidade por todo o caminho
Plantar florestas – A madeira que serve de matéria-prima para nosso papel vem de plantio renovável, ou seja, não é fruto de desmatamento. Essa prática gera milhares de empregos para agricultores e recupera áreas ambientais degradadas.
Sobre esse pequeno texto, é correto afirmar que:
(A) o “caminho” presente no título é o que vai “da semente ao livro”;
(B) o segmento “Plantar florestas” mostra a finalidade da editora;
(C) a expressão “ou seja” corrige um possível erro de interpretação;
(D) o termo “Essa prática” se refere ao “desmatamento”;
(E) a editora mostra preocupação com a poluição e o desemprego.
Comentários:
Temos um “caminho” figurado: a semente vira árvore e a árvore dá o papel que serve de matéria para o livro, então temos o ponto inicial do caminho no plantio da árvore e o ponto final da confecção do livro dessa árvore fruto de plantio renovável. Gabarito letra A.
b) Não é a finalidade, é algo já feito pela editora, o tópico do parágrafo.
c) Não corrige, traz uma informação equivalente, desenvolve, explica.
d) Refere-se ao plantio renovável.
e) Não há qualquer referência a poluição ou desemprego, só se pode concluir que haja preocupação com o reflorestamento, nada mais.
QUESTÃO 8
Na orelha do livro “A Bíblia: uma biografia” (Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2007), aparece o seguinte texto:
“A principal função da Bíblia, no entanto, ao longo de sua demorada gestação, não foi apoiar doutrinas e crenças particulares [….]. A produção de uma escritura sagrada consistiu antes em atividade contínua, um processo que buscava introduzir milhares de pessoas à transcendência”.
A informação abaixo que NÃO pode ser depreendida da leitura desse texto é:
(A) o termo “no entanto” indica que esse segmento não é a parte inicial do texto;
(B) o texto contraria a ideia de ser a Bíblia a base de apoio a doutrinas e crenças;
(C) o termo “antes” indica um momento anterior de produção da Bíblia;
(D) o termo “processo” retoma “atividade contínua”;
(E) o verbo “introduzir” se refere a uma nova atividade para as pessoas.
Comentários:
Questão difícil de interpretação de texto, exigindo a inferência de informações implícitas:
a) Correto. “No entanto” introduz uma oposição em relação a algo que foi dito antes, então conclui-se que há outras partes do texto.
b) Correto. Está literal no texto: não foi apoiar doutrinas e crenças particulares
c) Incorreto. Esse “antes” não tem nada a ver com tempo, foi usado com sentido de “na verdade”.
d) Correto. O substantivo “processo” traz ideia de algo duradouro, repetitivo, composto de etapas; por isso, foi usado como elemento coesivo para retomar “atividade contínua”: a escritura da bíblia.
e) Correto. Se a pessoa será “introduzida” a uma atividade, infere-se que seja uma novidade para ela. Gabarito letra C.
QUESTÃO 9
“Hoje, em todo o mundo, cerca de 550 milhões de pessoas estão conectadas à Internet – quase 9 milhões delas no Brasil. Quando a rede de computadores começou a popularizar-se, dez anos atrás, os apocalípticos de plantão, sempre eles, logo alardearam que os efeitos colaterais mais nefastos desse fenômeno seriam o isolamento e a alienação. Que as pessoas deixariam de relacionar-se, que se tornariam ainda mais sedentárias, que teriam o seu cotidiano moldado por uma espécie de irrealidade digital, que emburreceriam, e por aí vai”. (Veja, 03/03/2004, p. 85)
Argumentativamente, o texto:
(A) condena indiretamente a Internet, mostrando ironicamente argumentos contra ela;
(B) parte de uma afirmação inicial indiscutível para, em seguida, explicitar alguns de seus termos;
(C) mostra que algumas críticas apressadas se tornam ridículas com o passar do tempo;
(D) procura historicamente justificar algumas críticas contra a Internet;
(E) critica as pessoas que, usando a Internet, se afastam do convívio social.
Comentários:
A argumentação do texto indica que a popularização da internet é uma realidade e que muitas especulações feitas pelos “alarmistas” não se concretizaram. Então, isso equivale a dizer que o texto: mostra que algumas críticas apressadas se tornam ridículas com o passar do tempo
Gabarito letra C.
Vejamos:
A) Incorreto. Não condena, parece inclusive elogiar, ao chamar de “alarmistas” quem previu terríveis efeitos colaterais da internet.
B) Incorreto. Parte sim de uma afirmativa categórica apresentada como fato estatístico, mas não explicita elementos dessa sentença.
D) Incorreto. Na verdade, usa a história para invalidar, provar o erro de algumas críticas feitas.
E) Incorreto. Não critica, na verdade essa seria a crítica dos “alarmistas”, não do autor.
QUESTÃO 10
O jornal O Globo de 10.3.2019 trazia como uma de suas manchetes:
Pouso forçado. Rio perde 25% dos voos domésticos e internacionais em seis anos.
Sobre a relação semântica entre o título – Pouso forçado – e o restante da manchete, é correto afirmar que:
(A) o título tem relação lógica com o conteúdo expresso na sequência do texto;
(B) a expressão do título se refere ao fato de os aviões estarem parados no Rio;
(C) a expressão do título se refere vagamente às dificuldades com os voos citados;
(D) no título, o adjetivo forçado se liga semanticamente a obrigações legais;
(E) no título, o substantivo pouso é uma metáfora para interrupção dos voos.
Comentários:
Questão direta. “Pouso forçado” é figura de linguagem com sentido de “pausa indevida, não ideal”. Essa figura refere-se à interrupção dos voos no Rio, que foi apresentado como um evento negativo. Gabarito letra E.
OBS: Não vejo erro algum na letra A, é difícil entender a FGV, pois sempre força alguns gabaritos absurdos e nunca publica nenhum tipo de justificativa. Inclusive acho a letra A melhor que a letra E, já que “perder” não é exatamente sinônimo de “interromper”, pois os voos, ao que tudo indica, não foram reestabelecidos. Talvez o examinador tenha dado como erro o termo “lógico”, pois a relação é figurativa, abstrata, metafórica.
QUESTÃO 11
Na página inicial de uma prova, entre as instruções gerais, estava escrito:
“Será eliminado sumariamente do processo seletivo e as suas provas não serão levadas em consideração, o candidato que:
i) der ou receber auxílio para a execução de qualquer prova;
ii) utilizar-se de qualquer material não autorizado;
iii) desrespeitar qualquer prescrição relativa à execução das provas;
iu) escrever o nome ou introduzir marcas identificadoras noutro lugar que não o indicado para esse fim;
u) cometer um ato grave de indisciplina”.
Uma outra forma, mais conveniente, de redigirem-se as duas primeiras linhas do texto acima é:
(A) As provas não serão levadas em consideração e será eliminado sumariamente do processo seletivo, o candidato que:
(B) O candidato não terá suas provas levadas em consideração e será sumariamente eliminado do processo seletivo o candidato que:
(C) Será eliminado sumariamente do processo seletivo (as suas provas não serão levadas em consideração), o candidato que:
(D) Será eliminado sumariamente do processo seletivo o candidato que:
(E) Será eliminado do processo seletivo e as provas não serão levadas em consideração, o candidato que:
Comentários:
Primeiramente: o que a banca quer dizer por “conveniente”? FGV sempre deixando os candidatos loucos com linguagem vaga e gabaritos questionáveis. Contudo, precisamos aprender a decifrar a banca e acertar as questões, sem briga. Veja como era fácil acertar essa.
De plano, deveríamos eliminar A, C e E, pois trazem evidente erro de pontuação, separando o sujeito do verbo. Já a letra B repete o sujeito “candidato”, criando uma estrutura inadequada, confusa e truncada. Gabarito letra D.
QUESTÃO 12
Falando das próximas Olimpíadas, um jornal do Rio estampou a seguinte manchete:
A 500 dias. Contagem regressiva para Tóquio e aposta de medalhas em esportes vitoriosos e estreantes.
Entende-se da manchete que:
(A) alguns atletas estreantes mostram chances nítidas de medalhas;
(B) os atletas brasileiros garantem medalhas em esportes em que já são vitoriosos;
(C) a contagem regressiva se refere à preparação física de atletas para Tóquio;
(D) os 500 dias se referem ao prazo de convocação dos atletas olímpicos;
(E) as Olimpíadas incluirão esportes inéditos no calendário olímpico.
Comentários:
O cerne da questão era essa expressão “esportes vitoriosos e estreantes”. O primeiro adjetivo foi usado no sentido de “tradicional” e o segundo foi usado no sentido de “novo, inédito”, pois “estreia” refere-se a algo apresentado pela primeira vez.
Gabarito letra E.
Vejamos:
A) Os esportes são estreantes, não foi dito que são os atletas.
B) Não há nenhum tipo de referência a atleta brasileiro.
C) A contagem é para os jogos, não para a preparação.
D) Referem-se a data de início dos jogos, os atletas são convocados antes.
QUESTÃO 13
A Prefeitura de Salvador faz divulgação de seu Festival da Virada em conhecidas revistas. O texto da publicidade diz o seguinte:
Festa que vira atração de 460 mil turistas,
Que vira 98% de ocupação hoteleira,
Que vira milhares de empregos,
Que vira 500 milhões de reais na economia.
Que virada!
Obrigado, Salvador!
A estruturação do texto só NÃO compreende:
(A) paralelismo sintático entre as frases;
(B) jogo de palavras virar/virada;
(C) quantificação dos benefícios do festival;
(D) ambiguidade do substantivo “virada”;
(E) atribuição de voz à população de Salvador.
Comentários:
O temo “Salvador” é o vocativo, não é quem fala, quem tem voz, mas sim quem ouve.
Gabarito letra E.
(A) Correto. O paralelismo sintático entre as frases se mostra na estrutura fixa e repetida em quase todos os versos.
(B) Correto. Há jogo de palavras entre virar (transformar-se) virada (mudança brusca de resultado)
(C) Correto. Há quantificação dos benefícios do festival em “500 milhões”.
(D) Correto. Como vimos na C, há ambiguidade do substantivo “virada”.
QUESTÃO 14
“Pensar mal amiúde significa tornar mau. Na vida das nações (1) não menos que na dos indivíduos (2) os primeiros momentos de uma trajetória imprimem (3) no que está nascendo (4) traços de teimosa permanência”.
(Eduardo Giannetti, O Elogio do Vira-Lata e outros ensaios. 1ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 13)
Nesse segmento inicial de um texto, poderiam ser usadas vírgulas nas posições dos seguintes números:
(A) apenas em (1) e (2);
(B) apenas em (2) e (4);
(C) apenas em (3) e (4);
(D) apenas em (1), (2) e (4);
(E) em (1), (2), (3) e (4).
Comentários:
Esse “poderiam” é muito polêmico, pois pode sugerir ao candidato uma ideia de “facultatividade”, quando na verdade a banca pede as posições em que seria correto usar vírgula:
A vírgula é correta e obrigatória em todas as posições, em 1 e 2 para separar adjuntos adnominais antecipados e também em 3 e 4 para isolar um adjunto intercalado: “no que está nascendo”.
“Pensar mal amiúde significa tornar mau. Na vida das nações, não menos que na dos indivíduos, os primeiros momentos de uma trajetória imprimem, no que está nascendo, traços de teimosa permanência”.
Gabarito letra E.
QUESTÃO 15
A revista Época de 14/01/2019 fez uma reportagem sobre o presidente americano Donald Trump e redigiu a chamada para a leitura do texto do seguinte modo:
“O presidente americano vai à TV defender a construção do muro entre os EUA e o México e prolonga o que está próximo de ser a mais extensa paralisação do governo na história”.
Sobre a estruturação gramatical desse texto, é correto afirmar que:
(A) em lugar de “vai à TV” deveria estar “vai na TV”;
(B) antes do infinitivo “defender” poderia ser colocado o conectivo “para que”, sem alteração das demais palavras do texto;
(C) em “a construção do muro” e “paralisação do governo”, o emprego da preposição “de” é exigido por termo anterior;
(D) após a palavra “México” deveria haver uma vírgula;
(E) o vocábulo “paralisação” deveria estar grafado “paralização”.
Comentários:
Vejamos:
A) Incorreto. A regência correta é “ir A algum lugar”, não é adequado usar “em”, segundo a norma culta.
B) Incorreto. Haveria alteração: para que defenda…
C) Correto. Temos dois complementos nominais, pois temos substantivos abstratos derivados de ação seguidos de preposição “de” introduzindo termo com sentido passivo: O muro é construído e o governo foi paralisado (por isso ele vai defender a construção do muro)
D) Incorreto. Não deveria nem poderia, pois não se usa vírgula antes do E com orações de mesmo sujeito.
E) Incorreto. Mantém-se o S da palavra primitiva: paralisia>paralisar>paralisação.
Gabarito letra C.
QUESTÃO 16
Uma editora acaba de lançar o livro “Os Meninos da Caverna”, que conta a dramática história do resgate de um time de futebol juvenil que ficou dezoito dias preso em uma caverna na Tailândia.
A capa do livro traz o seguinte texto:
“O passeio de um sábado à tarde que durou dezoito dias preocupou o mundo e mobilizou mil pessoas em um resgate quase impossível na Tailândia”.
O problema estrutural desse pequeno texto da capa é:
(A) a má seleção vocabular do termo “passeio”;
(B) a possível ambiguidade do termo “na Tailândia”;
(C) a inclusão de exageros evidentes para atrair o leitor;
(D) a presença de várias formas verbais com o mesmo sujeito;
(E) a ausência de vírgula após “mil pessoas”.
Comentários:
Questão direta: na expressão “impossível na Tailândia”, temos a possibilidade de ler que aquele resgate é impossível apenas na Tailândia, quando sentido original não era esse. Gabarito letra B.
QUESTÃO 17
Revisores de textos reuniram-se para discutir erros mais comuns cometidos por repórteres em entrevistas, exemplificando esses erros com frases; entre as frases abaixo, aquela que se mostra inteiramente correta e adequada é:
(A) O Ministro da Fazenda não estava ao par de tudo;
(B) Graças ao déficit orçamentário, o governo parou de investir;
(C) A violência, segundo o estudo, nada tinha a haver com a miséria;
(D) A princípio, todos devem ser iguais perante a lei;
(E) “A mim ninguém me engana”, disse o delegado que investiga o caso.
Comentários:
Vejamos:
A) Incorreto. O ministro não estava “a par”, não estava ciente, não estava sabendo… “Ao par” quer dizer “em paridade”: O dólar não está ao par do Euro.
B) Incorreto. Não se utiliza a expressão “graças a” para eventos negativos. O déficit é algo ruim, seria mais coerente usar “em virtude do déficit ou por causa do déficit…
C) Incorreto. Nada tinha “a ver”, ou seja, não tinha relação.
D) Incorreto. A forma adequada seria “Em princípio”, com sentido de “em tese”. A princípio tem sentido de “no começo” e geraria a incoerência de dizer que só no começo as pessoas devem ser iguais, depois não.
E) Correto. Embora tenhamos aqui uma estrutura “incomum”, não está errada, é apenas muito formal e típica do registro literário. Temos um caso de objeto pleonástico, ou seja, repetido: “A mim” e “me” são ambos objetos diretos de “enganar”, apenas estão repetidos por motivo de estilo e ênfase, o que é previsto pela gramática. Gabarito letra E.
QUESTÃO 18
No início de um comentário na revista Época, 14/01/2019, o jornalista Helio Gurovitz diz:
“Nenhum presidente de empresa privada acumula tanto poder, controla tantos destinos, atrai tanta inveja. Nenhum outro posto da administração pública sofre tanta pressão, recebe tanto escrutínio, é alvo de tantos ataques. Nenhum emprego tem, simultaneamente, tamanha força e fragilidade. É o pior emprego do mundo”. Assim o cargo do ministro Paulo Guedes é definido pelo jornalista Thomas Traumann em O pior emprego do mundo, lançado no meio da campanha eleitoral do ano passado.
O texto segue uma estrutura de suspense construída da seguinte forma:
(A) cita inicialmente características para depois mencionar o objeto caracterizado;
(B) utiliza primeiramente aspectos gerais para depois concretizá-los;
(C) mostra aspectos contraditórios para depois esclarecê-los;
(D) qualifica determinado cargo para depois justificar as qualificações;
(E) constrói uma sequência de frases para depois resumi-las numa só afirmativa.
Comentários:
Questão direta. Somente no fim sabemos o assunto, ou seja, somente no fim sabemos que o pior emprego do mundo é o emprego do Ministro Paulo Guedes. Temos uma estrutura que inverte a expectativa, o tópico vem ao final. Gabarito letra A.
Texto 3
Um texto de divulgação de um novo romance diz o seguinte:
“Um homem acorda gravemente ferido no meio de um lixão. Ao que parece, tentaram matá-lo, mas ele não se recorda dos fatos que o levaram até ali. Muito menos de seu passado recente. Seria dado como desaparecido, se houvesse alguém para sentir sua falta. Essa dolorosa ausência imperceptível é a brecha para dar vazão à sua revolta com o mundo contemporâneo e começar uma nova vida. Entre seus planos: executar criminosos intocados pela Justiça e escrever um best-seller. Mas uma paixão verdadeira e arrebatadora coloca tudo em xeque”.
(Época, 14/01/2019, p. 37)
QUESTÃO 19
Muitos segmentos do texto 3 podem ser reescritos sem modificação de seu sentido ou alteração na correção; a frase em que ocorre modificação ou erro é:
(A) “Um homem acorda gravemente ferido no meio de um lixão” / Um homem acorda ferido gravemente no meio de um lixão;
(B) “Um homem acorda gravemente ferido no meio de um lixão” / Um homem acorda, no meio de um lixão, gravemente ferido;
(C) “Mas uma paixão verdadeira e arrebatadora coloca tudo em xeque” / Mas uma paixão arrebatadora e verdadeira coloca tudo em xeque;
(D) “mas ele não se recorda dos fatos que o levaram até ali” / mas dos fatos que o levaram até ali ele não se recorda;
(E) “Seria dado como desaparecido, se houvesse alguém para sentir sua falta” / Se houvesse alguém para sentir sua falta, seria dado como desaparecido.
Comentários:
Acompanhem comigo uma análise:
Se eu tivesse dinheiro (condição hipotética), viajaria (efeito da concretização da condição)
Faz alguma diferença inverter a ordem?
Viajaria, se tivesse dinheiro.
Viajar continua sendo efeito da hipótese de ter dinheiro. A oração condicional é adverbial, então pode ser antecipada normalmente, isso não muda seu sentido. Então, não há mudança alguma no sentido da reescritura proposta na letra E, nosso gabarito.
Entendo que essa questão é problemática, mas temos que enfrentar a realidade. Gabarito letra E.
QUESTÃO 20
“Um homem acorda gravemente ferido no meio de um lixão”; a palavra “lixão”, apesar do sufixo aumentativo, não mostra esse valor, formando um vocábulo com novo sentido (texto 3).
O mesmo ocorre em:
(A) casa / casarão;
(B) papel / papelão;
(C) homem / homenzarrão;
(D) pacote / pacotão;
(E) cão / canzarrão.
Comentários:
Às vezes o aumentativo forma uma nova palavra, totalmente diferente, sem qualquer relação “dimensional”, de tamanho. “Papelão” não é um papel grande, é sim um outro tipo de papel, grosso, rude. Nas demais, ao contrário, o aumentativo apenas indica aumento de dimensões. Gabarito letra B.
QUESTÃO 21
O segmento do texto 3 em que a forma de apassivação é INADEQUADA é:
(A) “Um homem acorda gravemente ferido” / Um homem é acordado gravemente ferido;
(B) “para sentir sua falta” / para sua falta ser sentida;
(C) “para dar vazão” / para ser dada vazão”;
(D) “começar uma nova vida” / uma nova vida ser começada;
(E) “executar criminosos” / criminosos serem executados.
Comentários:
Questão teórica. Não se traspõe para voz passiva verbo que não tenha objeto direto. Então, “acordar”, verbo intransitivo, por não pedir complemento, não admite essa transposição que foi feita. Gabarito letra A.
QUESTÃO 22
Em situações de formalidade, é conveniente evitar o uso de linguagem informal; a frase abaixo que se mostra inteiramente formal é:
(A) A gente não precisa ganhar muito para ser feliz;
(B) Se eu tivesse lá, visitaria mais museus;
(C) Me diga toda a verdade sobre o acidente;
(D) Viajasse eu mais vezes, comprava mais roupas;
(E) Sempre que podemos, nós os visitamos.
Comentários:
Em “Sempre que podemos, nós os visitamos.”, temos linguagem culta e formal, inclusive com o uso do pronome oblíquo “os”. Gabarito letra E.
Vejamos:
A) “A gente” é considerada expressão informal pela banca.
B) “tivesse” é forma reduzida, cortada, de “estivesse”, então é marca de informalidade, pois é típico da coloquialidade fazer contrações (pra, prum) e reduções (tá, tô, vc, obg)
C) “Me diga” é erro de colocação pronominal típico da linguagem falada, descuidada, então é marca de informalidade.
D) A correlação verbal rigorosa seria: Viajasse eu mais vezes, compraRIA mais roupas. Embora prevista essa correlação verbal com pretérito imperfeito no lugar do futuro do pretérito, é considerada “coloquial”, informal, típica da fala:
Você me prometeu que não contava (contaria) isso para ninguém, hem. (Sacconi)
Se eu fosse o prefeito, desapropriava (desapropriaria) toda essa região (Sacconi)
Gabarito letra E.
QUESTÃO 23
Numa entrevista com a pesquisadora Moira Weigel, ocorre o seguinte diálogo:
__ Qual a definição de politicamente correto?
__ Para mim, politicamente correto é um sinônimo de educação.
Essa é minha definição. Para outras pessoas, críticas do conceito, politicamente correto quer dizer algo ruim, uma espécie de censura que impede que as pessoas falem livremente sobre todos os assuntos”.
A frase abaixo em que a afirmação feita está de acordo com a definição dada pela entrevistada é:
(A) “o politicamente correto veio colocar racismo onde não havia”;
(B) “o politicamente correto pretende melhorar o convívio”;
(C) “o politicamente correto acaba com a liberdade de expressão”;
(D) “o politicamente correto acaba com o preconceito”;
(E) “o politicamente correto valoriza as minorias”.
Comentários:
Cuidado com a viagem! Aqui, devemos focar estritamente no que a autora diz, deixando de lado paixões alheias ao texto. A definição da entrevistada é: politicamente correto é “educação”. No texto, educação remete à ideia de civilidade, de um conjunto de atitudes que melhora o convívio entre as pessoas. Então, só podemos inferir que é algo relacionado à convivência. Não é coerente extrapolar o texto para fazer relação com racismo, minorias ou preconceito. Gabarito letra B.
QUESTÃO 24
Sobre uma nova espécie de droga, as smart drugs, a chamada para um texto de jornal diz o seguinte:
“Drogas apelidadas de smart drugs por supostamente aumentarem a inteligência ganham cada vez mais adeptos, apesar de pesquisas desmentirem seus efeitos”.
A substituição de um conectivo que está corretamente realizada é:
(A) “por supostamente aumentarem” / já que supostamente aumentassem;
(B) “por supostamente aumentarem” / visto que supostamente aumentavam;
(C) “apesar de pesquisas desmentirem” / embora pesquisas desmentissem;
(D) “apesar de pesquisas desmentirem” / ainda que pesquisas desmintam;
(E) “apesar de pesquisas desmentirem” / mesmo que pesquisas desmentem.
Comentários:
Esta é uma questão de conectivos: quando usamos “apesar de/a despeito de” no lugar de outros conectivos concessivos, que pedem o verbo no subjuntivo, é necessário fazer uma adaptação e jogar o verbo para o infinitivo:
Apesar de desmentirem/Ainda que desmintam
Gabarito letra D.
Em A e B, os conectivos até são semanticamente equivalentes, com ideia de causa, mas o verbo foi utilizado em tempo pretérito. No texto, os fatos são presentes. Em C, houve o mesmo erro, o verbo deveria estar no presente: embora desmintam. O mesmo vale para a E: mesmo que desmintam.
QUESTÃO 25
“Pensamos com o idioma; se é mal usado, pensaremos mal!”
(Fernando Lázaro Carreter)
Para esse linguista, a função da língua escrita é:
(A) preservar o saber construído;
(B) produzir conhecimentos;
(C) criar arte;
(D) memorizar dados;
(E) manter valores político-sociais.
Comentários:
A frase mostra que o idioma é o “meio/instrumento” do pensamento; quando pensamos, geramos ideias, criamos conhecimento usando a língua; então, conclui-se que a função da língua é produzir conhecimento.
Gabarito letra B.
Nessa questão, entendo que a banca fez uma restrição indevida, pois o texto não limita o idioma à língua escrita. Contudo, na FGV, marcamos sempre a melhor resposta.
QUESTÃO 26
A frase “Os candidatos farão as inscrições até sexta-feira” foi modificada segundo critérios diferentes; a forma da frase que mostra incorreção de acordo com o critério indicado é:
(A) Na voz passiva: Far-se-ão as inscrições pelos candidatos até sexta-feira;
(B) Com pleonasmo: As inscrições, os candidatos as farão até sexta-feira;
(C) Com inversão de termos: Os candidatos farão, até sexta-feira, as inscrições;
(D) No discurso indireto: O jornal disse que os candidatos farão as inscrições até sexta-feira;
(E) Com sujeito explícito: Serão feitas as inscrições até sexta-feira.
Comentários:
Na voz passiva sintética ou pronominal, o agente da passiva não deve aparecer. Então, deveríamos grafar apenas: Far-se-ão as inscrições.
Na letra D, também há problema: rigorosamente, deveríamos jogar o verbo para o futuro do pretérito: O jornal disse que os candidatos fariam as inscrições.
Gabarito letra A.
QUESTÃO 27
“Um paradoxo é uma provocação à lógica. Considere, por exemplo, a afirmação: ‘Eu estou mentindo’. Se ela for falsa, isso quer dizer que eu não estou mentindo, o que contradiz a afirmação feita. Mas, se ela for verdadeira, então a afirmação será falsa – ao dizer que estava mentindo, eu disse a verdade e, logo, não estava mentindo. A afirmação é verdadeira se for falsa e falsa se for verdadeira!” (Eduardo Giannetti, O paradoxo do brasileiro)
Considerando o título do artigo de onde foi retirado esse trecho introdutório, a introdução acima pode ser caracterizada como:
(A) uma informação de caráter histórico;
(B) uma definição inicial de termos;
(C) uma alusão à situação atual;
(D) uma classificação tipológica;
(E) uma argumentação filosófica.
Comentários:
O texto é a definição de paradoxo, termo técnico do vocabulário da lógica e também uma figura de linguagem. Gabarito letra B.
QUESTÃO 28
A oposição de termos construída com as preposições com/sem gera um possível paradoxo em:
(A) Com dinheiro ou sem dinheiro, vou passar o carnaval em Salvador;
(B) Com amigos ou sem amigos, vou divertir-me nas férias;
(C) Com bebida ou sem bebida, vou embebedar-me de felicidade;
(D) Com motivo ou sem motivo, vou comprar roupas novas;
(E) Com vontade ou sem vontade, vou viajar com a família.
Comentários:
O paradoxo é uma provocação à lógica por haver uma aparente impossibilidade entre seus componentes. O paradoxo sugere uma contradição, uma incompatibilidade impossível. Então, se não há bebida (sem bebida), é impossível embebedar-se: está aí o paradoxo da questão. Gabarito letra C.