Fala, galera! O momento é bastante confuso, tanto pra quem iria fazer a prova para escrivão dia 15 de março (e foi afetado pela suspensão do concurso da PCDF – https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/concurso-pcdf-suspenso/ ), quanto pra quem fará outras provas nas próximas semanas e ainda não sabe se o certame ocorrerá ou não. Diante disso, vale ressaltar alguns fatores sobre essa situação de incerteza, relacionando-a com importantes lições do livro “A lógica do Cisne Negro: o impacto do altamente improvável (Gerenciando o desconhecido)”, de Nassim Nicholas Taleb, especialista em Ciências da Incerteza.
Imagino que a relação entre o Coronavírus e a suspensão do concurso da PCDF é fácil de entender, até porque esse foi o motivo expresso no Decreto do Governador do Distrito Federal, responsável por suspender várias atividades em âmbito distrital. Mas o que seria esse tal “Cisne Negro”?
“O que chamamos aqui de Cisne Negro (com iniciais maiúsculas) é um evento com os três atributos descritos a seguir. Primeiro, o Cisne Negro é um Outlier, pois está fora do âmbito das expectativas comuns, já que nada no passado pode apontar convincentemente para a sua possibilidade. Segundo, ele exerce um impacto extremo. Terceiro, apesar de ser um outlier, a natureza humana faz com que desenvolvamos explicações para sua ocorrência após o evento, tornando-o explicável e previsível. Paro agora para resumir o terceto: raridade, impacto extremo e previsibilidade retrospectiva (mas não prospectiva).”
Talvez o Cisne Negro mais impactante deste século seja o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Quem tinha idade suficiente na época, muito provavelmente se lembra do que estava fazendo quando aquela notícia assustadora foi amplamente divulgada em todos os meios de comunicação. Por que tal acontecimento foi considerado um Cisne Negro? Foi um evento raro? Com certeza. Um atentado terrorista dessa magnitude no país mais poderoso do mundo nunca antes havia ocorrido. O impacto foi extremo? Afetou a economia, as relações políticas, despertou o medo na população em nível mundial. E a previsibilidade? Ninguém previu, mas quando aconteceu, parecia tão óbvio que as explicações retrospectivas convenceram muita gente.
Mas, afinal, o que aprendemos com isso? Nada! Ou melhor, quase nada. Achamos que um novo atentado aconteceria da mesma maneira a cada ano. Reforçamos os cuidados com o terrorismo. Tiramos recursos de outras áreas (saúde e educação, por exemplo) para reforçar a segurança. Estabelecemos novos padrões e expectativas baseados no que havíamos acabado de vivenciar. Pensamos que então estaríamos confiantes para prever o próximo candidato a Cisne Negro. Mataríamos o Cisne Negro antes mesmo do seu nascimento, como se isso fosse possível.
“Não se pode ignorar a autoilusão. O problema com especialistas é que eles não sabem o que não sabem. Falta de conhecimento e ilusão quanto à qualidade do conhecimento coincidem – o mesmo processo que faz com que você saiba menos também o deixa satisfeito com seu conhecimento.”
Diante do exposto, o Coronavírus se encaixa perfeitamente como um Cisne Negro – ou, pelo menos até agora, um fortíssimo candidato a isso. Veja a imprevisibilidade desse vírus: a última pandemia declarada pela Organização Mundial da Saúde foi em 2009, há mais de uma década, com o surto do vírus Influenza A subtipo H1N1. Não estávamos esperando uma nova pandemia, mas a partir de agora temeremos uma nova pandemia a cada ano (para os mais neuróticos, a cada mês). Não que isso seja impossível, mas acharemos que somos capazes de prever a próxima. Mais uma vez!
Entendendo a complexidade de antecipar tal surto, resta à população se mobilizar para controlá-lo. Quais as consequências do Coronavírus? Crise econômica, aumento da taxa de desemprego, repercussão em toda a cadeia de suprimentos, pânico generalizado, mortes, “monopólio” da imprensa por esse assunto, fechamento de fronteiras, cancelamento de eventos com muitas pessoas. Dentre esses eventos, está a realização do certame para escrivão da Polícia Civil do Distrito Federal.
A notícia da suspensão do concurso pegou muita gente de surpresa. Não que não fosse justificável, mas até então isso não havia ocorrido nas outras unidades federativas. Prejuízo financeiro à parte (muitos já haviam reservado hotel, comprado passagem aérea, além de outros compromissos), creio que a maior preocupação seja com o psicológico do concurseiro. Quem já passou por isso sabe o que é a pressão, a ansiedade, a expectativa de fazer uma prova que pode mudar o rumo da sua vida. Muitos meses – ou até anos – se preparando para um dia, uma tarde. De repente, a poucos dias do certame (já com horário de início marcado e local da prova definido), a notícia da suspensão e nenhuma previsão de nova data. E agora? O que fazer?
Tome sim seus cuidados com a doença, respeite as orientações das autoridades da área da saúde. Não seja um completo alienado, absolutamente distante das notícias e ignorando a existência do surto, no entanto mantenha relativo isolamento. Não se sobrecarregue com sentimentos de preocupação, de modo que você fique paralisado e não consiga mais realizar suas tarefas normalmente. Cuide da sua paz de espírito para que a negatividade disseminada não atrapalhe seu rendimento. Continue estudando como se seu concurso fosse ainda nesse mês, ainda nessa semana. Não há motivos para diminuir o ritmo, muito menos para parar. Você não tem bola de cristal para prever a nova data da prova. Infelizmente.
Os candidatos que não se prepararam como deveriam ganharam nova oportunidade (se você se vê nessa categoria, aproveite a situação, pois este pode ser seu Cisne Negro “positivo”). Já aqueles que fizeram um planejamento e uma execução adequados para chegarem competitivos e confiantes na prova precisam melhorar ainda mais. Adianta reclamar agora que a vida não é justa? Não é. Nunca será. A situação que existe é essa, e você não tem outra opção a não ser encará-la – à exceção de quem pretende viver em um mundo paralelo, em que nenhum desses problemas existe. Lamentavelmente, muitos irão se perder nesse mar de incertezas e depois falarão, alto e bom som, que a culpa pela reprovação não é deles, jogando toda a responsabilidade no vírus.
Você quer ser uma dessas pessoas que adora dar desculpas e está agradecendo – mesmo que inconscientemente – pela desculpa pronta que acabou de receber? Ou quer continuar se aperfeiçoando pra chegar ainda mais preparado pra quando a prova de escrivão da PCDF for remarcada. Além disso, tudo o que você fizer agora, servirá de “bagagem” também para o concurso de agente. Permaneça firme no seu propósito. Lembre-se da frase que simboliza os ideais do Estratégia Concursos: “O segredo do sucesso é a constância no objetivo.”
Se Nassim Taleb, especialista nas Ciências da incerteza, mostra – e comprova – que não é possível prever o próximo Cisne Negro, e que o tempo e a energia empregados nisso são um total desperdício, não cabe a você se preocupar com o próximo Cisne Negro. Pode acontecer ainda nesse ano, como pode acontecer daqui a uma década. Gaste seu tempo e sua energia com o que realmente importa no momento: a aprovação no concurso da PCDF (ou em qualquer outro concurso dos seus sonhos). Não queira acertar a previsão do próximo Cisne Negro ou até evitar que o ele ocorra, apenas preocupe-se em ter realizado seu sonho até lá. Não confunda: a suspensão foi do concurso, não dos seus estudos.
Um abraço e até a próxima,
Otávio Augusto Costa
@otavioaugustomc
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Que comparação fantástica! Belo artigo! Parabéns
Artigo fantástico! Continuar o aperfeiçoamento é o que Taleb nomeou de uma “resposta antifrágil como redundância”. A redundância de ganhos intelectuais o torna mais antifrágil. A questão do Cisne também conceituei como negro até ler um entrevista de Taleb classificando como Cisne Branco. Estudando mais a fundo. Acredito que individualmente pode ser um Cisne Negro( por surpreender o alguns indivíduos) mas não para nossa sociedade.