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PARTOS POR CESARIANA AFETAM A EVOLUÇÃO HUMANA

A evolução das espécies no nosso planeta depende de um processo chamado SELEÇÃO NATURAL. O desenvolvimento da Medicina afeta diretamente esse processo, pois permite que pessoas com determinadas características desvantajosas passem a ter o mesmo sucesso reprodutivo que pessoas sem essas características. Antes do estabelecimento do parto por cesariana como uma técnica segura, mães com a pelve muito estreita não conseguiam parir e, frequentemente acabavam por vir à óbito assim como o bebê. Assim, elas não passariam os genes que determinam uma pelve estreita adiante e seriam selecionadas negativamente. Hoje, com a cesariana, esse efeito da seleção foi atenuado e já foi registrado um aumento no número de mulheres com uma relação fetopélvica desproporcional.

Abaixo deixo a tradução do artigo completo publicado no site da BBC a respeito do assunto e o link para o original em inglês.

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PARTOS POR CESARIANA AFETAM A EVOLUÇÃO HUMANA

Por Helen Briggs BBC News

7 de dezembro de 2016

O uso regular de cesarianas está tento um impacto sobre a evolução humana, dizem os cientistas.

Mais mães precisam dessa cirurgia agora para terem um bebê devido ao seu tamanho reduzido da pelve, segundo um estudo.

Os pesquisadores estimam que os casos nos quais o bebê não passa pelo canal vaginal subiram de 30 em cada 1000 nos anos 60 para 36 em cada 1000 atualmente.

Historicamente, esses genes não teriam passado de mãe para filho porque ambos teriam morrido durante o parto.

Pesquisadores na Áustria dizem que a tendência deve continuar, mas não ao ponto de que os partos não cirúrgicos se tornem obsoletos.

O Dr Philipp Mitteroecker, do departamento de biologia teórica da Universidade de Viena disse que havia uma grande questão pendente sobre o entendimento da evolução humana.

“Por que a taxa de problemas no nascimento, em particular o que chamamos de desproporção fetopélvica – basicamente que o bebê não cabe através da cintura pélvica materna – é tão alta?” disse ele.

“Sem a intervenção médica moderna tais problemas eram normalmente letais e isso é, de uma perspectiva evolucionária, seleção.

“Mulheres com uma pelve muito estreita não teriam sobrevivido ao parto 100 anos atrás. Elas sobrevivem agora e passam seus genes contendo informações para uma pelve estreita para suas filhas.”

Forças Opostas

O motivo pelo qual a pelve humana não tem se tornado mais larga ao longo dos anos tem sido uma antiga questão evolucionária.

A cabeça do bebê humano é grande quando comparada com os outros primatas, o que significa que animais como os chimpanzés podem parir de forma relativamente fácil.

Os pesquisadores criaram um modelo matemático usando dados da World Health Organization e de outros grandes estudos sobre nascimentos.

Eles encontraram forças evolucionárias opostas no seu estudo teórico.

Uma é a tendência a recém-nascidos maiores, que são mais saudáveis.

No entanto, se eles crescerem muito, eles ficam presos durante o parto, o que historicamente seria desastroso para mãe e bebê, e os seus genes não seriam passados adiante.

“Um lado dessa força seletiva – nomeadamente a tendência a bebês menores – desapareceu devido às cesarianas”, afirma Dr Mitteroecker.

“Nossa intenção não é criticar a intervenção médica,” disse ele. “Mas ela tem tido um efeito evolucionário.”

Tendências futuras

Os pesquisadores estimam que a taxa global de casos nos quais o bebê não passa pela cintura pélvica da mãe era de 3%, ou 30 em cada 1000 nascimentos.

Ao longo dos últimos 50 ou 60 anos, essa taxa cresceu para cerca de 3,3%-3,6%, ou seja, até 36 em 1000 nascimentos.

Isso é cerca de 10 a 20% de aumento da taxa original, devido ao efeito evolucionário.

“A questão iminente é o que vai acontecer no futuro?” indaga o Dr Mitteroecker.

“Eu acredito que essa tendência evolutiva vai continuar mas talvez apenas discretamente e vagarosamente.”

“Há limites para tal. Então eu não acredito que um dia a maioria das crianças terá que nascer por cesariana.”

A pesquisa foi publicada no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Comentando sobre o estudo, a paleontropologista do instituto Smithsonian Dr Briana Pobiner afirmou que há “provavelmente muitos outros fatores biológicos e culturais que atuam sobre as taxas de cesarianas, que variam bastante entre o mundo desenvolvido e o mundo em desenvolvimento”.

Daghni Rajasingam, um obstetra e porta-voz do Royal College of Obstetricians, afirma que fatores como diabetes e obesidade também têm um impacto no número de cesarianas.

“Eu acho que o que é importante colocar na questão da evolução é que coisas como diabetes são muito mais comuns atualmente em pessoas jovens e por isso vemos muito mais mulheres em idade reprodutiva que são diabéticas,” diz ela.

“Isso tem consequências acerca da necessidade ou não de uma cesariana.”

“Além disso, as taxas de obesidade estão crescendo então mais e mais mulheres em idade reprodutiva possuem um maior índice de massa corporal e isso, novamente, tem um impacto nos números de cesarianas.”

Link para o artigo original em inglês.

Prof Daniel Reis

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Veja os comentários
  • Certamente burlamos a seleção natural em vários aspectos com os avanços da medicina.. Diversos genes que seriam fatais na luta pela sobrevivência numa época remota se disseminaram e não são mais problemas nos nossos dias. Alguém já pensou como a miopia, por exemplo, poderia ser fatal frente a um predador? rsrs. Pena que não seguimos com os mesmos avanços no conservadorismo. Grande abraço.
    Hebert em 09/12/16 às 17:14