Pandemia e Política Internacional
Prof. Dr. Sidney Ferreira Leite
Fac. Rio Branco e Estratégia
O lançamento de livros sobre o pós-pandemia está na ordem do dia. No meio de obras superficiais, há o ótimo Dez Lições para o mundo pós-pandemia, de Fareed Zakaria. O autor apresenta cenários realistas. Dentre as lições, selecionei duas para analisar mudanças na política internacional e seus impactos no Brasil: 1. O que importa não é quanto, mas como o governo intervém e, 2. A globalização não morreu, mas precisamos pensar sobre as suas possibilidades e os seus limites.
Na Alemanha, Angela Merkel está sendo substituída por uma coalizão de liberais, sociais-democratas e verdes. A líder atuou com sucesso na dissuasão da ideia de uma nova ascensão internacional alemã, privilegiou políticas internas de conforto social e estabilidade econômica. O novo governo promete dar continuidade às políticas liberais, porém, com propostas mais assertivas nos campos ambiental e social.
Nos Estados Unidos, as mudanças políticas são significativas: Donald Trump perdeu as eleições para Joe Biden, político moderado do Partido Democrata. Biden representa mais governo, intervenção na economia e políticas sociais. Em relação à lição 2, Biden pretende recolocar os EUA na liderança da globalização e da ordem internacional frente à ascensão chinesa, tarefa desafiadora.
Na China, a lição 1 está sendo ignorada, as lideranças do Partido Comunista é reforçaram a centralização e o personalismo do líder Xi Jinping, recentemente igualado a Mao Tsé-Tung e Deng Xiaoping. A sinalização é clara: continuidade do capitalismo de Estado. Na condição de superpotência comercial, o país tem protagonismo na globalização compartilhada com os Estados Unidos. Terá início uma nova Guerra Fria?
Os impactos da conjuntura pós-pandemia no Brasil são contundentes. O país carece de projetos sobre o papel e os limites da intervenção do Estado na economia. Não sabemos o quanto e ainda patinamos sobre o como. Quadros políticos e intelectuais persistem em confundir o público com o estatal. Em relação à lição 2, o cenário é assimétrico. O país é competitivo na agropecuária, mas tropeça no setor industrial, que será colocado à prova, caso o acordo Mercosul e União Europeia saia do papel. As duas lições são como as aulas de natação, somente aprendemos a nadar entrando na água.