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O que faz um papiloscopista?

Olá, pessoal, tudo bem? Com tantos concursos recentes abertos para a carreira policial, você já se deparou com o cargo de papiloscopista ou datiloscopista? Apesar de ser uma carreira bem antiga, muitas pessoas não sabem o que esse pessoal faz.

E então, sabem o que um papiloscopista faz? Já escutaram falar alguma vez nesse nome? Não? É normal. Então sente aí e conheça um pouco mais sobre essa ciência maravilhosa.

Histórico

A papiloscopia é a ciência usada para determinar a identidade dos indivíduos. Desde a pré-história, existem relatos de desenhos de impressões papilares em cavernas. Ao longo do tempo, cientistas começaram, então, a perceber o padrão das linhas que apareciam nas pontas dos dedos, na palma das mãos e na planta dos pés. Nomes como Galton, Vucetich e Henry são importantes papiloscopistas que, séculos atrás, começaram a criar maneiras de diferenciar e determinar a identidade dos indivíduos a partir das impressões digitais.

As papilas dérmicas, popularmente conhecidas como digitais, são formadas durante o desenvolvimento do embrião, e até o momento não existe relato da existência de duas impressões digitais idênticas em pessoas diferentes.

Além disso, outras propriedades, como o fato de permanecerem presentes desde a vida uterina até a morte e normalmente não se alterarem durante a sua existência, faz com que o estudo das impressões digitais de um indivíduo se torne um método excelente de identificação.

No Brasil, a utilização da papiloscopia pelo governo começou no início do século XX. Era utilizada, primariamente, para expedição de documentos, identificação de estrangeiros e resolução de crimes. Hoje, a identificação oficial, tanto civil quanto criminal, é exercida pelos Institutos de Identificação (IIs) dos Estados, os quais são vinculados, normalmente, às Secretarias de Segurança Pública.

Vamos falar de ciência

A papiloscopia pode se dividir em três processos:

  1. Datiloscopia: identificação por meio das impressões digitais (mais utilizada).
  2. Quiroscopia: identificação por meio das impressões palmares (palmas das mãos).
  3. Podoscopia: identificação por meio das impressões plantares (plantas dos pés).

Como dito antes, o uso das impressões papilares no mundo forense se tornou bastante popular por diversos motivos:

  1. O fato de todos os seres humanos possuírem impressões papilares (Universalidade). Com exceção de indivíduos com algumas doenças genéticas (Síndrome de Nagali), alergias, falta de membros etc.
  2. O fato de as impressões papilares permanecerem no corpo desde o surgimento, na vida uterina, até a morte, permitindo a identificação do indivíduo em todas essas etapas (Perenidade).
  3. O fato de as impressões papilares não terem a tendência de se alterarem ao longo da vida. Exceto por fatores internos (alergias e doenças congênitas) ou externos (cortes, produtos químicos etc.) (Imutabilidade).
  4. E o grande fator de não se repetirem, variando de região para região e de pessoa para pessoa (Variabilidade).

Como surgem as impressões papilares?

Surge ainda na vida intrauterina, geralmente a partir da 10ª semana de gestação. As cristas e os sulcos, os quais popularmente chamamos de digitais, apresentam como principal função a propriedade antiderrapante. Tente fazer um teste: observe as pontas dos dedos. Verá como as linhas formam um tipo de relevo, com subidas (cristas) e descidas (sulcos).

Esse relevo nos permite agarrar objetos com mais firmeza. O que torna possível o acontecimento de atividades simples, como pegar um copo.

Além disso, esse relevo forma padrões de movimento e fluxo, os quais são únicos de pessoa para pessoa. São esses padrões que permitem diferenciar um indivíduo do outro através das impressões digitais.

E como é possível identificar uma pessoa pelas digitais?

Grandes cientistas (Galton e Vucetich), ao longo dos anos, ao constatarem os fatores que tornam as digitais únicas, começaram a perceber e classificar padrões nas linhas formadas pelas cristas e sulcos (impressões papilares). Como cada indivíduo apresenta formas, direção e detalhes únicos, é possível individualizar uma pessoa com base nas suas digitais.

O trabalho desses estudiosos foi tão importante, que até hoje utilizamos seus conhecimentos. O padrão criado por Vucetich é utilizado por várias polícias no mundo, inclusive as Brasileiras.

O perito papiloscopista é responsável por saber identificar e diferenciar esses detalhes nas impressões papilares e, com isso, individualizar uma pessoa.

papiloscopista análise impressão digital
Impressão digital com detalhes nas linhas formadas

O trabalho do papiloscopista na Polícia Federal

Como ingressar na carreira?

Por meio de concurso público. O último foi realizado no ano de 2021. E contou com as etapas de provas objetiva e discursiva, teste de aptidão física, exames médicos, teste psicológico e curso de formação profissional.

Para as provas objetivas, o conteúdo cobrado é bem abrangente. Desde o básico dos concursos, como português e raciocínio lógico, até disciplinas como biologia, física e química. Além disso, é necessário curso superior em qualquer área de formação, além de carteira nacional de habilitação mínimo categoria B.

E dentro da polícia federal? Quais são as atribuições?

O papiloscopista é o responsável pela identificação humana. Como dito no edital do concurso: “atribuições do papiloscopista policial federal – executar, orientar, supervisionar e fiscalizar os procedimentos de reconhecimento, isolamento, fixação, coleta, acondicionamento, transporte, recebimento, processamento, armazenamento e descarte de fragmentos e impressões papilares, realização de exames e emissão de laudos oficiais papiloscópicos, representação facial humana e prosopografia; operar e gerir bancos e sistemas automatizados de identificação humana civil e criminal”.

Atribuições do papiloscopista de acordo com o edital do concurso

E o que estas atribuições na prática querem dizer? Você já viu aquela série de TV CSI, se não viu, tenho certeza de que a conhece. Nela, os crimes são solucionados utilizando as mais diversas técnicas, entre elas, a papiloscopia. Já viu o policial, na série, utilizando uma espécie de escova juntamente com pó, e ao passar nas superfícies é como se “revelasse” uma digital? Então, é isso que o papiloscopista faz em um local de crime.

No dia a dia do papiloscopista policial federal, somos responsáveis pela realização de perícias papiloscópicas. E o que é a perícia papiloscópica? São um conjunto de técnicas utilizadas na busca e exame de impressões papilares com o intuito de descobrir a identidade de quem as produziu (sendo a utilização de pó uma delas).

Essa descoberta, juntamente com os fatos descobertos pela investigação criminal, se torna um excelente meio de prova.

Assim como todas as perícias, a papiloscópica também deve seguir regras estritas de manuseio (uso de luvas), desde a sua localização até o encaminhamento do laudo à justiça. Por isso, a documentação da cadeia de custódia é fundamental para assegurar a confiança da prova produzida durante a perícia (Aquele concurseiro de área policial sabe bem o que é cadeia de custódia, não?).

A utilização de meios como fotografias e vídeos, auxiliam muito no asseguramento da cadeia de custódia.

É possível a realização da perícia papiloscópica em diversos locais:

  1. Veículos
  2. Embalagens de drogas
  3. Móveis
  4. Paredes
  5. Objetos diversos

A busca das impressões digitais pode ser feita basicamente em tudo que o ser humano possa ter tocado e abandonado uma marca.

Além da perícia, o que mais o papiloscopista policial federal faz?

Sabe o retrato falado? Aquele que de vez em quando passa na televisão, com o rosto de criminosos procurados ou mesmo de pessoas desaparecidas. O papiloscopista é um dos profissionais responsáveis por realizar essa técnica.

Normalmente, é realizada com o auxílio de testemunhas, que ajudam a compor a imagem do suspeito ou desaparecido.

A representação facial humana (retrato falado) já foi responsável por prender fugitivos de casos importantes no Brasil. Como foi o caso do assalto ao Banco Central de Fortaleza. O retrato falado realizado por uma testemunha, foi um dos grandes responsáveis por prender um dos autores do crime, o Alemão.

Dentro da papiloscopia, existe uma área chamada de necropapiloscopia, responsável por realizar a identificação de indivíduos já falecidos. Essa área foi de fundamental importância nos desastres de Brumadinho e Mariana, assim como nos acidentes aéreos do Air France e do voo com o time da Chapecoense.

Foi graças à necropapiloscopia, assim como outras áreas de identificação, como a genética forense, que as famílias puderam receber o conforto de saber a identificação daqueles corpos.  

O papiloscopista, ainda, auxilia na emissão de passaportes, ao verificar a veracidade das informações fornecidas pelo solicitante do documento. Também atua no controle da imigração, realizando a identificação de estrangeiros.

Outra atribuição importante e interessante do papiloscopista na polícia federal, e que acontece com grande frequência, é a solicitação para que o profissional proceda a análise de documentos com suspeita de serem falsos. O papiloscopista realiza a conferência dos dados, juntamente com o órgão emissor, e das digitais.

Concluindo

Então, ficou mais interessado pelo cargo de papiloscopista? Apesar do grande concurso que teve em 2021, a expectativa é que abram muitas vagas no próximo concurso da polícia federal. Com o advento de um novo banco de dados de comparação biométrica (O ABIS – Sistema Automatizado de Identificação Biométrica) espera-se que novos papiloscopistas cheguem para atender a demanda.

Além do cargo na polícia federal, existem vagas dentro das polícias civis dos Estados. Nos Estados, normalmente os papiloscopistas, além de realizarem perícias em locais de crimes, também são responsáveis pela emissão de documentos de identidade (RG). Estes trabalham nos Institutos de Identificação, como também dentro das delegacias de polícias civis.

Quer saber mais sobre a papiloscopia? Existem vários perfis nas redes sociais de papiloscopistas que mostram o dia a dia do trabalho. E para quem realmente quiser entrar para o cargo na polícia federal, as portas sempre estão abertas para os novatos amantes da papiloscopia.

Um grande abraço,

Franciele Rohor de Souza

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