Minha vida de concurseiro: Como fui aprovado no meu primeiro concurso!
Gostaria de começar meu primeiro artigo descrevendo como comecei no mundo dos concursos e não como foi minha última aprovação.
Nasci na cidade do Rio de Janeiro, morava em um bairro do subúrbio carioca. Em casa não nos faltava nada, mas não tínhamos uma vida de muitos confortos. Meus pais sim tiveram uma infância muito difícil e até hoje tenho muitos parentes que vivem em bairros bem pobres e favelas do Rio de Janeiro.
Sempre ouvi as histórias dos meus pais e tios que contavam o quanto estudar foi útil a vida deles.
Meu pai trabalhou por um tempo na Marinha Mercante, ao contrário do que muitos imaginam, na época, os salários não eram tão bons. Depois foi trabalhar na Bayer, uma indústria química na cidade de Belford Roxo, região metropolitana do Rio de Janeiro.
Por esse motivo ao chegar à antiga 8ª série (atual 9º ano), ele me disse que eu deveria cursar uma Escola Técnica, pois não teria condições de me manter na faculdade, mas, se eu trabalhasse e estudasse, seria possível concluir um curso superior (éramos 3 crianças em idade escolar).
Pois bem, aí começou meu contato com o mundo dos concursos públicos. Lembro-me que, em janeiro de 1993, fomos ao SOEIRO, um curso preparatório antigo no bairro de Cascadura, e me matriculei no preparatório para o CEFET (Centro Federal de Educação Tecnológica). Todos os meus amigos estavam de férias e eu não entendia por que deveria começar a estudar tão cedo. Foi a primeira lição que aprendi!
Acontece que lá também havia (e acho que ainda há até hoje) preparatório para escolas militares e, ao invés de assistir à aula na minha turma, passei a frequentar as turmas do preparatório para o Colégio Naval.
Algo que vinha latente dentro de mim foi despertado, descobri que queria ser militar.
O concurso era composto por 2 etapas, não sei se ainda hoje é assim. A primeira etapa era uma prova de matemática com 20 questões e, os aprovados, participariam da segunda etapa cerca de um mês depois, composta por provas de Português, História, Geografia, Física e Química.
O maior terror dos candidatos era justamente a prova de matemática, pois degolava, já na primeira fase, um enorme percentual de concorrentes.
Das 20 questões, 2 foram anuladas e eu acertei 17 das 18 válidas. Foi uma das maiores notas do SOEIRO naquele ano, muitos professores tomavam minha aprovação como certa.
Ocorre que durante minha preparação, eu me preocupei tanto em não ser degolado que não me preparei adequadamente para as outras provas. Fiquei reprovado na segunda fase e minha pior nota foi na prova de português. Hoje vejo que outras lições surgiram disso:
1. Estudar todas as matérias: uma ave precisa de 2 asas para voar, só uma não é suficiente;
2. Identificar suas limitações: língua portuguesa até hoje é meu calcanhar de Aquiles;
3. Confie na sua capacidade, confie na técnica, esforce-se, não foi por eu ter estudado em escola pública e outros colegas terem estudado em escolas particulares que não fui aprovado.
No ano seguinte, fui para a Escola Técnica, o que foi muito bom, pois fiz muitas amizades que duram até hoje. Passei um tempo me dedicando ao estudo da eletrônica, no ano seguinte comecei a trabalhar na mesma empresa que meu pai trabalhava e já com 15 anos assinei carteira e fui estudar no turno da noite. Parecia que minha vida seguiria por esse caminho, havia esquecido o Colégio Naval e a vida militar.
Mas aquela coisinha latente que estava lá dentro foi despertada numa manhã qualquer, quando esperava o ônibus para ir ao trabalho e vi na banca de revistas o jornal Folha Dirigida (que não sei se ainda existe na versão impressa) com uma matéria que dizia algo mais ou menos assim: “Depois de X anos EPCAR volta a fazer concurso”. Para quem não conhece EPCAR é a Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica.
Lembro-me de ter comprado o jornal e ir lendo para o trabalho. Mas como estudaria? Trabalhava de 8:00h as 17:00h, de segunda a sexta, tinha aula de 19:00h as 22:40h, de segunda a sexta…
Lembrei-me da primeira lição, se eu quisesse chegar lá teria que fazer algo que as pessoas não faziam.
Comecei a estudar no ônibus enquanto ia para o trabalho, do trabalho para a escola, da escola para casa. Estudava mesmo que não tivesse lugar para sentar, exatamente, muitas vezes estudava em pé.
Fiquei meio antissocial, estudava nos intervalos e até mesmo no meio das aulas, sentado no fundo da sala para os professores não verem. Também estudava a noite, em casa depois das aulas, até de madrugada.
Não foram poucas as vezes que perdia a hora e corria feito louco para pegar o trem para Belford Roxo e depois da estação até a empresa para não me atrasar.
Enfim chegou a semana da prova. Naquela época as provas não eram como hoje, que são nos fins de semana, o concurso da EPCAR começou em um domingo e tínhamos provas todos os dias pela manhã até sexta, o que implicava em me atrasar para o trabalho durante uma semana inteira.
Fiquei com medo de ser demitido, conversei com meu pai, que me encorajou a seguir em frente e prestar o concurso. Conversei com meu chefe, que ficou muito revoltado, para não usar outra palavra, mesmo indo trabalhar depois das provas no período da tarde ele me descontou quase todos os dias como se tivesse faltado o dia inteiro.
Resultado: Fui aprovado! Uma tremenda alegria, mas tinha um segundo problema, uma prova física e índices que eu não conseguia atingir. Apesar de sempre ter sido magro, de jogar futebol com os amigos, andar de bicicleta, aqueles testes estavam fora das minhas condições físicas e teria que treinar.
Não tive dúvidas, treinei nos tempos livres, muitas vezes ia para o vestiário no trabalho para fazer flexões, abdominais, sugados etc. Corria depois das aulas (sim depois de sair às 22:40h, chegava em casa e ia correr).
Ocorre que muitas vezes o insucesso vem de coisas para as quais não estamos preparados e sob as quais não exercemos qualquer tipo de controle.
Na data marcada fiz os exames médicos e mesmo tendo conseguido todos os índices mínimos nas provas físicas, fiquei reprovado no exame de oftalmológico.
Não sei se pela idade ou por estar inserido na situação, só conseguia pensar no fracasso, não conseguia enxergar todos os obstáculos que superei, todas as pequenas vitórias que fizeram grandes diferenças.
No ano seguinte, não me dei por vencido. Voltei a estudar com afinco, faria de novo o concurso da EPCAR, mas também o da ESPCEX (Escola Preparatória de Cadetes do Exército).
Pois é, você, caro leitor, deve estar se perguntando algo do tipo: “Mas se ficou reprovado no exame oftalmológico, por que faria o concurso da EPCAR novamente?” Preciso dizer que eu só tinha 16 anos… rs
Nessa segunda tentativa não fui aprovado em nenhum dos dois certames. No concurso da EPCAR passei muito mal no dia da prova de português, no da ESPCEX, não passei mesmo, não tenho desculpas… rs
Se no ano anterior meu chefe não gostou por eu ter me atrasado uma semana inteira, imaginem agora que foram 2 semanas, uma para cada certame!
Bem, mais uma decepção. Mas não me deixaria abater!
No ano seguinte repeti a dose. Já era o último ano do antigo 2º Grau (como mudei para noite o curso passou e ter 4 anos), além das provas para as escolas militares (sim fiz novamente a prova da EPCAR), ainda teriam os vestibulares no fim do ano.
No entanto, era o ano de 1997 e a empresa passava por dificuldades financeiras e em final de julho fui demitido como muitos outros funcionários. Basta lembrar que era uma fase difícil para a economia do país, muitas empresas fechando, outras reestruturando…
Mas eu sabia o que queria, não vi aquilo como algo ruim, na verdade ter sido demitido foi uma das melhores coisas que me aconteceram na vida! Eu sabia exatamente o que queria!
No dia seguinte voltei ao SOEIRO e perguntei o valor do curso. O que havia recebido de indenizações e FGTS só cobriria metade das mensalidades desde aquele dia até a data das provas.
Fui conversar com o dono do curso, expliquei minha situação, disse que já tinha chegado perto e pedi um desconto. Agradeço muito a ele! Comecei a estudar no mesmo dia, com bolsa, paguei o que podia e agarrei essa oportunidade com todas as forças.
Fui aprovado nos dois certames. Novamente reprovado no exame de oftalmológico da EPCAR, mas em janeiro de 1998 comecei minha carreira militar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, tendo permanecido no Exército Brasileiro por 12 anos, até a minha última aprovação no concurso para Auditor de Controle Interno do Distrito Federal.
Contando assim, parece que foi fácil, mas foi um período de muitas incertezas.
Escrevendo essas linhas me veio à mente muitas lembranças, não foi um período fácil. Não faltaram motivos para desistir, ameaças de ser demitido, algumas dificuldades na escola, problemas pessoais que todos nós temos etc. Mas eu sabia o que eu queria e pelo que eu me dedicava tanto. Eu tinha um objetivo e mais que isso, tinha um sonho!
Nada poderia se colocar entre mim e a realização desse sonho.
Caro aluno, saiba exatamente o que você quer e nos momentos de dúvida saberá exatamente porque está abdicando das coisas que precisa abdicar!
Nenhuma história será mais inspiradora do que a sua própria história! Só você sabe das suas dificuldades!
Bons Estudos!