Olá pessoal, tudo bem? Meu nome é Lorenne de Angelis e atualmente exerço o cargo de Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil na Alfândega da Receita Federal em Ponta Porã-MS. Quero compartilhar um pouco da minha trajetória até a aprovação e os motivos que me levaram a acreditar que, mesmo sem ter uma educação de base diferenciada e sendo necessário conciliar trabalho com estudos, é possível vencer os desafios e alcançar a aprovação.
Toda a minha formação, desde a Pré-escola até a Universidade, foi no ensino público. Sempre gostei de estudar, mas minha formação escolar foi bastante básica. Não fiz cursos de idiomas. Não vivia em um contexto social cultural diversificado. Sou a caçula de três irmãs e minha família tinha uma condição financeira bem simples. Comecei a trabalhar aos 17 anos e com isso praticamente todo o meu período de graduação conciliei com o trabalho (Balconista em papelaria, atendente em fotocopiadora, secretária, professora de informática). Não falo isso com pesar, pois foram anos extremamente proveitosos para mim e que com toda certeza fizeram a diferença em minha formação humana.
Minha preparação para concursos públicos começou em 2009. Eu morava em Barra do Garças, interior de Mato Grosso e trabalhava na Secretaria Acadêmica de uma Faculdade. Foi nessa época que conheci alguns recém-empossados no concurso de 2008 da Sefaz/MT que estavam trabalhando na região. Até então, para minha realidade, servidores públicos eram pessoas inacessíveis, muito fora do meu contexto social e muito acima do meu padrão intelectual.
Quando conheci aqueles jovens servidores, pouco mais velhos que eu, com vocabulário tão comum e com assuntos normais, algo acendeu dentro de mim. Pensei – Será possível? Será que se eles conseguiram eu também posso? Essa menina da escola pública que viveu a maior parte da vida no interior do Mato Grosso sem nenhum diferencial tem alguma chance?
Pedi demissão de onde eu trabalhava. Juntei todo o dinheiro que eu tinha e me mudei para Cuiabá onde minha irmã morava. Comecei a estudar em um cursinho presencial área fiscal. Fazia as disciplinas de Língua Portuguesa, Raciocínio Lógico, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário e Contabilidade. Como eu comecei totalmente às escuras até hoje quando eu lembro me dá vontade de dar risada ou chorar! Minha irmã era professora universitária e me lembro que pedi a ela que pegasse uns livros de Direito e Contabilidade na Biblioteca da Faculdade. Ela chegou em casa com dois ou três de cada disciplina. Doutrinas! Claro que tudo aquilo parecia hieróglifo pra mim! Depois de algum tempo fiz amizade com alguns colegas que estudavam na biblioteca do cursinho e eles me deram algumas dicas de material e eu também comecei a observar como eles estudavam.
Após 5 meses minha irmã mudou-se de cidade e meu dinheiro praticamente havia acabado, então fui morar em Goiânia com minha avó para continuar a estudar. Iniciava às 07 h 30 min e encerrava por volta das 20 h, pois estudava na biblioteca e ainda tinha que retornar para casa.
Aproximadamente 9 meses depois de iniciar meus estudos fiz a prova para assistente administrativo do Ministério da Agricultura (MAPA). Não era o meu foco, mas eu tinha total noção de que precisava passar em um concurso intermediário para que pudesse ter novamente salário e condições para continuar estudando. Algumas semanas antes do concurso estudei o conteúdo específico e redação oficial, pois havia prova discursiva. Lembro-me até hoje que senti-me estranha ao fazer a prova, pois parecia fácil demais. Claro! Eu havia estudado e sabia o conteúdo! Acompanhei as postagens pelos fóruns e pelas notas do ranking eu estava em 2º lugar, mas como a representatividade no ranking não estava tão grande não dei tanta atenção. Quando saiu o resultado da prova objetiva eu realmente estava em 2º lugar. Que alegria! Além de ter a prova discursiva corrigida eu estava muito bem colocada! Quando saiu então o resultado final somado ao da prova discursiva eu fiquei em 1º lugar! Fiquei em choque! Minha primeira aprovação e eu havia ficado em 1º lugar! Sem dúvidas isso foi um combustível para que eu continuasse estudando.
Demorei cerca de 5 meses para ser nomeada e enquanto isso continuei estudando. Resolvi de fato focar na área fiscal, mas, ainda assim, fazendo outros concursos intermediários que me permitissem migrar para cargos com salários e/ou mais benefícios. Poucos meses depois fui aprovada em 4º lugar para Analista Administrativo da Defensoria Pública da União e para Técnico Administrativo do Ministério Público da União.
Quando me mudei para Cuiabá para assumir o cargo do MAPA foi um marco na minha vida. O dinheiro para fazer os exames médicos admissionais foi uma amiga que me emprestou. O dinheiro para me sustentar até que eu recebesse meu primeiro salário foi minha irmã mais velha que me deu (Essa foi a última vez que ela teve que me ajudar financeiramente, porque até então meus cursos, materiais e demais despesas ela pagava). Tudo que eu tinha se resumia a duas malas de roupas e uma caixa com livros. E foi assim que uma outra amiga me buscou na rodoviária e me recebeu na casa dela até que eu tivesse como me instalar. Durante toda essa jornada tive pessoas maravilhosas em minha vida a quem sou grata sempre!
Assumi o cargo do MAPA e permaneci nele por 2 anos. Posteriormente fui nomeada para o MPU e lá permaneci por quase 1 ano. Durante os 2 anos que estive no MAPA eu trabalhava de manhã e à tarde e estudava no próprio órgão no meu horário de almoço e ao final do expediente eu ia direto para a biblioteca e lá eu estudava até as 22 horas. Aos finais de semana eu estudava cerca de 8 horas no sábado e descansava aos domingos (exceto no pós-edital, que não havia descanso). Já no MPU, meu horário era das 12 h às 19 h, entretanto logo que tomei posse foi publicado o edital da RFB, então pedi ao Procurador que era meu chefe que me deixasse fazer o expediente de 13h30min às 20h30min. Assim, eu estudava das 8 h às 12h30min e aos sábados e domingos (Cerca de 8 h líquidas por dia). Fiz a prova objetiva para ATRFB e pela minha porcentagem de acertos sabia que a chance de eu conseguir passar para a 2ª etapa do concurso era bem grande. Logo comecei a me preparar, pois um dos meus pontos fortes sempre foram as provas discursivas. Todas as minhas notas de provas discursivas em concursos foram próximas de 100. Para ATRFB obtive nota 94 o que fez com que eu saltasse mais de 200 colocações. Foi então no mês de dezembro, como presente de Natal, que saiu o resultado final do concurso e eu estava ali entre os aprovados! Na mesma hora a imagem daquela menina observando os fiscais da Sefaz/MT me veio à memória! Confesso que meu coração não acelerou, não pulei de alegria, não chorei. Acho que fiquei pensativa, mas muito orgulhosa por não ter desistido e satisfeita por ter “gastado” todas as três férias que eu já havia tido como servidora pública sempre para estudar.
Essa é minha trajetória e o meu porquê de querer colaborar com aqueles que também buscam alcançar a aprovação e que para isso precisam superar desafios diários! Um grande abraço!
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Adorei o depoimento! Seria muito legal se pudesse contar mais sobre a parte da Receita, nos próximos textos. Muito bom! Obrigada por compartilhar!
Boa tarde, Dayane!! Que bom que gostou! Pode deixar que farei um post falando sobre a minha preparação para ATRFB! Abraços e bons estudos!
Lorenne, Parabéns pela sua trajetória..é muito bom nos dedicarmos aos nossos sonhos. Seguirei seus conselhos.
Muito legal!
Parabéns pela trajetória de dedicação!