Concursos Públicos

Dica de estudo – concurso DPE/BA – A tentativa de implantar um Estado Islâmico na Bahia no Império

Olá futuro Defensor Público,

Neste artigo trago um tema interessantíssimo para os dias atuais e para o conteúdo de “Aspectos da Constituição e Formação da População da Bahia”. O tema é sobre a tentativa de implantar um Estado Islâmico na região da Bahia, no período do Império brasileiro.

– Que horror!

– Como assim professor? Um Estado Islâmico no Brasil igual ao atual autoproclamado no Oriente Médio?

– Hehehe …. calma pessoal …. explico para vocês!

Trata-se da Revolta dos Malês. Foi um importante movimento escravo que ocorreu em Salvador, em 1835, dentro de um ciclo de rebeliões escravas que ocorreram na Bahia na primeira metade do século XIX.

Foram diversas as conspirações e rebeliões com a participação de africanos escravizados entre 1807 e 1835.

Estes vieram do Sudão Central e do norte da atual Nigéria. Eram vítimas de conflitos políticos de base religiosa que ocorriam nessa região, desde o início do século.

No início do século XIX, período de prosperidade na Bahia com a lavoura açucareira – devido à Revolução no Haiti (1791-1804) que excluiu o país como maior produtor, e o aumento da importação de escravos -, esses chegavam aos milhares na Bahia, anualmente.

Na maioria, eram escravos de identidade étnica haussá, nagô e jeje, adeptos ao Islamismo, em expansão na África, cujas sociedades eram guerreiras. Isso foi determinante contra à escravidão em território baiano, uma vez que os “crioulos”, os escravos nascidos no Brasil, em sua maioria não participavam desses confrontos.

Entre as revoltas que ocorreram até o início de 1820, segundo o historiador João José Reis, a mais bem-sucedida foi a de 1814, na cidade de Salvador e nos subúrbios litorâneos, chamada de Revolta de Itapuã. A maioria dos participantes eram haussás. Mas, a que ficou mais conhecida, foi a de 1835, a Revolta dos Malês, protagonizada, sobretudo pelos malês, que eram nagôs islamizados.

Depois da Independência do Brasil de Portugal (1822) e do fim da guerra de independência na Bahia (1823), ocorre uma crise política, com a elite buscando impor sua legitimidade. Também ocorre uma crise econômica com aumento do preço de alimentos e redução na produção, devido à seca e à queda do preço do açúcar no exterior.

Nesse cenário de crise, acentuava-se uma tensão, em relação ao período anterior, contra o escravismo e privilégios, principalmente, étnicos e religiosos. Foi um momento que deu margem para a organização dos revoltosos, provocando mais levantes escravos nas décadas de 1820 e 1830.

Além disso, segundo Reis, na época, dos habitantes de Salvador, cerca de 40% eram escravos e a maioria eram nascidos na África, sendo 78% afrodescendentes. Embora, a maioria fosse adepta ao candomblé dos orixás, muitos professavam a religião islâmica.

Nesse contexto, ocorre, em Salvador, o movimento de 1835, conhecido como Revolta dos Malês, organizada por um grupo de negros chamados de “malês”. Em menor número, também participaram os haussás, e, ainda, negros de outras tradições.

“Imalê”, na língua “ioruba” significa muçulmano. Na Bahia, eram conhecidos como nagôs. “Nagôs”, eram designados os negros escravizados, vendidos na antiga Costa dos Escravos e que falavam o ioruba.

Cabe destacar que o objetivo principal da Revolta dos Malês foi retirar os brancos cristãos do poder, e ao que tudo indica serem os novos senhores, sem mudança na ordem social.

Embora africanos-não muçulmanos tenham participado do movimento, como combatentes, os responsáveis pelo planejamento do movimento foram os malês. A maioria dos líderes eram nagôs islamizados. O movimento foi organizado em reuniões, onde ocorriam, ao mesmo tempo, as conspirações e as rezas com o Corão, livro sagrado do Islamismo.

A revolta foi marcada para ocorrer no mês sagrado do jejum dos muçulmanos, no dia 25 de janeiro, dia dos tradicionais festejos religiosos dedicados à Nossa Senhora da Guia.

O movimento foi enfraquecido devido a uma denúncia, desse modo, o grupo de revoltosos, ainda desorganizado, foi surpreendido durante uma reunião no dia anterior pela Polícia.

Mesmo assim, os combatentes tentaram resistir, mas, lutando contra a polícia, foram vencidos.

Com a derrota, a luta foi marcada pelas condenações: pena de morte, castigos físicos, expulsão de centenas de nagôs para a costa ocidental da África, proibição dos africanos mulçumanos de circularem pelas ruas de Salvador e de praticarem cerimônias religiosas do islamismo.

Apesar de serem vencidos, a Revolta dos Malês, de 1835, demonstrou o poder de resistência desses africanos e afro-brasileiros e provocou muito medo na Bahia e em outras províncias, por muito anos, contribuindo para o enfraquecimento do sistema escravista ao longo do tempo.

Depois desse período, devido a uma maior repressão, ao retorno da estabilidade da elite e à proibição do tráfico, desde 1831, quando começou a exportação de escravos na Bahia, o número de revoltas escravas reduziu, quase desaparecendo.

Amigos, está aí a dica de estudo!

Muito interessante para os dias atuais em que o mundo convive com o extremismo islâmico, o terrorismo, os horrores dos conflitos religiosos. Claro, devemos ter cuidado em fazer qualquer associação direta entre esses temas e a “Revolta dos Malês”. São períodos históricos diferentes e a revolta na Bahia não obteve sucesso.

Como nos diz o historiador João José Reis, ao analisar a rebelião escrava de 1835:

“Por isso, se o levante tivesse sido um sucesso, a Bahia malê seria uma nação controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos. Talvez a Bahia se transformasse num país islâmico ortodoxo, talvez num país onde as outras religiões predominantes entre os africanos e crioulos (o candomblé e o catolicismo) fossem toleradas. De toda maneira a revolta não foi um levante sem direção, um simples ato de desespero, mas sim um movimento político, no sentido de que tomar o governo constituía um dos principais objetivos dos rebeldes.” (REIS, s/d, p. 6).

E também a rebelião anterior, já citada, a de 1814:

“Mas digamos que o projeto dos rebeldes tivesse dado certo e da revolta brotasse uma genuína revolução, que o Haiti se fizesse aqui: que tipo de regime político e de sociedade substituiria o mundo então varrido do mapa? Seria uma sociedade sem escravos? Seria um Estado islâmico escravista que imitasse aquele recém-criado no país haussá? Seria um emirado do “extremo ocidente” submetido à autoridade do Califado de Sokoto? Seria um Estado ao estilo haussá pré-jihad, com muçulmanos mais indulgentes no poder, onde, ao lado do Islã, outras formas de fé fossem toleradas, os vários paganismos e catolicismos inclusive, favorecendo uns a abraçarem ou pelo menos respeitarem as crenças dos demais? Ou não seria nada disso? São perguntas que ainda não podem ser respondidas satisfatoriamente.” (REIS, 2008, p. 115)

Pessoal, aproveito para informar que na última teremos um resumo dos conteúdos estudados, o que sem dúvida vai facilitar ainda mais os seus estudos.

Para quem não conhece, segue o link do curso: https://www.estrategiaconcursos.com.br/curso/aspectos-da-constituicao-e-formacao-da-populacao-e-da-historia-da-bahia-p-dpe-ba/.

Grande Abraço,

Leandro Signori

Leandro Signori

Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Bacharel em Geografia pela Uniceub (Brasília). Como servidor público, foi funcionário da Prefeitura de São Leopoldo (RS), Prefeitura de Porto Alegre (RS), Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e Ministério da Integração Nacional. É professor de Geografia para o ensino médio na rede particular de ensino. Leciona as disciplinas de Atualidades, Conhecimentos Gerais, Geografia, Realidade Brasileira e História, em cursos on line e presenciais preparatórios para concursos públicos.

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