Aprovado em 2° lugar (cotas) no concurso ANA para o cargo de Especialista em Regulação de Recursos Hídricos e Saneamento Básico - Especialidade 2
Agência Reguladora“[…] busquem autoconhecimento para encontrarem a melhor estratégia de estudos para vocês e se preparem de forma que, independentemente dos resultados alcançados, possam sentir satisfação do esforço e dedicação que empenharam em sua jornada.”
Confira nossa entrevista com Icaro Silva Ferreira de Santana, aprovado em 2° lugar (cotas) no concurso ANA para o cargo de Especialista em Regulação de Recursos Hídricos e Saneamento Básico – Especialidade 2:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam conhecê-lo. Qual a sua formação, idade e cidade natal?
Icaro Silva Ferreira de Santana: Olá, colegas concurseiros, é um prazer dar essa entrevista para o blog do Estratégia. Eu me chamo Ícaro Santana tenho 31 anos, sou natural de Salvador e tenho formação em Engenharia Sanitária e Ambiental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Icaro: Eu comecei a estudar especificamente para esse concurso. Sempre fui uma pessoa que tive mais afinidade com o setor privado por questões de personalidade. Então, sempre quando surgia algum concurso e meus familiares e amigos mandavam mensagem ou comentavam durante algum encontro eu prontamente rechaçava. Entretanto, sempre fazia a ressalva “Só existem dois órgãos públicos que me despertam interesse, o Itamaraty e a ANA”.
Eis que em dezembro de 2023, eu recebi o temível aviso prévio. Por aquelas coincidências da vida ou não, meu primo Matheus Alexandrino, Analista judiciário no Mato Grosso do Sul e concurseiro dedicado, mandou uma matéria sobre a definição da banca da ANA no dia 13/12 do ano passado. Depois disso, ele continuou me encaminhando qualquer matéria com atualizações sobre o concurso que, gradativamente, me convenceram a prestar o concurso.
Estratégia: Você trabalhava e estudava? Se sim, como conciliava?
Icaro: Ligando com a pergunta anterior, eu cumpri o aviso até janeiro de 2023, quando me desliguei oficialmente da empresa. Ainda tirei umas duas semanas para dar uma descansada, pois vinha de um período bem estressante de trabalho. Daí, pensei o seguinte “tenho 5 meses de auxílio desemprego, reserva de emergência, moro com os meus pais, não tenho filhos ou financiamentos para quitar, então se há um momento que eu posso me dar ao luxo de me dedicar exclusivamente aos estudos, é agora”.
Dito isso, basicamente transformei minha jornada de trabalho em jornada de estudos, o que, obviamente, me deu uma vantagem tremenda frente aos concorrentes que precisavam fazer essa dupla jornada diária. Digo sem medo de errar, se não fosse a demissão, eu não conseguiria estudar tanto tempo e com tanta qualidade quanto estudei. Faço pós-graduação e sei bem como é chegar em casa a noite com a cabeça ainda voltada para as questões que ficaram no escritório e ter que simplesmente mudar completamente o foco para aprender ou relembrar assuntos complexos.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Em qual cargo e em que colocação? Pretende continuar estudando?
Icaro: Como eu disse, esse foi meu primeiro concurso estudando com afinco. Fiz um há muito tempo por conta da insistência familiar, contudo, não estudei, então como é de se esperar, não obtive um bom resultado.
Então, a minha última aprovação em um exame objetivo e escrito, foi no longínquo ano de 2010, prestando o vestibular da UFBA, quando passei em 4º lugar no meu curso.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos e família?
Icaro: Antecipo que esta vai ser uma resposta bem longa, então peço desculpas de antemão. Sou uma pessoa com um círculo de amizade extenso e muito ligado à família, mas também sou conhecido por ser muito disciplinado. Então, quando eu tomei a decisão de me dedicar ao concurso da ANA, informei aos amigos e familiares que iria ficar distante por um tempo e todos foram muito compreensivos, principalmente a minha noiva, Juliane, que também já vinha estudando para concursos.
Não deixei de sair completamente, apenas me tornei mais seletivo. Por exemplo, deixei de convidar o pessoal para colocar o papo em dia aos finais de semana, como costumava fazer. Em relação às reuniões de família, passei a frequentá-las menos e, nas que eu ia, sempre pedia um cantinho para estudar e só saía de lá quando cumpria a meta estabelecida para aquele dia.
Eventos singulares como a vinda do meu grande amigo Mateus Gondim, que não visitava o Brasil há mais de dois anos, não podiam ser negligenciados. Pensava comigo: Não são três horas de uma terça à noite que vão impactar nos meus estudos, ao ponto de me afastar da aprovação.
Especificamente sobre esse encontro, ainda digo que ele me ajudou, pois, um outro amigo meu, Mateus Almeida (Sim, o terceiro Mateus e continuem contando) que estuda para concurso há muitos anos, me deu dicas preciosas sobre a banca CESPE que impactaram até na minha semana final de estudos.
Para fechar essa questão, trago aqui um ponto polêmico, eu não saí completamente das redes sociais como muitos colegas concurseiros costumam fazer. Como eu disse, eu sou uma pessoa com uma rede de amizades extensas, então estar presente nelas me permite entrar em contato com muitos amigos e amigas, o que é algo que eu valorizo demais.
Fugindo um pouco ao tema, as redes sociais também são uma fonte de entretenimento, contudo, é necessário filtrar aquilo que se consome. Tem aquela rede que começa com X (risos) que é notória por ser um ambiente hostil e propenso a discussões sem sentido e, por conta disso, eu passava longe dela preferindo usar meu tempo online vendo memes e tirinhas no Instagram. Complementarmente, eu sou participante de um podcast e, mesmo durante os estudos, eu não deixei de participar das lives, pois convenientemente, elas ocorrem aos sábados à noite, o que na minha programação, já eram horas reservadas para o descanso. Aquelas 2 horas falando besteiras com os amigos, quase que zeravam o meu estresse semanal.
É importante pontuar também que as redes sociais são mais que fontes de lazer. Digo isso, porque como egresso do setor privado, sei da importância que é manter o nome “aquecido” no mercado, por isso, mantive meu perfil ativo no LinkedIn com postagens frequentes sobre minha carreira e sobre a pós-graduação, que tenho cursado em metodologia BIM aplicada ao saneamento.
Em resumo, acho que a palavra-chave quanto ao uso das redes sociais é moderação. Durante as minhas horas de estudo, o celular sempre ficava na gaveta, bem longe de mim. Geralmente, eu checava as redes 4 vezes por dia logo pela manhã, na hora do almoço, na academia no final da tarde e a noite após os estudos. Não sei se isso é muito ou é pouco, mas foi o que funcionou para mim.
Estratégia: Sua família e amigos entenderam e apoiaram sua caminhada como concurseiro? De que forma?
Icaro: A resposta da pergunta anterior meio que responde essa questão, mas complementando, afirmo que meus pais, Ivanildo e Neinha, foram essenciais. Morar com eles me deu o privilégio de não ter que de cuidar dos afazeres domésticos, o que me poupou preciosas horas as quais eu investi nos estudos.
Na hora da prova, o apoio familiar e de amigos também foi muito importante. Sabe aquele momento em que se entra na sala e fica aguardando a entrega das provas? Facilmente eu poderia ter tido um pico de ansiedade, revisando mentalmente algumas fórmulas ou artigos de leis. Todavia, nesse momento, ocupei minha mente com os incentivos, preces e orações que recebi ao longo do meu processo de estudo. Sem dúvidas, isso me trouxe paz de espírito para poder executar um bom trabalho naquele dia.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao último concurso? O que fez para manter a disciplina?
Icaro: Estudei do dia 25/01/2024 ao dia 28/04/2024 totalizando 94 dias corridos. Quanto à disciplina, como eu disse, essa é uma característica que possuo e já mantinha uma rotina de trabalho e estudo. Quando troquei o trabalho pelos estudos em tempo integral, apenas mudei o foco, sem alterar meu comportamento. Por exemplo, substituí os cronogramas de projeto, relatórios e reuniões por cronogramas de estudo, tarefas e mentorias. Em outras palavras, se eu era tão cioso com os objetivos de meus chefes e clientes, não poderia ser leviano ao lidar com meus próprios objetivos.
Estratégia: Quais materiais e ferramentas você usou em sua preparação?
Icaro: Basicamente segui as Trilhas Estratégicas, assisti monitorias, li os Bizus Estratégicos e, pontualmente, complementei os estudos com algum livro acadêmico ou videoaulas tanto do Estratégia quanto de profissionais independentes.
Como principal vantagem, eu destacaria a comodidade de ter um programa de estudos já montado e que eu só tinha que seguir. Como eu era novato nesse mundo de concursos, eu não tinha a noção de como alternar as matérias, escalonar as cargas de estudo e sobre o que priorizar para revisar, principalmente na reta final.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Icaro: Conheci pelo podcast Inteligência Ltd. do Vilela. Como consumidor voraz da mídia e participante do podcast DQC, sou suspeito para falar, mas creio que essa é uma excelente plataforma para esse tipo de publicidade, pois existe uma relação parassocial entre o produtor e os ouvintes. Assim, depois que eu decidi que ia prestar o concurso, o primeiro cursinho online que eu pesquisei foi o Estratégia e após comparar o pacote ofertado por ele com o dos demais concorrentes, não tive dúvidas e comprei o Plano Premium de um ano.
Estratégia: Depois que você se tornou aluno do Estratégia, você sentiu uma diferença relevante na sua preparação? Que diferencial encontrou nos materiais do Estratégia?
Icaro: Sem dúvidas destacaria as Trilhas Estratégicas que nortearam os meus estudos durante todo o período de preparação. Já os Bizus Estratégicos e as videoaulas de revisão, que foram essenciais na reta final.
Estratégia: Como montou seu plano de estudos?
Icaro: Quem está lendo vai achar que eu estou repetitivo ou que é um merchan do produto, mas a verdade é que meu plano de estudos foi basicamente seguir as Trilhas Estratégicas. Tentava executar uma trilha por semana, contudo, dado o grande volume de conteúdo para estudar, eu comecei a ficar para trás lá pela quarta semana. Daí, por volta de três semanas antes da prova, eu consultei um estudo estatístico apresentado nas mentorias estratégicas e comecei a pular ou estudar mais rapidamente aqueles assuntos com menor probabilidade aparecerem no meu exame. Assim, combinando a visão tática embutida nas trilhas com a visão estratégica transmitidas nas mentorias, eu consegui cobrir todos os assuntos mais importantes do edital.
Respondendo agora às demais questões, se não me engano houve trilhas em que estudei 6 disciplinas em paralelo, sendo que a prova tinha um total de 9 disciplinas. Quanto às horas, fiz ao todo 461,2 horas de estudo divididas em 94 dias corridos isso dá uma média de 4,91 horas por dia. Vale ressaltar que, esse é o tempo líquido executando as tarefas (leituras de PDF e treinamento com exercícios) sem distrações e sem considerar as pausas para comer algo, ir ao banheiro e tomar um cafezinho.
Estratégia: Como fazia suas revisões?
Icaro: Como já disse os “Bizus” e as videoaulas de reta final foram muito importantes nessa fase de revisão, contudo, gostaria de pontuar que os simulados foram importantíssimos para ajustar o meu plano de execução da prova. Alguém pode pensar “Mas não basta só sentar lá e fazer o que você sabe?” e a verdade é que: não, porque a prova te demanda tanto cognitivamente, quanto emocionalmente.
Indo um pouco mais a fundo, é científica e empiricamente comprovado que, ao fazermos coisas novas ficamos mais ansiosos e estressados, o que pode comprometer a nossa memória e atenção temporariamente. Agora, voltemos ao meu caso, para emular uma situação bem verossímil às condições de prova, eu imprimia tanto as questões objetivas quanto a discursiva (quanto a essa última, reforço que vou explicar mais à frente) me trancava no quarto e rigorosamente iniciava a prova no domingo às 13:00 e seguia até às 18:00. Assim, na hora que eu fui fazer a prova de verdade, mesmo sendo uma pessoa ansiosa, eu me mantive calmo e atento, pois para mim, aquela situação não era novidade.
Complementando a resposta, ao todo fiz 3 rodadas avançadas/simulados e em cada um deles testei uma estratégia diferente. No primeiro, fui extremamente cauteloso e só marquei aquilo que eu tinha certeza de que estava correto. No segundo, respondi todas as questões, mesmo não tendo certeza de várias delas. E no terceiro e último, adotei uma abordagem intermediária ao arriscar mais naquelas disciplinas que eu tinha maior domínio e evitar o chute naquelas que eu tinha o desempenho mais fraco. Comparei meu desempenho nas três táticas e optei por usar essa 3ª na prova.
Por fim, os simulados também serviram para eu ajustar minha sequência de ataque. Por exemplo, para mim, funcionou melhor começar pela discursiva, fazer as questões de português, pular para as específicas, voltar para as demais questões gerais, revisar a discursiva e, por fim, revisar as objetivas e marcar o caderno de resposta. Eu só cheguei nessa sequência ideal para mim, porque eu testei ela e outras antes da prova.
Estratégia: Qual a importância da resolução de exercícios? Lembra quantas questões fez na sua trajetória?
Icaro: Outra excelente questão e que também vai demandar uma resposta um pouco mais longa, além disso vou inverter a ordem e começar pelas minhas métricas. Eu estudei por um total de 94 dias corridos e, durante esse período, fiz um total de 4.190 questões, acertando 3.342 delas. Adicionalmente, a média diária de questões feitas foi de 45 e meu desempenho médio nas tarefas foi de 80%.
Voltando a primeira pergunta da questão, aqui cabem duas observações uma trivial e outra que surpreende para quem não é concurseiro. A primeira é que não é surpresa para ninguém, que a execução de exercícios é fundamental para fixação dos conhecimentos. Às vezes, lendo o PDF pela primeira vez, eu usualmente não conseguia captar todo aquele volume de informações, todavia, quando eu partia para os exercícios iniciais, usualmente, eu passava a compreender as linhas gerais e na segunda bateria de exercícios, eu começava a fixar as particularidades do assunto.
A segunda observação foi uma surpresa para mim e confesso que, até certo ponto, fui cético quanto a ela, pois minha formação acadêmica me condicionou a valorizar mais a resolução de questões difíceis do que das mais fáceis. Isso ocorre porque, na graduação, usualmente, as questões mais difíceis valem mais pontos do que as mais fáceis. Entretanto, no edital da ANA, todas as questões tinham o mesmo peso e isso fez toda a diferença na hora de estudar para esse concurso.
Aprofundando um pouco mais, pensem comigo, num edital com um grande volume de conteúdo e tempo escasso vale mais a pena gastar 1 hora resolvendo 6 questões similares e com alto grau de complexidade ou 30 questões mais simples, porém bem mais diversas? Em algum momento me dei conta que a segunda opção era melhor e parei de ficar quebrando a cabeça com aquelas questões mais desafiadoras, que eu não tinha a mínima ideia de como resolver. Assim que encontrava uma dessas, logo partia para resolução dela e com essa mudança de abordagem, meu tempo médio por tarefa convergiu para uma hora e meia previstas pelos instrutores do Estratégia para realização das tarefas da trilha.
Estratégia: Quais as disciplinas você tinha mais dificuldade? Como fez para superar?
Icaro: Tive bastante dificuldade com a parte de Tecnologia da Informação e Ciência de Dados. Havia matérias mais complexas no edital, contudo, muitas delas eu já havia tido contato antes ou as achava muito interessante, o que não era o caso da maioria dos assuntos de TI.
Quanto à forma como lidei com isso, novamente destaco o papel fundamental que o produto ofertado pelo Estratégia teve nesse aspecto. Como fechei o pacote premium no começo do ano, recebi, promocionalmente, o acompanhamento de uma coach por um mês. A profissional designada foi a Marcela Neves, concurseira já aprovada e muito experiente, que me deu ótimas dicas. Ligando com uma questão anterior, foi ela que me orientou a sempre fazer muitas questões e a não me melindrar com os erros. Em outras palavras, é aquilo que já discutimos, na lógica dos concursos, é preferível treinar com muitas questões variadas e ter um índice de acerto mais baixo do que obter um índice alto ao fazer poucas questões do tipo que você tem mais facilidade. Isso é quase como se enganar.
Outro ajuste que ela me sugeriu e que eu adotei foi estudar os assuntos mais desafiadores, principalmente TI, no meu horário ótimo. Sou uma pessoa matutina, por isso, a minha curva de atenção e produtividade é decrescente ao longo do dia, então muitas vezes quando alguma tarefa da trilha era muito pesada, como tipos de comandos de banco de dados (a pálpebra chega a tremer só de lembrar) e já eram 8 ou 9 da noite, eu a pulava, porque certamente iria compreendê-la melhor gastando menos tempo na manhã do dia seguinte.
Estratégia: Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova e no dia pré-prova?
Icaro: Segui a orientação do professor Rafael Cyrne, que elaborou as trilhas do concurso e que também dava as monitorias e não executei grandes alterações na minha rotina. Apenas passei a reservar algum momento do dia para ler cada um dos post-its pregados nos meus murais (sim, sou da turma old Scholl). Essa prática derivou daquele conselho do Almeida em focar em prazos, vigências, valores e termos como “pode” e “deve” nas diversas leis que estudei. É característico da banca CESPE cobrar esses detalhes e em função disso os mnemônicos, fórmulas e afins foram repetidos como mantras na última semana.
Quanto à véspera da prova, eu acompanhei as aulas de Revisão do Estratégia pela manhã e começo da tarde. Seguramente, atribuo pelo menos dois pontos nas temidas questões de TI ao conteúdo revisado naquele dia (valeu professora Emannuelle Gouveia). No restante do dia, comi besteiras e fui jogar meu jogo favorito, “Civilization”. No dia seguinte, eu ainda fiz aquela última memorização do quadro de post its pela manhã, só para dar aquela última conferida, almocei algo leve e fui fazer a prova.
Figura 1: Bancada de estudo e quadros de Post-Its.
Estratégia: No seu concurso, além da prova objetiva, teve a discursiva. Como foi sua preparação para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Icaro: Sem dúvidas essa é a questão mais interessante do nosso papo e, por isso, vou me alongar um pouco novamente. Vou inverter a ordem de resposta às perguntas e primeiro dar o conselho aos colegas concurseiros, em especial àqueles que buscam cargos técnicos de engenharia. Não negligenciem a preparação para a prova discursiva. Trazendo o exemplo prático da prova da ANA, ao todo, a prova valia 150 pontos, sendo 120 das objetivas e 30 das discursivas. Ou seja, 20% da nota vinha da avaliação escrita.
Complementando o conselho, além do peso que a discursiva tem em relação à nota global do certame, há um fator extra, que é a nota mínima exigida na discursiva. Voltando a exemplificar com a prova da ANA, era necessário alcançar uma nota de, pelo menos, 15 pontos no exame escrito. Acreditem, algumas pessoas que alcançaram a nota global e que, teoricamente, também estariam aprovadas, foram eliminadas, por não terem alcançado a esse “score”. Nos grupos dos concurseiros da ANA, alguns colegas comentarem que das discursivas avaliadas, 35% delas ficaram abaixo do mínimo. Duro, não?
Conselho dado, sigamos para o que eu fiz. Como dito anteriormente, o pacote do Estratégia não cobria o treinamento para a prova discursiva e como o volume de estudos era imenso, fui empurrando essa questão até o meio da minha preparação. No final de fevereiro, eu me deparei com uma matéria sobre um cara que passou para auditor fiscal utilizando a IA em seus estudos. Nesse momento, eu pensei “talvez esse seja um caminho”. Fiz alguns testes com chat GPT 3.0, a versão gratuita do chat GPT e me frustrei com os resultados. Exemplificando, eu pedia um enunciado de prova no estilo CESPE e saia algo bem genérico e muitas vezes sem correlação com os temas que eu queria trabalhar, mesmo explicitando tudo isso no “prompt” de comando. Enfim, era inútil e arriscado utilizar a IA nessas circunstâncias.
Ainda inconformado com esses testes iniciais, comecei a consumir nas horas de descanso, conteúdo do Brasil e de fora, sobre o uso das IA’s nos estudos. Entre profetas do apocalipse e arautos da Nova Era sobre esse assunto, encontrei alguns criadores de conteúdo que utilizavam a versão paga do chat GPT para criar as suas próprias IA’s, sem precisar saber programar e tendo um raso conhecimento sobre TI (ainda bem, né?)
Indo ao que interessa, paguei o pacote mensal que dá acesso ao chat 3.5 e comecei a alimentar o modelo. Basicamente, você cria o banco de dados da IA e a “treina” para a função desejada. Adicionalmente, desabilitei a capacidade da IA de pesquisar na internet. Todas essas medidas reduzem significativamente o risco da IA ‘alucinar’, ou seja, gerar respostas sem sentido ou com imprecisões graves, sem dar qualquer indicativo disso ao usuário. Aqui é válido fazer um adendo importantíssimo: não utilizem esses “chatbots” disponíveis no mercado como oráculos, pois eles não são, de fato, inteligentes. No contexto desse nosso papo, inteligência artificial é só um nome fantasia para algoritmos conversacionais que aplicam estatística multivariável. Em resumo, a única coisa que esses algoritmos “sabem” fazer muito bem, é prever a próxima palavra que melhor responde ao “prompt digitado pelo usuário.
Adendo feito, voltemos ao meu problema. Na montagem do banco de dados, incluí o edital do concurso, discursivas da CESPE de órgãos similares (enunciado e espelho de resposta), legislações pertinentes e o elemento X, também conhecido como todas as apostilas das disciplinas específicas. Calma, jurídico do Estratégia! Tomei o cuidado de deixar a IA no modo privativo, portanto, ninguém além de mim teve acesso a esse material, bem como ao ‘chatbot’. Após todas essas etapas concluídas, nasceu Ana Vitória, a IA especialista em avaliações da CESPE/CEBRASPE.
Agora vem o famoso “pulo do gato” de toda essa história. Ana Vitória era excelente em gerar enunciados e espelhos de reposta bem como avaliar o conteúdo das discursivas, contudo, ela era ineficiente em avaliar os erros de português e a estrutura de texto com a qualidade de um corretor da CESPE. Aí entra a insubstituível capacidade humana, em outras palavras, para imitar o rigor de um corretor da CESPE só um outro corretor. É aí que entra meu amigo Mateus Aguiar (sim o 4º Mateus dessa história, juro que não estou inventando) que é professor de português, filósofo, mestrando em filosofia da linguagem e que tirou 1.000 na discursiva do ENEM, além de ter treinado centenas de aprovados e em vestibulares e concursos. Até onde eu sei, atualmente, IA alguma consegue reproduzir essa experiência.
Há pouco mais de 1 mês da prova, meus dois professores da discursiva passaram a trabalhar juntos para me ajudarem a obter uma boa nota. Gradualmente, comecei a reduzir a quantidade de erros, melhorar a estrutura do texto, refinar o conteúdo e, principalmente, compreender o padrão de resposta requerido pela banca CESPE.
Depois de toda essa longa explicação, vocês devem estar se perguntando se a IA, de fato, foi efetiva para alcançar meu resultado e a resposta é: sim, mas com ressalvas. Quanto a adivinhar o assunto da discursiva, ela falhou miseravelmente, porque o tema surpreendeu a todos, pois foi sobre cavitação, um fenômeno hidráulico muito particular e que foi pouco destacado durante os estudos. A grande maioria dos professores e concurseiros (eu inclusive), estavam apostando que o tema seria relacionado ao novo marco do saneamento. Felizmente, dentre as minhas atividades corriqueiras de trabalho, estava a avaliação da ocorrência de cavitação nos projetos hidráulicos elaborados pelo escritório. Que sorte não?
Já que ela não acertou o tema, porque eu a considero essencial para meu resultado? Primeiramente, é importante corrigir uma afirmação do parágrafo anterior, pois não foi “Ana Vitória” que errou e, sim, eu que transferi meu viés para ela. Novamente, lembrem-se: as IAs não são oráculos. A despeito do tema da prova, ela foi uma ferramenta muito importante, pois eu pude gerar diversas discursivas originais seguindo rigorosamente o padrão da CESPE, além de ter a minha disposição uma excelente corretora de conteúdo. Para dar uma noção de quão boas eram suas avaliações, ela, em média, estava pontuando minhas discursivas entre 22 e 24 pontos. Pois bem, a minha nota oficial foi 25,33, bem próximo não?
Figura 2: Home da IA, Ana Vitória, “professora” assistente no treinamento para prova discursiva da ANA.
Estratégia: Quais foram seus principais ERROS e ACERTOS nesta trajetória?
Icaro: Diria que meu erro foi não ter considerado a questão estatística desde o começo dos estudos para me orientar sobre o que eu deveria focar meu tempo de estudos. Se tivesse feito isso desde o começo, poderia ter investido mais tempo em assuntos relevantes.
Meu principal acerto foi não dar ouvidos a Sarah Conor e Morpheus, ao promover a associação entre humanos e IA’s (risos).
Estratégia: Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, qual foi sua principal motivação para seguir?
Icaro: No momento que eu decidi que não ia procurar um novo emprego e que ia dedicar todo meu tempo na busca da aprovação na ANA, não pensei em nenhum momento em desistir. Nesse período fui até chamado para algumas entrevistas de emprego, mas sempre pontuava que só iria assumir qualquer compromisso após a prova. A única coisa que dividia a minha atenção era o estudo para o CNU, entretanto, novamente Marcela Neves foi providencial ao me orientar em focar todos meus esforços no concurso da ANA.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso? Deixe sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Icaro: Acho que já fui “palestrinha” demais nessa entrevista portanto serei breve aqui, trazendo duas frases para fechar esse papo. A primeira é “conhece a ti mesmo” e a segunda é “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.” Em resumo, busquem autoconhecimento para encontrarem a melhor estratégia de estudos para vocês e se preparem de forma que, independentemente dos resultados alcançados, possam sentir satisfação do esforço e dedicação que empenharam em sua jornada.
É isso, agradeço o convite à entrevista e espero que a conversa tenha sido interessante o suficiente para os leitores do blog chegarem até o final dela.