Aprovado no Concurso ICMS SC
“Eu sou do interior, venho de família de baixa renda. Meu pai fugiu da roça em um caminhão de leite e foi vendedor nas lojas do interior durante praticamente a vida toda. Estudo, leitura, disciplina, planejamento estratégico nunca fizeram parte da minha realidade nem dos conceitos da minha criação. Então você aprende na raça conforme sua própria força de vontade de pesquisar e obter as informações. É preciso uma dose de humildade para bater no peito, assumir vários defeitos, corrigir a rota do baixo conhecimento, eliminar alguns vícios e seguir em busca do seu sonho grande.”
Confira nossa entrevista com Lucas Henriques Coelho, aprovado no concurso ICMS SC, no cargo de Auditor Fiscal da Receita Estadual (Gestão Tributária), em 13º lugar.
Estratégia: De onde você é? Qual é sua idade? E sua formação?
Lucas Coelho: Nasci em Governador Valadares, cidade do interior de Minas Gerais, tenho 32 anos e sou formado em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto/MG. Até a quarta série, estudei em escola pública. Até o 3° ano do ensino médio, sempre fui um aluno irregular. Só fazia o básico para passar de ano e não era sequer um aluno mediano.
Estratégia: Você chegou a trabalhar na sua profissão? O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Lucas: Trabalhei como advogado por 4 anos. Não estava disposto a esperar o tempo que a advocacia demoraria para dar resultado, então abandonei a advocacia e tentei a sorte na iniciativa privada, na área de vendas, por mais um ano e meio. Em 2014, com 26 anos, voltei para Belo Horizonte e fui aprender a vender. Tentei entrar no ramo imobiliário e terminei como vendedor de maquiagem da Mary Kay. Nesse período, morava num quartinho de empregada minúsculo no subsolo de um prédio junto com alguns ratos.
A realidade bateu na minha cara quando cheguei no meu quartinho tarde da noite e tinha um rato na privada e estava infestado de escorpiões. Ali percebi que precisava tomar alguma atitude. Saí do subsolo, fui morar de favor na casa de uma outra pessoa e vi que estava aberto um edital do Banco do Brasil. O problema é que faltavam 30 dias para a prova e aqueles eram os últimos dias de inscrição. Esses 30 dias de preparação para o Banco do Brasil me ensinaram uma lição que usei até a última prova: dê tudo de si por um tempo. Coloque suas costas contra a parede. Renuncie. Abra mão de alguns prazeres. Sinta dores. Não pare até que tudo esteja completado, até que seu sonho esteja concretizado. Depois de 30 dias, fiz a prova do BB, passei e assumi o cargo alguns meses depois.
Estratégia: Como foi a escolha pela área fiscal? O que pesou mais para você quando teve que definir esse foco de estudo?
Lucas: No meio de 2015, pouco depois de entrar no banco, percebi que aquele emprego público não era para mim. Não era minha praia. Eu trabalhando no banco era como um peixe nadando na areia. A partir daí, comecei a buscar concursos de alto nível para encontrar uma saída. Como adorava a área de investimentos, percebi que trabalhar como Auditor Fiscal faria com que eu fosse obrigado a estudar matérias fundamentais para análise patrimonial, como a contabilidade, além de trabalhar diretamente na fiscalização de empresas, um dos principais ativos para investimento. Além disso, a remuneração alta também pesou para a escolha.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Lucas: No início, trabalhava no Banco do Brasil por 6 horas (11 às 17 h) e estudava de 4 a 5 horas líquidas por dia. Naquele tempo, acordava de madrugada e estudava até a hora de ir trabalhar. Trabalhava, ia para a natação depois e chegava morto em casa. Estudava tudo errado, mas estudava (rsrs). A partir de 2016, meio aos trancos e barrancos, pedi demissão do banco, conversei com minha mãe e saí da capital e voltei a morar no interior depois de aproximadamente 10 anos fora de casa. A partir dali, comecei a me dedicar inteiramente aos estudos.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e colocação?
Lucas: Vou falar na ordem cronológica:
Escriturário do Banco do Brasil (9º lugar);
Técnico Contábil da CEMIG (1º lugar), detalhe: não sou técnico contábil, rs;
Auditor Fiscal de Ipatinga/MG (1º lugar);
Auditor de Controle Interno da CGM de Niterói – RJ – 2º Lugar;
Auditor Fiscal de São Luís – MA (ISS) – 10º lugar;
Auditor Fiscal de Santa Catarina (ICMS SC) – 13º lugar – Gestão Tributária, o último da área fiscal e cuja nomeação foi publicada recentemente no dia 01/07/2020.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Lucas: Uma das primeiras coisas que fiz quando decidir estudar para a carreira de Auditor Fiscal da Receita Federal foi buscar depoimentos de aprovados e acabei encontrando o famoso depoimento do DEME (Demetrio de Macedo Pepice – 1º lugar AFRFB/2005) ). Lá conheci o famoso Alexandre Meirelles, mestre da área fiscal. O Meirelles tem uma bibliografia sugerida para a área fiscal. Em várias de suas indicações, ele menciona o material do Estratégia como referência.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Lucas: Estudar sem edital é muito complicado. Você precisa simplesmente encontrar forças para continuar. O mundo parece que deseja tirar você do foco a todo momento. São convites, relacionamentos, filmes, séries, esportes, jogos, eventos sociais e todo tipo de armadilhas que você imaginar. Você deve proteger sua disciplina, deve treinar sua capacidade de dizer não para o mundo e para as pessoas. Sem isso, sinto te informar, vai ficar muito difícil. Às vezes, a gente não quer ver a vida passar sem muitas emoções, fica uma sensação de que não acontece nada novo, de que nunca vai acabar.
Pois é, meus amigos, eu também sentia isso. Mas passa, ô, se passa (rs). Em meio ao impeachment da ex-Presidente Dilma, parecia que nunca mais haveria concurso. Bateu um desânimo, mas eu continuei estudando, lendo depoimentos de aprovados e seguindo devagar, mas adiante sempre. Fiquei praticamente um ano e meio estudando assim, bem devagar. Uma hora você precisa acelerar. Já te conto.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? O que funcionava melhor pra você? Videoaulas, pdfs, livros?
Lucas: No começo da preparação, eu saí comprando vários livros indicados como adequados para a preparação para a Receita Federal e li poucos deles. Depois de muito tentar e errar, cheguei ao meu método ideal. As únicas matérias para as quais usava videoaulas era matemática básica e avançada, estatística e contabilidade, depois fazia um milhão de exercícios para consolidar o conteúdo. Para as demais matérias, era leitura dos pdfs e muito exercício.
Estratégia: Quantas horas por dia costumava estudar?
Lucas: Olha, esse negócio de horas por dia é muito relativo. A gente deve ter muito cuidado para falar sobre isso. A vida não é previsível, o corpo e a mente não são máquinas imparáveis. Tive períodos complicados da trajetória em que estudava 2 horas líquidas por dia. Às vezes a vida te bate forte, sabe? Vou reproduzir o conselho que escutei: o importante é não parar. Se você estudar pelo menos um pouquinho por dia, seu cérebro vai ser acostumar com a ideia de que você está trabalhando num projeto grandioso e de longo prazo.
Houve tempos em que eu acelerava mais. Quando comecei a fazer provas, acelerava os estudos e fazia 6, 8 e mais raramente 9 horas líquidas. Ah! E se me permitem um conselho, sabe essa galera que fala que estuda 12/13 horas líquidas por dia? Simplesmente ignore. Siga sua trajetória de formiga e acredite no que vou te dizer: você está bem melhor do que eles se você seguir sua disciplina de formiguinha.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que deve ser memorizada. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos?
Lucas: Tive uma felicidade muito grande de ler o depoimento do Demetrio no início da preparação. Graças a ele, encontrei o Alex Meirelles, que me deu o norte para a preparação. Então, praticamente desde o princípio, inseri a ideia de estudar várias matérias no mesmo dia, o estudo por ciclos propriamente dito. No início da preparação, fazia resumos gigantescos de administrativo e constitucional. Girava o ciclo com Administrativo, Constitucional, Tributário e Contabilidade. Às vezes ficava o dia inteiro estudando e resumindo livros dessas matérias. Hoje considero que meu aproveitamento foi muito ruim ao fazer isso.
No meu nível de estudo mais elevado, lia os pdfs do Estratégia e grifava o mínimo possível (já pensando numa revisão futura) e fazia os exercícios comentados bem rápido. Quando eu errava a questão ou a análise de algum item, copiava e colava o item específico em um documento do Word e fazia um documento com várias dicas fatais de prova. Esse documento era simples e objetivo (e o mais importante: era feito por mim e, assim, sabia interpretá-lo bem). Na reta final, imprimia esses documentos em 4 ou 8 páginas por folha e virava um super-resumo.
Vou confessar que não ficava lendo e relendo a teoria sem motivo. Até tentei fazer uma famosa revisão que há por aí, mas não deu certo para mim. Eu queria sentir o progresso. Queria me ver avançar, mas não avançava sem compromisso com a realidade, tinha pavor em me enganar. Eu seria o maior prejudicado. Então sempre mensurava o estudo com muito exercício. Apenas se eu estivesse muito mal no conteúdo, eu voltava em pontos-chaves e estudava aquela parte. Percebi que se eu não progredisse, acabaria desanimando. Quando eu notava a evolução do meu aprendizado, fazia mais horas líquidas no dia, na semana e no mês.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Lucas: As matérias que mais gastaram minha energia e meu tempo foram as de exatas (matemática básica, avançada e estatística). Eu sabia que eram meu calcanhar de aquiles (sou formado em Direito, lembram? rsrs). Superei a dificuldade com videoaulas de um grande professor da área e um trilhão de exercícios. Não tem segredo, se há dificuldade em alguma matéria, eu insistia até aprender.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Lucas: Hoje eu ainda estou como Auditor Fiscal em São Luís/MA aguardando o desenrolar da posse na SEFAZ/SC, né? Hoje eu namoro. Na fase crítica e decisiva da preparação, eu não namorava. E fica uma dica: cuidado com a pessoa que você escolhe para estar ao seu lado durante essa fase da vida. Se ela estiver completamente alinhada com seu projeto, isso será maravilhoso na sua vida; todavia, se essa pessoa não estiver na sua vibe, nem sequer compreender o tamanho do seu desafio, você pode passar por verdadeiras tempestades durante a trajetória. Se você estiver solteiro ou solteira agora e está triste com o fato de não ter uma pessoa em sua vida, fica a dica: isso passa, e vai passar de verdade. Se você quiser ter uma vida de solteira(o) maravilhosa, você terá; se quiser alguém para amar e fazer novos projetos juntos, também estou certo de que você viverá uma vida completamente diferente depois dessa fase concurseira.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Lucas: Não sei se sou a melhor pessoa para falar sobre isso. Tem um monte de gente por aí que conseguiu aprovação em concurso top e conseguiu equilibrar bem os fatores. Vai depender de quem você é; se você é disciplinado ou não; quais valores você carrega da vida que viveu. Eu sou do interior, venho de família de baixa renda. Meu pai fugiu da roça em um caminhão de leite e foi vendedor nas lojas do interior durante praticamente a vida toda. Estudo, leitura, disciplina, planejamento estratégico nunca fizeram parte da minha realidade nem dos conceitos da minha criação. Então você aprende na raça conforme sua própria força de vontade de pesquisar e obter as informações. É preciso uma dose de humildade para bater no peito, assumir vários defeitos, corrigir a rota do baixo conhecimento, eliminar alguns vícios e seguir em busca do seu sonho grande.
Certa vez, escutei que não há como construir um prédio em um terreno cheio de lixo e entulhos. É preciso limpá-lo antes. Então, eu me perguntei? O que há no meu “terreno”? Que espécie de “lixo” estou acumulando? Então comecei simplesmente a limpar e, de repente, a vida começou a ficar mais leve e simples; sobrou mais tempo para estudar, meu corpo funcionava melhor, meu cérebro também. Eu tentei por um tempo conciliar alguns prazeres com o estudo. Eu segui estudando, mas bem devagar. Somente quando eu decidi de verdade que eu seria auditor fiscal, já no meio do ano de 2017, que eu abri mão de quase tudo. Minha vida era estudar, comer, correr (3 x por semana), dormir e acordar.
Até o celular eu desligava, não tinha instagram; em semanas de prova, até deletava o whatsapp. Eu queria passar de qualquer jeito, custe o que custar. Dois dos meus melhores amigos casaram em 2018. Fui padrinho de um deles. Aquilo foi muito duro, são dias que não voltam mais. Por uma ironia do destino, os casamentos foram nas semanas de véspera das provas do ISS São Luís/MA e da SEFAZ/SC. Naqueles dias, estudei até onde deu, cortei meu próprio cabelo (ficou horrível) e me arrumei rapidamente. As cerimônias foram lindas, mas aproveitei pouquíssimo as festas. Eu saía quando a festa atingia o clímax. Não tinha outro jeito, cada segundo poderia significar minha aprovação na prova que seria na próxima semana.
Enfim, meus amigos, cada um analisa seu cenário. É possível conciliar e tomar boas decisões equilibradas? Sim. Mas não funcionava muito para mim. Sobre minha família, devo tudo o que sou a minha mãe, mulher guerreira que deu a vida dela para educar seus filhos. Sem ela, jamais estaria aqui hoje. Estivemos juntos inclusive no momento mais difícil da preparação.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior? (Se esse ainda não é o concurso dos seus sonhos, se possível, citar qual é e se pretende continuar se preparando para alcançar esse objetivo)
Lucas: Acho super válido. Minha preparação foi para outro nível em 2017/2018 depois que comecei a fazer provas pequenas e grandes. A propósito, vou falar sobre o momento em que eu comecei a fazer provas. Em meados de 2017, saiu o edital para auditor fiscal de Criciúma, salário bom, região legal. Eu me joguei nesse edital, estava ultra focado, eu havia reencontrado meu motivo grande. Nesse período, estudava entre 8 e 9 horas líquidas de segunda a sexta. Sábado diminuía.
Eis que, um mês antes de prova, meu pai é internado e, depois de alguns dias, minha mãe me fala que o diagnóstico é de câncer no pulmão. Ele não sairia do hospital tão cedo. A vida realmente é uma caixinha de surpresas. Eu estava no auge, voando baixo. O imponderável vem e te dá um soco na cara. Eu não abaixei a guarda. Continuei estudando, revezava noites mal dormidas no hospital com estudos durante o dia. Estudava o quanto dava na poltrona dura do hospital.
Chegou o dia da prova e ele ainda estava no hospital. Viajei e fiz a prova. Acertei mais de 90% da prova, mas não deu. Mais duas questões peso 2 e estaria dentro. Pensei na hora. “O quê? Meu pai está no hospital, minha carga horário de estudo reduziu algo em torno de 60% no último mês, fiz uma reta final horrível e ainda quase passei? Minha hora vai chegar!”
Pouco depois da prova de Criciúma, ainda em 2017, saiu o edital do TCE/SP e percebi que poderia usar essa prova para subir outros níveis em algumas matérias estratégicas para a área fiscal. Só que a vida bateu mais forte. É como se estivesse falando comigo: “Meu amigo, sua hora não é agora. O momento ainda é de aprendizado, é de sentir dor.” Em novembro de 2017, coisa de 20 dias antes da prova do TCE/SP, meu pai faleceu. Aí não dava mais. Precisava de um tempo naquele momento.
Já havia comprado passagem, feito a inscrição para o TCE. Faltando uma semana, resolvi fazer a prova mesmo assim. Estudei a última semana e viajei. Mais uma vez, 2 ou 3 questões peso dois e estaria dentro. Achei aquilo incrível. Mais indício claro de que minha hora estava chegando. Depois da prova do TCE/SP, acho que senti o luto. No final de 2017 e início de 2018, vivi um período emocionalmente muito difícil. Perder meu pai foi muito difícil.
Mas eu não parei de estudar completamente, estudava praticamente apenas economia, de 2 a 3 horas por dia. Em meados de março, decidi sacudir a poeira e avançar de verdade novamente. Era hora de realizar o objetivo, não dava para ficar ali. Decidi fazer todo tipo de prova que cobrasse matéria da área fiscal.
O primeiro concurso e o mais impactante (psicologicamente) foi o ISS Divinópolis/MG, uma vaga. Fiz a inscrição resignado e nem olhei o edital direito. Só sabia que havia prova objetiva e discursiva. Fiz a prova correndo, escrevi qualquer coisa na discursiva e voltei para casa. Quando saiu o resultado da prova objetiva, eu nem acreditei: 1º lugar. Essa sensação foi única. Eu estava sozinho em casa e com muita raiva de estar ali estudando sem resultado. Eu gritei tanto, dei vários socos na porta do quarto, no guarda-roupa, quase quebrei a janela do meu quarto, saí do quarto, gritei na cozinha, na varanda, com os cachorros. Eu entrei em êxtase.
A partir daquele momento, eu passei a acreditar verdadeiramente que eu conseguiria o resultado maior; eu tinha certeza absoluta que eu seria Auditor Fiscal onde eu quisesse. Era só questão de continuar corrigindo a rota, renunciando e estudando com muita vontade de vencer. E o mais importante: não retroceder jamais, evitar todo tipo de tentação do mundo e aceitar que a hora era aquela. No fundo do meu coração, alguma coisa me falava que, se eu continuasse firme com os estudos, 2018 seria um dos anos mais importantes da minha vida (e foi).
Ah! Sobre a prova de Divinópolis. Lembra que eu disse que eu fiz a prova de qualquer jeito? Pois é. Eu não fiz nem o mínimo de linhas da discursiva e fui eliminado (kkkkk). Nem recorri. Aquilo nem importava tanto. Simplesmente segui firme. Depois dessa prova, fiz outros concursos pequenos e fui conquistando pequenas aprovações. Eu estudava sério para aquelas provas. Era como se fosse o cargo mais importante da vida profissional. Levava muito a sério. Fazia uma espécie de rotina militar (eu sabia, através dos depoimentos, que meus principais concorrentes seriam os poderosos militares disciplinados dos colégios navais, então precisava igualar na raça).
Então, sim, recomendo muito que o concursando faça provas. Desde o início? Depende. Se tiver condição financeira para isso, faça. Se puder fazer algumas, faça. Mas vale uma ressalva: no início, escolha provas pequenas e estude como se fosse a prova da sua vida, para passar mesmo. Se perceber que não vai conseguir bater nem 20% do edital, aí sugiro que espere um pouquinho mesmo. Faça sua base e guarde essa energia e dinheiro para quando tiver mais tempo livre para fazer uma super reta final. Mas se tiver tempo livre, grana e disposição para fazer provas com vontade e encarar a “guerra”, faça muitas provas.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso em que foi aprovado?
Lucas: Olha, como disse na pergunta das horas diárias, essa pergunta para mim é também complexa. Esse “tempo” aí é muito relativo. Eu não costumo a usar a palavra anos para definir o tempo em que eu estudei, mas a palavra horas. Até julho de 2017, estudava em casa. Nesse período, ainda não havia estudado as matérias específicas do concurso de Auditor da RFB e focava apenas nas básicas. De 01/01/2016 até 31/07/2017, foram 982 horas líquidas de estudo. Muito pouco. Como disse, meu estudo foi sempre cheio de altos e baixos. Para mim, o importante sempre foi seguir em frente e com objetivo único: tornar-me Auditor Fiscal.
Antes de começar a utilizar o app aprovado, na época em que trabalhava no Banco do Brasil, devo ter estudado algo em torno de 500 horas líquidas. Assim, entre 01/08/2017 e 01/03/2018, estudei 611 horas líquidas devidamente cronometradas. De 01/03/2018 até 10/11/2018, foram 1.232 horas líquidas de estudo. Se você parar para observar bem, eu estudei mais em 8 meses de 2018 do que as poucas mais de 900 horas líquidas em 1 ano e 7 meses de estudo entre 2016 e 2017.
O que explica isso? O foco, a disciplina, a capacidade de dizer não, os diversos editais publicados, a imensa vontade de vencer e os ventos favoráveis que a vida me reservou em 2018. No total, foram aproximadamente 500 horas líquidas não contabilizadas e 2.824 horas líquidas contabilizadas, o que deu algo próximo de 3.300 horas líquidas de estudo.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados?
Lucas: A primeira vez que você vê se nome no topo, você muda sua crença. Você passa a acreditar que no resultado maior. Depois que fiz a prova do ISS Criciúma, por coincidência, fiquei poucos dias no centro de Floripa e hospedei-me ao lado da SEFAZ/SC. Juro para vocês, olhei para aquele órgão e comecei a sorrir como quem vê algo absolutamente inatingível (kkkkkk). Pensei algo como: “uma pena que seja quase impossível passar aí, mas deve ser legal”.
Quando disse que faria essa prova (e disse o salário), até alguns familiares riram. É uma realidade muito diferente da que vivemos a vida inteira. Então, quando seu nome é publicado no diário oficial como aprovado (e recentemente nomeado), é como se o mundo se abrisse para você como POSSÍVEL. Costumo dizer que você pode realizar muitos dos seus sonhos sim, mas, atenção, quanto maior ele for, maiores serão o preço a ser pago, as dores envolvidas, os sacrifícios e as mudanças de crença.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Lucas: Uma palavra para definir: foi insana. Deletei whatsapp, não tinha redes sociais, não atendia o telefone, só usava celular para usar o google maps e anotações diversas. Estudei até o último segundo antes da prova. Como disse, adotava uma tática de guerra. Não ficava de conversinha. O objetivo era aproveitar o tempo disponível ao máximo, tratar o corpo e a mente da melhor forma possível e jogar a maior quantidade possível de conteúdo na memória temporária (e protegê-la com unhas e dentes).
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Lucas: Erros: estudar sem fazer questão, estudar lendo livros esparsos sem objetividade e não fazer pequenas provas desde o início. Acertos: não me enganar, mensurar as horas líquidas através de cronômetro no braço e aplicativo, estudar por ciclos e questões, usar e abusar dos materiais em pdf.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Lucas: Olha, desistir não dava. Eu me coloquei numa situação em que vida tinha que mudar. Há uma expressão que eu gosto: colocar as costas contra a parede. Não tem como ir para trás, só para frente, haja o que houver. Como já contei antes, nem mesmo quando eu perdi meu pai eu pensei em desistir. Estudava até enquanto ele dormia na enfermaria do hospital. Ele até me pediu para não parar de estudar, desistir não era uma opção válida. Eu havia saído do interior para estudar próximo da capital do Estado. Depois fui trabalhar na capital. Depois de 10 anos eu voltei para casa. Eu literalmente coloquei minhas costas contra a parede. Eu peguei o sarrafo da minha vida e simplesmente elevei. Até alcançar o objetivo, não havia saída mais adequada.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Lucas: Sei lá, brio. Vontade de vencer. Desejo de transformar as humilhações, as tristezas e chacotas que a vida te proporciona em vitória. Desejo de buscar o que há de melhor na vida. Há uma passagem de um livro que eu adoro e que ilustra muito bem isso:
“Gostaria que você imaginasse que está prestes a comparecer a um dos eventos mais importantes de sua vida. Esse evento acontecerá em um local suficientemente grande para acomodar todos os seus amigos, sua família, seus parceiros de negócios, toda e qualquer pessoa para quem você é importante e que é importante para você. Você consegue visualizar o local? As paredes estão cobertas com tapeçarias douradas, a iluminação é à meia-luz, suave, produzindo um brilho quente nas faces de seus convidados em expectativa, as cadeiras deles são belamente estofadas com um tecido dourado que combina com as tapeçarias. Na frente da sala, há um palco e, nele, há uma mesa ricamente decorada, com velas queimando em cada uma das extremidades; sobre a mesa, ao centro, está o objeto da atenção de todos: uma caixa grande, brilhante e ornada. E na caixa está… Você! Dura como uma pedra. Você se vê deitada na caixa. Agora ouça: dos quatro cantos da sala ouve-se uma gravação de sua voz. Você consegue ouvir? Você está se dirigindo a seus convidados e está contando a eles a história de sua vida. Como você gostaria que essa história fosse? O que você gostaria de poder dizer sobre sua vida quando já for muito tarde para fazer algo para mudá-la? Se você tivesse que escrever um roteiro para a fita a ser tocada para aqueles que estão de luto em seu velório, como gostaria que fosse lido?”
Esse trecho é fantástico é traduz bem minha “motivação”. Uma vez que você cria esse roteiro para ser lido na ocasião citada pelo livro, tudo o que você precisa fazer é torná-lo real, é começar a viver sua vida como se ela fosse importante, leva-la a sério, criá-la intencionalmente. É simples, mas não é fácil. Então cada pessoa precisa criar o próprio significativo para buscar seus objetivos.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Lucas: Além de tudo que já falei, meu melhor conselho é uma paráfrase do conselho do Professor Marcondes Fortaleza: a parte fundamental da sua aprovação, assim, 95% da aprovação, começa na sua crença, na sua capacidade de acreditar verdadeiramente que você vai alcançar seu objetivo. Não é uma crença vazia, genérica, sabe?
É uma crença absolutamente forte, uma certeza profunda de que algo acontecerá. E a partir daí você age com naturalidade, ciente de que uma determinada realidade acontecerá na sua vida. Um exemplo: se você que lê este depoimento agora se levantar da cadeira amanhã e for realizar uma prova de português da quinta série e a aprovação exigisse um mínimo de 50%, qual seria sua crença quando fizesse a inscrição e fosse fazer a prova? Uma certeza absurda, uma convicção infinita.
Então, meu conselho final é: defina seu objetivo final e tenha total certeza de que você será vencedor, decida que você é o ator ou a atriz protagonista da sua vida. E que você se levantará da sua cadeira de estudos, daqui a alguns meses, e fará a prova que deixará você classificado dentro das vagas para ocupar o cargo que você traçou como meta, a função na qual você deseja trabalhar, viver a vida profissional que você planejou.
Ah! Deixo um alerta final: aprovação em concurso público e posterior posse e exercício não é sinônimo de felicidade. A vida continua com suas questões e demandas complexas. Haverá dias felizes e dias tristes, mas posso garantir, principalmente para você que tem origens mais humildes, que a vida vai para “oto patamá”. Quem quiser trocar uma ideia, pode mandar uma mensagem no instagram @lucahcoelho. Resiliência e disciplona, meus guerreiros! Grande abraço a todos.