Numa parte do Art & Fear, o autor fala sobre um case-study de um professor de arte lá dos Estados Unidos que decidiu fazer um “experimento social” dentro de sua aula de argila.
Ele pegou a turma e dividiu ela em dois grupos.
No primeiro grupo, a ordem era a seguinte:
“Vocês têm 3 meses para entregar o melhor vaso de argila possível. Sua nota depende da qualidade dessa vaso”
Com esse primeiro grupo, o foco era na obra-prima, no detalhe, na perfeição.
Com o resto do pessoal, ele decidiu inovar um pouquinho:
“Vocês têm 3 meses para entregar 20 quilos de vasos de argila. Não importa se os vasos estiverem feios ou bonitos. Se você chegar me entregar 20 quilos de arte, você vai receber a nota máxima e ponto final”.
Passou 3 meses, ele distribuiu as notas e teve a seguinte conclusão: todas as “obras-primas” vieram do grupo dos 20 quilos.
Como assim, cara? Por que a “qualidade” veio daqueles que não tinham qualidade como objetivo?
Simples: repetição gera maestria.
Quantidade versus qualidade
Um vaso de argila normalzinho que eles estavam acostumados a fazer pesava menos 500 gramas. Para chegar a 20kg, os caras tinham que realmente botar a cara dia sim e dia sim.
O pensamento dessa galera não era “eu preciso criar o vaso perfeito”.
Tava mais para “eu preciso de ação senão meu tempo vai acabar”.
Aí o que acontece quando você bota a cara com consistência e repetição?
Boom! Você vai ficando cada vez melhor. É o mindset de crescimento, mano! Ou você não lembra daquele post que eu escrevi sobre a psicologia do futevôlei?
Do outro lado da moeda, perfeccionismo só gera insegurança e ansiedade.
Segundo o próprio Brian Johnson, perfeccionismo é o maior mal da humanidade. Ele tem uma master class inteira de 1hr falando só sobre isso lá no site.
Papo reto: de todos os meus conhecidos que são perfeccionistas de carteirinha, 100% deles não atingiu nem 50% de seu respectivo potencial.
Sabendo que seria julgado em qualidade, o segundo grupo passou o trimestre inteiro sentado lá conceitualizando, pensando, idealizando o vaso de argila perfeito para ganhar a nota A.
Quando chegou a hora do vamo ver, só saiu lixo!
A diferença? Enquanto esse grupo passou o trimestre pensando no que ia fazer, o outro grupo passou o trimestre inteiro fazendo.
Outliers e o caso Beatles
Quando eu era muleque, alguém pregou na minha cabeça que QUALIDADE É MELHOR QUE QUANTIDADE.
Só esqueceram de me avisar que obsessão com qualidade (perfeccionismo) é o inimigo #1 de quem quer botar pra ****![editado]
Esse caso da argila aí me deu um pouco de tela azul… mas daí eu lembrei de outro livro ****[editado] das galáxias que fala de um tema parecido: Outliers – Foras de Série de Malcom Gladwell.
Para muitos, o livro Outliers se resume a uma única expressão: “10 mil horas”.
Sim, segundo o autor, para alguém ficar muito bom em uma determinada atividade, são necessárias 10mil horas de prática deliberada.
Acho que no quarto capítulo, o Gladwell fala da ascensão dos Beatles e atribui a mudança deles de Liverpool para Hamburgo na Alemanha como o grande divisor de águas na carreira deles.
O empresário da banda desenrolou um gig para os Beatles saírem da Inglaterra e tocarem fixos num bar de rock na Alemanha chamado Kaiserkeller durante alguns meses.
Cada hora cheia, começava um show diferente. Daí eles tinham que improvisar várias paradas, colocar centenas de músicas no repertório e tocar durante horas e horas seguidas.
Todo santo dia!
Repetição, repetição, repetição e mais repetição… na frente do público!
Se o negócio estivesse uma m****, a reação era imediata. Muito melhor do que se eles tivessem tocando sozinhos no estúdio sem saber se aquele trabalho vai ser aceito ou não pelo público.
Se eles tivessem ficado em Liverpool, eles iam tocar pra valer só uma vez por semana… no máximo duas.
Fora isso, iam ficar se preocupando com a logística de ir de uma casa para a outra.
E ainda tem aquela passagem bíblica que eu adoro repetir aqui no blog. No Evangelho de Marcos, **** [editado] disse o seguinte:
“Só em sua própria terra, entre seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não tem honra”
Jesus Cristo fez milagre em toda cidade que ele visitou. Só teve um lugar que ele não conseguiu nada: na sua própria cidade de Nazaré. Os Beatles só viraram os Beatles quando finalmente meteram o pé de Liverpool e foram pra Hamburgo.
Em Hamburgo, eles só tocavam. E tocavam muito. Não bem. Mas muito.
E por tocar muito… eles acabaram tocando muito bem.
Juros compostos, mano!
The rest is history.