Câmara Municipal do Rio de Janeiro – comentários e recursos
Olá pessoal, tudo bem?
Estou passando para comentar a prova de Administração Pública p/ Câmara Municipal-RJ – Analista Legislativo – Sem Especialidade.
De forma geral, não gostei da prova. A banca praticamente não cobrou questões de Administração Pública. Os assuntos abordados são, na verdade, de Administração Geral. Além disso, várias questões foram meras “decorebas”. Creio que essa não é a melhor forma de se avaliar o conhecimento. Após as críticas, vamos aos comentários.
Vou comentar da questão 58 até a 65. As questões 56 e 57 se relacionam com o tópico 18 do edital, que não foi abordado em nosso curso.
A questão 56 é de Administração Financeira e Orçamentário. De qualquer forma, adianto que o gabarito está correto, conforme dispõe o art. 67 da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já a questão 57 trata dos serviços públicos, assunto de Direito Administrativo. A resposta se encontra na pág. 297 do livro de Edson Ronaldo do Nascimento. O autor, citando Fábio Giambiagi (2000), apresenta quatro tipos de PPPs: build-operate-transfer (BOT), build-transfer-operate (BTO), build-own-operate (BOO) e buy-build-operate (BBO). O modelo previsto na questão é o BBO, no qual a venda representa a transferência de propriedade de um ativo já em operação, acompanhada da obrigação de operação e eventual expansão pelos novos controladores.
Sobre as questões específicas do nosso curso, destaco que há possibilidade de recursos nas questões 58, 64 e 65. Seguem os comentários:
58. A aplicação prática da teoria motivacional dos Dois Fatores de Herzberg, que consiste em incrementar os fatores motivacionais de um cargo ou de um grupo de cargos, cujos ocupantes tenham responsabilidade sobre a mesma tarefa, aumentando sua variabilidade, por meio de delegações e incorporações de tarefas correlatas, é denominada:
(A) amplitude administrativa
(B) fator ambiental
(C) compensação
(D) enriquecimento do trabalho
Comentário: estudamos a Teoria dos Dois Fatores de Herzberg em nossa aula 01. Na oportunidade, destacamos que a motivação é um fator intrínseco, pois tem haver com o conteúdo do cargo ou com a natureza das tarefas executadas. Assim, a estratégia de aumento da variabilidade, por meio de delegações e incorporações de tarefas correlatas, é denominada enriquecimento de cargo.
Essa questão teve como referência o livro de Samuel Certo, vejamos o que o autor ensinou (Certo, 2003, p. 356):
“Enriquecimento de Cargo Frederick Herzberg conclui de sua pesquisa que os graus de satisfação e insatisfação que os membros de uma organização sentem por executar uma função são duas variáveis diferentes determinadas por dois conjuntos diferentes. Os itens que influenciam o grau de insatisfação no emprego são chamados fatores de higiene, ou manutenção, enquanto os que influenciam o grau de satisfação no emprego são chamados fatores de motivação, ou motivadores.”
Isso também consta no livro de Chiavenato (2010, p. 210): “Segundo a teoria dos dois fatores de Herzberg, o enriquecimento de cargos constitui a maneira de obter satisfação intrínseca através do cargo.”
Assim, a resposta seria a opção D. Porém, a banca mencionou “enriquecimento do trabalho”. Isso poderia ter gerado confusão. Se este foi o seu caso, é possível tentar um recurso nessa questão, pedindo a anulação do item, pois o correto seria “enriquecimento de cargo”, conforme referências que utilizamos.
CERTO, Samuel C. A administração moderna. 9ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003.
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010 (p. 210).
Gabarito: alternativa D (cabe recurso).
59. A filosofia administrativa segundo a qual os indivíduos são obrigados a responder pela maneira como utilizam sua autoridade e assumem a responsabilidade de desempenhar atividades predeterminadas, refere-se à:
(A) delegação
(B) divisão do trabalho
(C) credibilidade
(D) responsabilidade
Comentário: questão extremamente decoreba. A banca foi buscar o conceito de credibilidade no glossário do livro de Samuel Certo. De acordo com o autor:
“Credibilidade: refere-se à filosofia administrativa segundo a qual os indivíduos são obrigados a responder pela maneira como utilizam sua autoridade e assumem a responsabilidade de desempenhas atividades predeterminadas.”
Gabarito: alternativa C.
60. Na gestão contemporânea, o aprendizado gerencial é o processo pelo qual os indivíduos adquirem novos conhecimentos, atitude e valores em relação ao trabalho administrativo. Quando o indivíduo se torna capaz de interferir intencionalmente no sistema organizacional, evidenciando melhor conhecimento de si próprio, de seu papel na organização, dos objetivos e do contexto em que a empresa opera, além do comprometimento com a missão socioeconômica da organização em que trabalha, demonstra habilidades:
(A) de ação
(B) cognitivas
(C) analíticas
(D) comportamentais
Comentário: o professor Paulo R. Motta percebe o aprendizado gerencial envolvido em quatro
dimensões básicas:
Cognitiva – a habilidade cognitiva significa aprender sobre administração a partir dos conhecimentos existentes;
Analítica – a habilidade analítica significa identificar e diagnosticar problemas administrativos decompondo-os em partes diferentes e, em seguida, rearrumando-os na busca de novas soluções;
Comportamental – a habilidade comportamental significa adquirir novas maneiras de interação com os outros indivíduos: novas formas de comunicação, de interação com pequenos grupos, de lidar com o poder e a autoridade;
Habilidades de ação – a habilidade de ação significa a capacidade de interagir de forma intencional no sistema organizacional transformando conhecimentos em ação.
Assim, a opção correta é a alternativa A.
Gabarito: alternativa A.
61. Uma determinada empresa encontra-se inserida num contexto em que, no diagnóstico externo, há a predominância de oportunidades e, no ambiente interno, a predominância de pontos fracos. Nesse caso, dentre as posturas estratégicas, a empresa pode adotar as seguintes:
(A) estabilidade, nicho e diversificação
(B) inovação, expansão e internalização
(C) redução de custos, especialização e join venture
(D) desinvestimento, liquidação do negócio e desenvolvimento
Comentário: de acordo com Oliveira (2013, pp. 197-198), a estratégia de crescimento é empregada quando o ambiente está repleto de oportunidades, porém a empresa ainda apresenta pontos fracos em seu ambiente interno. Essa estratégia envolve as ações de crescimento nas vendas, lucros e participação no mercado, utilizando o desenvolvimento de novos produtos, a formação de parcerias ou a expansão da empresa para que possa encarar as ameaças e incertezas e prosperar no mercado.
As subdivisões da estratégia de crescimento são:
• estratégia de inovação: as empresas procuram desenvolver novos produtos, mais atrativos e modernos, para superar as expectativas dos clientes;
• estratégia de internacionalização: a empresa rompe os limites geográficos, buscando alcançar países que ainda não explorou;
• estratégia de “joint venture”: decorre da formação de parceiras com outras empresas para o desenvolvimento de projetos específicos;
• estratégia de expansão: consiste na expansão dos negócios da empresa no segmento de mercado atuante.
Assim, somente a opção B apresentou apenas estratégias de crescimento. Mesmo faltando o “joint venture”, o item não está errado, pois a opção não disse que são “somente” essas.
Gabarito: alternativa B.
62. O indicador utilizado no monitoramento do desempenho do processo de negócio que indica a quantidade de resultados ou saídas geradas por um sistema num período de tempo é o:
(A) set up
(B) lead time
(C) throughput
(D) kanban
Comentário: questão retirada do livro de José Osvaldo de Sordi (2012, p. 84). Segundo o autor: “Na gestão de processos, a quantidade de transações de negócio realizadas num período de tempo é denominada throughput do processo”.
O lead time, por sua vez, trata do tempo médio total necessário para a execução completa de uma transação de negócio.
Os outros dois itens não constam no livro de referência como indicadores de desempenho do processo de negócio.
Gabarito: alternativa C.
63. Considere a hipótese de que a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro possui uma indústria de componentes de concreto e que o gestor deseja, através de uma mudança radical nas práticas tradicionais, diminuir o estoque desnecessário, eliminar tarefas que não agregam valor, minimizar custos, retrabalho e otimizar processos, produzindo os componentes somente no exato momento em que são necessários. Essas práticas referem-se à seguinte metodologia:
(A) Just-in-time
(B) Capacity Resource Planning
(C) Material Requeriment Planning
(D) Enterprice Resource Planning
Comentário: enquanto os métodos tradicionais utilizam estimativas de consumo, o sistema just-in-time está fundamentado nos pedidos, ou seja, é um método de produção por demanda. Assim, somente após surgir a encomenda é que se inicia o processo de produção. Costuma-se dizer, portanto, que o pedido “puxa” a linha de produção. Essa é uma estratégia que reduz drasticamente os custos de estocagem, porém exige uma série de procedimentos, para evitar que os clientes fiquem esperando muito tempo.
Estudamos o just–in–time em nossa última aula (administração de materiais).
Gabarito: alternativa A.
64. Numa determinada organização, o trabalho é estável e os conflitos são mínimos, o gerente do programa possui autoridade de linha sobre todo o projeto, designa trabalhos e conduz as avaliações de desempenho. Nessa organização desenvolvem-se canais sólidos de comunicação e cada indivíduo se reporta a apenas uma pessoa, resultando em um tempo de reação muito rápido. Pode-se afirmar que a estrutura organizacional, nesse caso, é do tipo:
(A) linha-staff
(B) por produto
(C) clássico
(D) matricial
Comentário: essa questão tomou por base o livro de Gerenciamento de Projetos de Harold Kerzner (2011), que foi abordado em uma aula extra do nosso curso.
Kerzner apresentou os seguintes tipos de estruturas: tradicional (clássica), linha-staff, por produtos (projetizada), matricial e de gerenciamento de projetos por unidades estratégicas de negócios (UEN).
Vimos na aula que, na estrutura por produto, o gerente de produtos tem total autoridade sobre a sua linha de projetos. As comunicações ocorrem rapidamente e as equipes podem manter o conhecimento especializado de um dado projeto sem dividir profissionais importantes. A desvantagem, porém, é o custo de manutenção, pois ocorre a duplicação de esforços em cada grupo de produto/projeto, tornando o seu uso ineficaz.
Além disso, Kerzner destaca que:
“A organização por produtos (…) se desenvolve como uma divisão dentro de uma divisão. Contanto que exista um fluxo contínuo de projetos, o trabalho é estável e os conflitos são mínimos. A maior vantagem desse fluxo organizacional é que um indivíduo, o gerente do programa, possui autoridade total de linha sobre o projeto. Ele não apenas designa trabalhos, mas também conduz as avaliações de desempenho. Como cada indivíduo se reporta a apenas uma pessoa, canais sólidos de comunicação se desenvolvem e resultam em um tempo de reação muito rápido.”
Por todo o exposto, o gabarito é mesmo a opção B.
Contudo, é possível argumentar que Chiavenato, cuja obra também está nas referências do edital do concurso, fala em “departamentalização por produtos” (Chiavenato, 2011, p 198). Ou seja, para este autor, esse não é um tipo de estrutura, mas de departamentalização. Chiavenato menciona a existência de somente três tipos de organização: linear, funcional e linha-staff (p. 177).
Destaco que eu concordo com o gabarito da banca, pois a divergência não causaria confusão para responder a questão. Porém, se você está precisando de ponto, não custa tentar.
Referências para o recurso:
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011 (pp. 177 e 198).
KERZNER. H. Gerenciamento de projetos: uma abordagem sistêmica para planejamento, programação e controle. [traduzido por João Gama e Joyce Prado]. São Paulo: Blucher, 2011 (p. 65).
Gabarito: alternativa B (as chances são baixas, mas é possível entrar com recurso).
65. As barreiras ocorrem nas comunicações empresariais porque as pessoas podem, por diversos fatores, ver a mesma mensagem de maneiras diferentes. Entre as barreiras que afetam o processo de codificação estão as seguintes:
(A) tendência avaliativa e quadro de referência
(B) escuta seletiva e ideias preconcebidas
(C) ausência de feedback e suposições sobre o emissor
(D) quadro de referência e sensibilidade interpessoal
Comentários: não identifiquei, no edital, o tópico de comunicação organizacional. Dessa forma, recomendo que os candidatos apresentem recurso, uma vez que a questão extrapolou os objetivos de avaliação previstos no edital do concurso.
Além disso, o livro de Kanaane, Fiel e Ferreira, que consta no edital, destaca o seguinte ensinamento de Robbins:
“Segundo Robbins (2009, p. 147-148), “diversas barreiras podem identificar ou distorcer a comunicação eficaz”, ressaltando como as mais importantes: filtragem, percepção eletiva, sobrecarga de informação, estilos de comunicação de homens e mulheres, emoções e linguagem.”
Por sua vez, Samuel Certo dispõe que as barreiras à comunicação eficaz são classificadas em macrobarreiras (relacionadas com o ambiente) e microbarreiras (relacionadas com uma situação específica).
As macrobarreiras são: (i) necessidade crescente de informações; (ii) necessidade de informações cada vez mais complexas; (iii) contato com pessoas que utilizam outras línguas; (iv) redução do tempo disponível em decorrência da constante necessidade de aprender novos conceitos.
Já as microbarreiras são: (i) a visão que a fonte tem do destinatário – a forma como a fonte da informação vê a pessoa que irá receber a mensagem; (ii) interferência na mensagem (ruído); (iii) a visão que o destinatário tem da fonte; (iv) percepção – a forma que cada indivíduo usa para interpretar a mensagem; (v) palavras com vários significados.
Assim, podemos ver que duas referências utilizadas pela banca apresentam o assunto de forma distinta do que consta no gabarito. As duas não falam em quadro de referência e sensibilidade interpessoal.
Pode até ser que algum dos livros utilizados como referência pela banca mencionem este tipo de barreira, mas há divergências nas obras apresentadas pela banca e, por fim, o item comunicação não consta no edital.
Referências:
KANAANE, Roberto; FIEL FILHO, Alécio; FERREIRA, Maria das Graças (Org.). Gestão pública: planejamento, processos, sistemas de informação e pessoas. Atlas, 2012 (p. 81).
CERTO, Samuel C. A administração moderna. 9ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2003 (pp. 296-298).
Gabarito: alternativa D (cabe recurso para anular o item).
É isso. Boa sorte nos recursos.
Herbert Almeida
http://www.estrategiaconcursos.com.br/cursosPorProfessor/herbert-almeida-3314/