Comentários (e recursos) à prova de Economia da CAGE/SEFAZ/RS – Parte I
Olá caros(as) amigos(as),
Hoje, conforme prometido, vamos comentar as questões de Economia da prova da CAGE/RS, aplicada pela banca FUNDATEC.
Conforme disse em artigo anterior, a prova foi difícil, ainda levando-se em conta que o bloco II tinha 100 questões. Só as questões de Economia já estavam um pouco trabalhosas, pois exigiam um bom raciocínio em alguns casos.
Na minha opinião, quem acertou mais de 70% das questões fez uma excelente prova. Acima de 80%: mandou muito bem! Acima de 85%: ninja!
Propomos recursos nas questões 32, 33 e 42.
No restante, não vi possibilidade de recursos nas outras questões (que serão comentados futuramente). Para acompanhar as questões 36 a 42, você deve estar com o caderno de provas, ok?!
Bem … vamos aos comentários:
QUESTÃO 31
Comentários:
I. Verdadeiro. É essa justamente essa a ideia da CPP. Ela mostra a ideia de recursos limitados e de trade-off que existe na economia.
II. Falso. Para atingir o ponto Z, é necessário que haja aumento da quantidade de fatores de produção (trabalho e capital, por exemplo). No entanto, existem outros fatores que podem deslocar a CPP para fora, fazendo com que a economia atinja o ponto Z. Por exemplo, o aumento da produtividade ou da tecnologia. Sendo assim, a alternativa é errada, devido ao uso da palavra “somente”.
III. Verdadeiro. O custo de oportunidade é o que “se deixa de ganhar” em virtude de uma escolha. A partir do ponto D, se quisermos produzir mais 10 mil máquinas, iremos para o ponto B (onde temos 20 mil máquinas). Observe que, para isso acontecer, a produção de alimentos foi reduzida de 60 toneladas (ponto D) para 30 toneladas (ponto B). Assim, a partir do ponto D, o custo de oportunidade de produzir estas 10 mil máquinas é a perda da produção de 30 toneladas de alimentos.
IV. Falso. Quando a economia está com capacidade ociosa, é possível aumentar a produção de um bem sem termos que, necessariamente, perder a produção de outro bem. Por isso, com capacidade ociosa (um ponto no interior da CPP), podemos sim ter custo de oportunidade nulo.
Gabarito: B
QUESTÃO 32 (Clique na figura para ampliar)
Comentários:
I. Verdadeiro. Assertiva fácil. A repartição do ônus tributário é geralmente compartilhada entre produtores e consumidores, a depender da intensidade das elasticidades preço da demanda e da oferta.
II. Falso. Nem sempre o preço do produto vai se elevar em montante igual ao do imposto (isso até eventualmente pode acontecer, mas, em regra, isso tende a não acontecer na maioria dos casos).
A meu ver, cabe recurso nesta questão, pois o mercado de Oligopólio não estava previsto no edital regulador do concurso. Segundo o edital, tínhamos o seguinte tópico:
“Preço e produto em concorrência perfeita e no monopólio”
Assim, uma questão que aborda o preço em Oligopólio certamente está fora do previsto em edital, merecendo recurso e anulação.
III. Falso. O aumento do imposto tende a reduzir o lucro do monopolista.
Gabarito: A (mas sujeita à anulação, por conta de cobrar Oligopólio)
QUESTÃO 33 (Clique na figura para ampliar)
Comentários:
I. Correta. A atuação de consumidores ou produtores que resulte em um custo ou benefício não refletido nos preços é chamada de externalidade, que é uma falha de mercado. Como sabemos, falhas de mercado são causas de ineficiência econômica. Sendo assim, está correta a assertiva. No entanto, a banca considerou a assertiva incorreta, de modo que devemos entrar com recurso. Seguem uma passagem bibliográfica para ajudá-los na formulação de recursos:
Segundo PINDYCK e RUBINFELD, Microeconomia, ed. Pearson, 7a. edição, página 546:
“O sistema de preços funciona eficientemente porque os preços de mercado transmitem informações tanto a produtores como a consumidores. Entretanto, às vezes os preços de mercado não refletem o que realmente acontece entre produtores ou entre consumidores. Uma externalidade ocorre quando alguma atividade de produção ou de consumo possui um efeito indireto sobre outras atividades de consumo ou de produção, que não se reflete diretamente nos preços de mercado.”” (grifo nosso)
Na página 576, temos a seguinte passagem:
“Quando as externalidades se encontram presentes, o preço de um bem não reflete necessariamente seu valor social. Consequentemente, as empresas poderão vir a produzir quantidades excessivas ou insuficientes, de tal maneira que o resultado do mercado venha a ser ineficiente.” (grifo nosso)
Pede-se que a alternativa seja considerada CORRETA, o que fará com que a questão não apresente gabarito possível. Assim sendo, solicita-se a anulação da questão.
II. Incorreta. A cobrança de um preço inferior ao perço de mercado resulta em ineficiência. Em regra, intervenções do governo no livre mercado geram ineficiência econômica (que é o mesmo que “perda de bem estar”).
III. Correta. A fixação de um preço mínimo é sempre feita acima do preço de equilíbrio do mercado. Essa definição está no nota de rodapé da aula 00 (final da página 23):
“Quando isto acontece – o governo fixar um preço limite abaixo do equilíbrio –,
dizemos que está ocorrendo uma política de preços máximos.
Por outro lado, quando o governo fixa um limite mínimo de preço,
que é fixado acima do equilíbrio, temos uma política de preços mínimos.”
Pois bem, o fato de o preço ser superior ao preço de equilíbrio aumenta o bem estar do produtor, uma vez que o aumento de preço aumenta o excedente do produtor. Sendo assim, a assertiva é correta.
Gabarito: C (mas a questão deve ser anulada, uma vez que as alternativas I e III estão incorretas; logo, não há resposta)
QUESTÃO 34 (Clique na figura para ampliar)
Comentários:
( F ) A demanda dada na questão é “linear”. Portanto, temos elasticidade preço da demanda variável ao longo da curva (não temos Epd constante).
( F ) Para calcular a Epd, precisamos saber as quantidades (Qd) quando o preço é 6 (P=6). Quando P=6, o valor de Qd é 7 (Qd = 10 – 0,5.6). Substituindo na fórmula da Epd:
Epd = (P/Q).(dQ/dP)
Epd = (6/7).(-0,5)
Epd = -3/7
( V ) Agora, temos que calcular os valores de P e Q para o equilíbrio com a curva de oferta Qs = 3 + 0,2P. Vejamos este equilíbrio
Qd = Qs
10 – 0,5P = 3 + 0,2P
P = 10
Se P=10, então, Qd=5.
Calculando Epd para os valores de P=10 e Qd=5:
Epd = (P/Q).(dQ/dP)
Epd = (10/5).(-0,5)
Epd = -1
( V ) O aumento do preço de B fará a quantidade demandada deste próprio B também ser reduzida. Como A e B são substitutos, a redução no consumo B fará o consumo de A ser aumentado.
Gabarito: D
QUESTÃO 35 (Clique na figura para ampliar)
Comentários:
A) Correta. Na ausência de maiores detalhamentos, adotamos a seguinte fórmula para o multiplicador: K = 1 / (1 – c).
Se c=0,8, então, K=5.
B) Correta. Um aumento de gastos financiado integralmente com impostos significa uma situação em que temos um variação equilibrada no orçamento (vimos isso no tópico “teorema do orçamento equilibrado”, na aula 09 de nosso curso). Nesta situação, se aumentamos os gastos do governo em 100 (e a tributação também aumenta em 100), o impacto será um aumento na renda também neste mesmo valor de 100. Ou seja, temos um aumento de gastos de 100 gerando um aumento na renda também de 100 (uma vez que o aumento de gastos foi concomitante com o aumento de tributos em mesmo montante). Portanto, o multiplicador é igual a 1:
(ΔG+ΔT).K = ΔY
Se ΔG+ΔT é igual ao ΔY, então, K=1.
Segue a transcrição de uma passagem da nossa aula 09, página 30:
“Ou seja, se os gastos do governo e a tributação são aumentados no mesmo montante, então, o multiplicador de gastos é igual a 1. ”
C) Correta. Na ausência de maiores detalhamentos, adotamos a seguinte fórmula para o multiplicador: K = 1 / (1 – c). A propensão marginal a poupar (1 – c) vale 0,4. Então:
K = 1 / (1 – 0,4)
K = 2,5
D) Incorreta. Assertiva difícil.
Em regra, os gastos do governo (G) possuem o mesmo valor absoluto do multiplicador dos gastos privados (C, I, X e M).
No entanto, quando consideramos os gastos do governo junto com o aumento dos impostos, conforme vimos na letra B, o multiplicador será igual a 1. Nesta situação específica, o multiplicador dos gastos (G) não será igual ao multiplicador dos gastos privados (C, I, X e M).
E) Correta. Essa alternativa trata do efeito crowding out (assunto visto na aula 11). No modelo IS-LM (onde consideramos os impactos das taxas de juros sobre a renda), ao aumentarmos os gastos do governo, ocorre aumento da taxa de juros. Este aumento da taxa de juros reduz os investimentos privados. Assim, o montante do aumento da renda é inferior ao montante verificado no modelo Keynesiano simplificado (onde não levamos em conta a taxa de juros).
Gabarito: D
QUESTÃO 36
(veja o enunciado no seu caderno de prova)
Comentários:
O assunto desta questão não foi tratado em nosso curso. No edital, tínhamos o tópico “consumo, poupança”. Ele justifica a cobrança dos assuntos trazidos nas alternativas. Assim, não cabe recurso quanto à inexistência no assunto no edital.
A questão traz temos de teorias de Consumo em um contexto de Economia Intertemporal (quando consideramos o consumo em vários períodos). Achamos que o tema não justificava uma aula inteira só para ver isso, levando em conta, também, que o curso já estava com 17 aulas e que a Fundatec não havia cobrado o assunto anteriormente. Por isso, não abordamos no curso. Infelizmente, caiu uma questão sobre o tema ;-/
A) Incorreta. Se a renda cai, o consumo cai, e a poupança também cai.
B) Incorreta. O aumento permanente de um imposto reduz a renda em proporção maior do que o aumento transitório.
C) Incorreta. A escolha dos níveis de consumo e poupança é influenciada pela renda corrente e pela futura (esperada); ou podemos dizer que é influenciada pela renda permanente (aquela que se espera ganhar ao longo da vida, de forma permanente).
D) Incorreta. Realmente, no modelo da renda permanente (de Milton Friedman), as pessoas preferem um padrão estável de consumo e poupança. No entanto, essa poupança depende sim da renda corrente.
E) Correta. A redução temporária da renda corrente tende a não alterar o consumo (apenas a redução permanente da renda altera significativamente o consumo). No entanto, a redução da renda corrente altera sim o nível de poupança.
Gabarito: E
QUESTÃO 37
(veja o enunciado no seu caderno de prova)
Comentários:
I. Correta. O déficit orçamentário, em linguagem simples, será os gastos menos a arrecadação em um determinado período. Se você utilizar os dados da questão, teremos o seguinte:
Gastos: G + r.D(-1) + Ig
Arrecadação: T
O termo “r.D(-1)” significa as despesas de juros (ou seja, multiplica-se os juros pela dívida do período anterior).
A poupança e a dívida não entram pois não são gastos ou arrecadação. Por exemplo, se você que está me lendo fosse apurasse seu déficit (ou superávit) em um determinado mês, não entrariam no cálculo o quanto de dinheiro você tem na poupança ou a sua dívida anterior. Entrariam apenas os gastos e arrecadação daquele mês.
II. Correta. Aqui, a principal dificuldade era lembrar que, no cálculo da poupança do governo, não levamos em conta o investimento (Ig). No mais, a poupança será a diferença entre arrecadação e gastos (sem levar em conta os investimentos).
III. Correta. Nesta assertiva, a banca utilizou o conceito se déficit público utilizado nas contas nacionais, segundo o qual o déficit é a diferença entre investimento público e poupança do governo (aula 07, página 24).
Gabarito: E
QUESTÃO 38
(veja o enunciado no seu caderno de prova)
Comentários:
I. Incorreta. Sabemos que:
r = 0,3
c = 0,2 (então, d = 0,8)
O multiplicador monetário será:
K = 1 / (c + r.d)
K = 1 / (0,2 + 0,3.0,8)
K = 2,08
Assim, um aumento de 10 bi na base monetária elevará o M1 em 20,8 bi.
II. Correta. Quanto maior o coeficiente “r”, menor o multiplicador K.
III. Incorreta. Quanto maior a proporção de PMPP em relação aos DV, menor será o multiplicador, pois uma alta PMPP/DV significa menos recursos no sistema bancário, o que dificulta e tende a reduzir a multiplicação monetária.
Gabarito: B
QUESTÃO 39
(veja o enunciado no seu caderno de prova)
Comentários:
( 1 ) Quando o BACEN cede empréstimos aos bancos comerciais, isto tende a aumentar a possibilidade de multiplicação monetária na economia.
( 3 ) O fato de um banco oferecer crédito de empréstimo a um particular não afeta base monetária. Somente a efetiva concessão do empréstimo alteraria o valor da base monetária.
( 1 ) A compra de títulos aumenta a base monetária (o governo recebe o título e entrega dinheiro ao público).
( 2 ) Na venda de moeda estrangeira, o BACEN entrega US$ e recebe R$. Ao receber R$, o governo reduz a base monetária da economia.
( 1 ) O aumento das operações de redesconto tende a aumentar a base monetária.
Gabarito: A
QUESTÃO 40
(veja o enunciado no seu caderno de prova)
Comentários:
Questão já comentada pelo professor Vicente Camillo, no link abaixo:
http://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/questao-de-financas-cagesefazrs/
Gabarito: C
QUESTÃO 41
(acompanhe o enunciado do seu caderno de prova)
Comentários:
I. Correta. Essa assertiva é bem complicada. O examinador copiou a conclusão do livro de Macroeconomia do Simonsen e Cysne, ed. FGV.
A análise desta alternativa deve ser feita misturando conhecimentos de contas nacionais e balanço de pagamentos.
Primeiro, vamos identificar o que são “capitais” neste contexto. “Capitais” significam os recursos necessários para a viabilização dos investimentos da economia. Em contas nacionais, nós temos a identidade “investimento = poupança”:
I = S
I = Sp + Sg + Sext
Sext (poupança externa) é uma fonte do investimento (uma fonte de acumulação dos capitais). Pois bem, quando temos uma poupança externa positiva, temos uma importação de capitais (que financiam os investimentos, ou a acumulação de capital).
Assim, poupança externa positiva = importação de capitais (já que ocorre aumento do investimento, ou ocorre acumulação de capital).
Como nós sabemos que a Sext positiva é o mesmo que déficit em transações correntes (importação de capitais), então, um superávit em transações correntes é o mesmo que exportação de capitais, que é a situação oposta.
II. Incorreta. Outra assertiva difícil.
A importação de equipamento realmente aumenta o valor das importações e tende a reduzir o nível das reservas internacionais. No entanto, devemos observar que a alternativa fala que a importação foi financiada (ou seja, não foi paga). Então, o lançamento contábil correto é o seguinte:
D Importação
C Dívida de curto prazo frente a não residentes (conta financeira)
Observe que, neste caso, não podemos creditar a conta Reservas Internacionais, pois o equipamento não foi pago com moeda estrangeira (então, o nível de reservas não foi reduzido). O nível de reservas só será reduzido no futuro, quando a dívida for paga. Quando isto acontecer, teremos o seguinte lançamento:
D Dívida de curto prazo (Conta financeira)
C Reservas
III. Correta. Outra assertiva difícil (esta questão foi toda complicada!).
Na aula de Contas Nacionais (aula 07), vimos saldo negativo em transações correntes é o mesmo que poupança externa. Esta, por sua vez, pode ser chamada também de passivo externo líquido. O passivo externo líquido é o oposto do ativo externo líquido (ou haveres externos líquidos). Então, temos o seguinte:
Redução de saldo em transações correntes –> Aumento de saldo da poupança externa –> Aumento do passivo externo líquido –> Redução dos haveres externos líquidos.
Gabarito: D
QUESTÃO 42
(clique no enunciado do seu caderno de prova)
Comentários:
( V ) No início do ano, os índices de preços interno e externo são iguais (Pint=100 e Pext=100). Então, a taxa real de câmbio é igual à taxa nominal (apenas no início do ano). Ou seja, no início do ano, a taxa real de câmbio é 2,50. Para manter a taxa real de câmbio constante, utilizamos a fórmula da PPC (Paridade do Poder de Compra), aprendida na aula 08. Esta é a fórmula que utilizamos quando queremos saber qual a taxa nominal de câmbio que mantém a mesma taxa real de câmbio:
e’ = e.(Pint/Pext)
e’ = 2,50.(1,05/1,02)
e’ = 2,57
( F ) Conforme vimos na alternativa anterior, a taxa de câmbio para manter a mesma taxa real do início do ano deve ser 2,57.
( F ) Conforme vimos na primeira alternativa, para manter a mesma taxa real de câmbio, a taxa nominal de câmbio deverá ser US$ 1,00 = R$ 2,57.
Ou seja, teremos uma desvalorização do real, uma vez que necessitamos de mais R$ para comprar 01 unidade de US$. Sendo assim, pede-se alteração de F para V, no que tange a esta alternativa. Por isso, a questão fica sem resposta.
Portanto, pede-se a anulação da questão.
( F ) Conforme, vimos na alternativa anterior, para manter a mesma taxa de câmbio, deve-se depreciar o real.
Gabarito: C (mas se pede anulação da questão)
…..
Abraços e bons estudos!
Heber Carvalho