Olá caros(as) amigos(as),
Venho aqui comentar as questões de Economia do concurso para Analista do BACEN (Conhecimentos Gerais), e, mais importante, propor alguns recursos.
Sem rodeios… a prova foi F.O.D.A.! A prova de Conhecimentos Básicos foi muito mais difícil, por exemplo, que a prova Específica para a Área 03 (Política Econômica), o que é um contrassenso, obviamente. Discussões à parte se isso é justo ou não, posso dizer tranquilamente que um estudo mais aprofundado (por livros acadêmicos ou utilizados na Graduação, por exemplo) sequer teria efeito sobre a (provável) pontuação adicional auferida pelo candidato, dado o (altíssimo) nível de dificuldade com que as questões se apresentaram.
Em Macroeconomia, por exemplo, se o aluno consultar as 02 bibliografias básicas (02 livros, no estilo “lista telefônica”) indicadas pela ANPEC; ele não encontrará as respostas das questões. As bibliografias são os livros do Dornbusch e Mankiw (http://anpec.org.br/downloads/Exame2014_manualdocandidato.pdf – página 13).
PS: a ANPEC organiza os exames nacionais para ingresso em cursos de mestrado em Economia.
Em Microeconomia (houve 02 questões para quem escolheu a Área 06), se o aluno, igualmente, consultar as 02 bibliografias básicas (também, livros gigantes) indicadas pela ANPEC, também, não encontrará aquele tipo de função utilidade trazida no enunciado das questões. As bibliografias são os livros do Pindyck e Varian (http://anpec.org.br/downloads/Exame2014_manualdocandidato.pdf – página 12).
Meu objetivo não é desestimular o aluno, nada disso. É apenas mostrar que a prova foi atipicamente difícil. Se alguém que foi mal nesta prova tivesse estudado o triplo ou o quádruplo de horas (e pelos livros recomendados pela ANPEC, por exemplo), o resultado teria mudado muito pouco, dado o nível das questões. Basta comparar as questões de economia desta prova do BACEN com as próprias questões que o CESPE/Unb cobrou em 2013, em concursos para ECONOMISTAS. Diga-se de passagem, comentamos dezenas destas questões de 2013 nas aulas extras do curso de Economia Completa. Enfim, como costumam dizer por aí, a prova foi um ponto fora da curva.
No mundo dos concursos, já tivemos situações parecidas. O concurso do BACEN, em 2000 (a banca também foi o CESPE/Unb), por exemplo não preencheu o número de vagas para a Área Contábil-Financeira, que era a principal área da época (quem fez o mínimo entrou). Também já acompanhei alguns concursos da Área Fiscal cujo número de vagas sequer foi preenchido, devido, em grande parte, ao fato de que a maioria dos candidatos (com pontuação para entrar na lista classificados) não atingiu o mínimo em Economia. Cito como exemplos que me vem à mente de forma rápida: AFTE/RS 2006 – Banca FAURGS; ICMS/RJ 2009 e 2010 – Banca FGV.
Enfim, quando a prova é muito difícil, estamos sujeitos a isso. Por mais que você se aprofunde na matéria, quando o examinador decide fazer questões a partir de extratos de páginas de determinados livros de Mestrado, ou decide fazer questões dúbias e incompletas de sentido (como foi o caso e conforme demonstraremos a seguir), realmente, será inevitável que grande parte dos candidatos não saiba responder às perguntas. Infelizmente, em concursos, é algo a que todos estamos sujeitos.
O importante é que, felizmente, mesmo estas situações pitorescas obedecem ao princípio da isonomia. Isto é, se foi difícil para você, então, foi difícil para todos! Nesta prova do BACEN, digo com tranquilidade que não é nada absurdo tirar zero na prova de Economia (desde que se acertem algumas de outras disciplinas para fazer o mínimo de 10 pontos na prova de Conhec. Gerais). Se o nível de dificuldade de outras disciplinas passou perto do nível da prova de Economia, a nota de corte será (bastante) baixa e quem fez o mínimo estará, sim, na briga por uma vaga. Lembre-se: se foi difícil para você, foi difícil para todos ;-)
Bem… agora, vamos comentar as questões. Desde já, adianto que existem diversas sugestões de recursos:
CADERNO DE QUESTÕES – TIPO I – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA O CARGO DE ANALISTA – ÁREA 06
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Clique na figura para ampliar….
Considerando que, na economia acima descrita, vija um regime no qual o governo controla a quantidade de moeda e que o estoque de capital seja constante ao longo do tempo, julgue os itens seguintes.
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34 O modelo em questão é do tipo clássico, no sentido que o mercado de trabalho está sempre em equilíbrio, aplicando-se a ele a proposição da dicotomia clássica.
Comentários:
O enorme enunciado desta questão nos apresentou um modelo econômico, colocado de forma algébrica. A princípio, pode parecer que se trata realmente do modelo clássico pelo simples fato de que a função oferta agregada é Y=F(K, L) e pelo fato de temos um produto marginal decrescente (uma vez que a segunda derivada FLL é menor que zero, indicando que a primeira derivada FL é decrescente; em outras palavras, temos um produto marginal do trabalho decrescente).
No entanto, isto não basta para configurarmos o modelo acima como sendo um modelo clássico. Não temos a função oferta de trabalho, o que é importante na teoria clássica, uma vez que, nesta, o mercado de trabalho sempre se equilibra (e isto acontece com a demanda por trabalho sendo igual à oferta de trabalho).
O modelo em questão é do tipo Keynesiano.
O examinador extraiu o formalismo matemático do modelo a partir do seguinte livro: Macroeconomic Theory, THOMAS SARGENT (Prêmio Nobel de Economia em 2011).
Segue abaixo um recorte da página 50 do livro (Capítulo II, Keynesian Model) – Clique na figura para ampliar….
Você pode estar se indagando por que a função consumo do livro é diferente da apresentada na questão. Isto poderia invalidar a questão, sugerindo um possível recurso. Mas, segundo SARGENT, esta diferença na função consumo não é importante. Na página 50, temos a seguinte passagem:
Para o autor, a diferença relevante do modelo acima para o modelo clássico está justamente na ausência da função de oferta de trabalho que, combinada com a demanda de trabalho, faz com que o mercado de trabalho se ajuste automaticamente no modelo clássico. Na página 51, o autor diz:
Portanto, a questão está errada. O modelo apresentado é um modelo Keynesiano, onde não temos equilíbrio automático no mercado de trabalho com a demanda sendo igual à oferta de trabalho (uma vez que a oferta de trabalho não é apresentada no modelo colocado no enunciado da questão).
Gabarito: Errado
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35 O aumento da quantidade de moeda desloca para a direita a curva de equilíbrio monetário, o que proporciona redução da taxa de juros, aumento do produto e do emprego e redução do salário real.
Comentários:
Conforme comentado na questão anterior, estamos no modelo Keynesiano (isso que era a parte difícil do enunciado). Com isso, podemos depreender que o aumento da quantidade de moeda faz:
– a taxa de juros ser reduzida (análise IS-LM),
– o produto aumentar (análise IS-LM), e
– o salário real (W/P) diminuir (uma vez que os preços aumentam, pela análise do modelo OA-DA).
Assim sendo, a questão é certa.
As conclusões também podem ser retiradas do mesmo livro a partir do qual o examinador extraiu o enunciado da questão (Macroeconomic Theory, THOMAS SARGENT). Na página 61, o autor apresenta as consequências de um aumento da oferta de moeda:
Gabarito: Certo
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36 A função oferta agregada da economia, considerando-se o estoque de capital constante, dK = 0, é dada por
Comentários:
CABE RECURSO
Pelo bem da humanidade, esta questão deve ser anulada. Segue sugestão de RECURSO:
A expressão trazida na questão trouxe notações novas, não evidenciadas no enunciado, o que confunde o candidato. Em uma prova onde 01 assertiva errada anula 01 assertiva certa, o uso de notações diferentes daquelas colocadas expressamente no enunciado acaba sendo motivo de “não resposta” ou até mesmo de uma marcação errada da questão.
Por exemplo, não ficou evidente o que é “N”, uma vez que o enunciado já deixou claro que o mercado de trabalho é dado pela letra “L”. Também não se sabe o que é “p” minúsculo, uma vez que o enunciado deixou claro que o nível geral de preços é dado por “P” maiúsculo. Estas indefinições prejudicam o real discernimento do candidato na hora de resolver a questão. Sendo assim, pedimos a anulação da questão, por falhas na discriminação das notações.
Gabarito: Errado
Solicitação: Anulação da questão
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37. O aumento do salário nominal (dw > 0) gera o aumento do nível geral de renda (dy > 0), em decorrência do aumento da demanda agregada.
Comentários:
O aumento do salário nominal faz os preços da economia aumentarem (pela análise OA-DA, a curva OA vai para a esquerda, fazendo os preços aumentarem). O aumento de preços diminui a oferta real de moeda (M/P), aumentando os juros (análise IS-LM), e diminuindo a renda. Portanto, a questão é errada.
Em suma, a questão trata do efeito Keynes. O assunto foi cobrado na prova de Auditor de Controle Externo do TCU (aplicada em 13/10). Leia os comentários da questão 113, comentada por mim em artigo aqui no Blog do Estratégia, na semana passada:
https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/comentarios-as-questoes-de-economia-do-tcu-cespeunb/
As conclusões também podem ser retiradas do mesmo livro a partir do qual o examinador extraiu o enunciado da questão (Macroeconomic Theory, THOMAS SARGENT). Na página 61:
“An increase in the money wage (the Keynes effect): An increase in w causes the LM curve to shift to the left, causing a movement upward along the IS curve. This means that r must rise and Y must fall. Then from the production function N must fall, and from the demand schedule for labor w/p must rise.”
Gabarito: Errado
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Considerando que o problema do consumidor seja resolvido por meio da função utilidade
38. A demanda do consumidor pelo bem 1 é dada por
Comentários:
CABE RECURSO
Para encontrarmos a demanda pelo bem 1 (e pelo bem 2), podemos utilizar o método dos multiplicadores de Lagrange [maximizar a função utilidade U (x1, x2) sujeita à restrição orçamentária p1.x1 + p2.x2 = w]; ou podemos igualar a inclinação da curva de indiferença com a inclinação da reta orçamentária (TMgS = p1/p2 ==> Umg1/Umg2 = p1/p2). O último caminho, geralmente, costuma ser mais simples, em termos algébricos. É por ele, portanto, que iremos seguir.
PS: é importante esclarecer que a função utilidade do enunciado não é representativa de bens substitutos perfeitos (se calcularmos a TMgS = Umg1/Umg2; não encontraremos uma TMgS constante, mas sim uma TMgS decrescente com o aumento de x1). Ou seja, não podemos aplicar a solução de demanda para os bens substitutos perfeitos.
Façamos então os cálculos, a partir da constatação de que Umg1/Umg2 = p1/p2 (Clique nas figuras para ampliar…. ):
Observe que o resultado se distingue do que foi apresentado no enunciado. O termo “4.p1^2” – em negrito – faz parte do denominador da fração, na qual temos o numerador “w.p2”. Sendo assim, pedimos a mudança de gabarito para ERRADO.
Gabarito preliminar: Certo
Solicitação: Mudança de gabarito para Errado
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39. A demanda do consumidor pelo bem 2 é dada por
Comentários:
Utilizando a mesma lógica de cálculo da questão 38, encontramos a seguinte função demanda para o bem 2:
Gabarito: Errado
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Por hora, é só!
Daqui a pouco, coloco o restante das questões comentadas ;-)
Abraços,
Heber Carvalho
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