Comentário da prova de Português SEE MG 2018
Olá, pessoal!
Segue o comentário da prova de Português SEE MG 2018, do cargo PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA.
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO BÁSICA –
PEB – NÍVEL I – GRAU A
Terrorismo lógico
Antônio Prata
Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, na França. Se não houvesse imigrantes na França, não teria havido ataque ao “Charlie Hebdo”.
Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, eram filhos de argelinos.
Zinedine Zidane é filho de argelinos. Zinedine Zidane é terrorista. Zinedine Zidane é filho de argelinos. Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, eram filhos de argelinos. Said e Chérif Kouachi sabiam jogar futebol.
Muçulmanos são uma minoria na França. Membros de uma minoria são suspeitos do ataque terrorista. Olha aí no que dá defender minoria…
A esquerda francesa defende minorias. Membros de uma minoria são suspeitos pelo ataque terrorista. A esquerda francesa é culpada pelo ataque terrorista.
A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. O ataque terrorista fortalece a extrema direita francesa. A extrema direita francesa está por trás do ataque terrorista.
Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema direita francesa à liberdade de expressão – e aos erros de concordância nominal.
(Este último parágrafo não fez muito sentido. Os filmes do David Lynch não fazem muito sentido. Este último parágrafo é um filme do David Lynch.)
O “Charlie Hebdo” zoava Maomé. Eu zoo negão, zoo as bichinhas, zoo gorda, zoo geral! “Je suis Charlie!”
Humoristas brasileiros fazem piada racista, e as pessoas os criticam. “Charlie Hebdo” fez piada com religião, e terroristas o atacam. Criticar piada racista é terrorismo.
Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Numa democracia, é desejável que indivíduos ou grupos sejam ofendidos.
O “Charlie Hebdo” foi atacado por terroristas. A editora Abril foi pichada por meia dúzia de jacus. A editora Abril é Charlie.
Os terroristas que atacaram o jornal “Charlie Hebdo” usavam gorros pretos. “Black blocs” usam gorros pretos. “Black blocs” são terroristas.
“Black blocs” não são terroristas. A polícia os trata como terroristas. Os “black blocs” têm o direito de tocar o terror.
Os terroristas que atacaram o jornal “Charlie Hebdo” usavam gorros pretos. Drones não usam gorros pretos. Ataques com drones não são terrorismo.
Ataques com drones matam inocentes mundo afora. O “Ocidente” usa drones. É justificável o terror contra o “Ocidente”.
O ataque terrorista contra o “Charlie Hebdo” foi no dia 7/1. A derrota brasileira para a Alemanha foi por 7 x 1. O 7 e o 1 devem ser imediatamente presos e submetidos a “técnicas reforçadas de interrogatório”, tais como simulação de afogamento, privação de sono e alimentação via retal. Por via das dúvidas, o 6 e o 8 e o 0 e o 2 também.
Todo abacate é verde. O Incrível Hulk é verde. O Incrível Hulk é um abacate.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2015/01/1573334-terrorismo-logico.shtml. Acesso em:
2 fev. 2015.)
QUESTÃO 01
Leia as considerações abaixo, sobre o texto.
III. Em alguns parágrafos do texto, revela-se, de forma explícita, a defesa do autor ao combate ao terror do Ocidente.
Está CORRETO apenas o que se afirma em:
(A) I e II.
(B) I e IV.
(C) II.
(D) II e III.
(E) III e IV.
Comentário: A afirmação I está correta, pois o autor faz uma brincadeira com as premissas (duas frases iniciais) para chegar a uma conclusão irônica, como “O Incrível Hulk é um abacate.”, por exemplo.
A afirmação II está errada, pois o texto toma como objeto central de reflexão as diferenças e a intolerância.
A afirmação III está errada, pois o texto não apresenta, explícita ou implicitamente, a defesa do autor ao combate ao terror do Ocidente.
A afirmação IV está correta, pois o autor faz uma brincadeira com as premissas (duas frases iniciais) até chegar a uma conclusão inconsistente, apressada, sem lógica. Assim, entende-se uma crítica à fragilidade das generalizações e conclusões apressadas ou inconsistentes.
Gabarito: B
QUESTÃO 02
Do ponto de vista do gênero, o texto é:
(A) um conto.
(B) um texto de lógica filosófica.
(C) uma crônica.
(D) uma notícia.
(E) uma piada.
Comentário: A crônica é um gênero textual voltado ao comentário de assuntos atuais, rotineiros, de forma bem humorada ou crítica, como ocorreu neste texto. Assim, a alternativa (C) é a correta.
Gabarito: C
QUESTÃO 03
Em “Este último parágrafo não fez muito sentido”, o enunciador remete o leitor
(A) à falta de coerência da direita francesa.
(B) à quantidade de inferências que o parágrafo demanda ao leitor.
(C) aos aludidos problemas formais dos discursos de Marine Le Pen.
(D) aos filmes herméticos do diretor David Lynch.
(E) às relações e conclusões estabelecidas com o sobrenome de Marine Le Pen.
Comentário: A afirmação “Este último parágrafo não fez muito sentido.” Refere-se ao parágrafo:
Marine Le Pen é a líder da extrema direita francesa. “Le Pen” é “O Caneta”, se tomarmos o artigo em francês e o substantivo em inglês. Eis aí uma demonstração de apoio da extrema direita francesa à liberdade de expressão – e aos erros de concordância nominal.
Assim, a alternativa (E) é a correta, pois realmente o enunciador remete o leitor às relações e conclusões estabelecidas com o sobrenome de Marine Le Pen, conforme sublinhado e negritado acima.
Gabarito: E
QUESTÃO 04
Todas as alternativas abaixo trazem reformulações de trechos do texto sem comprometimento da orientação de sentido original, EXCETO em:
(A) “Black blocs” não são terroristas, mas a polícia os trata como terroristas.
(B) Humoristas brasileiros fazem piada racista, por isso as pessoas os criticam.
(C) Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar, ainda que algumas dessas expressões possam ofender indivíduos ou grupos.
(D) Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes e são suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, na França.
(E) Said e Chérif Kouachi, que são suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, eram filhos de argelinos, tal como Zinedine Zidane.
Comentário: A reescrita na alternativa (A) mantém o sentido original, pois se entende um valor adversativo entre os períodos sintáticos, por isso está correta a conjunção “mas”. Compare:
“Black blocs” não são terroristas. A polícia os trata como terroristas.
“Black blocs” não são terroristas, mas a polícia os trata como terroristas.
A reescrita na alternativa (B) mantém o sentido original, pois a conjunção “e” transmite, além da noção de adição, a de conclusão, efeito. Assim, cabe a substituição de “e” por “por isso”. Compare:
Humoristas brasileiros fazem piada racista, e as pessoas os criticam.
Humoristas brasileiros fazem piada racista, por isso as pessoas os criticam.
A reescrita na alternativa (C) não mantém o sentido original, pois se entende do texto que, numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Porém, algumas dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Assim, o segundo segmento contrasta com o anterior e não o abona. Na substituição por uma oração subordinada adverbial concessiva, passa-se a uma noção de aceitabilidade, isto é, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar, mesmo que algumas dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos. Assim, há uma mudança de sentido. Compare:
Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar. Algumas dessas expressões podem ofender indivíduos ou grupos.
Numa democracia, é desejável que as pessoas sejam livres para se expressar, ainda que algumas dessas expressões possam ofender indivíduos ou grupos.
A reescrita na alternativa (D) mantém o sentido original, pois apenas houve a inserção da conjunção “e” mantendo a ideia de adição original. Compare:
Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes. Said e Chérif Kouachi são suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, na França.
Said e Chérif Kouachi eram descendentes de imigrantes e são suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, na França.
A reescrita na alternativa (E) mantém o sentido original, pois apenas houve a inserção do pronome relativo “que” e da locução conjunção “tal como” mantendo a ideia de comparação original. Compare:
Said e Chérif Kouachi, suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, eram filhos de argelinos. Zinedine Zidane é filho de argelinos.
Said e Chérif Kouachi, que são suspeitos do ataque ao jornal “Charlie Hebdo”, eram filhos de argelinos, tal como Zinedine Zidane.
Gabarito: C
QUESTÃO 05
Todas as alternativas a seguir apresentam sugestões de reformulação do texto, entre parênteses, em consonância com a norma padrão do português, EXCETO:
(A) A extrema direita francesa demoniza os imigrantes. (Os imigrantes são demonizados pela extrema direita francesa.)
(B) A polícia os trata como terroristas. (A polícia trata-os como terroristas.)
(C) O “Charlie Hebdo” foi atacado por terroristas. (Terroristas atacaram o “Charlie Hebdo”.)
(D) O ataque terrorista contra o “Charlie Hebdo” foi no dia 7/1. (O ataque terrorista contra o “Charlie Hebdo” deu-se em 7/1.)
(E) Se não houvesse imigrantes na França, não teria havido ataque ao “Charlie Hebdo”. (Não teria havido ataque ao “Charlie Hebdo”, se não houvessem imigrantes na França.)
Comentário: A Alternativa errada é a (E), pois o verbo “haver”, no sentido de existir, não se flexiona no plural. Veja a correção:
Não teria havido ataque ao “Charlie Hebdo”, se não houvesse imigrantes na França.
Gabarito: E
QUESTÃO 06
Observe os excertos retirados do texto, atentando para os itens grifados.
III. Ataques com drones matam inocentes mundo afora.
Exercem a mesma função sintática os itens grifados em:
(A) I e II.
(B) I e III.
(C) I e IV.
(D) II e III.
(E) III e IV.
Comentário: Em I, a locução verbal “teria havido” é transitiva direta e a expressão “ataque ao ‘Charlie Hebdo’” é o objeto direto. Note que “ao ‘Charlie Hebdo’” é uma extensão do objeto direto, pois é um complemento nominal.
Em II, o verbo “é” é de ligação e “a líder da extrema direita francesa” é o predicativo.
Em III, o verbo “matam” é transitivo direto e “inocentes” é o objeto direto.
Em IV, “É” é verbo de ligação, “justificável” é o predicativo e “o terror contra o ‘Ocidente’” é o sujeito.
Assim, a alternativa (B) é a correta.
Gabarito: B
QUESTÃO 07
Assinale a alternativa em que o hífen tenha sido CORRETAMENTE utilizado na formação de compostos e na indicação de divisão silábica, em situação de escrita de um texto, tendo em conta que a barra sinaliza final de linha.
(A) malcom-/portado – cor-de-/rosa – mal-/-sucedido
(B) mesoclí-/tico – dois-/-pontos – pré-/datado
(C) pon/to-e-vírgula – anti-/-infeccioso – ante-/-projeto
(D) subu-/mano – hiper-/-realismo – mãe-d’á-/gua
(E) sub-/-locatário – pree-/xistente – geo-/histórico
Comentário: A questão cobra a chamada “translineação”, ou seja, a passagem de uma linha para outra.
Na translineação (ou seja, na passagem para a linha seguinte quando se está escrevendo um texto) de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, por clareza gráfica, se deve repetir o hífen no início da linha seguinte: vice-/-almirante (a barra sinaliza final de linha).
Assim, só cabe hífen antes e após a barra quando houver divisão silábica na palavra composta já com hífen.
A alternativa (D) é a correta, pois “subumano” não apresenta hífen. Assim, na translineação, há apenas um hífen antes da barra. Na palavra “hiper-realismo”, já há hífen, por isso há hífen antes e depois da barra. Na palavra “mãe-d’água”, há hífen apenas entre a primeira e a segunda palavra, por isso cabe apenas um hífen antes da barra.
Veja a correção de cada alternativa em negrito:
(A) malcom-/portado – cor-de-/-rosa – mal-/sucedido
(B) mesoclí-/tico – dois-/-pontos – pré-/-datado
(C) pon-/to-e-vírgula – anti-/-infeccioso – ante-/projeto
(E) sub-/locatário – pree-/xistente – geo-/-histórico
Gabarito: D
QUESTÃO 08
Em todas as alternativas, o hífen foi utilizado de forma incorreta ao menos uma vez, EXCETO em:
(A) sub-humano, micro-ondas, socioeconômico, sub-remunerado
(B) hiper-sensibilidade, ultravioleta, infravermelho, anticorrupção
(C) hipersensibilidade, inter-regional, super-aquecimento, inter-sindical
(D) contracheque, contragolpe, contra-reforma, contra-senso
(E) anti-inflamatório, anteprojeto, antiabortivo, anti-social
Comentário: A alternativa (A) é a correta, pois as palavras estão corretamente grafadas.
A alternativa (B) está errada, pois “hipersensibilidade” não apresenta hífen.
A alternativa (C) está errada, pois “superaquecimento” e “intersindical” não apresentam hífen.
A alternativa (D) está errada, pois “contrarreforma” e “contrassenso” não apresentam hífen.
A alternativa (E) está errada, pois “antissocial” não apresenta hífen.
Gabarito: A
QUESTÃO 09
Tendo em conta o Acordo Ortográfico de 1990, assinale a afirmativa CORRETA.
(A) No presente do indicativo, o acento circunflexo deixou de ser usado na terceira pessoa do plural de verbos como “crer”, “ler” e “ver”.
(B) Nos hiatos, o “i” e o “u” tônicos deixaram de ser acentuados graficamente sempre que antecedidos de ditongos.
(C) O emprego do trema foi completamente abolido.
(D) Os acentos diferenciais deixaram de ser empregados.
(E) Os ditongos abertos “eu”, “ei” e “oi” não são mais acentuados graficamente.
Comentário: A alternativa (A) é a correta, justamente porque “creem”, “leem” e “deem” perderam o acento circunflexo com o Acordo Ortográfico de 1990.
A alternativa (B) está errada, pois nos hiatos, somente o “i” e o “u” tônicos nas palavras paroxítonas deixaram de ser acentuados graficamente sempre que antecedidos de ditongos. As oxítonas, por exemplo, como “Piauí”, “tuiuiú”, são acentuadas.
A alternativa (C) está errada, pois o trema, em palavras como “Müller” e seus derivados “mülleriano”, permanece.
A alternativa (D) está errada, pois acentos diferenciais continuam a ser empregados, como em “têm”, “vêm”, “pôr”, “pôde”.
A alternativa (E) está errada, pois os ditongos abertos “eu”, “ei” e “oi” são acentuados graficamente, nas palavras oxítonas e monossilábicas tônicas.
Gabarito: A
QUESTÃO 10 Todas as alternativas trazem ocorrência(s) que contraria(m) o Acordo Ortográfico de 1990, EXCETO:
(A) hifen, tem, herói.
(B) hífens, creem, pólo.
(C) por do sol, contra-cheque, escarcéu.
(D) raízes, papéis, averigue.
(E) idéias, voo, chapéu.
Comentário: Na alternativa (A), a paroxítona “hífen” deve ser acentuada.
Na alternativa (B), a paroxítona “hifens” não tem acento e “polo”, com o novo Acordo Ortográfico de 1990, perdeu o acento.
Na alternativa (C), “pôr do sol” tem acento e “contracheque” não tem hífen.
A alternativa (D) é a correta, pois “raízes” tem acento no hiato, “papéis” tem acento por ser oxítona terminada em ditongo aberto tônico “éi”, seguido de “s”.
Na alternativa (E), “ideias” não deve receber acento, por ser paroxítona terminada em “a”, seguido de “s”.
Gabarito: D
Bom, pessoal!
Não vejo motivo de entrar com recurso nesta prova.
Como o dia 12/04 é o prazo de recurso e não comentei aqui a prova de Português específico, se você teve alguma dúvida naquela prova, coloque nos comentários o número da questão e a sua provável interpretação divergente da banca para auxiliá-lo/a, em recurso, se for o caso.
Grande abraço!
Décio Terror
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Ver comentários
Obrigada pelo esclarecimento em relação as questões! Essa correção excelente!
E sobre as questões de conhecimentos pedagógicos? Tem algum comentário?
Concordo essa banca é um Terror!!!!
A banca da fumarc é um terror
Obrigado!
oi poderia comentar sobre a questão numero 34 de língua portuguesa, prova especifica, tipo 2.
Adorei essa resolução, quero saber mais.