Chute em provas do Cespe: Vale a pena?
Aprenda se vale a pena o chute direcionado em provas do Cespe!
Olá pessoal, tudo bem?
Quem escreve é o Solino, engenheiro eletricista, Analista do Banco Central, mestre em Economia e coach aqui no Estratégia.
Nesse artigo irei mostrar que, em algumas circunstâncias, é possível fazer um chute direcionado em provas do Cespe.
O Cespe é, para muitos, a banca mais temida em concursos públicos.
Isso ocorre tanto pela abordagem mais conceitual e doutrinária de suas questões, como pelo fator de correção de uma questão errada anular uma questão certa.
Irei ilustrar se há balanceamento de respostas certas e erradas em concursos do Cespe com um levantamento de quatro de concursos dessa banca em 2018 e 2019.
Convenções para a análise de balanceamento
Considerei um gabarito balanceado para uma disciplina quando a quantidade de itens certos for igual a quantidade de itens errados.
Quando a quantidade de questões de uma disciplina for ímpar, considerei uma prova balanceada quando a diferença da quantidade de itens certos e errados for igual a 1 (um). Por exemplo, a distribuição de 7 questões certas e 6 erradas foi considerada como balanceada.
Para fazer essa análise, eu levei em consideração o gabarito preliminar pois, obviamente, a banca não sabe quais itens serão anulados.
Resultado ilustrativo
Para ilustrar o gabarito balanceado, veja esse levantamento com quatro provas do cespe para áreas distintas.
Segue a minha interpretação desses resultados e uma inferência sobre o comportamento de provas do Cespe:
- Observamos que as disciplinas são, em geral, balanceadas entre certas e erradas.
- Entretanto, dificilmente TODAS as disciplinas são balanceadas. Temos, na média, duas disciplinas não balanceadas por concurso
- Não observamos um balanceamento 60/60 no grupo de disciplinas na prova básica e na prova específica
- Raramente o balanceamento é de 60/60, sendo o mais comum o padrão 58/62 e 57/63
Racional para o balanceamento do Cespe
Para explicar a lógica que o Cespe utiliza para balancear as questões eu te convido para que você se coloque na “pele” da banca.
Se você fosse o examinador, você certamente não gostaria de aprovar um candidato que chutasse todas as questões e corresse o risco de ser aprovado, concorda?
Pense em uma prova que não tivesse a restrição do balanceamento. Por exemplo, o Cespe aplicou 1.252 provas nos últimos 10 anos do tipo Certo e Errado.
Se em alguma dessas provas houvesse uma distribuição de 100 questões certas e 20 erradas, por exemplo, e um candidato tivesse chutado todas as questões como certo, ele teria uma nota de 80 pontos de 120.
Dessa forma, ele teria, provavelmente, uma das maiores notas na prova objetiva. Se você fosse o diretor geral do Cespe, você correria esse risco?
Logo, estatisticamente, a quantidade de questões certas do gabarito deve ser (muito) próxima da quantidade de questões erradas para que um candidato sem nenhum conhecimento possa ser aprovado na prova objetiva por meio do chute.
Já vimos que ocorre o balanceamento de gabarito por disciplina. Agora, vamos entender o motivo de ocorrer o balanceamento por um argumento estatístico.
Vamos exemplificar essa situação com o edital de escrivão da PCDF de escrivão de 2019. Temos dez disciplinas nesse edital, entre elas o Inglês.
Para fins de ilustração, vamos considerar uma prova com 4 itens para essa disciplina.
Temos, portanto, 16 possibilidades de gabarito (exemplo: CCEC, CCCE, etc.), pois temos uma combinação de 4 questões com 2 tipos de gabarito. (Para maiores explicações, veja a aula sobre probabilidade em um curso de RLM do Estratégia).
Entretanto, temos cinco casos possíveis em termos de pontuação para um chute com o mesmo gabarito:
- Caso 1 – Acerta as 4 questões => pontuação: 4
- Caso 2 – Acerta 3 questões e erra 1 questão => pontuação: 2
- Caso 3 – Acerta 2 questões e erra 2 questões= > pontuação: 0
- Caso 4 – Erra 3 questões e acerta 1 questão => pontuação: -2
- Caso 5 – Erra as 4 questões => pontuação: -4
Usando o princípio de contagem, temos as seguintes probabilidades para cada um desses casos:
Veja que o caso com a maior probabilidade é aquele em que o candidato fica com uma nota zero (37,5%).
Logo, a melhor escolha estatística para a banca é o caso do balanceamento de questões.
Mas por qual motivo a banca não faz o balanceamento de gabarito para todas as disciplinas?
Já temos a intuição que a distribuição de gabarito de todas as questões será algo como 57/63, 58/62, 59/61 ou 60/60.
Um motivo que pode levar o Cespe a não balancear todas as questões é gerar maior incerteza de qual disciplina terá o gabarito balanceado.
Isso explica que, em geral, uma ou duas disciplinas não possuem o gabarito balanceado.
Uma implicação do padrão de balanceamento do Cespe é quando um candidato não estuda algumas disciplinas e chuta a quantidade que falta tendo em vista o balanceamento para toda a prova.
Por exemplo, considere que um candidato fez 110 questões e deixou 10 em branco. Vamos supor que a distribuição de questões do candidato seja 60 erradas e 50 certas, sendo que todas as questões em branco sejam da mesma disciplina.
Esse candidato poderia chutar as 10 questões como certas e obter uma distribuição de 60/60.
Dessa forma, como a expectativa é que o gabarito seja balanceado para as disciplinas, a nota do candidato tende a ser zero para o seu chute.
Portanto, a estratégia de chute mais conhecida pelos concurseiros tende a não ter efeito.
Estratégias para o chute direcionado
Agora que você já conheceu o “segredo” do Cespe sobre o balanceamento de questões, a pergunta relevante é: devo chutar em provas do cespe para alguma disciplina?
Para auxiliar a sua decisão irei traçar três cenários de alunos para a PCDF.
Caso 1: Candidato que não sabe nem errar
Se você não tiver estudado nada de uma disciplina, o resultado do seu chute tende a ser zero.
Nesses caso, tanto faz você chutar ou não chutar, a sua nota não tende a mudar com o chute.
Caso 2: Candidato que estudou superficialmente uma disciplina e for muito avesso ao risco
Se você estudou de uma forma mais superficial uma disciplina, não fez muitas questões anteriores e não sente segurança nas questões dessa disciplina durante a prova, a chance de você acertar algumas questões e contar com a probabilidade de ganhar algum ponto com o chute direcionado é baixa.
Isso pode ser agravado se você for mais avesso ao risco e, de alguma forma, o chute pelo balanceamento mexer com o seu emocional. Nesses casos, pode não valer a pena arriscar o chute por balanceamento por disciplinas
Caso 3: Candidato fechou o edital e está bem preparado
Agora, caso o candidato tenha “fechado” uma disciplina, tenha feito centenas de questões dessa disciplina na sua preparação e tenha, na reta final, um desempenho acima de 80% de acertos, faz sentido ele usar o chute direcionado por balanceamento para direcionar a resposta em alguns itens que ele possa estar um pouco mais inseguro.
Para isso, eu sugiro o seguinte passo a passo para a estratégia de chute direcionado:
1. Resolva as questões da disciplina
2. Marque com um asterisco as questões que você estiver mais inseguro
3. Faca uma tabela com os dados das questões certas, erradas e com asterisco. Veja esse exemplo para um caso hipotético de Inglês
4. Chute as questões em asterisco a fim de obter um balanceamento entre questões certas e erradas. No nosso exemplo, o candidato iria chutar a questão como errada.
É importante destacar, também, que é preciso que você tenha um bom ritmo para a resolução de questões, pois, em muitos casos, a prova discursiva ocorre no mesmo momento da prova objetiva.
O momento ideal para fazer o chute direcionado é ao final da prova objetiva e discursiva, antes que o candidato coloque a suas respostas na folha definitiva do gabarito.
Tenha consciência de o quanto mais você tiver estudado a disciplina, maior será a probabilidade de você obter êxito com o chute direcionado.
Por fim, eu recomendo que você treine o chute direcionado e que você faça a sua avaliação pessoal.
Para isso, resolva questões de uma prova inteira para uma disciplina.
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