Em entrevista à FOLHA DIRIGIDA, o sindicalista classificou a situação de pessoal da regional como preocupante e disse temer pelo futuro, devido à previsão de que muitos servidores se aposentam nos próximos anos. No Rio de Janeiro, acredito que seria necessário aumentar o efetivo atual em, pelo menos, um terço, ou seja, mais uns 200 servidores. Algo como uns 30 técnicos, 150 analistas e 20 procuradores, estimou Monteiro, que afirmou que o sindicato fará pressão por vagas para o estado.
FOLHA DIRIGIDA – O BC vem sofrendo há anos com o elevado número de aposentadorias e consequente déficit de pessoal em todas as suas dez regionais. Como está essa situação no Estado do Rio de Janeiro?
João Marcus Monteiro – Aqui está preocupante. Há setores em que você tem coordenador com dois funcionários só, quando um estudo do próprio Banco Central, de idos dos anos 90, já determinava um número mínimo de seis servidores para cada coordenação, com um limite máximo sugerido de 12. Então, nem isso está sendo suprido. E aqui no Rio, não tenho o número absoluto, mas provavelmente 90% do pessoal que vai ter condição de se aposentar, vai exercer esse direito. Há uma perda de conhecimento do trabalho, porque os servidores vão embora e se não houver funcionários para repassar perde-se o modus operandi deles. Isso é um elemento complicador. É preciso que haja mais concursos e que venham mais pessoas para o Rio.
Segundo dados do banco, há cerca de 590 servidores aqui no estado. Esse número é suficiente?
Não, porque se acumula serviço. Aqui já chegou-se a ter mais de 900 servidores na ativa. Isso lá pelo início do governo Fernando Henrique Cardoso. Com as reformas, no final do primeiro mandato do Fernando Henrique muita gente saiu.
Quais são as áreas que mais sofrem com a falta de pessoal no Rio?
A área de fiscalização de bancos e instituições financeiras sofre. É uma área muito procurada e sofre porque não tem vindo gente para o Rio nos concursos. Isso é um problema sério. O setor de pessoal também tem carecido muito de pessoal. São principalmente esses dois.
De que forma essa defasagem no quadro se reflete no dia a dia dessas áreas?
Na área de pessoal, acaba interferindo na qualidade do atendimento ao servidor. Há um esvaziamento da regional. E isso também acontece em outras regionais. O Rio já foi sede e também a regional mais importante. Era onde havia o maior número de funcionários. Hoje, a principal é São Paulo, que cresceu porque as instituições financeiras tiraram as suas sedes do Rio e foram para São Paulo. Em termos de fiscalização, com a redução do número de fiscais, evidentemente, o serviço também começa a cair de qualidade e também passa a aumentar a sobrecarga para quem fica. É um problema de difícil contorno. Tem que vir mais gente para a fiscalização, embora hoje seja tudo informatizado.
Há prejuízos na fiscalização?
O pessoal que fica acaba suprindo a necessidade. Trabalham mais, mas suprem. Só que aumenta o serviço sem aumentar o salário. Estamos com defasagem. Hoje, a gente ganha 20% menos do que ganhava em 1994. O governo vem alardeando que temos gordura para queimar, mas isso não é verdade. Havia mais beneficies naquela época do que há hoje. Em 94, havia licença prêmio, abono e várias outras beneficies conquistadas ao longo dos anos e que com o subsídio acabaram.
E o senhor acredita que essa sobrecarga está no limite, sendo necessária a reposição de servidores para que a fiscalização não fique prejudicada?
A nossa preocupação é mesmo com o futuro, porque no presente, apesar de tudo, o Banco Central vem funcionando bem, a ponto de ser considerado o melhor banco central do mundo. É considerado internacionalmente como um modelo de banco central. Ele tem sido muito elogiado. Só o governo que não reconhece isso. Na hora de cortar custos, eles sempre pensam no servidor.
O chefe adjunto do Departamento de Gestão de Pessoas, Delor Moreira dos Santos, disse estar convicto de que por meio do concurso serão colocados servidores em todas as praças, inclusive no Rio de Janeiro…
É, pode ser que agora com o sindicato questionando a política do banco, ele comece a tomar nova postura, porque até então não era assim.
E de que forma o sindicato tem lutado ou pode lutar para que a oferta de vagas para o Rio no concurso seja adequada às necessidades do estado?
Nós estamos vendo onde há falhas e estamos cobrando do banco. Estamos fazendo um estudo sobre a falta de funcionários. Com relação à desvalorização das regionais e valorização da sede, o banco diz que não está fazendo isso, mas estamos vendo que está. O BC aprovou em 2004 um programa de qualidade de vida para o servidor e acabou não levando à frente, chegando até a pensar em acabar com ele. O Sinal é que está cobrando do banco a sua implementação. A valorização das regionais inclui isso. Tem que se ter um número suficiente de funcionários, porque senão sobrecarrega quem fica, o que em termos de qualidade de vida é prejudicial. Há muitos servidores afastados por questões de saúde.
O Rio é a terceira praça do BC em número de servidores. É possível dizer que é também a terceira em ordem de importância para o desempenho das atribuições do banco?