Aprovada no ICMS SC! Minha trajetória – do zero até o sonho realizado
Olá, pessoal! Meu nome é Daniela Garrido, sou formada em Gestão Financeira, estou cursando o terceiro ano de Ciências Contábeis e recentemente fui aprovada no ICMS SC (2018). Meu caminho no mundo dos concursos foi um tanto inusitado, então espero mostrar a todos que estão na luta pela aprovação que essa conquista é possível, mesmo para quem ache que não é capaz! Nos próximos dias, vou escrever um pouco sobre algumas coisas diferentes que utilizei no meu estudo e que acredito que possam ser interessantes, mas hoje vou contar um pouco da minha história.
O início
Comecei a pensar em estudar para concursos no segundo semestre de 2016, enquanto estava no início do curso de Ciências Contábeis. Entrei na faculdade aos 33 anos de idade, pois estava cansada de uma vida profissional marcada por incertezas. Tendo trabalhado desde o final do ensino médio exclusivamente como freelancer, atuando principalmente como tradutora e cantora, passei a ter preocupações com o futuro, já que a natureza inconstante do que eu fazia impossibilitava planos, não me permitia ter férias ou finais de semana e me fazia ter um medo permanente de como seria minha vida a longo prazo. Influenciada pelo meu pai, que é funcionário público aposentado, decidi pesquisar sobre o serviço público.
Inicialmente, minha única intenção era uma boa remuneração e estabilidade, como a grande maioria que quer passar em um bom concurso. Porém, eu sabia que isso não me motivaria por muito tempo. Eu precisava encontrar um cargo do qual eu realmente gostasse, pois eu sabia se fosse “apenas” pela remuneração, eu acabaria desistindo dos estudos a longo prazo. Foi então que descobri o cargo de auditor fiscal. Imediatamente me apaixonei e vi que era algo que eu teria orgulho de fazer.
O cargo estava escolhido! Agora era só estudar e passar, certo? Só havia um problema… apesar de nunca ter tido problemas na escola, eu tinha trauma de matemática. Evitava cálculos a todo custo e os números estavam bloqueados na minha vida de tal forma que eu havia esquecido até mesmo como somar frações. Tive que assistir a um vídeo pra reaprender a fazer uma simples divisão de números com casas decimais. Eu achava que nunca seria capaz de conseguir assimilar Raciocínio Lógico e Estatística, e ainda tinha aquele monte de coisa que eu também nunca tinha visto. Depois de alguns dias de pânico, respirei fundo e decidi encarar o monstro – mesmo com a crença de que eu era “ruim” em Exatas, prometi a mim mesma que não desistiria sem tentar, e passei a enxergar exercícios de RLQ como um jogo de Sudoku. Era um quebra-cabeça. Com essa nova visão, minha crença de ser limitada com números passou a se tornar uma crença de que eles se tornariam meu ponto forte, e aos poucos meu trauma foi se desfazendo, ao passo que eu aplicava essa nova forma de enxergar as dificuldades em todas as matérias. Passei a não dizer mais que uma matéria era difícil: era apenas nova, desconhecida, o que estimulou minha curiosidade e me fez gostar de estudar.
Os desafios
No final de 2016, comprei materiais para a Receita Federal, mas só comecei a estudar de forma disciplinada e organizada em julho de 2017, quando passei a contar com a ajuda da minha coach. Cronometrava 6 horas de estudos 6 dias por semana, tirando um dia pra descansar. Conciliava isso com minhas traduções e com os trabalhos na indústria musical, tanto como cantora quanto como gerente de outras bandas. Nem sempre conseguia bater minhas metas porque minha rotina era imprevisível, mas eu tentava fazer o melhor possível. Eu procurava manter a disciplina, mesmo quando estava cansada ou desconcentrada. Estudei quando faltou luz, estudei quando passei 19 noites com minha avó no hospital quando ela se recuperava de uma cirurgia. Meu namorado e minha mãe chegaram a me perguntar se eu absorvia alguma coisa quando estudava naquelas condições. Eu fui sincera e disse que não, mas que era melhor estudar em condições ruins do que não estudar. Felizmente, tive boas condições durante a maior parte do tempo, mas manter o ritmo intenso mesmo quando o ambiente não era adequado me ajudou a evitar a procrastinação, e aos poucos fui aprendendo a lidar com desafios.
O maior deles foi no início de 2018, quando inesperadamente tive que fazer uma viagem a trabalho para o exterior. Devido aos estudos, eu não estava dando muita atenção à minha carreira musical, mas sem que eu planejasse, minha banda foi contratada para uma turnê de 2 meses nos Estados Unidos, com shows quase todos os dias. Nesses 2 meses, minha casa seria um motorhome.
Eu não tinha como recusar, porque eu havia optado pelos estudos, mas não seria justo impor minha opção às outras pessoas que trabalhavam no grupo. A escolha era apenas minha. Eu, sozinha, havia decidido que queria ser auditora fiscal e que a música seria apenas um hobby. Não seria correto prejudicar a carreira dos meus colegas porque eu queria estudar, e a turnê não aconteceria sem mim naquele momento. Então fiz a loucura – decidi estudar no motorhome. Fiquei com o quarto nos fundos, longe do barulho, e estudava na estrada. Segui cronometrando minhas 6 horas. Não aprendi nada, é claro. Mas não perdi o hábito de estudar. Eu sabia que não voltaria a pegar nos livros e PDFs se ficasse longe deles por 2 meses, e o fato de ter conseguido manter o ritmo me deu forças, porque descobri que estava mais determinada do que eu imaginava.
Meus métodos e a evolução
Continuei estudando completamente focada na Receita Federal. Desde o começo, todo o meu estudo foi direcionado para o edital de 2014 da RFB. Eu não planejava estudar para fiscos estaduais, pois tinha medo de sair do foco e o edital da Receita Federal sair. Fui consolidando aos poucos as matérias. Eu não gostava de fazer resumos, não conseguia fazer anotações curtas, mas gostava muito de ler, e mesmo depois de ter lido todos os PDFs ou um livro inteiro, eu voltava ao início para ler só o que havia marcado para revisar, mas acabava me empolgando e lendo tudo de novo. A cada nova leitura, eu “descobria” algo que não tinha observado anteriormente ou entendia algo que tinha ficado um pouco pra trás. Intercalava essas leituras com resoluções de questões, procurando entender cada detalhe daquilo que eu errava. Não sei quantas questões resolvi ao todo, nem sei quantas vezes li o material. Perdi as contas. Só sei que não foram poucas… rs
O edital do ICMS SC e a grande decisão
No início de setembro de 2018, saiu o edital do ICMS SC. Senti um ânimo repentino. Não sei explicar o porquê. Eu estava com uma base forte por causa do estudo para a RFB, mas nunca havia sequer estudado a Lei Kandir. Nunca havia estudado TI. Mas eu tinha que tentar. Não podia deixar essa prova passar sem ao menos tentar. Se eu tivesse sucesso, tudo bem. Não era meu foco, seria minha primeira prova e a experiência me faria bem. Não tinha pretensão de ser aprovada, teria apenas 2 meses entre o edital e a prova, mas levei a sério mesmo assim. Apesar de achar que não estava pronta, passei a estudar literalmente o tempo todo, porque queria ver o resultado que alcançaria se desse tudo de mim. Comecei com planos de aumentar minha carga horária para 8 horas líquidas todos os dias, eliminando meu descanso semanal, mas acabei estudando muito mais do que isso, porque cronometrava as 8 horas, mas continuava estudando depois disso, ainda que de uma forma mais descompromissada. Continuava lendo uma lei ou estudando de uma maneira superficial alguma matéria que não era prioridade. Tomava café da manhã estudando, tomava banho escutando aulas em vídeo, deitava pra dormir lendo uma lei seca, pegava no sono com a lei ou o leitor de ebook na mão. Quando acordava, o material frequentemente ainda estava na minha mão, então eu já começava de novo rs. Não trabalhei durante esse período. Eu já havia avisado meus colegas de música que “sumiria” quando saísse o edital, e não aceitei trabalhos de tradução. Gastei todas as minhas reservas financeiras com cursos pós-edital. Minha coach me incentivou. Disse que seria difícil, mas que eu poderia chegar competitiva se me esforçasse pra tirar o atraso. E a intenção de ganhar experiência se transformou em uma obsessão pela aprovação.
O final de semana das provas
Eu estava confiante e com a consciência tranquila. Sabia que tinha feito meu melhor. Se a aprovação não viesse, não teria sido por falta de esforço, e eu poderia usar meu desempenho para analisar o que corrigir. Fui um dia antes para Joinville, revisando no caminho alguns PDFs que eu havia marcado.
No sábado, 17 de novembro, foi a primeira prova. Saí da sala arrasada, com uma sensação imensa de derrota. Fiquei tão abatida por ter tido que chutar algumas questões de Economia que achei que meu desempenho ficaria muito abaixo do que eu havia planejado. A segurança que eu tinha com Direito Administrativo e Constitucional foi embora. Estatística, então… eu estava firme antes da prova, mas na hora achei que não acertaria nada. Resolvi as questões, mas o baque me fez duvidar da minha capacidade, e eu voltei para o hotel desanimada. Respirei fundo, e procurei lembrar a mim mesma que eu não havia estudado Economia e mesmo assim havia respondido ao menos 7 das 15 questões com segurança (acabei acertando 8), e que meu estudo pós-edital havia sido completamente focado nas matérias de pesos 2 e 3, que seriam cobradas nas provas do domingo. Fiquei calma novamente e comecei a raciocinar friamente. Meus maiores trunfos eram Direito Tributário e Contabilidade, que seriam metade da P2. Se eu fosse bem em Legislação Tributária Estadual, que seria a outra metade da P2, eu estaria na briga. Portanto, a luta, para mim, começaria mesmo na manhã de domingo.
Fui a primeira a entrar na sala e fiquei calma, concentrada, aguardando a entrega das provas. Quando elas foram entregues, olhei a prova toda antes de começar a resolução. A confiança voltou. Eu havia resolvido tantas questões de Direito Tributário que era como se estivesse fazendo apenas mais uma bateria de questões. Havia lido a Legislação de Santa Catarina tantas vezes que estava com a danada praticamente decorada. E saí da sala com uma sensação completamente diferente daquela do dia anterior. Agora sim estávamos “conversando”! rs
A terceira prova estava difícil para mim, especialmente TI, porém já estava mais “cascuda” e a dificuldade da terceira prova não me atingiu emocionalmente. Manter o equilíbrio foi essencial, pois pude resolver tudo com calma.
Depois da prova
Optei por não anotar uma cópia do gabarito antes de entregar a prova e me arrependi amargamente! Eu lembrava de tudo que eu tinha respondido, exceto uma questão de TI! Vendo a prova em casa, eu sabia que teria marcado a resposta correta, mas estava em dúvida se tinha pensado da mesma forma na hora da resolução. Então fiquei desesperada, em dúvida se havia feito 420 ou 423 pontos. Achei melhor, pra minha sanidade, não contar com aqueles 3 pontos, assim não me decepcionaria se tivesse errado.
O resultado e a aprovação
Não consegui dormir na noite anterior ao dia da divulgação do resultado. Peguei no sono quando já era dia e mesmo assim logo acordei. Decidi ver se o resultado já tinha saído… e tinha! Entrei no site da FCC, olhei os nomes na ordem de classificação… então vi Daniela. Pensei: “Não acredito. Meu nome. Eu devo estar vendo coisas. É meu nome. Eu fui aprovada. Estou dentro das vagas. EU PASSEEEEEEEEEEEEEIIIII!!!” rs. E com direito a uma cereja em cima do bolo: 13 acertos em 15 em Raciocínio Lógico, Crítico e Estatística. Acertei todas as questões de Estatística. Há 2 anos, eu estava brigando com as frações…
Resumo da ópera
Pra quem não tem paciência pra ler toda essa história (e olha que eu resumi rs), o principal é: estude do jeito que der, como puder, onde estiver. As condições muitas vezes não estarão nem perto do ideal. Muitos dos meus colegas aprovados viveram situações muito mais difíceis do que as minhas. Apenas estude, sem pensar SE vai conseguir. Estude sabendo que VAI conseguir, mais cedo ou mais tarde. Depende apenas da sua determinação, da sua resiliência, da sua persistência. Não pense em como vai ser difícil. Só pense em como vai ser legal quando você entender aquele assunto complicado. O processo fica mais fácil se for encarado como um passo de cada vez. Não há distância que não possa ser percorrida, se você der apenas um passinho por dia. Faça seu melhor, a aprovação espera por você.
Um abraço e nunca se esqueça de que só quem determina os limites somos nós mesmos!
Daniela Garrido