AFT: “fiscalizar sem fiscalizar”
Fiscalizar sem fiscalizar, o que seria isso?
No Brasil, quando se fala em “fiscal” ou “auditor-fiscal”, logo se imagina o fiscal entrando na empresa, olhando documentos, conversando com os empregados, inspecionando máquinas e locais de trabalho. Ou ainda mais, pensa-se na pessoa que vai “meter o pau” ou “ferrar” a empresa.
A Inspeção do Trabalho não tem Auditores-Fiscais do Trabalho (AFTs) para ir a todos os empregadores “fora da lei”, mas frequentemente é convidada para participar de palestras, debates, conferências, seminários. Aqui é que entra o “fiscalizar sem fiscalizar”.
Acreditamos que a Fiscalização do Trabalho deve aproveitar essas oportunidades para mostrar à sociedade a importância do trabalho do AFT. Com isso, podemos trazer para o nosso lado entidades de classe, sindicatos, conselhos e até mesmo empregadores.
Hoje, estamos brigando por aumento de salários. No momento, aumento de salários não “cheira bem” para a sociedade. Mas quem seria contra esse aumento se soubesse o que o AFT faz pelos trabalhadores: salva vidas, salva dedos, salva braços e pernas, recompõe salários, devolve direitos, etc.
Ora, salva vidas, dedos, braços, pernas ao interditar máquinas ou embargar obras que estão levando grave e iminente risco aos trabalhadores. Recompõe salários auditando folhas de pagamento. Devolve direitos fazendo com que o empregador cumpra a legislação trabalhista.
O “fiscalizar sem fiscalizar” é fazer com que a sociedade conheça o trabalho do AFT. Esse conhecimento pode fazer com que mais pessoas apoiem nossas ações de fiscalização e, talvez, tenhamos mais pessoas cobrando mudanças de atitude dos empregadores “fora da lei”.
O “fiscalizar sem fiscalizar” é ir ao encontro da sociedade e mostrar a cara da fiscalização, mostrar que existimos, o que fazemos. Temos que mostrar à sociedade como somos importantes para o desenvolvimento do país.
Ah! Mas eu não teria coragem de falar em público!
Se falta coragem para falar em público, aprende-se a tê-la. Aliás, aprendemos tudo o que queremos aprender. Afinal, não estudamos várias disciplinas “esquisitas” para passar num concurso?
Na minha realidade, estamos indo a todos os encontros em que somos convidados. Não importa se a participação seja de mero ouvintes, mas estamos lá mostrando que existimos. Vamos a um exemplo disso.
Recentemente, fomos convidados para participar de um evento do SENAR para empregadores e produtores rurais. Não estava na programação a fala da Auditoria do Trabalho. Mas como estávamos lá, nos foi dado poucos minutos para falarmos do nosso trabalho na área rural. Falamos. E, nossa fala não ficou somente nesses poucos minutos, ela se estendeu posteriormente, pois muitos participantes vieram perguntar sobre a fiscalização do trabalho na área rural.
Dessa pequena fala surgiu a oportunidade de participarmos de outros eventos do SENAR no futuro. Ainda mais, fomos convidados a palestrar para todos os instrutores do SENAR de Rondônia no próximo treinamento de reciclagem desses profissionais.
Os instrutores do SENAR trabalham diretamente com empregadores rurais, produtores rurais e empregados rurais. Eles estão no campo em seu dia a dia. Será a oportunidade para explicarmos a eles o que é o trabalho escravo na área rural. Assim, se eles, em suas tarefas diárias, encontrarem algum tipo de trabalho escravo, possivelmente, trarão essa informação para nós. Talvez a Fiscalização do Trabalho passe a ter olhos onde talvez não conseguisse chegar.
Informamos que o “fiscalizar sem fiscalizar” é o nome que estamos dando ao trabalho do AFT que não seria o “ir até a empresa”. Seria o “ir até a sociedade”. Muitos incansáveis AFTs lutam todos os dias para dignificar nosso cargo. Então, nada mais justo que a sociedade tome conhecimento do que fazemos pelos trabalhadores brasileiros.
Por último, informamos que não inventamos nada, apenas copiamos o que inúmeros AFTs já fazem Brasil afora. Afinal, quem não é visto, não é lembrado.
Muitos podem estar se perguntando agora: esse tipo de ação (atuação) do AFT está certo ou está errado?
Bem, isso é outra história que podemos discutir aqui no futuro.
Até breve.