“Eu aconselho primeiramente a entender seu perfil e contexto. Você só quer dinheiro e curtir a vida? Você quer construir algo? Não há resposta certa ou errada, apenas a sua. Depois dessa resposta e com suas características pessoais, naturalmente você vai entender qual é a área que você se encaixa. Siga firme nela”
Confira nossa entrevista com Thiago Luis, aprovado no concurso da PF para o cargo de Papiloscopista:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Thiago Luis: Sou carioca, 29 anos, formado em engenharia de petróleo pela UFF e com MBA em Processos de negócios pela FGV.
Desde a faculdade meu foco era gerenciamento de projetos. Trabalhei 1 ano e meio como Scrum Master (papel na coordenação de projetos de desenvolvimento de software).
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos? Por que a área Policial?
Thiago: Minha trajetória começou em janeiro de 2017. Comecei a estudar junto com 2 amigos para o cargo de agente da Polícia Federal. Nesse período eu ficava full time para estudar.
No começo de 2018 eu consegui trabalho na área de projetos de desenvolvimento de software e, com a mudança drástica no edital da PF, acabei abandonando os estudos para o concurso daquele ano.
Fui desligado da minha empresa na metade de 2019. Fiquei um ano e meio batalhando para voltar ao mercado de trabalho, mas sem sucesso.
Minha família sempre me orientou no sentido de voltar a estudar para concurso público, mas relutava por já ter construído uma base forte na minha área (tinha experiência e um MBA – caríssimo que ainda estava pagando – relacionados à área).
No final de 2020, em novembro, minha chave virou. A desilusão pelo setor privado e a lembrança do deslumbramento que tive de pensar em trabalhar na PF na época me fizeram tomar a melhor decisão da minha vida profissional. Voltei meu foco totalmente para o concurso da PF, agora para o cargo de Papiloscopista – o qual mais se adequava ao meu perfil.
A Polícia Federal me dá duas coisas de que preciso e que acho primordial para escolha de carreira: propósito e tesão. Eu me vejo útil e fazendo algo de valor trabalhando na PF, algo significativo. É para isso que a vida serve no fim das contas, pois nada mais fica depois que você morre, apenas o produto de seu trabalho. O tesão em imaginar o dia a dia traz a certeza que motivação para a essa jornada de longo prazo perdurará. Eu sentia essas duas coisas em meu antigo trabalho e sinto agora em relação à Polícia Federal.
Óbvio que o salário alto me chama a atenção, porém, para quem ganhava R$2.800,00 e – depois de pagar todas as despesas – tinha sobrando uns 300 reais para gastar no mês e estava feliz para caramba na época, o salário é a última coisa que move. Ele serve como base, pois com uma vida financeira estável, você consegue o foco para construir o que te dá tesão e propósito. E se você conseguir isso tudo em um só lugar? Bem, eu achei na Polícia Federal.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Thiago: Em ambas épocas (2017 e 2019) eu fiquei tempo integral estudando. Minha mãe foi quem me deu base nas duas ocasiões para que isso fosse possível.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Thiago: A Polícia Federal foi o primeiro e único.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados(as) na primeira fase do certame?
Thiago: Por incrível que pareça, a sensação foi de alívio, um enorme alívio. Minha sensação 2 semanas antes era de que eu passaria, mas essa sensação estava junto com uma ansiedade a mil que me fazia pensar em tudo o que poderia dar errado.
Saí da prova com uma incógnita na minha cabeça, pois tudo o que havia planejado para a execução dela não aconteceu. A matéria que imaginava gabaritar (estatística) foi um desastre e a matéria em que imaginava me permitir deixar questões em branco foi mais fácil do que imaginava (informática)… saí não sabendo o que havia acontecido na real.
Com todos esses ingredientes somados ao fato de eu ser uma pessoa extremamente cautelosa (imaginando as outras etapas que poderiam me eliminar), a sensação foi apenas alívio, mas foi um imenso alívio. Uns 40 quilos saíram das minhas costas naquele momento.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Thiago: Eu voltei meu foco para a prova dia 23 de novembro de 2020 e a prova seria inicialmente em março.
Com esse contexto em mente, eu sabia que minha postura não poderia ser outra senão uma extremamente radical. Eu recomendo? Sim e não.
Não, porque é uma rotina nem um pouco saudável e que desgasta o psicológico querendo ou não. A pandemia mostrou o quanto somos necessitados de contato social.
Sim, porque foi efetivo, mas foi efetivo por eu ter um perfil muito sereno e conseguir controlar minha ansiedade.
Eu praticamente abdiquei do contato social. Isso, somado a uma disciplina rígida que estabeleci de estudos trouxe um estresse psicológico muito grande, mas uma produtividade nos estudos que eu precisava por conta do tempo curto até a prova.
Quando a prova foi adiada para maio, eu senti o golpe do desgaste. Desmoronei por alguns dias. Fiquei uma semana de folga para recarregar as energias e me restabelecer. Precisei me preparar psicologicamente para mais 3 meses de estudos.
Imagino hoje que, se a prova fosse novamente adiada, eu não sei se conseguiria aguentar mais a rotina que estabeleci. Estava no meu limite dias antes da prova. Um estresse que nunca havia experimentado, não dormia uma noite inteira mais. Estava borbulhando.
Me arrependo? Não. Eu recomendo? Se for para outro Thiago, sim. Mas para os concurseiros em geral, não. Não por eu me sentir especial ou muito foda, é por conta do perfil, das minhas características que me permitiram aguentar esse doloroso caminho.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Thiago: Sou solteiro e acho que isso foi um fator importante para que minha estratégia desse certo. Não imagino eu conseguindo fazer o que fiz estando namorando. Claro que sei que cada namoro é único e há mulheres que entendem, aceitam e apoiam nessas horas; mas 6 meses de pouquíssimo contato é muito difícil de acontecer, principalmente no contexto em que se deu esse concurso, com adiamentos de prova e tudo. Naturalmente imagino uma divisão de atenção, o que impactaria sim na jornada.
Quem mais me apoiou foi minha mãe. Ela é maravilhosa e não pensou duas vezes em me acolher de novo. Me apoiou e me financiou nessa minha jornada. Posso dizer tranquilamente que sem ela nunca teria condições de passar na prova. O restante da família torcia e entendia meu distanciamento.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior?
Thiago: Para mim é óbvio que não. É importantíssimo definir a área para a qual você vai estudar (policial, fiscal, bancária…) e fincar nela. O foco é primordial para o sucesso.
Estabelecida a área, dependendo do quão longe está o concurso de seu sonho, é válido sim fazer outros durante o caminho. No meu caso, se a PF fosse daqui a uns dois anos, valeria fazer provas de civis, por exemplo. Mesmo havendo matérias diferentes, o esqueleto segue a mesma linha, o que te dá bagagem para fazer a prova objetiva.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso que foi aprovado?
Thiago: 6 meses. Porém, já tinha uma bagagem forte em Direito por conta do meu estudo em 2017 para agente e uma bagagem razoável em informática por conta do meu trabalho na área. Fora que, como engenheiro, raciocínio lógico, física e química eram matérias que dominava.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Thiago: Com certeza. Para concurso desse porte, o ideal é começar uns dois anos antes, naturalmente sem edital na praça.
No meu caso, embora tenha sido pouco tempo de estudo, comecei sem edital na praça, tomando como base o edital antigo (de 2018).
Eu sou extremamente disciplinado. Minha experiência com projetos me deu uma visão de longo prazo muito forte. Durante a jornada, virava e mexia eu via vídeos do dia a dia da PF para renovar a motivação.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Thiago: 99,5% PDF. Não consigo imaginar algo melhor e mais efetivo. Os 0,5% restantes foram sites da internet para tirar algumas dúvidas das matérias específicas minhas (bio, fis e quim), nas quais todos os cursos para concursos pecam demais.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Thiago: Conheci pelo meu amigo que começou a estudar comigo. Como nosso foco sempre foi PDF, foi fácil essa escolha. Nesse quesito acho que o Estratégia é imbatível, mesmo (como dito anteriormente) pecando nas matérias específicas (quim, bio e fis) e em estatística. Assim, o material base de estudos foi Estratégia.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que devem ser memorizados. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso?
Thiago: Começando com o planejamento: ele precisa ser meticuloso e foi isso que fiz.
Primeiramente precisava de uma métrica de progresso e de projeção. Como eu só lia PDF, comprei o curso do Estratégia e a minha planilha de planejamento levou em conta a quantidade de páginas para fechar cada matéria (sim, abri um por um e contei as páginas).
Com isso e com 2 semanas de estudo (o planejamento tem que ser vivo) eu já sabia quanto de produtividade eu conseguia em cada matéria (quantas páginas por sessão).
Com isso em mãos, fiz minha projeção para quando eu fecharia o edital e consegui estabelecer quantas sessões de estudo eu precisava separar para cada matéria durante a semana.
Meu método de estudo foi o Pomodoro (50 min de sessão com 10 min de descanso/tarefas mecânicas). É importante o respeito aos tempos, tanto da sessão quanto do descanso.
Como eu estava integral nos estudos, eu consegui planejar 9 sessões diárias (3 pela manhã / almoço / + 3/ lanche / + 3 / academia.
Eu percebi que depois de duas sessões seguidas da mesma matéria, na terceira eu caía bastante de rendimento. Assim, estabeleci que no máximo faria duas sessões da mesma matéria em sequência e evitaria pô-la novamente no mesmo dia. Geralmente, depois de duas sessões de alguma matéria pesada (como informática), eu punha uma sessão de alguma matéria leve (como RLM).
Também foi importante estabelecer um método de revisão. No meu caso, eu produzi resumos dos PDFs. Em uma tela eu deixava aberto o PDF e na outra o documento do Word. Durante a leitura eu copiava e/ou transcrevia as partes mais importantes no Word. Fundamental essa dinâmica para as sessões de revisão, nas quais eu revisava somente o resumo, naturalmente.
Em sessões normais eu lia e resumia os PDFs e, no fim deles, fazia as questões que eles continham. Em sessões de revisão, eu relia o resumo e fazia muitas questões. Uma prática muito valiosa foi a de guardar as questões que eu errava para refazê-las. Eu jogava elas em documento Word para quando chegasse a sessão de revisão.
Importante ressaltar a importância da academia no fim do dia. Colocar o corpo em movimento é importantíssimo. Sem isso, sua cabeça falha com o tempo, sem contar que a preparação para o TAF da PF não é brincadeira.
Voltando ao planejamento, eu o revisava todo domingo com atualizações do meu desempenho por matéria, com a revisão da projeção de encerramento do edital, etc. Meu planejamento foi vivo até a semana da prova.
Outro ponto válido a se destacar foram os simulados. Eu realmente simulava o dia da prova, estabelecia 4h e meia no cronômetro e sempre com redação também. Isso me ajudou absurdamente para me adestrar para a prova. Cheguei a fazer mais de 15 simulados, sempre anotando e revisando as questões que errei. Todos feitos após o fechamento da teoria do edital.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Thiago: Minhas maiores dificuldades foram informática (pelo tamanho gigantesco de matéria e por poder cair qualquer coisa, até teclas de atalho) e estatística (pela dificuldade de se aprender).
Em informática não teve jeito, era estudar e revisar. Em estatística acabei relendo a teoria por 3 fontes diferentes para começar a deixar a matéria mais fluida em minha cabeça. Importante entender matérias de exatas e não decorá-las.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Thiago: Na reta final só havia revisões e simulados para se fazerem. Foram mais de 15 simulados e inúmeras revisões. Estabelecia um ou dois simulados no máximo durante a semana para dar tempo de revisar as questões erradas.
Para mim não faz sentido descansar um dia antes da prova. É importante você chegar no ritmo, em alta rotação, na prova. A ansiedade a gente controla com introspecção e aguenta as facetas dela, como insônia e nervosismo. Descanso numa hora dessas só piora a ansiedade e te prejudica na prova.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Thiago: Para a discursiva, não há mistério. É receita de bolo, só precisei repeti-la diversas vezes antes da prova EM SIMULADO. Redação solta eu fiz apenas umas 4 vezes para pegar o mecanismo e entender a estrutura, depois foi só em simulados. O motivo é evidente: treinar o tempo, pois aplicar a receita de bolo é fácil.
Eu indico pesquisar as redações nota máxima na PF e PRF, decorar a receita delas e aplicar nas que for fazer.
Estratégia: Como está sendo sua preparação para o TAF e para as demais etapas?
Thiago: Já o fiz. Treinava toda semana, mas sem me esfolar para evitar lesão. Importante entender que no dia, seu corpo, pela adrenalina, irá conseguir marcar melhores do que nos treinos.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Thiago: Um erro do qual me recordo e que impactou muito na prova foi não ter estudado a parte das integrais em estatística, pois todo mundo dizia que era impossível isso cair na prova… e caiu. Na dúvida, estude. Os maiores acertos para mim foram o planejamento vivo (o mais importante) e o método Pomodoro, o qual levei para a vida.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Thiago: A parte mais difícil foi com certeza a falta de contato social. Estava enclausurado. Meu psicológico foi testado em níveis inimagináveis por mim na época.
Em desistir nunca pensei. Desanimei sim em alguns momentos, mas era impensável desistir.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Thiago: Eu trabalhei muito nisso, me imaginando já trabalhando. Vídeos do dia a dia de lá me ajudaram muito nessa parte.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso. Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar onde você chegou!
Thiago: Eu aconselho primeiramente a entender seu perfil e contexto. Você só quer dinheiro e curtir a vida? Você quer construir algo? Não há resposta certa ou errada, apenas a sua.
Depois dessa resposta e com suas características pessoais, naturalmente você vai entender qual é a área que você se encaixa. Siga firme nela.
Aconselho firmemente o planejamento vivo e o método Pomodoro. Foram ferramentas cruciais em minha aprovação.
Aconselho também estudar por PDF, somente por ele. Se por acaso uma dúvida pintar, vá para os vídeos, mas diretamente na parte em dúvida. O PDF (do Estratégia – alguns outros cursos pecam e outros não conheço) tem TUDO para sua aprovação. Fora que sua leitura com o tempo fica ABSURDAMENTE mais rápida e com uma qualidade ENORMEMENTE maior. Sabe aquelas “dicas” como “leia só a primeira frase do texto da prova de português para ganhar tempo” e “melhor começar com alguma matéria sem muito texto para não cansar rápido durante a prova”? Então, elas viram piada para quem lê PDF.
PDF é revisado periodicamente, videoaula não, ficando você refém da memória do professor de ter te passado todos os pontos e de maneira correta. Fora o ritmo de estudos, no PDF não tem conversa fiada nem macetinho de decoreba.
Falando nisso, fuja desses macetinhos, entenda a matéria, é a forma mais fácil de se decorar. Use mnemônicos em último caso e NUNCA em matérias exatas.
Tenha um método de revisão (seja resumo, anotações, marcações…) para você agilizar suas revisões.
E por fim, saiba: Ninguém, excetuando os que estão estudando com você, sabem o quão duro é o caminho a ser trilhado. Cansei de escutar “ah, mas você SÓ estuda”, “Thiago tá vagabundo, tá na aba da mãe”, “aaahh, você sempre com essa desculpa de estudo”. Muitos vão te deixar, mas lembre-se que isso é bom. Você conhecerá facetas de alguns amigos e parentes que você nunca imaginou que tivessem.
O caminho é duro, principalmente sobre o social, mas posso te dizer que ele tem um sabor do c****** quando você chega lá, sabor que eu nunca tinha experimentado antes. Você desfrutará dos amigos verdadeiros que ficaram, vale a pena!
Planeje, execute e revise; planeje, execute e revise; planeje, execute e revise… Siga o seu planejamento, sempre aprendendo com seu desempenho. Siga no seu ritmo, só não pare.
“Você precisa estar disposto a sacrificar o que você é para se tornar o que você quer ser.”