Prova objetiva: a teoria do primeiro impulso
A dádiva da paternidade redefine os conceitos dos sentimentos mais nobres e altera profundamente a relação do presenteado (pai e mãe) com o mundo. Ouve-se palavra cantada, e não mais rock´n roll. Saem os filmes policiais. Entram os infantis. Eu não tinha o costume de vê-los e passei a ser um apreciador do gênero por conta da minha filha.
A ilustração acima é de “Divertida Mente”, uma animação que retrata o funcionamento do cérebro de Riley, uma garota de 11 (onze) anos de idade. Alegria, Medo, Raiva, Nojinho e Tristeza disputam o poder da sala de comando (o cérebro).
O cérebro de quem faz concursos, especialmente no dia da prova, é um emaranhado de sentimentos múltiplos e que precisa ser conciliado com o conhecimento estudado, momento em que sempre terá alguém apto a dar conselhos de como equacionar a sua sala de comando.
“Leia as questões com calma, sem pressa. Pense muito antes de assinalar a alternativa correta ou julgar um item”. Essa recomendação é comum e já foi ouvida por boa parte das pessoas que se submetem a fazer provas. Pois bem. A proposta que faço é exatamente inversa: em prova objetiva deve prevalecer o que denomino de teoria do primeiro impulso, as questões devem ser respondidas de forma mais intuitiva que cognitiva, no popular, “sem pensar muito”. Mas Vagner, eu estudo tanto e vou assinalar as assertivas “sem pensar muito”? Exatamente.
Pode parecer contraditório, mas um argumento empírico dá respaldo à teoria. Quantas vezes você marcou uma alternativa e, após pensar muito sobre o item, alterou a resposta e…errou!?
Neste ponto, o inconsciente – assim como na trama infantil[1] – assume papel decisivo e é a “base científica” da teoria do primeiro impulso.
O inconsciente e a sua utilização tem sido cada vez mais estudado pela neurociência moderna[2]. "Os resultados são surpreendentes: segundo estimativas dos maiores especialistas do mundo em cérebro e cognição, a consciência ocupa no máximo 5% do cérebro. O restante, 95%, é o reino do inconsciente".
Não bastasse preencher a quase totalidade do cérebro, é o inconsciente que dá sentido ao conjunto de símbolos que lemos. “O cérebro é abastecido pelos olhos, ouvidos e outros sentidos, e o inconsciente traduz tudo em imagens e palavras’, diz o psicólogo e neurocientista Ran Hassin, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e um dos autores do livro The New Unconscious” (“O novo inconsciente”).
Ao responder às questões de forma mais rápida, intuitiva, acessamos mais facilmente aquelas informações que a gente sabe, mas não sabe que sabe (é inconsciente!).
É evidente que a aprovação jamais vai prescindir de muito estudo, de repetição. “A chave para ensinar uma nova habilidade ao próprio inconsciente é treinar, treinar e treinar. É um processo bem demorado”.
A angustiante relação travada entre a ampulheta e o longo caderno de provas é apenas uma das emoções a serem administradas no momento de aplicação do conhecimento, que pode ser minimizada se aplicada a teoria do primeiro impulso.
Durante a minha trajetória no mundo dos concursos, depois que decidi resolver as questões de forma mais intuitiva, além de não ter mais problemas com o tempo, percebi uma melhora significativa na porcentagem de acertos. É bem verdade que quanto mais estudava, mais acertava. Talvez porque o meu inconsciente estava bem treinado.
Sugiro que experimentem resolver as questões dessa forma. Testem. A aplicação dessa técnica foi de grande valia na minha caminhada e desejo que ajude àqueles que decidirem aplicá-la.
Importante deixar claro que “a teoria do primeiro impulso” não tem nenhuma base científica. É fruto apenas da longa experiência na resolução de questões e da curiosidade natural deste articulista quanto ao funcionamento do cérebro. Veja, por exemplo, que já é possível aprender dormindo[3]. Entender e controlar o funcionamento dessa máquina e colocá-lo a seu serviço no momento da prova pode ser um importante diferencial na competitiva disputa pela aprovação.
Gostaria de dominar meu cérebro na mesma medida do controle que minha filha exerce sobre ele. Certa vez a corrigi de forma mais incisiva. Ela, visivelmente assustada, respondeu: “papai, não deixa o Raiva controlar sua cabeça”. Não resisti. Dei gargalhadas. A bronca, obviamente, cessou. Ela tem a chave da minha sala de comando e não sabe. Ou, inconscientemente, sabe.
Abraços! Bons estudos!