Como passei para Auditor-Fiscal da RFB aos 20 anos de idade
Fala, pessoal! Sou o Jefferson Fleury, novo Coach do Estratégia. Decidi escrever este depoimento com o objetivo de bater um papo com vocês sobre uma das coisas que mais me questionam desde minha aprovação no concurso de 2014 para Auditor-Fiscal da Receita Federal: como eu passei nesse concurso aos 20 anos de idade. Para chegar na resposta, é importante eu falar como foi minha trajetória, as dificuldades e superação delas.
Minha família não tem tradição em concursos públicos (embora minha mãe seja funcionária do Banco do Brasil). Todavia, por causa dela e de alguns outros familiares da área de contabilidade, sempre tive boas referências da Receita Federal e consequentemente do cargo de Auditor-Fiscal. A ideia de que um dia eu poderia estudar para o concurso sempre ficou na minha cabeça desde os 14/15 anos (não tinha a mínima idéia de como seria). Foi então que em 2011, quando estava terminando o 3º ano do Ensino Médio e tinha que escolher um curso para vestibular, decidi que iria estudar contabilidade, pois acreditava que era o curso mais adequado para tentar a façanha, embora isso não seja verdade, já que nos quadros da Receita Federal você encontra zootecnista, fisioterapeuta, jurista, arquiteto, médico, engenheiro, etc.
É importante mencionar que sempre estudei em escola pública estadual, que acabou virando Colégio Militar da PM-GO no final do ano de 2005, também nunca fui um dos alunos prodígios da escola, pelo contrário, sempre fui de tirar notas medianas/baixas e tinha sérios problemas de indisciplina, era extremamente preguiçoso, não me lembro de nenhum ano letivo após o 8º ano, antiga 7ª série, do Ensino Fundamental em que eu não tenha ficado de recuperação. Por causa desse histórico, tive muita dificuldade em Português e Matemática, não sabia nem o que era advérbio, tive que recuperar o “tempo perdido”. Pois bem, em 2012 fiz o vestibular e passei na UnB – Universidade de Brasília. A partir desse momento tive que me mudar para Brasília, pois morava em Anápolis (GO) com minha mãe e irmã, cidade que fica a cerca de 160km da capital federal.
Lá estava eu, numa cidade desconhecida e bem peculiar (quem conhece sabe), sem conhecer absolutamente ninguém e tendo a experiência de morar sozinho, de me virar para deslocar, fazer comida, limpar a kit, essas coisas que a gente tem que fazer quando mora sozinho. No primeiro semestre da faculdade eu tive meu primeiro contato com Direito, Economia, Contabilidade e outros, mas tudo muito amplo, nada muito direcionado. Lembro de ter pego uma prova da Receita Federal de 2009 para dar uma olhada e ter ficado bem perdido, sabia nem errar (haha).
A partir do segundo semestre decidi que ia estudar de forma mais específica e objetiva, era algo que eu queria pra médio/longo prazo, minha ideia era sair da faculdade “pronto” para fazer a prova, mas como eu não tinha a mínima ideia de como seria isso, pesquisei muito sobre métodos de estudo, materiais adequados e de qualidade, li os editais anteriores, li depoimentos de aprovados no concurso, principalmente pra entender mais sobre a rotina que eles tinham, uma espécie de benchmarking. Considero que essa foi uma das atitudes mais corretas que já tomei, pois a partir dessa pesquisa eu aprendi a estudar por ciclos de matérias (já que o edital é gigante), intercalar exatas e humanas, fazer planilhas com as horas líquidas estudadas de cada matéria com marcação diária, semanal e geral, administrar o tempo, fazer resumos, resolver exercícios. Diria que eu “aprendi a aprender”, conseguindo assim evitar diversos erros que os concurseiros cometem com frequência (não será o seu caso, sob a minha supervisão, rs).
O pré-estudo é essencial e determinante para ser aprovado em qualquer concurso, por mais óbvio que possa parecer. Outro fato interessante que notei é que apesar das histórias de vida serem diferentes entre os aprovados, há sempre um ponto de intersecção em que todo mundo se assemelha: todos sentem medo, têm diferentes níveis de dificuldade, alguns para exatas, outros para direito, outros contabilidade, e assim vai, sensação de perda de tempo durante o estudo, sentimento de incapacidade em alguns momentos. É curioso perceber, em conversas com colegas aprovados e em momentos de reflexão, que apesar de tantas diferenças, que o próprio concurso induz, já que é aberto a qualquer área, todos aprovados têm esse algo em comum, principalmente no tempo em que se estuda pro concurso.
Minha rotina dupla de faculdade e estudos para o concurso era dividida em períodos matutino, vespertino e noturno. No período da manhã eu ficava por conta da UnB, e no período da tarde até uma parte da noite por conta do concurso, minha meta era de 35 a 40h líquidas semanais de estudo. Na maioria das vezes eu conseguia atingir a meta na sexta, então dava para eu dar uma relaxada nos finais de semana, fazia no máximo algumas revisões e exercícios, mas nada muito além. Sei que as pessoas têm diferentes realidades e possibilidades, uns trabalham e têm filhos para cuidar ao mesmo tempo, outros ficam só por conta do estudo, cada um com suas peculiaridades. Mas na vida só não se dá um jeito para a morte, não é mesmo? Essas nuances são passíveis de adaptação e de ajustes conforme a realidade de cada um. Portanto, não se prendam a um parâmetro específico, mais importante do que quantidade de horas estudada é a qualidade das horas que você estuda, seja de 2 ou 6h por dia, claro que quanto mais for possível, melhor será, mas de nada vai adiantar você estudar 8h de mentirinha.
Foi uma luta para eu conseguir estudar mais do que 2h por dia (com qualidade), não era acostumado a isso, então ficava disperso e cansado facilmente, tive que ir aumentando a quantidade de horas por dia gradativamente, me adaptando à nova rotina, tornando um hábito. Se você começa de cara a estudar 6h por dia, logo logo você fica desestimulado, é importante respeitar teu corpo e tua mente.
Conforme havia dito em relação a Português e Matemática, tive que iniciar os estudos nessas matérias de forma bem simples, com calma, aprendendo o basicão mesmo (já que minha base da escola era ruim), até poder de fato estudar os assuntos importantes delas que cairiam na prova. Já em relação às outras matérias, era tudo novo para mim, então busquei criar uma base forte e sólida desde o início, pra não ter que refazer todo o estudo mais pra frente, e sim apenas revisar e ajustar pequenos detalhes.
Quando saiu o edital da prova de 2014 eu estava estudando há cerca de 1 ano e 3 meses, tinha fechado quase todo o edital. O estudo com antecedência me deu certa segurança, já que não havia nada de muito novo no edital em relação aos anteriores, pelo contrário, algumas matérias haviam sido retiradas. Como eu tinha criado uma base sólida nas matérias teóricas, a partir desse momento eu pude focar meus estudos em leitura de leis secas, matérias de legislação e jurisprudências, já que essa parte envolve mais “decoreba” e é mais fácil de esquecer do que uma teoria bem estudada. A parte teórica das matérias eu apenas revisei nesse período e ajustei alguns pontos que ainda tinha dúvida ou não tinha aprendido 100%.
Veio o dia da prova, aquele frio na barriga, os candidatos todos tensos e a distribuição daquele papel branco com um monte de questões começa. Depois de meia tarde, uns 15% da sala já haviam ido embora, no final da tarde mais uns 20%. No outro dia a sala já começou com metade da quantidade de alunos do dia anterior, e no meio da tarde pouquíssimas pessoas estavam fazendo a prova, a razão disso é bem clara: a concorrência assusta mas engana. Grande parte das pessoas que vão fazer a prova não têm a mínima idéia do que estão fazendo ali. Mas confesso que, ao sair da última prova do último dia, pensei que não daria, me senti extremamente incapaz, não tinha certeza de muita coisa que tinha feito na prova, é assim mesmo.
O resultado do concurso veio e eu estava aprovado, aí bateu o desespero e mais uma dificuldade: eu ainda estava na faculdade, faltava cerca de 2 anos para eu me formar, tive que entrar com Mandado de Segurança, antecipar matérias, enfim, um rolo só, que daria mais outro textão (rs). No final deu tudo certo, minha vida mudou totalmente após tomar posse, tive diversos aprendizados durante minha preparação (autoconhecimento principalmente). Tenho consciência de que estamos em constante aprendizado e que dificuldades, incertezas e medos vão sempre existir, mas todo perrengue, horas estudadas, programas que foram deixados de lado valeram a pena, faria tudo de novo, não me arrependo de nada (e garanto que você também não vai, quando chegar a sua vez).
Respondendo de maneira mais objetiva o questionamento inicial do texto sobre como fui aprovado aos 20 anos: 1) FOCO: o concurso de Auditor-Fiscal da RFB de 2014 foi o primeiro e único concurso que fiz na vida. Provavelmente se tivesse “atirado” para tudo quanto é lado eu não teria sido aprovado em nenhum, seja de nível médio ou de nível superior. Eu sabia exatamente o que eu queria. Se você ainda não sabe, sugiro que pense sobre. 2) OTIMIZAÇÃO DO TEMPO E ESTUDO: inclui metas, materias bons, estudo por ciclos, administração do tempo, planilhas gerenciais, revisões. 3) BASE SÓLIDA: o conteúdo do edital é enorme, mas atropelar aulas e/ou páginas de livros na ânsia de terminar logo não vai adiantar muita coisa, e provavelmente você vai ter que estudar tudo de novo se for mal feito, então estude com calma, de forma gradativa e com qualidade, crie uma base sólida. 4) ESTUDO ANTERIOR AO EDITAL: quando se tem uma base sólida, o foco pós-edital fica apenas nas pequenas diferenças que ocorrem entre o edital anterior e o novo, nas leis secas, na legislação específica e jurisprudências. 5) MOTIVAÇÃO: eu buscava me motivar o tempo todo, sempre projetei minha vida em como ela seria após a aprovação, sempre acreditei que era capaz, mesmo quando percebia reações irônicas vindas de algumas pessoas quando sabiam do que eu estava me propondo a fazer, acredite em você mesmo!
Para acrescentar, um ambiente legal de estudo, apoio da família e de amigos próximos são essenciais. Essas pessoas são aquelas que realmente se importam com você independente de qualquer coisa, se você tem o apoio delas, tudo fica mais fácil e leve. Além do mais, apesar da carga pesada de estudos, sempre fiz minhas atividades físicas, ia em festas da UnB, ia para o barzinho com a galera (moderadamente, é claro), nada disso me faltou. Conciliar vida pessoal, acadêmica, espiritual e concurseira de forma saudável vai te ajudar muito nesse período.
É isso, espero que tenham gostado, e que deste texto vocês possam tirar algum proveito. Se você ficou curioso para saber como aplicar de maneira correta os métodos de estudos, como otimizar de forma prática e factível seu tempo de estudo adequado à sua realidade, e acha que seria interessante um acompanhamento mais personalizado durante seu período de estudo, gostaria de dizer que estou disponível como um dos novos Coaches do Estratégia.
Bons estudos!
Grande abraço! E até logo…
Jefferson Fleury dos Santos
Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil
Coach do Estratégia Concursos