Água com açúcar
A biografia de Steve Jobs é uma distribuição de ensinamentos. Certo dia ele anunciou em reunião na Apple – à época uma empresa apenas promissora, bem distante da gigante de hoje em dia – que viajaria para contratar John Sculley, apelidado de “Rei do Marketing” – assim denominado por fazer a Pepsi vender mais que a Coca-Cola nos Estados Unidos. Parte dos funcionários da Apple tentou demover Jobs da ideia. Diziam ser impossível fazer com que alguém extremamente bem sucedido como Sculley pudesse mudar de ramo, competir em uma nova área.
No dia da apresentação do Rei do Marketing na Apple, a pergunta obrigatória e que permanecia no rol de curiosidades dos agora colegas de Sculley era, “o que Jobs disse para convencê-lo a mudar de empresa?”. Em resposta, disse o novo colega que uma frase foi marcante e suficiente para tal atitude:
“Jobs me perguntou se eu queria ficar vendendo água com açúcar o resto da vida ou vir com ele e mudar o mundo”.
Antes de me tornar Procurador Federal fui analista do Poder Judiciário da União por 5 (cinco) anos. A carreira é excelente em todos os aspectos – remuneração, estrutura, carga horária de trabalho, qualidade de vida – mas, para mim, era confortável até demais. Era vender água com açúcar.
Óbvio que os sacrifícios a que submetemos para ocupar o cargo levam muito em conta uma melhor remuneração. Mas não é só isso. Nem pode ser, sob pena de uma frustração logo após a aprovação (se tiver interesse, veja aqui nesse vídeo as razões que me fizeram seguir estudando https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/qual-e-sua-motivacao/). Passava muito pela minha cabeça o fato de que a nossa existência, por ser única, tem que ser incrível. Quero olhar para trás e ter orgulho da trajetória que construí. É aquela metáfora do Gerônimo Theml, “a vida é um quebra-cabeças. Se a gente viver sem objetivo, nós vamos enfiar a mão no saco, pegar uma peça qualquer e montar uma imagem que sequer sabemos qual é”.
Sair da zona de conforto machuca. Era mais “sessão da tarde” permanecer como analista a ter que enfrentar uma prova oral. Mas que histórias queremos contar ao final da vida?
Fiz webnário aqui no Estratégia recentemente e, ao ingressar no estúdio, com aquelas câmeras, o arsenal de luz e todo aparato tecnológico, senti aquele friozinho na barriga e uma súbita vontade de ir ao banheiro. Pensei: “sinto isso porque estou saindo da zona de conforto. Estou no caminho certo”.
É aquela frase de “Hitch, o conselheiro amoroso”,
“Na vida a gente não conta as vezes que respira, e sim os momentos que perdemos o fôlego”.
Se seu objetivo é ser aprovado em concurso, saiba que as privações pelas quais você passa hoje nada mais são que a construção diária do quebra-cabeça da sua vida. Você já sabe a imagem e, dia após dia, pega a pecinha para montá-la. Vai acontecer da peça não encaixar ou, simplesmente, por um tempo, não querer brincar desse jogo (sei o quanto cansa estudar para concurso, o quanto dói a reprovação). Mas é assim, quanto mais difícil e íngreme a escalada da montanha, mais bonita é a vista.
E, após a aprovação, se estiver realizado, ok! Citei minha necessidade de não querer permanecer como analista, mas era o meu sentimento, a minha forma de pensar. Se a realização para você ocorrer pelo exercício de qualquer cargo, está tudo certo! Mas se sentir que está vendendo água com açúcar…
Bons estudos!
Abraços fraternos!