Um assunto certo de cair na prova do STJ: Reescrita de texto
Olá, moçada!
Vocês, que vão fazer a prova do STJ, não podem ir para a prova sem ter realizado algumas dúzias de questões do assunto “substituição de palavras ou de trechos de texto”. A banca CESPE usa muito esse tipo de questão, porque pode cobrar qualquer assunto gramatical. Ela pode explorar a concordância, a regência, a crase, a pontuação, a semântica, a colocação pronominal entre outros temas muito relevantes.
Mas, para atacarem esse tipo de questão e não terem problema, recomendo, quando o trecho for pequeno, que o reescrevam em cima do trecho original. Assim, mesmo que vocês não tenham domínio gramatical de algum conteúdo, vendo uma estrutura sobre a outra, naturalmente perceberão se há mudança de sentido ou prejuízo gramatical.
Vamos fazer um teste?
A questão abaixo é de uma prova realizada há pouco tempo, então já nos dá uma noção do que vocês vão encarar no STJ:
TCU 2015 – Auditor Federal de Controle Externo (banca CESPE)
Fragmento do texto: Para a surpresa de muitas pessoas, acostumadas a ver em nosso país tantas leis que não saem do papel, a LRF, logo nos primeiros anos, atinge boa parte de seus objetivos, notadamente em relação à observância dos limites da despesa com pessoal, o que permitiu uma descompressão da receita líquida e propiciou maior capacidade de investimento público. O regulamento marca avanços também no controle de gastos em fins de gestão e em relação ao novo papel que as leis de 16 diretrizes orçamentárias passaram a desempenhar.
Pedido da questão: A correção gramatical e o sentido original do texto seriam mantidos se o trecho “Para a surpresa (…) de seus objetivos” (linhas 1 a 3) fosse reescrito da seguinte forma: É atingido, logo nos primeiros anos, boa parte dos objetivos da Lei de Responsabilidade Fiscal, resultado esse que gera surpresa em muitas pessoas, acostumadas, em nosso país, a ver que tantas leis não saem do papel.
Para facilitar, vamos comparar as duas formas, apontando alguns detalhes que serão comentados a seguir:
A questão de reescrita está cobrando mesmo é seu conhecimento sobre a transposição de vozes verbais, concordância e a atenção ao valor de posse do pronome “seu”.
Basta ver que, no texto original, a expressão “a LRF” é o sujeito agente, o verbo “atinge” é transitivo direto e “boa parte de seus objetivos” é o objeto direto.
Na transposição para a voz passiva, o que era sujeito agente vira agente da passiva, o que era objeto direto vira sujeito paciente e o verbo simples recebe o verbo “ser” no mesmo tempo verbal.
Veja o esquema:
Na transposição para a voz passiva, notamos que o sujeito paciente possui uma expressão partitiva (“boa parte de”), o que faz com que a locução verbal concorde com o núcleo sintático “parte” ou com o adjunto adnominal “de seus objetivos”.
Assim, na primeira estrutura da voz passiva, a locução verbal “é atingida” concorda com o núcleo sintático “parte”; na segunda estrutura da voz passiva, a locução verbal “são atingidos” concorda com o adjunto adnominal “de seus objetivos”.
Porém, a reescrita da questão já aponta o erro logo de início, com a locução verbal “é atingido”. Isso é sinal de que a concordância está equivocada, por isso já sabemos que há erro na afirmação.
Além disso, a locução adverbial “em nosso país”, no texto original, modifica a ação verbal de “ver” e se encontra na sua oração. Assim, faz referência ao lugar em que a situação é vista. Já, na reescrita, tal locução passou a modificar o adjetivo “acostumadas”, isto é, em outra oração, mudando o sentido: estarem acostumadas em nosso país. Mesmo que o contexto permita tal entendimento, a informação mudou, o sentido mudou. Assim, se vocês não mataram a questão pelo problema na concordância, tiveram nova oportunidade no deslocamento equivocado dessa expressão.
Alguns alunos me perguntaram, após a realização da prova, por que o possível agente da passiva “pela LRF” transformou-se numa expressão do sujeito paciente. O agente da passiva pode desaparecer assim?
Bom, vamos observar o trecho original com o pronome possessivo “seu”: “boa parte de seus objetivos”. O pronome “seu” transmite a ideia de que os objetivos são da LRF. Note que esta preposição negritada anteriormente também tem valor de posse. Assim, a transformação do agente da passiva (pela LRF) em adjunto adnominal “da Lei de Responsabilidade Fiscal” só foi possível pela presença do pronome possessivo “seu” no texto original e a preposição “de” na reescrita, pois ambos têm valor de posse. Como sintaticamente, o adjunto adnominal pode ter valor agente, a substituição deste trecho foi perfeita.
Mais dicas?
Veja em nosso curso de resumão em vídeo para o STJ, cujo link segue abaixo:
Um abração!
Professor Terror