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Polícia Federal: do edital à posse, parte 1

Fala, guerreiros! Tudo bom?

Me chamo Mário Canossi e fui aprovado no último concurso para Agente da Polícia Federal, em 41º lugar. Desde minha aprovação, atuo como Coach aqui no Estratégia Concursos. Como alguns de vocês devem saber e muitos outros já desconfiam, se trata de um dos mais longos e desgastantes concursos presentes na Administração Pública Federal, com duração aproximada de 18 meses do edital à posse. Como o curso de formação também é considerado uma fase do concurso, o candidato ainda pode ser eliminado a qualquer momento, mesmo já matriculado.

Devido a alguns pedidos, decidi contar um pouco dessa nossa longa jornada para vocês, focando principalmente naqueles pontos que você, como candidato, tem mais chance de ficar com dúvidas.

Para não se tornar algo longo e maçante, decidi dividir este artigo em duas partes. Estou escrevendo esta primeira parte durante a madrugada, pois há poucas horas foi publicado no Diário Oficial da União o resultado da avaliação psicológica, última fase em que a banca pode efetivamente eliminar o candidato. Daqui para frente, até entrar na sonhada Academia Nacional de Polícia (ANP), restam somente fases burocráticas de envio de documentos.

A segunda e última parte escreverei, se tudo der certo, ao final do curso de formação na ANP, contando como foram as próximas fases (o que eu puder contar, claro) e o que o candidato deve esperar delas. Então, vamos deixar de conversa e ir direto ao que importa?

Preparação e Estudos

Tudo começou às vésperas do dia 15 de junho de 2018. Havia alguns dias, circulava um boato de que iria sair um novo edital da Polícia Federal. Na época, eu possuía um pequeno empreendimento e não tinha pretensões de entrar no serviço público. Cheguei a dar uma olhada no conteúdo programático, mas não me interessou.

Porém, tive uma grande surpresa no dia em que saiu o edital. Destoando dos três últimos editais (idênticos), divulgados ao longo de quase 15 anos de corporação, houve uma guinada no perfil exigido do candidato. Foram retiradas três disciplinas mais voltadas às Humanas (Administração, Economia e Atualidades) e incluídas duas de Exatas (Estatística e TI), além de ter sido inflado consideravelmente o conteúdo de Contabilidade. Foi um grande choque para todo mundo! Imaginei, naquele momento, que poderia não haver nenhum candidato preparado para a prova após essas mudanças.

Isso acabou despertando meu interesse por dois motivos: primeiro, porque determinadas atuações da Polícia Federal recentemente me enchiam os olhos – as inúmeras operações contra a corrupção e a grande aprovação da sociedade com relação ao órgão – e estavam relacionadas à minha paixão pelas planilhas e finanças. Segundo, porque agora eu teria alguma chance de ser aprovado, uma vez que o planejamento dos meus concorrentes não vislumbrava essa troca tão impactante de matérias.

Em uma alucinante corrida contra o tempo, precisei me adaptar à rotina dupla, de estudos e trabalho. Conforme as semanas iam passando, percebi que não conseguiria conciliar e vendi minha parte da sociedade. Faltando duas semanas para a data da prova, houve um adiamento de exatos 28 dias provocado pelo MPF, que solicitou que fossem recalculadas as vagas para negros e pessoas com necessidades especiais, o que foi acatado pela PF. Esse adiamento foi fundamental para que eu conseguisse estudar uma parcela suficiente do edital e chegar à prova em condições de ser competitivo.

Para compensar a falta de tempo, precisei flexibilizar bastante minhas convicções pessoais que estavam equivocadas sobre técnicas de estudo e adaptar à minha realidade métodos que já se mostraram efetivos. Não me estenderei quanto aos métodos utilizados em minha preparação, pois já escrevi um artigo sobre isto aqui no site e farei outros em um futuro próximo.

Avaliações Objetiva e Discursiva

A prova objetiva consistiu em 120 questões do tipo CERTO ou ERRADO, padrão já conhecido da banca CESPE. Foram no total 10 disciplinas, sendo metade delas de Direito. Apesar desta quantidade de matérias, tivemos poucos itens de Direito, o que acabou causando um desvio no perfil do aprovado, representado por uma grande maioria de alunos vindos de cursos de Engenharia e relacionados a Informática (pouco mais de 50%).

Na discursiva, que valia 13 pontos, tivemos que responder 3 itens sobre o papel da Polícia Federal no fortalecimento da democracia. Para quem já conhece o método de correção da banca, não foi um tema muito complicado. Basta escrever diretamente o que é pedido na questão e você terá uma nota suficientemente alta. Se tentar florear muito, seguindo a estrutura clássica de introdução, desenvolvimento e conclusão, será penalizado.

Com mais de 92 mil pessoas concorrendo a 180 vagas, tivemos quase 700 (!!!) candidatos por vaga na ampla concorrência. A nota de corte para a ampla foi de 68 pontos líquidos (pois uma questão errada anula uma certa), mas isso pouco ou nada representa. Apenas para exemplificar, alguns meses depois tivemos a prova da PRF realizada pela mesma banca e a nota de corte chegou a incríveis 90 pontos para algumas regiões. A nota necessária para ser aprovado depende diretamente do nível de dificuldade da prova no dia e não deve figurar entre suas preocupações.

Após o resultado preliminar, temos uma fase de recursos da discursiva, onde praticamente todos os candidatos tentam a sorte rsrs. Não é difícil ganhar pontos nessa etapa, então recomendo que faça seu recurso se discordar da correção ou dos erros gramaticais que a banca apontou. Conheci as mais variadas histórias de superação, da pessoa que ganhou absurdos 5 pontos no recurso até o colega que tinha sido eliminado por 0,02 e agora também está indo para a ANP.

Exame de aptidão física (TAF)

No TAF, são quatro as provas que o candidato precisa superar, na ordem: barra, salto horizontal, natação e corrida. Cada uma das provas tem pontuação mínima e máxima (2 a 6 pontos) e, além de atingir o mínimo em todas as provas, ainda é necessário alcançar 12 pontos na soma das pontuações das provas (ou seja, se fizer somente o mínimo em todas as provas, soma 8 pontos e está eliminado).

Esta será, de longe, a etapa mais difícil da sua jornada. Os índices não são fáceis e a reprovação geralmente é altíssima. Para se ter uma ideia, nosso concurso trouxe uma reprovação de 29% para o cargo de Agente e, no restante dos cargos, a proporção de candidatos eliminados passou de 40%.

Não é nem necessário alertar que você deve se preocupar com essa fase bem antes de ser aprovado. Alguns colegas esperaram ver o nome na lista para começar a preparação e acabaram não conseguindo bater os mínimos. Entrar na aula de natação, se não tem intimidade ainda, é o melhor conselho que posso dar!

Nesta fase, surgiu também uma dúvida curiosa. O edital trouxe duas interpretações possíveis para o tempo máximo acima do qual o candidato estaria eliminado na natação. Em uma parte, dizia que qualquer índice acima de 44s (54s para o feminino) eliminaria o candidato, mas logo abaixo trazia a informação de que os centésimos “quebrados” seriam desconsiderados. Algumas pessoas acabaram ficando nessa situação e passaram longos dias de ansiedade.

No final das contas, a banca eliminou preliminarmente quem passou qualquer centésimo acima dos 44 segundos. Após uma breve fase de recursos, o pessoal conseguiu convencer a banca de que, em caso de dúvidas, deveria ser tomada a decisão mais favorável aos candidatos, e todos retornaram ao concurso.

Avaliação médica

Todos os aprovados no TAF são convocados para a avaliação médica. Aqui cabe um parêntese: se você está pensando em fazer concurso para o cargo de Delegado ou Escrivão, simultaneamente à entrega dos exames você fará a prova oral ou prova prática de digitação, respectivamente. Ambas as provas são tranquilas de passar e possuem índice de reprovação próximos a 1%. Porém, a prova oral de Delegado é classificatória, então não basta fazer o mínimo se quiser garantir uma posição mais confortável ou a permanência dentro das vagas.

O que marcou essa fase foi a sua rigorosidade e a gigantesca quantidade de exames solicitados. Praticamente todos os problemas de saúde e todos os tipos de deficiência são considerados impeditivos para o dia a dia da função e, portanto, eliminatórias. Em caso de dúvidas, recomendo que você leve o edital ao seu médico e pergunte se seu problema se encaixa nessas condições.

Pela primeira vez em concursos dessa área, a banca solicitou que os exames fossem entregues de maneira online, através de um link para fazer upload no próprio site. Isto facilitou absurdamente o procedimento, uma vez que não era mais necessário entregar e conferir dezenas de páginas presencialmente. No dia da avaliação, foi feita apenas uma anamnese simples, questionário sobre histórico familiar e aferição de pressão.

Se a banca desconfiar de algum laudo ou se você apresentar pressão alterada no dia, ela vai te eliminar preliminarmente para que você possa enviar outros exames e comprovar que não possui nenhuma condição incapacitante. Esta eliminação preliminar chega a atingir metade dos candidatos, em média. Apesar disso, todos estavam bem saudáveis e tivemos uma reprovação de apenas 3,8% nesta fase, muito abaixo dos 10% esperados, de acordo com o histórico.

Avaliação psicológica

E, finalmente, chegamos ao tão temido exame psicotécnico. Chegar até aqui para simplesmente ler que você “não apresenta os requisitos psicológicos necessários ao exercício do cargo” é, no mínimo, frustrante. No dia da avaliação, os candidatos são submetidos aos mais variados testes, para medir a capacidade de memória, atenção, raciocínio, além de avaliar a presença de características impeditivas ao cargo, como agressividade inadequada, instabilidade emocional exacerbada, entre outros.

Apesar de todo o nervosismo que ronda essa fase, que é a barreira final entre você e a ANP, não há motivo para preocupação. Com tranquilidade e bom senso é possível passar sem maiores dificuldades. Como esperado, a reprovação também veio bem baixa, com índices abaixo dos 4%, já incluídos aí os candidatos ausentes.

Considerações finais

Quando você chegar até aqui, já terá motivos para comemorar! A partir de agora, teremos apenas que enviar os documentos necessários para realização da matrícula, sendo que, para alguns cargos, os aprovados enviarão seus títulos, que são também classificatórios.

No próximo artigo dessa série, contarei como foram as próximas fases: desafios, dúvidas, estatísticas interessantes e tudo mais que você possa precisar para seguir esse caminho difícil, porém recompensador.

Se quiser saber mais como foram essas primeiras fases do concurso, além de dúvidas de estudo, pode entrar em contato comigo no Instagram @mariocanossi . Siga lá!

Um forte abraço e até logo!

“Escolha um trabalho que você gosta e não terá que trabalhar um único dia de sua vida.” 

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Veja os comentários
  • Muito legal a sua história. Obrigado por compartilhar um pouco dos anseios, das dúvidas e das emoções. Lhe desejo sorte e força na ANP.
    Adriano em 03/04/19 às 22:24