Aprovada em 3° lugar no concurso TRT 11 para o cargo de Técnico Judiciário - Área Administrativa
Tribunais“[…] Lembre-se sempre que o sonho que você plantou em seu coração nunca é grande demais para você. Se você se emociona ao falar do seu sonho, lute por ele até conseguir, não importa o quão difícil será […]”
Confira nossa entrevista com Valdiléia Maria Alves Florêncio, aprovada em 3° lugar no concurso TRT 11 para o cargo de Técnico Judiciário – Área Administrativa:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam conhecê-la. Qual a sua formação, idade e cidade natal?
Valdiléia Maria Alves Florêncio: Tenho 37 anos, sou formada em direito, pós-graduada em direito público, direito do trabalho e processo do trabalho. Advogo há 13 anos em São Paulo.
Sou do interior de Minas Gerais, da zona rural, cuja localidade ganhara um simpático e gracioso nome: Córrego da Boa Sorte, vinculado ao Distrito de Tabajara, pertencente à cidade de Inhapim. Venho de uma família muito humilde e muito grande (minha mãe teve 8 filhos), fui criada na roça até os 18 anos. Cuidava de galinhas, porcos, vacas, entre outras inúmeras atividades que uma vida no campo demanda.
Minha formação básica foi integralmente em escolas públicas (não havia escolas particulares na localidade e mesmo que houvesse, meus pais não tinham condições de pagar). Não havia escolas próximas à minha casa, tampouco transporte escolar, eu tinha que ir a pé 12km por dia (ida e volta). Embora fosse tudo muito difícil, era a minha válvula de escape, pois odiava os afazeres rurais, por ser extremamente cansativo e sempre debaixo de um sol escaldante. Ir à escola, mesmo que a pé por um longo caminho, era a melhor hora do meu dia, o único tempo que eu poderia descansar verdadeiramente e fazer o que eu gostava, que era estudar. Além disso, apesar de não ter passado fome, pois plantamos o nosso próprio alimento, não tinha dinheiro nem para o picolé na porta da escola, éramos extremamente carentes de dinheiro.
Apesar das inúmeras dificuldades, eu era uma aluna exemplar, não faltava de forma alguma, sabia que a educação seria a única forma de sair daquela vida difícil. Queria muito terminar o colégio e vir para SP estudar (onde tinha alguns parentes). Pois bem, antes de acabar o colégio eu fiz o ENEM (mesmo sem cursinho, até porque lá nem existia, estudando sozinha mesmo usando os poucos livros que havia na biblioteca da escola). A minha nota do ENEM foi excelente, o que me possibilitou ganhar bolsa integral em uma faculdade particular para cursar direito em Guarulhos/São Paulo.
Assim, com 18 anos (em 2005) me mudei para SP para cursar a faculdade de direito e um pouco depois de concluir a graduação, consegui aprovação na OAB e me tornei advogada.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Valdiléia: No primeiro mês da faculdade de direito, um Professor levou a minha turma para visitar o TJ SP, fiquei encantada com a energia do Tribunal e desde então surgiu uma vontade gigantesca de trabalhar naquele ambiente. Perguntei inocentemente ao Professor como fazia para trabalhar ali e ele me aconselhou a verificar nos Juizados Especiais se havia vaga para estágio voluntário. A partir daí, passei a visitar os Juizados para tentar uma vaga, não consegui, nos escritórios de advocacia muito menos, pois minha única experiência profissional era com vacas, porcos e galinhas.
Ainda sim não desisti, vi um tempo depois que precisavam de estagiários em uma vara da Justiça Federal de Guarulhos, chegando lá o diretor, de forma bem ríspida, me avisou que a vaga já havia sido preenchida. Inconformada, me ofereci para fazer estágio voluntário, ele prontamente negou, eu insisti e pedi para falar com a juíza da vara, claro que ele não deixou. Retornei a semana toda insistindo para falar com a juíza, ele sempre me dispensava e dizia que ela não estava, mesmo assim eu passava o resto do dia na porta da vara esperando ela voltar.
Graças a Deus, no último dia da semana eu a vi passar em direção ao seu gabinete, corri atrás dela sem o diretor perceber e implorei para que ela me ouvisse. Pois bem, contei toda a minha história para ela e finalmente consegui a chance de fazer estágio voluntário nessa vara.
Logo na primeira semana, ajudando os servidores com a rotina da vara, eu percebi que era aquilo que eu queria fazer. Um pouco mais tarde eu comecei a observar a Juíza da Vara e passei a sonhar com isso, eu fiquei encantada com toda a rotina do Tribunal.
Estratégia: Você trabalhava e estudava? Se sim, como conciliava?
Valdiléia: Na advocacia eu sempre tive uma rotina muito pesada, houve períodos em que eu trabalhava em dois escritórios, outros apenas em um, mas por vezes saía quase 21hs e chegava em casa 23h completamente esgotada.
Logo, o único tempo que eu tinha era o final de semana, porém, não era o suficiente, eu não tinha estratégia, não sabia estudar direito, basicamente assistia apenas videoaulas para formar minha base.
Após um longo período, decidi trabalhar sozinha, apenas prestando serviços e fazendo home office, logo consegui organizar uma rotina um pouco mais produtiva, separava um período para o trabalho e outra para os estudos. Quando tinha edital aberto intensificava os estudos e tentava diminuir o ritmo de trabalho, mas nem sempre isso era possível, logo eu compensava no final de semana e a essa altura eu já sabia me organizar melhor, já tinha formado a minha base com videoaulas e já conseguia me dedicar às questões e revisões.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovada? Em qual cargo e em que colocação? Pretende continuar estudando?
Valdiléia: Quando eu aprendi a estudar e a criar uma rotina, os resultados começaram a surgir e eu comecei a colocar meu nome em várias listas, ainda que com uma classificação muito ruim. Fui melhorando gradativamente com o passar dos anos:
- 1877º Técnico Judiciário Área Administrativa – TRT2 SP
- 238º Advogado – Sabesp SP
- 40º Advogado – EMDEC Campinas
- 133º Assistente de Gestão Pública – Prefeitura de Guarulhos (aqui eu fui nomeada em 2022 para Secretaria da Fazenda do Município, mas não quis tomar posse para continuar estudando para Tribunais)
- 205º Técnico Judiciário Área Administrativa – TRF4
- 69º Procurador Jurídico – Câmara Municipal de Jandira SP
- 6º Procurador Jurídico – Prefeitura de Tuiuti SP
- 23º Procurador Jurídico – Câmara Municipal de Guaiçara SP
- 13º Advogado – Conselho Regional dos Técnicos Industriais de SP
- 557º Técnico Judiciário Área Administrativa – TRT3 MG
- 657º Técnico Judiciário Área Administrativa – TRT5 BA
- 110º Técnico Judiciário Área Administrativa – TRT12 SC
- 3º Técnico Judiciário Área Administrativa – TRT11
- 46º Analista Judiciário Área Judiciária – TRT11
- Juiz do Trabalho 1ª fase (fiz até a fase de sentença e fui reprovada)
- Juiz – Exame Nacional da Magistratura – ENAM (não tenho a classificação pq ainda não saiu a lista oficial)
Embora tenha sido aprovada em 3º lugar no TRT11 e com direito subjetivo à nomeação em breve, não parei de estudar, pois o edital do ENAM já estava aberto, segui estudando e consegui a aprovação nesse também.
Atualmente, sigo estudando para o cargo de Juiz do Trabalho, mas como ainda não há nem expectativa para um novo edital. Farei todos os TRT’s que publicarão edital nesse ano no Brasil, assim me mantenho preparada para a 1ª fase e também não perco a agilidade que adquiri ao longo dos anos na resolução das questões.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos e família?
Valdiléia: Saía muito pouco, pois tinha apenas o final de semana para estudar. Nos últimos dois anos praticamente não tive vida social, pois fiz quase todos os TRT’s que tiveram em 2022/2023 pelo país.
Estratégia: Sua família e amigos entenderam e apoiaram sua caminhada como concurseira? De que forma?
Valdiléia: Embora minha família seja enorme, posso contar nos dedos as raríssimas pessoas que entendem. A minha própria mãe não entende, segundo ela, isso é ganância, na visão dela, advogar já era um grande feito para quem morava na roça. Para o restante da família, eu deixei de me importar com eles, passei a ser metida, pois não “me misturo mais com os humildes”, até hoje me julgam por isso. Por outro lado, as pouquíssimas pessoas da minha família que me apoiam sempre me dizem: “Não desista, você consegue o que quiser na vida, é muito esforçada, insista até conseguir”.
Os amigos eu perdi quase todos, alguns te apoiam no início, no decorrer dos anos eles se afastam ou você mesmo se afasta deles, pois os comentários começam a ser extremamente desagradáveis (“Você só estuda e não passa em nada?”, “Você está perdendo a sua vida e isso não vai dar em nada”).
As amizades que permanecem na minha vida hoje, salvo raras exceções, são concurseiros que eu conheci ao longo da jornada, os demais se afastaram e alguns eu decidi me afastar justamente para me sentir desmotivada com os comentários desagradáveis.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao último concurso? O que fez para manter a disciplina?
Valdiléia: Bom, nos últimos 2 anos foquei mais para o cago de Técnico e Analista de TRT’s, mas no meio do caminho saiu o meu concurso dos sonhos, que é a Magistratura do Trabalho, então tive que dar uma pausa para me dedicar exclusivamente ao cargo de Juiz, mas como fui reprovada na 2ª fase, retomei os estudos para TJAA e AJAJ, conseguindo aprovação em ambos. Assim que fiz a última prova de servidor (TRT11), voltei-me para o cargo de juiz novamente, pois o edital do ENAM já estava aberto há quase 2 meses, embora não estivesse me dedicando exclusivamente a ele, a bagagem ao longo dos anos me possibilitou obter a aprovação nesse também.
O que me mantém motivada e disciplinada é a certeza de que não quero seguir na advocacia, na verdade eu nunca quis, meu desejo sempre foi trabalhar no Tribunal. Na realidade, financeiramente, a advocacia seria muito mais viável para mim, mas não é o que me faz feliz. O Tribunal é um sonho de longa data, é um desejo do meu coração e embora a jornada seja árdua e dolorosa, tenho certeza que será recompensador acordar todos os dias para trabalhar com algo que eu amo e tenho prazer em fazer. Não há nada mais gratificante do que trabalhar com aquilo que você gosta, isso o dinheiro não compra.
Estratégia: Quais materiais e ferramentas você usou em sua preparação?
Valdiléia: Durante a minha jornada, usei praticamente todos os métodos disponíveis no mercado dos concursos: aulas presenciais e online, livros, pdf’s, apostilados, áudio-books, mapas mentais, dentre outros.
Eu sou da época que havia somente cursos presenciais, fiz muitos, mas depois de um tempo não achava produtivo. Houve um período, quando comecei a estudar para a Magistratura, que eu lia doutrinas quase de capa a capa, e achava que isso bastava. Assistia muitas videoaulas também, entretanto, me frustrava rapidamente, pois não evoluiu nas provas, mas a razão se relacionava ao fato de não treinar por questões, não fazer revisões, tampouco produzir meu próprio material.
A vantagem das aulas presenciais é que nos obrigamos a ir todos os dias, logo, não importa como é o dia, o horário do curso presencial é sagrado. As desvantagens são muitas: os cursos são bem mais caros, o deslocamento em SP é um caos, logo, perde-se muito tempo no trânsito, a evolução dos pontos do edital é muito mais morosa.
Com relação as videoaulas, as vantagens são inúmeras: é possível usar o acelerador, assistir em qualquer horário do dia, fazer anotações com calma, voltar o vídeo se quiser, pode pular as matérias que já estão consolidadas, além do custo benefício ser muito melhor.
No tocante aos livros, atualmente uso apenas para estudos da Magistratura, e ainda sim para alguns temas pontuais que eu precise aprofundar para responder uma questão discursiva ou sentença. Não leio mais de capa a capa como fazia erroneamente no começo da trajetória.
Os cursos em pdf’s são meus preferidos, são práticos e didáticos (me refiro aos do Estratégia, pois foram os que eu mais me adptei e fico com vontade de ler. Já usei outros bons no mercado, mas não tão completos.
Apesar de usar todas essas ferramentas a minha disposição, comecei a ver evolução quando comecei a montar o meu próprio material, feito com base nos pontos principais tirados desses pdf’s, das questões e também de algumas videoaulas, mas de forma muito resumida. No dia da prova eu consigo me lembrar até das cores nesse material, pois é o que uso para revisar em todos os concursos que faço.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Valdiléia: Um colega da sala de estudos que eu frequentava recomendou as aulas da Prof. Adriana Figueiredo no Youtube do Estratégia, fui assistir e adorei, mudou o meu desempenho em português de 50% para 90%. Como gostei muito da didática dela, comecei a assistir também às aulas de direito nos cursos gratuitos que o curso fazia no Youtube para ver se eram tão boas quanto às de português, gostei tanto que me tornei assinante.
Estratégia: Antes de conhecer o Estratégia, você chegou a usar materiais de outros cursos? Se sim, o que mais incomodava quando você estudava por esse concorrente?
Valdiléia: Fiz inúmeros outros cursos antes do Estratégia, o que me incomodava era a qualidade do material (eram muito genéricos), a forma visual do material desmotivar a leitura, a necessidade de adquirir mais cursos ou materiais como complemento e o preço.
Estratégia: Você chegou a fazer algum concurso enquanto ainda se preparava com esse outro material? Foi aprovado?
Valdiléia: Sim, fui aprovada, mas em classificações ruins. Além disso, havia a necessidade de comprar mais de um cursinho, eu aproveitava um pouco de cada para completar o que eu precisava para chegar na prova com alguma chance de aprovação.
Estratégia: Depois que você se tornou aluno do Estratégia, você sentiu uma diferença relevante na sua preparação? Que diferencial encontrou nos materiais do Estratégia?
Valdiléia: Sim, notei uma grande diferença. O que me fez escolher o Estratégia é que eu posso escolher por qual meio vou estudar, por aulas em vídeo de toda a teoria, aulas resumidas, aulas de reta final, pdf’s completos ou resumidos, ou posso estudar só por questões (em vídeoaulas, em pdf das aulas, online na plataforma, por rodadas específicas ou por simulados, além das aulas de mega revisão – Hora da verdade, Premonição, que são excelentes).
Assim, com uma assinatura que super vale a pena, eu posso fazer inúmeros cursos, quantos eu quiser, sem ter que ficar adquirindo material complementar, pois tenho todo tipo de ferramentas à minha disposição (teoria, jurisprudência, resumos, revisões em vídeo, maratona de questões com professores, mapas mentais, questões online e impressas, simulados, rodadas avançadas, tudo em um só lugar).
Além disso, eu gosto muito do visual do material, é muito organizado, dá vontade de ler, é colorido, grifado, quadros esquemáticos, super didático, cheio de jurisprudências e súmulas correlatas ao tema, ao final tem sempre um resumo muito bem feito com quadros e esquemas que facilitam bastante a revisão e a memorização, além da bateria de questões com comentários ao final de cada matéria.
Por último, mas não menos importante, eu gosto muito do Passo Estratégico, sempre que vou iniciar os estudos eu uso essa ferramenta para identificar, por meio do raio-x da banca feito pelos Professores, quais matérias e assuntos priorizar.
As ferramentas que eu mais gosto e que me ajudaram muito são as aulas de Reta final, Hora da verdade, Premonição, Rodadas avançadas, Passo estratégico e os simulados. Para ser aprovada no ENAM eu usei apenas os simulados, a Premonição e algumas aulas de reta final, pois não havia mais tempo para assistir às aulas convencionais, tampouco para ler os pdf’s.
Estratégia: Como montou seu plano de estudos?
Valdiléia: Fazia um planejamento no qual dividia as matérias de direito para estudar de segunda à sexta-feira (2 por dia) e Português/Matemática/Raciocínio Lógico aos finais de semana. Tentava sempre manter 2 matérias por dia.
Com relação às horas, oscilava muito, tiveram períodos que eu estudava 2hs a 4hs líquidas por dia durante a semana e de 5 a 7h líquidas no final de semana. Na semana da prova eu tentava estender um pouco mais, mas tentava não ir muito além de 8h líquidas, pois no dia seguinte ficava completamente esgotada, logo, parei de me estender demais.
Nos últimos dois anos tentei manter a média de no mínimo 3hs e no máximo 7h líquidas, assim conseguia manter a constância sem esgotar meu cérebro.
Estratégia: Como fazia suas revisões?
Valdiléia: No início eu agendava revisões para 7, 15 e 30 dias. Depois de formar a minha base, eu revisava por meio de questões, simulados e também lia todos os meus cadernos de erros (feitos para a banca específica da prova) um mês antes antes da prova, e depois na semana antes do concurso.
Fazia resumos dos esquemas/quadros dos pdf’s estudados, de algumas aulas, mas, principalmente, montei um caderno para cada matéria com todos os pontos do edital, banca por banca, com tudo de mais importante para cada banca, de forma que facilitava a minha revisão nas vésperas da prova.
Pontos muito recorrentes nas provas ou aqueles que eu tinha muita dificuldade, fazia quadros e fichas à mão para revisar na véspera e no dia da prova.
Estratégia: Qual a importância da resolução de exercícios? Lembra quantas questões fez na sua trajetória?
Valdiléia: O divisor de águas na minha trajetória foi quando eu entendi que não bastava assistir aulas, ler pdf’s e fazer poucas questões. Eu só comecei a passar nos concursos quando passei a estudar os pontos do edital por meio de questões. Lembro-me que quando passei no 1º concurso, eu só fazia questões e simulados e fui montando um caderno de erros com base neles, com os pontos que eu mais errava e também com assuntos que eu acertava, mas que eram recorrentes para aquela banca.
Eu não sei ao certo quantas questões resolvi, pois parei de usar a plataforma paga ao perceber que rendia mais quando imprimia todas as questões relacionadas a determinado assunto, resolvia todas de uma vez e ia acrescentando as informações no meu caderno de erros. Dessa forma, perdi o controle da quantidade, pois imprimia a maioria das questões e simulados para resolver de forma física.
A última contagem que tenho na plataforma paga é de 12.443 questões, mas eu faço muito mais questões imprimindo àquelas que os Professores colocam no final de cada pdf. Quando esgoto lá, uso outra plataforma também, logo, não há como ter controle exato desse número.
Estratégia: Quais as disciplinas você tinha mais dificuldade? Como fez para superar?
Valdiléia: Meu maior desafio sempre foi matemática e raciocínio lógico. Eu sempre pulava essas matérias e tentava o chute nas provas, mas não conseguia uma classificação boa por isso, e inúmeras vezes fui reprovada por míseros pontos por ter ido mal nessas disciplinas. Decidi que não adiantava fugir e comecei a assistir às aulas de resolução dos exercícios, fiz um curso presencial só dessas disciplinas e depois mantive a revisão com mais exercícios.
Estratégia: Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova e no dia pré-prova?
Valdiléia: Bom, 30 dias antes da prova eu me distancio de tudo e de todos, deixo o celular quase sempre desligado ou sem wi-fi, não respondo nem a minha mãe.
Na semana que antecede a prova eu foco só em simulados, revisões em vídeo e nos meus cadernos de erros.
No pré-prova assisto revisão de véspera, reviso as leis que tenho mais dificuldades e leio nos meus cadernos de erros os assuntos que errei no último concurso. Eu sou daquelas que revisa até na porta da prova depois que o portão fecha, na fila do banheiro, nas escadas, até entrar na sala fico revisando uns quadros esquemáticos que eu mesma faço com meus maiores erros, coisas que sempre esqueço ou fico em dúvida na hora de responder.
Estratégia: No seu concurso, além da prova objetiva, teve a discursiva. Como foi sua preparação para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Valdiléia: Por um longo tempo, eu ia para as provas com a certeza que na discursiva iria muito bem, pois além de ser uma excelente advogada, eu lia bastante sobre quase tudo. Ledo engano. Minhas notas eram ruins, fazia com que eu saísse de uma posição razoavelmente boa para o final da lista, eu sabia escrever, mas não tinha a técnica que a banca esperava. Decidi fazer um curso de redação, aliás, fiz vários, a minha nota demorou a ficar boa, pois eu só fazia o curso e mandava umas 2 redações para a correção e achava que daria certo.
A minha nota só começou a ficar boa quando percebi que essa fase era tão importante quanto às outras e que eu deveria treinar muito mais. Passei a estudar atualidades e alguns temas de filosofia que a banca gosta para ter argumentos melhores e mais fundamentados. Além disso, contratei mais correções e também fazia redações mesmo sem enviar para correção, apenas para saber escrever sobre determinado tema.
Por fim, montei um caderno com argumentos de autoridade (principalmente com o nome dos filósofos e dos conceitos) sobre os temas que a banca mais gostava para revisar na véspera e no dia da prova antes do café da manhã e ia revisando alguns até a porta da sala.
Estratégia: Quais foram seus principais ERROS e ACERTOS nesta trajetória?
Valdiléia: Meu maior erro no início foi não fazer provas, eu tinha medo de ir muito mal, pois só tinha tempo de assistir às aulas, sabia que não era suficiente, eu me inscrevia e não ia fazer a prova. Já me inscrevi em concursos que me dediquei exclusivamente por mais de 6 meses, no dia de fazer a prova passava mal. Quando finalmente tive coragem de ir fazer as provas, tinha crise de ansiedade no local da prova, já saí de ambulância duas vezes de tanto medo da prova. Em vários concursos já passei mais tempo no banheiro vomitando de nervoso do que fazendo a prova, eu tinha enxaquecas terríveis, sempre na semana da prova. A prova passava e a enxaqueca também.
Entretanto, depois que tomei coragem, não desisti de fazer as provas por isso, percebi que a cada prova que eu fazia, a ansiedade e a enxaqueca iam diminuindo. Houve um período que eu fiz muita prova de Procuradorias do interior, era praticamente uma por mês, eu fiz tantas que quando percebi já não vomitada mais, não ficava nervosa, saía de casa com a mesma tranquilidade de quem iria numa padaria comprar um pão.
Em suma: mesmo não me sentindo preparada para determinado concurso, eu ia fazer para me acostumar com aquele cenário de pressão, para ganhar agilidade na prova e também para me manter sempre motivada e em ação. Isso deu muito certo para mim, me tornei “casca grossa”, deixei de me abalar com as intempéries que sempre acontecem nos concursos, quase sempre saía da prova já pensando no próximo, mesmo que tivesse dado muito errado.
Com relação aos acertos, se tivesse que pontuar três coisas que contribuíram para as minhas aprovações, foram, sem dúvidas, ter feito muitos concursos, ter estudado por meio de muitas questões e, por fim, a fé que eu sempre tive que um dia iria dar certo, pois nunca esteve nos meus planos desistir.
Estratégia: Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, qual foi sua principal motivação para seguir?
Valdiléia: Bom, eu já tive pausas longas por motivos de saúde, por problemas pessoais, mas quase sempre estava matriculada em algum cursinho.
Houve um período que eu comecei a me sentir muito incapaz, pois os resultados não vinham, comecei a questionar as minhas escolhas, mas sempre que pensava em dedicar exclusivamente à advocacia, instantaneamente era acometida por uma enorme frustração, não era isso que eu queria fazer para o resto da vida. O meu sonho sempre foi trabalhar no Tribunal, e eu nunca desisti de um sonho antes, não seria agora o momento.
Para me manter motivada, fazia um esforço de me lembrar das minhas origens, das condições precárias que eu tive na minha educação básica e mesmo com a maior dificuldade do mundo eu consegui ganhar bolsa integral em direito, concluí sem perder a bolsa (tinha que ter aproveitamento de 75% em todas as matérias) e ainda me tornar uma advogada muito boa, modéstia a parte. Eu já havia conseguido outros feitos incríveis, em condições muito piores, agora que tenho condições, seria tola se desistisse, pois se há uma palavra que me define, o nome dela é RESILIÊNCIA.
Além disso, conseguia me recordar de toda a minha trajetória na advocacia, que foi extremamente desafiadora, mas em quase todos os escritórios que eu trabalhei, eu me tornei coordenadora jurídica, graças à minha dedicação, não seria agora que eu iria me sentir incapaz, porque eu sempre fui muito boa naquilo que eu me propunha a fazer.
Por fim, eu sempre me imaginava tomando posse em algum Tribunal, trabalhando no meu gabinete e, inclusive, concedendo entrevista sobre a minha trajetória a fim de motivar outras pessoas como eu. Não posso deixar de dizer que também já me imaginei recebendo o convite do Baile dos Primeiros do Estratégia Concursos (eu sei que esse dia vai chegar em breve, risos).
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso? Deixe sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Valdiléia: Com relação à vida social:
- Se eu pudesse me dar um conselho para o “eu” do passado, o primeiro de todos seria: “NÃO CONTE PARE SEUS PARENTES E AMIGOS QUE VOCÊ DECIDIU TRILHAR O CAMINHO DOS CONCURSOS”.
Logo que saí da faculdade eu comecei a fazer cursinhos e tive a infelicidade de contar isso para todos os meus amigos e para toda a minha família. Logo, na cabeça de todos à minha volta, eu estudo sem parar há mais de uma década, eles não sabem das longas pausas que fiz para fazer pós-graduações, dos anos que eu me matriculei nos cursinhos e não fui por problemas pessoais que eu preferia não compartilhar, não sabem que eu esperei 7 anos por um edital da Magistratura do Trabalho. Enfim, na verdade não sabem quase nada, eu evito contar todo o drama, os perrengues e as dificuldades para não receber comentários negativos e que me desmotivam.
No início eles até parecem te apoiar, mas com o passar do tempo você vai sentir o peso da cobrança, até os mais próximos vão começar a te aconselhar a seguir outro caminho, pois não aguentam mais ver você sofrer, dado que parecerá que você está só perdendo a sua vida trancada num quarto e gastando dinheiro. Nesse momento você terá que ser uma fortaleza, porque é possível que até a sua mãe e seu próprio marido deixem de te apoiar, será só você e a sua fé.
Então, se puder, poupe-se desse desgaste emocional, diga que faz pós-graduação ou que está estudando para mestrado/doutorado. Faça o possível para não dizer que estuda para concursos, pois corre o risco de você ouvir frequentemente coisas do tipo: “Você só estuda e não passa em nada? O filho do Fulano passou com 3 meses de estudos”.
Essa foi a minha experiência, a sua pode ser diferente, mas ainda que as pessoas do seu círculo social sejam maravilhosas, se por ventura você demorar a passar, vai cansar de ouvir toda hora alguém te perguntando se você já passou. Depois de um tempo, essa pergunta dói no fundo da alma, você não vai mais querer ouvir de ninguém.
- Afaste-se de amigos que só te cobram e te julgam por estar sempre estudando. Quem é seu amigo de verdade e torce genuinamente por você entende as suas lutas e os seus “não”. Nem todos à sua volta torcem verdadeiramente pelo seu sucesso, te querem bem, mas não melhor que eles. Quando eu entendi isso, me afastei de muitas pessoas e não só a minha vida fluiu melhor, mas a minha rotina de estudos passou a ser muito mais leve, aliviou o emocional.
- O descanso/lazer é primordial para a sua aprovação, embora a tendência seja se dedicar além do limite do corpo, pois o que se almeja é a aprovação aqui e agora. Seguindo essa linha, chegará esgotado mentalmente no dia da prova e depois levará um mês ou mais para se recuperar e conseguir voltar ao mesmo ritmo novamente, isso se não desistir no meio do caminho porque não consegue mais se concentrar de tão cansado. No meu caso, levei anos para entender isso, tive enxaquecas crônicas por falta de descanso, entendi a duras penas que é primordial reservar um período para descanso/lazer, para fazer atividade física e cuidar da saúde mental.
Com relação à trajetória de estudos:
- Lembre-se sempre que o sonho que você plantou em seu coração nunca é grande demais para você. Se você se emociona ao falar do seu sonho, lute por ele até conseguir, não importa o quão difícil será. Quem é de origem mais humilde como eu, costuma ter uma crença limitante de que os concursos da Magistratura, MP e outros das carreiras jurídicas são apenas para pessoas que estudaram nas melhores escolas particulares, que frequentam as faculdades mais renomadas, isso não é verdade. Eu vim de um lugar extremamente carente, a minha família é muito humilde e ainda sim, estudando em escola pública, sem cursinho pré-vestibular, desprovida de uma educação decente comparada às escolas particulares, ainda sim eu consegui me virar, demorou muito mais, é claro, mas acredito que isso não foi um fator determinante.
Por muito tempo eu deixei de fazer as provas porque eu me sentia muito inferior aos outros candidatos, queria antes fazer concursos menores porque não me sentia capaz de passar num concurso grande. Ao longo dos anos, eu percebi que isso era apenas uma limitação da minha cabeça. E isso também reprova uma imensidão de concurseiros, a falta de confiança em si mesmo. Mude o seu pensamento que o seu resultado mudará, mantenha-se positivo, ainda que a banca seja a tão temida FGV.
Todos somos capazes de alcançarmos o que quisermos, mas claro que não basta apenas dedicação, foco e muita resiliência, pois sempre chega aquele momento que precisamos apenas da nossa fé.
- Faça muitas provas, ainda que tenha um mês de estudos, ir até o local de prova é muito diferente de fazer simulado em casa. Para a maioria, é muito mais penoso vencer a ansiedade do que a banca, a ansiedade te cega e te paralisa. Quanto mais provas fizer, menos ansiedade terá, o que te possibilitará estudar melhor, revisar mais, além de te treinar para ganhar agilidade nas provas e até mesmo segurança para preencher o gabarito (para o iniciante isso é um problema sério).
OBS: se você é um concurseiro muito ansioso como eu, ainda que você estude para TRT’s, por exemplo, mas na sua cidade terá prova do TRF, se tiver condições de pagar a inscrição, faça a prova, mesmo estudando para TRT, apenas para seu subconsciente se adaptar com esse tipo de pressão e você estará muito mais preparado psicologicamente para a prova que você almeja.
- Quanto maior o sonho, mais penoso o desafio. Não desanime porque as bancas te humilham ou não aceitam os seus recursos, criam mais fases para o cargo que você já estava passando, inserem matérias que você odeia ou nem conhece, porque comprou a passagem de avião, reservou hotel e o concurso foi cancelado, isso te fortalece e te prepara para os próximos que virão. Chegará o momento que nada mais te abalará, nem a reprovação. Acredite, esse dia chegará, será só mais uma história de superação para você contar depois e se orgulhar muito de ter mantido a sua fé.
- Tente não comparar o seu resultado com o do coleguinha, as realidades são diferentes, você só vai se frustrar. Siga o seu propósito fazendo o melhor que você pode dentro da sua realidade, muitas vezes parecerá insuficiente, mas o importante é se manter resiliente e fazer um pouquinho de cada vez, mas faça. Concurso é um trabalho de formiguinha, parece que todo o seu esforço não é o suficiente, mas de repente, quando menos esperar, sua evolução dá uma guinada de 360º.
- Por fim, todo concurseiro chegará naquele momento que os resultados estacionam e por mais que você se esforce, eles parecem não mudar. Nesse momento você vai começar a duvidar de si mesmo, vai sentir que essa vida não é para você, mas quem escolhe esse caminho tem que estar ciente que vai apanhar muito e mesmo sangrando vai ter que continuar lutando, pois se parar regride anos de estudos. É nessa hora que você quer desistir de tudo, pois está dando tudo errado na sua vida, é nesse momento que você terá que se agarrar à sua fé e seguir. Provavelmente você estará a um passo da sua aprovação, mas você apanhou tanto que começa a desacreditar que é merecedor ou que é capaz de continuar. Apenas aguente firme, tire um dia ou dois para chorar, se for preciso, tire mais tempo, faça uma viagem ou passe uma semana assistindo à netflix, mas faça uma pausa para descansar a sua mente e em seguida retornar com sangue nos olhos para continuar fazendo as provas, a sua aprovação está logo ali te esperando. Isso é muito real, quando você menos espera, seu nome aparece no diário oficial, a sua emoção é tão grandiosa que compensará toda dor e abdicações que você teve que se submeter ao longo dos anos.