“É importante entender que bons resultados virão a partir de uma soma de fatores, que passam pela parte mental, pelo estudo propriamente dito, pelos métodos empregados e por outros mais. Não é fácil, mas vale a pena, desde que seja isso que deseja.”
Confira nossa entrevista com Talles Humberto Souza Moreira, aprovado em 2° lugar para Analista Legislativo – Arquivologia no concurso do Senado Federal:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam conhecê-lo. Qual a sua formação, idade e cidade natal?
Talles Humberto Souza Moreira: Sou formado em Arquivologia, pela UnB, tenho 30 anos e sou de Brasília (DF).
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Talles: Essa decisão foi um pouco demorada, apesar do incentivo constante do meu pai, que também é servidor, e de já ter contato com o serviço público. Ela ocorreu um ano após a minha formação no nível superior, período em que trabalhava no Senado (entrei lá como estagiário, no fim de 2013), e gostava do que fazia. Nesse momento, vi que o serviço público era um caminho possível (apesar de difícil), em que eu poderia contribuir com o meu conhecimento e trabalho, e, ao mesmo tempo, poderia ter um retorno, que seria uma boa remuneração e estabilidade.
Estratégia: Você trabalhava e estudava?
Talles: Sim, toda a minha trajetória de estudos ocorreu em paralelo ao trabalho. Eu costumava estudar antes do trabalho, logo no início da manhã, e após o trabalho, à noite. Além disso, usava momentos de deslocamento para estudo, eu gravava algumas aulas e as ouvia no percurso do trabalho.
Estratégia: Em quais concursos já foi aprovado?
Talles: Tive boas colocações e fui aprovado em alguns concursos ao longo do tempo, contudo, na minha área, os concursos oferecem poucas vagas (normalmente uma ou duas), dessa forma é necessário estar no topo da lista. No meu caso, fui nomeado nos seguintes concursos: Conselho Federal de Odontologia, em 2º lugar, para o cargo de técnico em arquivo (neste, não tomei posse); Advocacia-Geral da União, em 1º lugar, para o cargo de Arquivista; e Procuradoria-Geral do Distrito Federal, em 1º lugar, para o cargo de Analista Jurídico – Arquivologia.
Sendo nomeado para o Senado, por ora, não pretendo continuar estudando para concursos. O Senado é um órgão que oferece uma ótima estrutura de trabalho, além de uma ótima remuneração, dessa forma, entendo que é momento de pendurar as canetas rs.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos?
Talles: No meu primeiro ano de estudos, fui muito rígido comigo mesmo, estudei todos os dias, incluindo natal, ano novo, finais de semana e feriados. Contudo, ao logo do tempo, entendi que era melhor ter certa flexibilidade, era mais sustentável. Dessa forma, de maneira geral, conseguia ir à casa de parentes, passar tempo com a família. Especificamente para esse concurso, a preparação mais árdua ocorreu apenas no pós-edital, mas mesmo assim, meu estudo girava em torno de 4 a 5h por dia, o que me permitia realizar outras atividades, além do estudo e trabalho.
Estratégia: Sua família e amigos entenderam e apoiaram sua caminhada como concurseiro?
Talles: Sim, felizmente as pessoas mais próximas sempre me apoiaram, especialmente, minha esposa. Acredito que não é fácil para quem não vivencia isso, muitas vezes pessoas mais distantes falam coisas que podem atrapalhar um pouco, dessa maneira, cabe a nós sabermos filtrar o que é dito e quem diz. O apoio ocorreu muitas vezes com o auxílio em atividades do dia-a-dia, para que eu pudesse ter mais tempo para estudo, outras vezes, com incentivos.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao último concurso? O que fez para manter a disciplina?
Talles: Desde o início dos meus estudos, no final de 2016, meu objetivo foi esse concurso, porém, como não havia previsão, passei a fazer os concursos que surgiam na minha área (é importante definir uma área, não pule de galho em galho), ou seja, posso considerar, indiretamente, que a preparação para esse concurso já vem de muito tempo. Contudo, especificamente, foram dois ciclos: um em 2020, que durou cerca de 3 meses, quando as etapas do concurso estavam avançando, porém devido a pandemia ele não ocorreu; e outra, já em 2022, a partir da divulgação do projeto básico, que se intensificou após a publicação do edital.
Para manutenção da disciplina, eu acredito que a proximidade da prova já era um fator, por gerar uma certa pressão; além disso, eu tentava colocar sessões de estudo na primeira hora do dia, isso já gerava uma sensação de “dever cumprido” e evitava que situações do dia-a-dia me atrapalhassem; por fim, costuma assistir alguns vídeos de pessoas bem-sucedidas, de outros aprovados, de professores, algo que me fizesse manter o foco.
Estratégia: Quais materiais e ferramentas você usou em sua preparação?
Talles: Aqui, há mais uma especificidade da minha área (e acredito que de outras não tão populares), não há tanto material “mastigado” disponível, por isso, precisamos ser um pouco autossuficientes. No meu caso, utilizava livros, artigos, publicações de instituições públicas, legislação, normas ISO, entre outros, para o estudo da parte específica. No caso das matérias básicas, utilizava PDF’s e livros. De maneira geral, eu prefiro materiais escritos, dificilmente, eu utilizava vídeos.
Entendo que como vantagem isso me proporcionou um certo autoconhecimento, já que como o material não era destinado para concurso, eu precisaria, por minha conta, fazer esse “trabalho”, então eu precisava identificar o que era bom para mim, e precisava, constantemente, saber se estava ou não no caminho certo.
Além disso, entendo que o material escrito me ajudou realizar um estudo mais ativo, o que me gerou uma boa aprendizagem.
Como desvantagem, entendo que perdi um certo tempo. Se tivesse um material preparado para os concursos de nível superior em arquivologia, conseguiria vencer os editais mais rapidamente.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Talles: Não me lembro ao certo, mas acredito que nas minhas buscas iniciais, lá em 2016, quando tentava encontrar formas e matérias de estudo.
Estratégia: Antes de conhecer o Estratégia, você chegou a usar materiais de outros cursos? Se sim, o que mais incomodava quando você estudava por esse concorrente?
Talles: Então, como dito acima, esses materiais não eram minhas fontes de estudo primárias. Porém, para matérias específicas, cheguei a usar cursos de concorrentes.
De modo geral, entendo que a falta de material de qualidade destinados para concursos de arquivista me incomodaram um pouco, apesar do lado positivo já citado rs
Estratégia: Depois que você se tornou aluno do Estratégia, você sentiu uma diferença relevante na sua preparação? Que diferencial encontrou nos materiais do Estratégia?
Talles: Utilizei bastante os simulados disponibilizados, especialmente para as matérias básicas (português, raciocínio lógico, direitos constitucional e administrativo e inglês).
Na reta final, assisti algumas lives específicas para o concurso, de português, raciocínio lógico e direito administrativo. Entendo que isso contribuiu bastante, já que o conteúdo era mais específico e aprofundando, ou seja, serviu para “aparar as arestas”.
Estratégia: Como montou seu plano de estudos?
Talles: Eu sempre estudei mais de uma matéria por vez, normalmente de 4 a 6 matérias. Eu costumava montar uma rotina semanal, e a cada dia estuda entre duas e três matérias, com cada sessão durando em torno de uma hora, além das revisões (que também eram diárias), questões, simulados e lei seca.
Na fase pós edital, estava estudando entre 4h e 5h cronometradas por dia. Porém, em momentos livres do dia, costumava ler leis, ler algumas publicações e ouvir algumas gravações em áudio (por exemplo, quando estava no trânsito ou fazendo exercícios físicos), e isso não era cronometrado. Ou seja, na prática, era um pouco mais.
Estratégia: Como fazia suas revisões?
Talles: Eu considero a revisão um dos pontos mais importantes para que se tenha êxito nos concursos. Há conteúdos que estudei anos atrás, e ainda me lembro por conta das revisões que fiz tempestivamente.
Eu costumava revisar, no dia seguinte, a matéria que estudei no dia anterior, além disso, todos os dias separava momentos para revisar matérias específicas. Por exemplo, as segundas-feiras irei revisar direito administrativo, então revisava tudo dessa matéria (costuma gastar em entre 30 e 45 minutos para isso).
Como material de revisão, sempre utilizei os mapas mentais, que confeccionava no momento do estudo. Na reta final para o concurso do Senado, fiz também alguns flashcards, especificamente, para os conteúdos de arquivologia, com pontos que considerava muito importantes. No caso desses flashcards, eu os separava em grupos (1, eu revisava todos os dias; 2, duas vezes na semana; e 3, uma vez por semana).
Estratégia: Qual a importância da resolução de exercícios? Lembra quantas questões fez na sua trajetória?
Talles: Em relação aos exercícios vejo que são úteis principalmente em dois momentos: 1º, para entender como determinada disciplina é cobrada; 2º, para identificar se o que você estudou é suficiente para determinado conteúdo, nesse ponto incluo também que pode servir de complementação para o seu estudo (eu anotava pontos importantes que via em questões em um caderno e, em seguida, complementava meus mapas mentais).
Não acho, no entanto, que as questões são formas de estudo ou revisão, considero que são três etapas diferentes e complementares.
Em minha trajetória acho que não fiz tantas questões assim, mas fiz rsrs. De acordo com um site de questões que uso, fiz aproximadamente 5 mil questões, em 6 anos, isso sem contar os simulados (que fazia quinzenalmente ou semanalmente, a depender do momento) e provas de português (que em determinado período, cheguei a fazer uma por dia). Naturalmente, nesses 6 anos, houve períodos de estudo, mesclados a períodos sabáticos. No último mês de estudos para o Senado, por exemplo, fiz mais de 500 questões.
Estratégia: Quais as disciplinas você tinha mais dificuldade? Como fez para superar?
Talles: No caso desse concurso, acredito que inglês e português. Curiosamente, estudei inglês por alguns anos em minha vida, mas não achava meu desempenho tão bom nos concursos (até porque nem sempre era cobrado); já em relação à português, costuma ir muito bem em outros certames, porém, tive que reforçar meus estudos, por conta da forma especial que a FGV costuma cobrar.
Para superar as dificuldades, costumava dedicar um tempo especial, contudo sem prejudicar as outras disciplinas. No fim das contas, não houve surpresa, foram as matérias que tirei menor nota na prova rsrs
Estratégia: Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova e no dia pré-prova?
Talles: Eu separei as três últimas semanas somente para revisão, questões (com o objetivo de identificar possíveis problemas), treino de discursiva e lei seca. No dia pré-prova, eu costumo relaxar. Fiz apenas uma revisão de pontos que considerei que poderia esquecer, algo em torno de uma hora e fui aproveitar o dia.
Estratégia: No seu concurso, além da prova objetiva, teve a discursiva. Como foi sua preparação para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Talles: Minha relação com as provas discursivas é de amor e ódio. Já fui reprovado em concursos importantes, como o da CLDF, por conta da discursiva; e já fiquei dentro das vagas por conta da redação, caso da PGDF.
Vejo que as provas discursivas estão se tornando, a cada dia, mais importantes e valiosas. No caso do Senado, representavam mais de 40% da nota total. Ou seja, a nota da discursiva poderia mudar bastante as colocações.
No meu caso, fiquei em 5º lugar na prova objetiva e a discursiva me ajudou a subir.
Por isso, é muito importante um estudo específico para ela. No meu caso, aumentei a minha carga horária de estudo para as matérias específicas, que seriam o objeto das discursivas (além de ter peso maior na prova objetiva) e fiz muitas redações.
Para isso, listei uma série de temas, com base no edital, e fazia um sorteio de um tema na hora do treino, para gerar o efeito surpresa que temos na hora da prova.
Além disso, eu e uma colega, que também fez o concurso, trocávamos dois temas por semana, fazíamos as redações e corrigíamos as redações um do outro. Considero que isso também contribuiu muito, um feedback de outra pessoa pode fazer com que enxerguemos algo que sozinhos não seriamos capazes.
Estratégia: Quais foram seus principais ERROS e ACERTOS nesta trajetória?
Talles: Foram muitos erros e, talvez, acertos. O principal erro acho que foi, no início, uma certa resistência a mudanças. Eu entendia que deveria estudar de uma forma específica, uma determinada carga horária, e não havia negociação. Ao logo do tempo, percebi que poderia flexibilizar e, até, aprimorar determinados pontos. Ou seja, conseguiria ajustar esses pontos a mim. Mas aqui é importante um adendo: nem sempre o que é mais prazeroso é o melhor, muitas vezes precisamos encarar etapas difíceis, porém necessárias para nós.
Já no que se refere a pontos positivos, acredito que desde o início busquei formas de aprender a aprender. Em alguns casos, me arrependo até de não ter me dedicado mais, como é o caso das técnicas de memorização e leitura dinâmica. Além disso, quero fazer uma menção especial às revisões, acho que são mais que importantes, são indispensáveis, e acredito que as usei muito bem, até exagerei rsrs.
Estratégia: Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, qual foi sua principal motivação para seguir?
Talles: Houve um momento em que ia muito bem nas provas, mas sempre “batia na trave”, sempre ficava no cadastro de reservas, ou perto disso. Além disso, houve algumas reprovações muito doídas nessa trajetória. Tudo isso me fez ter dúvidas, não sabia se conseguiria ou não. Contudo, não cheguei a pensar em desistir, tinha esse objetivo muito bem desenhado, acho que aprendi a gostar da rotina pesada de estudos, só ia largar quando desse certo rs. Mas é muito puxado, o cansaço mental é bem pior que o físico, e isso era presente, especialmente em épocas de pós-edital.
Minhas principais motivações, especialmente nessa reta final, foram minha esposa e filha. Eu tinha internalizado que esse concurso era uma grande oportunidade para proporcionar uma melhor qualidade de vida para elas. Então, nos momentos difíceis, eu me apegava a isso, e funcionou.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso? Deixe sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Talles: Inicialmente, considero importante definir uma área, uma carreira. Entendo que não é proveitoso fazer todos os concursos que aparecem, a chance de sucesso é pequena. Ao mesmo tempo, não foque em um concurso específico (a não ser que já esteja bem posicionado, já seja servidor), pois você minimiza as suas chances. Foque em um conjunto de disciplinas e faça os concursos que se adequam a isso.
Além disso, busque mecanismos de estudo, aprenda a estudar, aprenda a aprender. É preciso dedicação e tempo de estudo, contudo, se utilizar mecanismos de aprendizagem, você estará um pouco à frente de quem não usa.
Por fim, é importante entender que bons resultados virão a partir de uma soma de fatores, que passam pela parte mental, pelo estudo propriamente dito, pelos métodos empregados e por outros mais. Não é fácil, mas vale a pena, desde que seja isso que deseja.