Se você acha que vai ler uma história de uma pessoa de foco, fé e organização, pode parar por aqui.
Talvez o máximo que possa lhe oferecer seja um depoimento de um rapaz disperso, inseguro e caótico que teve que trazer essas qualidades para sua vida – por completa falta de opção.
Desde criança, sempre tive uma habilidade para enxergar padrões e projetar o futuro.
Passei minha infância entre duas vidas (pais separados) que não apresentavam muitas opções de dias melhores. Passava uma semana no morro e outra no asfalto. Ambas em um subúrbio carioca, que hoje é um reduto do tráfico de drogas.
Logo cedo entendi o recado: livros, aqui vou eu! E mirei no concurso do Colégio Militar do RJ…
Dediquei uma verdadeira “eternidade” de um verão de férias aos livros. Mas a vida não tardou a me passar o primeiro recado: “estudar não é tão simples, neguinho”.
Esperançoso, abri minha prova de matemática vi algo errado: passei mais da metade da prova tentando decifrar um erro de digitação que se repetiu por várias questões. Pronto, não era um erro, era o símbolo do metro quadrado – “muito prazer”.
Foi a primeira de muitas reprovações de minha vida.
Até que cheguei à 7ª série convicto de que deveria estudar MUITO para entrar no Colégio Naval, da Marinha do Brasil.
E naquele espírito de boa vontade e pouca organização, minha fé em dias melhores foi se esvaindo ao tentar resolver questões de concursos anteriores.
Até que um dia, em um gesto doloroso de humildade, reconheci que fui mal alfabetizado. E mergulhei, na biblioteca pública estadual, em apostilas pré-vestibulares que me realfabetizaram desde as operações mais básicas de conjuntos e separação silábica até equações mais complexas.
Dessa vez, foram alguns meses de imersão que resultaram na minha aprovação na turma especial de um cursinho preparatório tradicional, e dali para frente a coisa engrenou.
Faz toda a diferença estar cercado de bons professores, materiais e de uma metodologia eficaz.
Uma prova disso é que, em 1996, aos 13 anos fui aprovado no concurso nacional mais concorrido da minha faixa etária – o tão desejado Colégio Naval!
Mas na Marinha minha desorganização e dificuldade em cumprir horários foram aos poucos me trazendo a consciência de que talvez essa não fosse a melhor carreira para mim…rs
Foi então que em 2002, ainda na Marinha (aspirante da Escola Naval) comecei a folhear os primeiros materiais da carreira fiscal. Entrei em uma turma de “Fiscal Básico” e terminei em 2003, mas parei os estudos por mais de um ano, até que em 2004 retornei aos “elementos do ato administrativo” com toda nostalgia de quem já ouviu falar sobre…rs
Enfim, conciliar trabalho com estudos não é fácil para ninguém, sobretudo para um oficial recém-formado da Marinha (a qual considera a vida fora do trabalho apenas um detalhe perto de tantas tarefas atribuídas a um Segundo-Tenente).
Nessa época, apesar de não conseguir tempo para estudar eu ainda mantinha interesse em um novo concurso, foi então que aproveitei para explorar os assuntos da mente. Pratiquei Yoga e li muito sobre meditação, alimentação para o cérebro, memorização e toda sorte de livros que me permitissem acalmar e expandir os potenciais de minha agitada mente.
Aos trancos e barrancos, me inscrevi em alguns concursos da carreira fiscal, mas o trabalho conspirava contra. Desde a escala de serviço, até as diversas viagens do navio. O simples gesto de fazer a prova já seria uma vitória…
E dessa fase atribulada guardo as mais diversas “tragédias” de um concurseiro… as quais hoje saboreio com muito humor.
Desde viagens até Manaus que eu sequer terminei de preencher o cartão-resposta (SEFAZ-AM), passando por diversas reprovações por 1 questão (SEFAZ-MG, SEFAZ-RS, SEFAZ-RJ) até bebedeiras frustradas em que dei por certa minha aprovação (ISS-SP)…
Mas, enfim, mais uma vez minha leitura de padrões veio à tona: na Marinha eu não conseguiria passar para fiscal.
E foi então que abri meu coração a toda espécie de concurso. E fui aprovado em um concurso para Agente Administrativo do Ministério da Saúde. Cuja jornada era de 30 horas semanais (mas era remunerado com menos da metade do salário que eu recebia nas Forças Armadas)
Então minha posse no cargo foi em Abril de 2006, onde desempenhei atribuições em uma farmácia hospitalar com toda a alegria. Apesar de ser uma função bem menos pomposa que a de um oficial de marinha.
Agora estava armado meu próprio circo “concurseiro do fim do mundo”.
Quando – após vender meu carro e alugar uma quitinete na zona portuária do Centro do Rio de Janeiro – só me restaram os estudos.
Mas confesso que senti medo depois de um tempo estudando, entretanto todas as minhas fichas já estavam apostadas sobre o tabuleiro – não havia retorno.
Passei por uma temporada extenuante de 7 meses intensos de estudos, quando me tornei de fato competitivo. Nesse momento utilizei todo o conhecimento e experiência adquiridos sobre os atalhos e possibilidades da mente.
E foi assim que entrei de cabeça nos simulados.
No início, meu nome figurava entre os últimos colocados, e após melhorar meu rendimento, e conseguir durante algumas rodadas as primeiras colocações… até que minha hora chegou: fui aprovado como Auditor Fiscal na SEFAZ-CE!
Mas outra temporada de erros se sucedeu após essa fatídica notícia. Doei todo o material, me desliguei de tudo que pudesse me conectar aos concursos…muito antes da nomeação. A qual só ocorreu após longos 2 anos e meio.
Entretanto na época me dediquei levianamente à cultura e arte cariocas, em detrimento da enxurrada de concursos que passavam diante de mim.
E o mais curioso é que quando fui finalmente nomeado Auditor Fiscal do Ceará, já havia retomado (mais uma vez) aos estudos…
Até que, enfim, fui lotado em um posto fiscal do interior de pouco movimento, fato que me permitiu entrar em outro profundo mergulho nos estudos.
E como quem já conhece o caminho da batalha, minha história teve outra reviravolta: fui aprovado como auditor fiscal no ISS-RJ (prefeitura) e SEFAZ-RJ (estado) e convocado para tomar posse em ambos!
E num dia inesquecível, saí da maternidade (após o nascimento do meu primeiro filho) para assinar o termo de posse no Estado (SEFAZ-RJ), onde hoje trabalho como o homem mais feliz do mundo.
Além disso, agora no Coaching do Estratégia tenho a oportunidade de compartilhar dessa experiência com dezenas de alunos e ajudá-los a fazer essa mesma travessia.
Enfim, aquele neguinho que tinha tudo para ter uma vida muito dura, acreditou que tudo poderia ser diferente – e foi.
E você, que vida escolherá? Assista a entrevista realizada no Canal do Estratégia Concursos, onde trago outros detalhes dessa improvável história.
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Belo testemunho e motivação para os que nem sempre tiveram "tanta sorte na vida".
Parabéns pela jornada de superação, Rafael! Certamente a sua história irá motivar a muitos guereiros e guerreiras que hoje estão no campo de batalha dos concursos!
Valeu Márcio, grande abraço meu camarada!!!
Parabéns, Rafael!!!
Olá Rafael!
Parabéns pelas conquistas alcançadas. Continue tendo sucesso nos seus projetos. Trajetória sofrida, porém brilhante.
Grande abraço.
Olá Rafael!
Parabéns pelas conquistas alcançadas. Continue tendo sucesso nos seus projetos. Trajetória sofrida, porém brilhante.
Grande abraço.
História muito linda e motivadora! Parabéns!!
Muito legal e bonita a sua história, neguinho (rs). Fora a história de superação, gostei bastante da parte em que você foi aprovado como auditor do Ceará. Às vezes tbm penso que eu poderei descansar dos estudos assim que vir uma aprovação, quando na verdade o estudo deve é continuar, talvez mesmo após a posse...
Esse é um grande conselho que dou a quem está na jornada.
Estude até a posse!
Até pq, depois da primeira aprovação o "time ganha confiança" e a coisa toda flui com bem mais facilidade.
As outras aprovações demandam bem menos energia, você faz a prova com mais calma, etc...
Parabens es um vencedor...que inspiracao para todos concurseiros.
Parabéns!!! Ótima experiência compartilhada. Traz motivação para não desistir. Obrigado.
Desistir é uma questão tão psicológica quanto matemática:
Por exemplo (eu fui pobre por muito tempo então só consigo projetar meus exemplos na pobreza...rs)
Você está em um ponto de ônibus por 20 minutos e já passou o ônibus de todo mundo, menos o seu.
O ponto já esvaziou, entraram outras pessoas e você continua lá- de pé.
A chance de você ir embora e caminhar até outro lugar para pegar outra linha de ônibus e SEU ÔNIBUS PASSAR LOGO EM SEGUIDA é maior a medida que você passa mais tempo no ponto. Então permanecer no ponto é mais inteligente e racional.
Força na remada!
Sucesso
Sua história é sensacional e estimulante. É cheia de erros e, justamente por isso, é um grande incentivo ao concurseiro que demora a passar ou que está desestimulado.
"estudar não é tão simples, neguinho"...kkkkkk
Abs
Exatamente...rs
Acredite a recompensa é MUITO MAIOR que tudo isso que passamos...
Força na remada!