Olá pessoal ,
Uma novidade interessante trazida pelo novo edital do concurso TCU foi a cobrança da disciplina Raciocínio Analítico. Certamente isso gerou muita confusão entre os candidatos, motivo pelo qual estou escrevendo esse artigo. Em primeiro lugar, gostaria de deixar bem claro que o raciocínio analítico cobrado no edital não é o mesmo que o raciocínio lógico que estamos habituados a ver em provas do CESPE. Em realidade, trata-se de uma disciplina bem diferente, que até onde tenho conhecimento só foi cobrada para concursos de alto nível no certame de Fiscal do ICMS/SP realizado em março de 2013 (estou pesquisando se o CESPE já cobrou alguma vez no passado, mas a princípio entendo que não). Naquela ocasião, essa disciplina foi chamada pelo edital de Raciocínio Crítico, entretanto posso dizer que se trata basicamente do mesmo conteúdo.
Na disciplina Raciocínio Analítico nós iremos trabalhar com uma área da lógica conhecida como “lógica informal”. Para isso, vamos começar conhecendo alguns aspectos relacionados com a lógica formal, que costumamos chamar de lógica de proposições (essa sim bastante cobrada em provas de concurso). Entretanto, vamos gastar a maior parte do nosso curso nos debruçando sobre a lógica informal, a construção de argumentos, os erros de argumentação (como as falácias), e assim por diante… Ao contrário da lógica formal, onde os argumentos são simplesmente classificados como Válidos ou Inválidos, na lógica informal temos uma série de possibilidades: um argumento pode ser mais sólido ou menos sólido, uma premissa pode reforçar ou enfraquecer um argumento, uma conclusão pode ser mais provável ou menos provável…
Você verá que as questões de Raciocínio Analítico exigem bastante senso crítico do candidato, bastante capacidade de interpretação, portanto exigem mecanismos próprios para a resolução das questões. Para exemplificar, transcrevo abaixo duas questões desse assunto cobradas na última prova do Fisco de São Paulo (que se encontram resolvidas em nosso curso):
Considere o texto abaixo para responder às 2 questões seguintes.
USP usa raios gama para esterilizar mosquito transmissor da dengue
Enquanto na ficção a radiação gama conferiu poderes extraordinários ao Incrível Hulk, na vida real ela ajuda a dificultar a vida do mosquito da dengue, prejudicando sua capacidade reprodutiva. Cientistas do CENA (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP de Piracicaba desenvolveram uma técnica que usa radiação para tornar o Aedes aegypti estéril. Usando uma fonte de Cobalto-60, os pesquisadores fazem uma espécie de “bombardeio” de raios gama no inseto. A técnica, chamada de irradiação, já tem uso consagrado em várias outras aplicações, inclusive na indústria de alimentos. A dose de radiação usada é considerada baixa e não mata o mosquito, mas é suficiente para torná-lo estéril. “A técnica é perfeitamente segura. Não há risco para o ambiente, porque a radiação não deixa nenhum tipo de resíduo perigoso”, explica Valter Arthur, coordenador do estudo. A irradiação é feita só nos mosquitos machos, quando eles atingem a chamada fase pupa, em que já estão com todos os órgãos formados, mas ainda não são adultos. (…) Depois do processo, os mosquitos irradiados são soltos no ambiente, onde competirão com os machos normais pela cópula com as fêmeas. As relações chegam a acontecer, mas os ovos decorrentes delas não eclodem, o que ajuda a controlar a população dos insetos.
(MIRANDA, Giuliana. USP usa raios gama para esterilizar mosquito transmissor da dengue. Folha de S. Paulo, São Paulo, p.8C, jan.2013)
FCC – ICMS/SP – 2013) De acordo com a continuação da reportagem, que não foi fornecida no trecho acima, os cientistas do CENA ainda precisam realizar um teste para verificar a efetividade da técnica descrita. Dentre os fatos abaixo, qual é o único que poderia comprometer essa efetividade, caso fosse verificado?
(A) Os mosquitos que sofreram a irradiação passam a voar mais rapidamente que os demais.
(B) A radiação afeta o metabolismo dos mosquitos, que passam a ter um ciclo de vida mais longo.
(C) As fêmeas do mosquito são incapazes de distinguir os mosquitos irradiados dos demais.
(D) A radiação afeta as fêmeas do mosquito durante a cópula, podendo torná-las estéreis.
(E) Os exemplares estéreis do mosquito são bem menos competitivos sexualmente do que os outros.
FCC – ICMS/SP – 2013) A partir do texto, pode-se inferir que a dose de radiação usada deve ser baixa porque
(A) os mosquitos irradiados devem manter sua capacidade de copular.
(B) a técnica desenvolvida poderá ser utilizada na indústria de alimentos.
(C) todos os órgãos dos mosquitos expostos a ela já estão formados.
(D) os insetos expostos à fonte de Cobalto-60 estão na fase pupa.
(E) uma dose alta de radiação gama ajudaria a vida do mosquito.
É interessante saber ainda que essa matéria, embora não cobrada em concursos públicos com frequência, costuma ser cobrada no exame da ANPAD, que é uma prova específica para pessoas que pretendem ingressar em cursos de especialização em administração, bem como na prova da FGV para seleção de sua pós-graduação em administração (CEAG), e também nos exames de proficiência em lógica exigidos para ingressar em cursos de MBA no exterior, conhecidos como GMAT. Assim, ao longo do nosso curso vamos trabalhar diversas questões oriundas desses diversos exames, e também trabalharemos simulados de questões criadas por mim no estilo da banca CESPE, para vermos algo mais próximo do que podemos esperar na sua prova.
Assim, finalizo reforçando o recado: raciocínio analítico não é o mesmo que raciocínio lógico! Caso você pretenda ter um bom desempenho na prova do TCU, considero bastante recomendável que você dedique parte do seu tempo de preparação a essa disciplina.
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Gostaria de um contato de um professor particular.
Professor,
gostaria de saber o gabarito das questões apresentadas.
Oi Marco, os gabaritos são E e A, respectivamente.
Abraço!
Professor!
A primeira questão não teria como resposta certa a alternativa "C"?
Não vejo como depreender do texto que mosquitos irradiados seriam menos competitivos sexualmente, pois para afirmar isto, necessário seria que o texto informasse que a radiação diminui o poder de conquista do "macho irradiado", na disputa natural (confronto e/ou maneirismos) pela fêmea!
Para mim (na leiguice), a alternativa "C" (As fêmeas do mosquito são incapazes de distinguir os mosquitos irradiados dos demais), é muito mais indutiva do que a alternativa "E". E ressalto isto, em razão de o texto apenas afirmar que, soltos, ambos competirão pelas fêmeas, "na mesma proporção capacitiva".
Poderia me explicitar e fundamentar a resposta como sendo "E"?
Grato pela atenção.
Att
James
James Pontes: A ideia do raciocínio analítico é saber qual a lógica de ligação entre uma oração e outra, ou entre ideias. Na alternativa "C" não tem como ser pelo enunciado da questão. Perceba o enunciado:
"Dentre os fatos abaixo, qual é o único que poderia COMPROMETER essa efetividade, caso fosse verificado?"
A alternativa "C" (As fêmeas do mosquito são INCAPAZES de distinguir os mosquitos irradiados dos demais.) não implicaria em uma ideia negativa no texto que impediria a conclusão do texto, visto que a incapacidade de distinção das fêmeas é um fato benéfico à tecnologia aplicada, o que não chega a ajudar, mas também não atrapalharia a cópula entre os insetos macho e fêmea. Dessa forma haveria uma concorrência normal entre os insetos machos saudáveis e estéreis.
Quanto a correta, letra "E", se os mosquitos modificados fossem menos competitivos, isso sim interferiria negativamente na aplicação, já que estariam sempre atrás da concorrência, podendo ser fadado ao fracasso de não ter mais nenhuma copulação durante sua breve vida.