Olá, pessoal!
A prova de Técnico do MP RJ veio bem cansativa, com muitos textos e muitas pegadinhas.
No dia em que fizemos a transmissão de gabarito extraoficial, nós tínhamos um total de 70 questões para comentar naquelas imagens de provas que os alunos nos enviam. Mesmo assim, realizamos a correção sempre afirmando que aquele gabarito era uma primeira vista da prova e que muito possivelmente poderíamos escorregar em alguma pegadinha da banca, por conta do nosso limite de tempo na transmissão.
Nossa intenção hoje, após a visualização do gabarito preliminar da banca, é perceber tecnicamente os fundamentos para o gabarito de cada questão.
Assim, percebemos que algumas questões de certa forma não apresentam critérios claros e válidos para o gabarito que a banca divulgou.
Veja as questões abaixo:
10. (FGV / MP RJ Técnico do Ministério Público 2019)
Ler não é natural. Mesmo falar e conversar não são atos naturais, são culturais. Portanto, ninguém nasce sabendo falar, conversar, ler ou escrever. Nem aprende sozinho. São habilidades e conhecimentos que precisam ser transmitidos e ensinados. A linguagem articulada não é um fenômeno da natureza, é da cultura. Vem do grupo social, ou seja, se ninguém ensinar, não se aprende.
A frase abaixo que NÃO mostra ligação temática com esse segmento textual da escritora Ana Maria Machado é:
(A) transmitir experiências para a geração seguinte é uma necessidade inevitável para a sobrevivência humana;
(B) é claro que as famílias ensinaram e ainda ensinam muita coisa, mas outras demandas surgiram e houve necessidade de instâncias institucionais nesse processo;
(C) o ambiente da sala de aula influencia no processo de ensino-aprendizagem e na metodologia empregada nas aulas;
(D) a educação selecionou e sintetizou, entre tantos saberes acumulados, aquilo que devia ser indispensável aos que chegam a este mundo;
(E) a humanidade criou alguns ofícios para garantir que a herança cultural pudesse se propagar por meio da transmissão escrita.
Comentário: O tema do texto tem relação com ensino e aprendizagem. Note que se diz que ninguém nasce sabendo, nem aprende sozinho, pois os conhecimentos precisam ser transmitidos, ensinados.
A alternativa (A) está correta, pois a transmissão de experiências para as gerações seguintes já é por essência a relação de ensino e aprendizagem. É fato que o fim desta alternativa fez referência à sobrevivência humana, o que parece destoar, mas o aprendizado conduz à sobrevivência do ser humano. Por isso, o contexto absorve essa informação.
A alternativa (B) está correta, pois as famílias passam ensinamentos, além das instituições de ensino, as quais também passaram a ter tal responsabilidade.
A banca entendeu a alternativa (C) como a exceção, pois considera que não mostra ligação com o tema do texto. É fato que o texto fala da importância de se ensinar, e esta alternativa faz considerações sobre as condições de ensino, isto é, o ambiente da sala influencia, sim, nesse processo e na metodologia do ensino. Mas há de se perceber que tal informação não rompe o tema do texto, que é tratar do ensino.
É claro que, após vermos o gabarito preliminar, de certa forma entendemos que a banca queria que o candidato percebesse que não se está falando no texto sobre como ensinar, as condições do ensino, como ocorre na alternativa (C); porém não se pode negar que a afirmação desta alternativa não tenha relação como tema do texto, que é a transmissão de saber a outrem.
A alternativa (D) está correta, pois afirma algo sobre a transmissão de saberes acumulados, e isso tem relação com o processo de ensino e aprendizagem.
A alternativa (E) está correta, pois afirma que foram criados alguns ofícios para garantir a transmissão da herança cultural. Tais ofícios não se esgotam em ambientes escolares, mas em outras esferas as quais tenham relação cultural, artística. Assim, de certa forma, encontra-se esta alternativa com tema veiculado no texto.
Com base na explicação da alternativa (C), deve-se pedir anulação da questão.
Gabarito preliminar: C (Cabe recurso)
11. (FGV / MP RJ Técnico do Ministério Público 2019)
Todo cidadão, numa sociedade democrática, tem o direito às mesmas oportunidades. Não podemos admitir que alguém que passou por uma escola sinta-se barrado no baile. (Ana Maria Machado)
Nesse fragmento textual, critica-se sobretudo:
(A) a desigualdade social;
(B) a crise da democracia;
(C) a falta de inserção social;
(D) o analfabetismo;
(E) a pedagogia escolar.
Comentário: A informação mais importante do texto está na frase “Não podemos admitir que alguém que passou por uma escola sinta-se barrado no baile.”
Veja o papel importantíssimo da escola, do ensino.
Podemos entender que há uma crítica às dificuldades de acesso a um bom processo de ensino, mas de maneira alguma, com base no texto, podemos dizer que não há inserção social no Brasil. Portanto, a crítica não pode ter ocorrido contra a falta de inserção social, mas contra as suas deficiências. Falar de falta é falar que não existe algo, por isso naturalmente eliminamos esta alternativa justamente pelo tom categórico da palavra “falta”.
A alternativa (A) apresenta um tema muito generalista, pois não se fala da desigualdade social como um todo, mas voltada ao acesso ao ensino de qualidade.
As alternativas (B) e (D) estão bem fora das informações do texto.
A alternativa (E) é a que sobraria, mas vemos que ela se fecha muito ao processo, isto é, a como se ensina, e esta não é a temática do texto.
Por conta disso, deve-se pedir anulação da questão.
Gabarito preliminar: C (Cabe recurso)
12. (FGV / MP RJ Técnico do Ministério Público 2019)
O professor tenta exaustivamente explicar o conteúdo seguidas vezes, muda o ponto de vista, muda o esquema exposto na lousa, exemplifica de duas, três, quatro formas diferentes. A cada pausa, chama atenção de diferentes grupos de alunos, que insistem em não prestar atenção. (….) Já transpirando e quase rouco de tanto aumentar o tom de voz, o professor chama a atenção de um aluno que ri alto.
— Fica de boa, profe. Depois eu vejo isso aí no YouTube.
Entre as estratégias didáticas empregadas pelo professor (texto 2), só está ausente:
(A) a repetição de conteúdos;
(B) o foco variado;
(C) a técnica da explicação;
(D) a exemplificação prática;
(E) a pausa reflexiva.
Comentário: A questão pede a estratégia didática que não está presente no texto.
A banca considerou a alternativa (A) como havendo tal estratégia, porém há de se observar que a repetição de conteúdos, de acordo com o texto, não ocorreu, pois o texto afirma no primeiro período que “O professor tenta exaustivamente explicar o conteúdo seguidas vezes, muda o ponto de vista, muda o esquema exposto na lousa, exemplifica de duas, três, quatro formas diferentes.”
Assim, ele explica o conteúdo de várias formas, várias vezes; mas isso não quer dizer que ele repetiu vários conteúdos, ele repetiu várias vezes o mesmo conteúdo. Ele não podia passar para outros conteúdos sem que o aluno tivesse entendido o primeiro.
Assim, literalmente notamos que a alternativa (A) também está errada, assim como a alternativa (E), pois realmente não há no texto qualquer menção a uma pausa reflexiva.
Dessa forma, pede-se a anulação da questão.
Gabarito preliminar: E (cabe recurso)
23. (FGV / MP RJ Técnico do Ministério Público 2019)
Texto 4
Assim que toca o sinal indicando o fim das aulas, um grupo de alunos sai correndo das salas. Eles não estão com pressa de ir embora, como seria de se esperar após nove horas e meia de atividade escolar, mas para ir ao pátio, onde vão ensaiar para a fanfarra ou treinar handebol.
Em um colégio onde 30% dos alunos repetiam ou abandonavam os estudos, houve um receio inicial em aumentar o tempo de classe, com o período integral. A solução surpreendeu, fez aumentar o interesse dos jovens pelos estudos e melhorou os indicadores educacionais da unidade.
O primeiro parágrafo do texto 4 mistura dois tipos de textos, que são:
(A) narrativo / dissertativo-expositivo;
(B) narrativo / descritivo;
(C) descritivo / dissertativo-argumentativo;
(D) descritivo / dissertativo-expositivo;
(E) dissertativo-expositivo / dissertativo-argumentativo.
Comentário: É fato que se enxerga uma evolução temporal com a locução conjuntiva “Assim que” e os verbos no presente do indicativo “toca” e “sai”. Assim, podemos entender que predomina a narrativa.
Porém, a informação seguinte tange a consideração do autor, pois ele avalia que “Eles não estão com pressa de ir embora” e em seguida transmite seu ponto de vista, pois essa pressa de ir embora seria de se esperar: “como seria de se esperar após nove horas e meia de atividade escolar”.
Dessa forma, não se pode deixar de admitir a presença de trecho dissertativo-argumentativo no segundo período do texto.
Ficaria claro para o leitor que não haveria consideração do autor, portanto, texto dissertativo-expositivo, se fosse escrito da seguinte forma, por exemplo:
Eles não estão com pressa de ir embora, vão para o pátio, onde vão ensaiar para a fanfarra ou treinar handebol.
Assim, deve-se entrar com recurso contra essa questão pedindo a sua anulação.
Gabarito preliminar: A (cabe recurso)
Meus amigos, esta é a minha avaliação técnica dos gabaritos da prova.
Infelizmente, por questões de agenda, não poderei fazer o comentário desta prova em vídeo, mas a professora Adriana Figueiredo conseguiu agendar o comentário desta prova no dia 28/11, às 15 horas, no canal do Estratégia Concursos.
Espero ter ajudado!
Um grande abraço!
Décio Terror
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Bom dia, professor!
Haverá divulgação das questões passíveis de recurso da prova de Analista Processual?