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Português: Diferença entre verbo transitivo e intransitivo

Olá, pessoal! Tudo tranquilo?

Hoje vamos começar contando uma historinha.?Veja:

Joana é uma moça que trabalha muito e, quando tira férias, viaja e liga para sua mãe assim que chega ao seu destino. O problema é que a mãe de Joana é muito esquecida e sempre faz a mesma pergunta para a filha.

– Oi, mãe! Cheguei! – disse Joana antes de entrar no táxi, após desembarcar.

– Oi, minha filha! Graças a Deus você chegou. Você chegou aonde mesmo? Esqueci a cidade para onde você foi.

– Cheguei a Cabo Frio, mãe. Esqueceu de novo, né? – disse Joana rindo.

– Esqueci – respondeu a mãe sem graça.

– Estava pensando, mãe, e cheguei a uma conclusão: você fica muito estressada quando viajo e acaba se esquecendo do lugar para onde vou. – disse Joana observando a paisagem através da janela do táxi

– É verdade, Joana. Você tem razão. – disse a mãe pensativa – agora vou deligar para você aproveitar o passeio. Um grande beijo!

– Um beijo, mãe!

 

Aposto que você ficou aí pensando: “que raio de história boba é essa? O Terror deve estar de brincadeira”.?

Vou explicar:?você notou que usei bastante o verbo “chegar”? Volte ao texto e observe os contextos nos quais ele aparece. Você percebe alguma diferença? Veja que Joana diz “Oi, mãe! Cheguei!”, depois a mãe pergunta: “Você chegou aonde mesmo?” e Joana reponde: “Cheguei a Cabo Frio, mãe.”. Mais adiante Joana diz “cheguei a uma conclusão: você fica muito estressada […]”.

E aí, notou alguma coisa com relação ao verbo “chegar”? Ele é intransitivo ou transitivo?

Note que em “Cheguei!” e “Cheguei a Cabo Frio, mãe.” O verbo “chegar” é intransitivo. Aí você deve estar pensando: “mas se Joana chegou a Cabo Frio, ‘a Cabo Frio’ é o objeto indireto, logo, o verbo ‘chegar’ é transitivo indireto.”

Não! É aí que você se engana e erra a questão na hora do concurso!

O termo “a Cabo Frio” é adjunto adverbial de lugar. Note que a mãe de Joana pergunta aonde ela chegou, isto é, preposição “a” + advérbio “onde”.

Veja que o advérbio interrogativo “onde” substitui o termo “Cabo Frio”. Logo, “Cabo Frio” é um adjunto adverbial de lugar.

Observe:

Cheguei a Cabo Frio.

Chegou  a + onde?

Entendeu?

Bom, mas e o verbo “chegar” em “cheguei a uma conclusão”? Nesse caso, o verbo “chegar” é transitivo indireto e “a uma conclusão” é  o objeto indireto.

Para comprovar, basta perguntar: Chegou a quê?

Note: “quê” é o objeto indireto e substitui o termo “uma conclusão”.

Percebeu que a transitividade verbal depende do contexto? Isso também ocorre com outros verbos. Observe:

 

Calma,✋ que ainda não acabou!!

Cabe ainda destacar mais dois verbos: “estar” e “virar”.

O verbo “estar” pode ser verbo de ligação ou verbo intransitivo. Observe nos contextos abaixo:

Note que “feliz” é um adjetivo que caracteriza o estado do sujeito, sendo, portanto, o predicativo do sujeito; “bem” é um advérbio de modo e modifica o verbo “estou”,  o termo “em Belém” é um adjunto adverbial de lugar.

Por fim, o verbo “virar” pode ser intransitivo, transitivo direto ou verbo de ligação. Veja:

Observe que, no primeiro exemplo, o verbo “virar” significa mudar de posição. Dessa forma, ele é classificado como transitivo direto e o termo “o rosto” é o objeto direto.

No segundo exemplo, o verbo “virar” é intransitivo, pois o sujeito não pegou “a direita”, ele seguiu por uma direção. Logo, o termo “à direita” é adjunto adverbial de direção.

No terceiro exemplo, Ana não pegou uma modelo e a trocou de posição, Ana passou a ter características de modelo, tornou-se modelo. Por isso, o verbo virar, nesse contexto, é um verbo de ligação e o termo “modelo” é o predicativo do sujeito.

 

Tuuuudo isso serviu para mostrar que a transitividade verbal não é decoreba, pois depende do contexto. Por isso, a partir de agora, você vai entender e não decorar a matéria. Ok?

Um grande abraço,

Professor Décio Terror.

 

Equipe Décio Terror

Ver comentários

  • Excelente, Terror!
    Quem ficar no decoreba, por certo, poderá sucumbir a uma questão no certame.

    Jucimar Marques

  • Muito bom, professor!! Só não entendi claramente a diferença do verbo SER nas frases "Estou bem." (VI) e "Estou feliz." (VL). Para mim, ambos caracterizam o estado do sujeito... Queria entender melhor

  • Olá, achei interessante, se considerar pelo prisma dos concursos públicos. Mas, para quem se acostumou "com" Rocha Lima, Bechara, Celso Cunha e Lindley Cintra, Napoleão Mendes de Almeida, Cegalla, Perini, e tantos outros, senti uma certa falta de referências...
    Havia sim uma discussão sobre se verbos de movimento exigiriam um complemento, como propõe Rocha lima e seu complemento circunstancial, de lugar, por exemplo. Ou as várias propostas de transitividade do Dicionário de Celso Luft, geralmente considerado referência da norma-padrão. Mas me soa estranho condenar a preposição "em" com o verbo chegar.. Realmente , o grande Celso Pedro Luft, diz que "chegar a" é lusitano e "chegar em" é brasileiro; e acrescenta que na escrita deveríamos optar pelo modelo lusitano: "cheguei a Porto Alegre, 16:30", em vez de "cheguei em Porto Alegre, 16:30". Ok, então Celso Pedro Luft é a sua referência?

    No livro dele cabe um pouco de tudo....nos dois aliás, o de Regência Nominal e o de Regência Verbal. Gostaria só de saber qual gramático considera assim, acredito que algum dos que nomeei (Cunha e Cintra e Bechara?) o sugira, apenas gostaria de saber a referência.

    Quanto a "cheguei a uma conclusão", sua explicação sobre ser um objeto direto ficou muito boa. Essa parte está 100%, mas gostaria se possível de saber a fonte também. Tudo bem, que para quem estude para concurso não faça diferença, mas, para quem já estudou essa matéria, acaba sendo importante saber, porque temos diversas possibilidades em mente, a gente sabe que cada gramático "diz uma coisa", então é relevante ter a referência...

    Obrigada pelas excelentes explicações de sempre, professor.

    O interesse da pergunta é porque quem, infelizmente, tem um conhecimento acadêmico prévio, às vezes tem que ajustar o "padrão concurso".

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