Vale a pena chutar nas provas da PF e PRF de 2021, que serão aplicadas pelo Cebraspe, no temido método Cespe, em que um erro anula um acerto?
Para quem busca uma resposta imediata e sem rodeios, já antecipamos que SIM! Porém, não é qualquer chute aleatório que vai te levar à aprovação.
O que propomos é um CHUTE ESTRATÉGICO, que deve ser aplicado com critério e levando em consideração diversos fatores.
O sistema de penalização do Cespe tem como objetivo eliminar a possibilidade de aprovar na sorte um candidato despreparado.
Isso porque um candidato que chuta a resposta de todas as questões, por exemplo, estatisticamente tenderá a acertar metade da prova (50% de chance de acerto para cada questão).
Considerando o sistema de penalização do Cespe para as provas da PF e PRF, esses 50% de acertos conseguidos ao chutar aleatoriamente serão anulados pelos 50% de erros e a nota final desse candidato será zero.
A banca não tem para onde correr. Ela só minimizará as chances de beneficiar um candidato pelo chute aleatório se o gabarito contiver um número de respostas “certas” e “erradas” equivalentes.
As provas do Cespe da PF e PRF terão 120 questões cada. O esperado é que os gabaritos preliminares apresentem 60 “Certas” e 60 “Erradas”.
É claro que essa distribuição pode variar para 59×61, 58×62 ou 57×63, mas dificilmente fugirá dessa proporção.
Infelizmente, já houve provas do Cespe em que o gabarito foi bem desequilibrado, mas isso ocorreu em pouquíssimos concursos.
Analisando os gabaritos de diversos concursos anteriores do Cespe, percebemos uma tendência de balanceamento também em grupos menores de questões.
Da mesma forma, mesmo em grupos de apenas 5 questões os gabaritos costumam vir equilibrados (3 certas e 2 erradas ou 2 certas e 3 erradas).
Em grupos de 10, 20 ou mais questões, esse padrão ocorre com frequência ainda maior. Em conclusão, quanto maior o conjunto de questões analisado, maior a probabilidade de equilíbrio do gabarito.
Esse padrão também costuma ser observado dentro dos blocos da prova. Na prova da PF eles estarão distribuídos em 60, 36 e 24 questões e na PRF, 55, 30 e 35. O equilíbrio também ocorre na divisão por matérias com um número de questões mais elevado.
Vamos analisar, por exemplo, a prova de Agente da PF de 2018. Apesar da banca ter lançando uma sequência fora do padrão entre as questões 84 e 96 (8 certas e 5 erradas seguidas), no geral podemos afirmar que a prova foi equilibrada.
Mesmo com essa sequência atípica, dos 24 grupos de 5 questões, 18 apresentaram a proporção 2×3.
Similarmente, dos 12 grupos de 10 questões, apenas 3 não apresentaram as proporções 5×5 ou 4×6.
Aumentando o universo, todos os 6 grupos de 20 questões dessa prova seguiram o padrão com distribuição 9×11.
Finalizando a análise, os blocos I, II e III apresentaram as distribuições 29×31, 17X19 e 12×12, respectivamente.
No geral, a distribuição acabou com 62 certas e 58 erradas. O gabarito definitivo, mesmo com 6 anulações e 2 trocas de gabarito, acabou com 56 certas e 58 erradas.
Se você é um daqueles paraquedistas que não estudaram e vão fazer as provas do Cespe da PF ou PRF com a filosofia do “vai que dá”, nem se dê ao trabalho de ler o restante do texto. Chutar não te trará qualquer ganho.
Os benefícios do chute estratégico são inversamente proporcionais à quantidade de questões não respondidas. Ou seja, quanto menos questões dependerem do chute, maior a probabilidade de ganho.
Na mesma linha, para que essa técnica tenha resultado, também é preciso que o candidato tenha um alto índice de acertos nas questões que respondeu.
Deste modo, o chute estratégico certamente acrescentará preciosos pontos, porém somente aos candidatos bem preparados, que conseguiram resolver quase toda a prova com elevado aproveitamento.
O grande segredo para resolver uma prova de “certo e errado” é o candidato assumir o papel de um auditor, procurando os erros das questões.
Assim, mesmo em uma assertiva longa, um único detalhe errado torna toda a questão errada. Ao contrário, para ser considerada “certa”, a assertiva deve ser perfeita em sua totalidade.
Por isso os candidatos costumam perder mais tempo e ter mais dúvidas nas questões de gabarito “certo”. O medo de não perceber o erro da questão faz com que um maior número de “certas” entre no grupo das duvidosas.
Consequentemente, dentre as questões respondidas com segurança, é comum que o número de “erradas” seja maior que o de “certas”.
A banca é cruel! Não basta ter o conhecimento da matéria para acertar as questões.
O Cespe, em especial, costuma elaborar questões mais interpretativas, muitas vezes abusando da subjetividade e jogo de palavras.
Isso faz com que, mesmo um candidato bem preparado, possa cair em “cascas de banana” e não acerte todas as questões que respondeu com certeza.
Estima-se que essa perda esteja próxima dos 10%.
Imagine, por exemplo, um candidato que respondeu 100 questões com alto grau de certeza. Ele pode achar que já terá uma boa nota e preferir deixar as 20 duvidosas em branco.
Mas se ele errou 10% dessas questões, terá acertado efetivamente 90. Com a penalização de seus 10 erros sua nota líquida será apenas 80 (66,7%).
Em alguns concursos essa nota é insuficiente para a aprovação. A nota de corte da PRF de 2018, por exemplo, foi 92 (76,7%). Nesse caso, a decisão de deixar as duvidosas em branco resultaria em reprovação.
São inúmeros os fatores que determinam a nota de corte, como o número de vagas, o nível da prova, o nível dos candidatos, entre outros, e eles podem variar entre um certame e outro.
É muito válido o candidato utilizar alguns parâmetros dos concursos passados em sua preparação, porém, é muito arriscado estipular uma meta de pontuação baseada na nota de corte do concurso anterior.
Isso porque, se essa nota for baixa, o candidato pode, além de relaxar nos estudos, preencher a folha de respostas de um modo conservador que “garanta” uma nota que pode se apresentar insuficiente para a aprovação.
O concurso passado da PF, por exemplo, teve uma mudança significativa no conteúdo programático, enfatizando matérias como Informática/TI e Contabilidade, que não costumavam ter grande peso na área policial.
Essa mudança pegou todos de surpresa e as notas de corte foram relativamente baixas, 68 (56,7%) para Agente e 49 (40,8%) para Escrivão.
Mas o edital desse concurso de 2021 veio similar ao de 2018, o que favoreceu o aproveitamento do estudo pré-edital. Certamente os candidatos virão mais fortes e a nota de corte tenderá a subir.
Mesmo com um número bem superior de vagas no concurso deste ano, o candidato que se preparar para essa prova pensando em nota de corte abaixo de 70% corre o sério risco de ser reprovado.
O CHUTE ESTRATÉGICO consiste em seguir os seguintes passos:
Por exemplo, no caso citado anteriormente, em que o candidato resolveu 100 questões com alto grau de certeza, vamos supor que suas respostas estivessem distribuídas entre 40 “certas” e 60 “erradas”.
Se ele chutasse todas as 20 duvidosas como certas, seu gabarito ficaria equilibrado e seriam grandes as chances de melhorar significativamente sua nota.
Observe que respondendo as 120 questões e mantendo a perda de 10%, ele teria 108 acertos e 12 erros. Sua nota final seria 96 (108-12). Naquela situação hipotética da prova da PRF cuja nota de corte foi 92, o candidato sairia da condição de reprovado para aprovado.
Para quem acha que esse exemplo é apenas didático e, na prática, impossível de ocorrer, saiba que essa situação é mais comum do que parece.
Como já explicamos, temos mais segurança em responder as questões “erradas”. É natural, portanto, que as questões duvidosas contenham “certas” em maior número.
Há quem defenda, inclusive, a técnica de marcar no gabarito apenas as questões “erradas”. Se a quantidade dessas questões for equivalente à metade da prova, é só marcar “certo” no restante.
Nada nesse mundo é garantido. Se os gabaritos das provas do Cespe da PF e PRF de 2021 não acompanharem o padrão de distribuição equilibrada, o chute estratégico pode até prejudicar a nota do candidato.
Da mesma forma, o chute estratégico também pode prejudicar o candidato que tiver muitos erros nas questões respondidas. Nesse caso, a base para o chute pode se inverter.
Mas com esse volume de erros, com ou sem o chute a reprovação já seria praticamente certa (já dissemos que o chute estratégico só ajuda quem está bem preparado).
Além do mais, as eventuais anulações ou mudanças de gabarito também podem afetar o equilíbrio do gabarito.
No último concurso da PRF, por exemplo, o gabarito preliminar veio equilibrado (58C/62E), mas o gabarito definitivo acabou distorcido. Essa prova teve 12 questões anuladas, terminando com 48 “certas” e 60 “erradas”.
Entretanto, mesmo com esse desequilíbrio, o chute estratégico ainda seria vantajoso, pois 10 dessas anulações foram de gabarito preliminar certo. Ou seja, o candidato que marcou “certo” nas anuladas ganharia os pontos da mesma forma.
Esse é o grande dilema dos candidatos! Na hora de marcar o gabarito na folha de respostas vem aquele frio na barriga: “Deixo em branco para garantir meus acertos e evitar descontos ou arrisco o chute para tentar ganhar pontos?”
Tudo depende das circunstâncias. É uma relação entre o risco a correr e tamanho do benefício possível. Vamos analisar alguns cenários para os candidatos que não conseguiram responder com segurança todas as questões da prova.
Se deixou de responder uma quantidade mínima de questões, deve observar a distribuição de respostas. Se houver uma diferença grande na quantidade de “certas” em comparação com as “erradas”, o chute poderá resultar em um saldo favorável de pontos.
Mas se seu gabarito estiver balanceado, pode ser prudente deixar essas questões em branco.
O candidato que conseguiu responder, por exemplo, 116 questões, sendo 58 certas e 58 erradas, com equilíbrio também dentro dos blocos e em grupos menores, está em uma situação em que não há uma lógica para o chute.
Ou seja, seria um chute totalmente aleatório com grandes chances de causar prejuízo à nota. Situação em que não recomendamos o chute.
Se o candidato tiver muitas questões não respondidas, sua reprovação já é quase certa. Portanto, não tem nada a perder.
É como no jogo de Poker. Há situações em que o jogador se vê obrigado a apostar todas as suas fichas. Essa é uma jogada de alto risco, chamada de “all-in”, que tem dois resultados possíveis: ganhar muito ou ser eliminado do jogo.
Para esclarecer, o candidato que já estaria eliminado do concurso com as questões que conseguiu responder, deve considerar o risco do chute como uma questão de sobrevivência.
Acrescentando, para consolidar o entendimento de que compensa correr o risco do chute estratégico, esse artigo do Guilherme Solino faz uma análise estatística do perfil dos 1.200 melhores classificados na prova objetiva do concurso da PRF de 2018.
Nesse artigo fica claro que os candidatos que deixaram menos questões em branco tiveram melhor desempenho na prova.
Já explicamos sobre essa situação para quem deixou de responder uma quantidade mínima de questões. É o único caso em que desaconselhamos o chute.
Também esclarecemos que, no caso de o candidato ter muitas questões duvidosas, o chute é praticamente obrigatório.
Mas quando as respostas convictas já estão divididas em quantidades equivalentes entre “certas” e “erradas”, o candidato deve fazer uma análise mais detalhada de seu gabarito.
Vale a pena analisar separadamente os blocos ou grupos menores para encontrar distorções dentro de cada um deles. É bem provável que esse equilíbrio do gabarito global não se repita por toda a prova.
Dessa forma, ao invés de escolher uma única alternativa para concentrar o chute de todas as questões duvidosas (que acabaria no ganho zero), o candidato pode distribuir o chute dentro de cada grupo de distorções, cada um com sua devida alternativa de menor incidência.
Por exemplo, se o número de “certas” for maior que o de “erradas” no bloco I, e menor nos blocos II e III, o candidato pode chutar as duvidosas do bloco I como “erradas” e as dos blocos II e III como “certas”.
Uma coisa é fazer sua prova e no final chutar as questões que não sabe usando uma lógica estatística. Outra coisa é alterar respostas de questões já resolvidas para tentar equilibrar o gabarito a qualquer custo.
Não faça isso! Você pode estar jogando fora sua aprovação!
O Cespe gosta de brincar com o sangue frio dos candidatos. Já comentamos sobre as sequências de respostas repetidas na prova de Agente da PF de 2018.
Da mesma forma, o gabarito da prova de Escrivão desse mesmo concurso fez ziguezague (E, C, E, C, E…) em uma sequência de 21 questões (da 58 a 78).
Esses “desenhos” formados na folha de respostas podem induzir o candidato a mudar respostas por considerarem o gabarito estranho ou improvável.
Não inverta a ordem de análise! Primeiro você resolve a prova e marca o que tem certeza. O chute vem depois!
Todo candidato que estuda em alto nível deve fazer simulados durante sua preparação. Como o próprio nome sugere, não se trata apenas de resolver questões, mas tentar antecipar toda a experiência da prova.
Então, por que não experimentar o chute estratégico nos simulados para as provas Cespe da PF e PRF?
Executando o chute nos simulados será possível tirar as próprias conclusões sobre sua eficácia. Isso fará com que chegue no dia da prova mais seguro sobre como agir com as questões duvidosas.
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