Olá, futuros auditores e auditoras da Receita Federal do Brasil!
Gostaria de parabenizar todos os espartanos que saíram vivos da “sangrenta” batalha com a ESAF. Esse foi o mais “mortal” de todos os combates, não tenham dúvida. Fez o concurso de 2009, no qual eu passei, parecer treino. Aos que passaram, um alívio muito grande, e uma satisfação e sentimento de dever cumprido ainda maiores. Aos que ainda não conseguiram dessa vez, a certeza (e eu confio em você) que será no próximo, basta não desistir e persistir no sonho que ele logo chegará. É questão de tempo. Não deixem de entrar nesse órgão que está entre os mais importantes ee respeitados do nosso país, responsável pela arrecadação de mais um trilhão de reais. E, como você deve saber, é essa arrecadação que pagará seu futuro salário. Ops, desculpe, senhor(a) autoridade: pagará seu subsídio. :)
Recebi alguns e-mails pedindo, outros intimando (já estão incorporando o cargo!), a falar um pouco sobre a Receita Federal, especialmente sobre o trabalho, lotação, carga horária, ambiente….esse tipo de coisa que todo novato quer saber, não é? Eu também quis, confesso, muito embora, na minha lotação inicial, minha escolha tenha sido um baita tiro no escuro. Tentei acertar uma mosca, numa sala fechada, no escuro, e com uma carabina. E acertei. Não me arrependo da minha escolha e do tempo (muito bom por sinal) que vivi lá. Onde? Em Jaguarão, a cidade heróica, lá nos confins (calma, não é COFINS) do Rio Grande do Sul.
Falar da Receita, no meu caso, não é nada imparcial. Por mais que eu tente, sempre pendo para o lado do amor que tenho ao órgão e a tudo que ele me traz e proporciona. Portanto, desconsiderem qualquer exagero ou “não é bem assim, Aluisio”. Espero que vocês, no primeiro dia, e a partir dele (se é que já não têm), venham a ter esse mesmo sentimento pelo órgão e por trabalhar nele. Reclamem, xinguem dos defeitos e algumas limitações. Estão no direito, mas não deixem de amá-lo.
Entrei na Receita “pela porta” da Aduana, trabalhando inicialmente no trânsito aduaneiro, depois com despacho de exportação e, finalmente, com despacho de importação. Professor André Galas, eterno amigo, foi muito didático nesse ponto. “Vamos aos poucos, começando pelo mais light”. E ele sabia bem o que fala.
Trânsito aduaneiro era (e ainda é) basicamente conferir caminhões, carga, documentos e, principalmente, se as cordas deles estavam bem amarradinhas. :) Fabiana lembra bem desse tempo. Um frio de torar a espinha e nós, como bons novatos, querendo mostrar serviço, lá no pátio aberto da EADI Sul conferindo caminhões sob uma temperatura abissal. Se achei ruim? Que nada! Era ótimo! Sentia-me a própria autoridade! Tenho saudade e muita daquele tempo (até parece que tenho vinte anos de casa… entrei apenas em 2010). Tenho certeza que ao menos a grande maioria, depois de passar por essa fase e for removida (esqueça a remoção por um tempo), sentirá saudade da lotação inicial, das primeiras tarefas, das primeiras responsabilidades (e aqui tem muito isso, vão logo se acostumando), as primeiras assinaturas e, para alguns, as primeiras multas impostas. Recordo-me como se fosse hoje da primeira multa que apliquei, do primeiro auto de perdimento que assinei. Em regra, muitos irão descobrir esses e outros prazeres da Aduana. Ame-a, ou deixe-a.
Para os que vão entrar pela porta dos tributos internos, não saberei como falar como marinheiro de primeira viagem, mas imagino que a satisfação seja a mesma. E para os que caíram na fiscalização, um prazer ainda maior. Tudo, porém, passa pelo perfil de cada um, o interesse que cada um terá e, claro, o que o trabalho poderá despertar. O que é bom para José pode não ser bom para Francisco. Normal. De um jeito ou de outro, dê o seu melhor. O órgão vai lhe retribuir, mais cedo ou mais tarde. Aqui tem lugar para todo mundo e para todo tipo de perfil. Na Receita, só é meio difícil fazer operações e arrancar dentes. O resto, pode ser feito um dia. :)
A primeira coisa que digo a todo mundo, e isso já está mais do que retórico: vão de peito aberto, seja lá para onde você for. Seja Brasília ou Brasiléia/AC, todo lugar tem algo para ser descoberto, conhecido e aproveitado. Até mesmo Almeirim/PA e Óbidos/PA, bem como Pacaraima/RR e Tabatinga/AM. Ou mesmo as pacatas Chuí/RS e Porto Xavier/RS. Exceto para os viciados e alucinados por altos edifícios, shoppings faraônicos e super agitadas vidas noturnas, a estada nas lotações iniciais pode ser mais agradável do que poderão imaginar. Especialmente com o novo trabalho e tudo o que ele tem a oferecer. E, acredite, para a grande maioria dos casos, ele será fascinante. Tá, tudo bem, tô sendo meio parcial… Mas o troço é bom mesmo, ora!
Muitos me perguntam sobre a carga horária, ambiente de trabalho e coisas do tipo. Para esse tipo de pergunta, respondo simplesmente: depende muito! A RFB tem unidades nos locais mais remotos, longínquos e diferenciados possíveis, estando presente em todos os Estados, com suas diferentes culturas, gírias, sotaques, modos de trabalhar. Se não bastasse isso, temos ainda um órgão que possui uma infinidade de atribuições e funções. Até mesmo dentro de áreas iguais, mas em diferentes regiões, o ritmo e o modo de trabalho são completamente diferentes. Certamente as características da Aduana do Porto de Pecém, no Ceará, são diferentes das observadas na Aduana do Porto Seco de Jaguarão/RS.
Além da Aduana, uma das grandes áreas de atuação da Receita Federal, que cuida, precipuamente, da administração e cobrança dos tributos alfandegários e das fronteiras do nosso país, temos também a fiscalização relativa aos tributos internos (IR, IPI, COFINS, CSLL, entre outros), que abarca outra grande quantidade de atribuições. As várias e várias siglas dos vários e vários órgãos dentro da estrutura regimental da Receita Federal não me deixam mentir: SECAT, SERAT, SEORT, DEFIS, DELEX, SEPEL, SAPAC, DEFIS, COFIS, SEFIA… Quer saber o que cada um desses faz? Bem, aqui eu passo a bola para a Portaria MF nº 203, de 14 de maio de 2012. Lá ela explica, detalhadamente, o que cada um faz (ou, pelo menos, devia fazer…).
Carga horária? Bem, em tese, são oito horas diárias, de segunda a sexta-feira, duas horas para o almoço, entre 12 e 14h, começando às 08h e finalizando às 18h, como todo e bom órgão deve ser. Porém, na prática, isso não funciona para todos, claro. Como falei, a Receita Federal tem várias e várias funções e atribuições, variando muito de um lugar para outro. Existe trabalho de todo tipo aqui dentro.
Existem lugares com esse horário bonitinho que falei, e acredito que seja uma boa parte deles, claro. Não tinha como ser diferente. Mas existem lugares também em que há os regimes de plantões (diga-se aduanas), escalas (repita-se, aduana), trabalhos remotos, viajando, trabalho aos sábados e domingos, entre outros. No meu tempo de Aduana, fiz vários e vários plantões que me renderam algumas horas para ser compensadas depois e poder sair do Rio Grande do Sul e visitar meu querido Estado de Pernambuco. Já cheguei a passar dez dias por lá só em razão de plantões acumulados. Isso é em todas as Aduanas? Não, infelizmente. Cada caso é um caso. Falo apenas de Jaguarão/RS, e para os que trabalhavam diretamente no Porto Seco da Unidade. Ou seja, isso tudo para dizer que não há como dizer uma regra que se aplique a todas ou boa parte das unidades. Cada uma tem a sua peculiaridade, até mesmo com a possibilidade de um horário mais flexível, ou diferenciado. Quem vai saber isso é o gestor da sua unidade e/ou seu chefe imediato (nos casos em que você não chegar para ser o chefe da sua unidade J – é, pode acontecer isso também: as pessoas estarem apenas esperando você chegar para entregar as chaves da unidade e #partiu).
Quanto ao ambiente de trabalho, infelizmente (ou felizmente), não posso falar de todo mundo e de todos os lugares. Falarei apenas do dois únicos que conheci, ok? E o que tenho a falar? Saudade. Da que senti ao sair de Jaguarão e da que vou sentir a um dia deixar Feira de Santana/BA, minha lotação atual.
Por onde passei, sempre fui muito bem recebido e acolhido, sempre com pessoas dispostas a ajudar e a ensinar. Jamais (digo, jamais) encontrei os chamados anti-colegas. Na minha primeira lotação, em Jaguarão/RS, não pude ser mais bem recebido, com cerimônia oficial de posse com autoridades locais, bolinho e comes e bebes, e um ambiente super acolhedor. Sem falar na sede da unidade, novinha em folha, cheirando a novo! Pessoas maravilhosas (e não estou puxando o saco, é a pura verdade). Levarei ao túmulo as amizades e amigos que lá deixei: André, Fabiana, Priscila, Cezar, Martin (o escritor), Jorge (o blogueiro dos dois centuriões de seguidores), Gustavo, Beth e Leandro; entre outros. O período na Aduana foi um dos melhores da minha vida. Vindo do MDIC, não teria como ser melhor. Sai das LI’s para as DI’s, com a “coisa” ficando ainda mais interessante e dinâmica. Claro: e com o poder de multar, digo, educar as pessoas. J
Em Feira de Santana/BA não foi diferente. As boas-vindas já começaram com o “dono” da casa, o delegado Manoel Coutinho, figura carismática, de alto astral e sorriso contagiante. É o tipo de cara que dá um “não” a você e você não consegue sentir raiva nenhuma dele. Pelo contrário, fica ainda mais amigo. E, pelo menos onde trabalho, o SECAT, o clima é semelhante. Encontrei amigos e companheiros da melhor qualidade possível. Confesso que cheguei de costas para Feira, já pensando na próxima remoção. Mas, com o tempo, os amigos e a adaptação ao novo trabalho (aqui trabalho com a revisão de lançamentos relativo às pessoas jurídicas), tudo isso foi mudando. Até gosto de Feira, me sinto bem e moraria, se for o caso, por um bom tempo. Aproveitar Feira e o maravilhoso Estado da Bahia faz da estada aqui uma satisfação e aprendizado. Quanto aos amigos, aqui é bem maior. Não falarei o nome de todos para não ser injusto ao deixar alguém de fora. Em nome de todos, por
“Um minuto, Aluisio! E como são os treinamentos, valorização do servidor, esse tipo de coisa?” Também varia muito, claro. Treinamento é algo que depende da Região fiscal e, claro, das suas atribuições. Mas, garanto, isso é coisa que não falta na Receita Federal, especialmente para os que irão trabalhar com os tributos internos e atividades afins. Os sistemas e programas tendem ao infinito em quantidade e, por que não, em alguns casos, em complexidade. Cursos, em muitos casos, não são opcionais, são obrigatórios. De modo geral, a Receita valoriza a formação do seu servidor. É perfeito? Não. Por isso que ela é apaixonante. O perfeito é chato. J Falando apenas por mim, já fiz vários. Aproveitando o ponto, nunca me senti tão útil ao meu país e à população, e tendo o meu potencial aproveitado de forma mais otimizada possível, quanto me sinto trabalhando na Receita. E tenho muitos outros colegas que diriam o mesmo.
Outra característica da Receita Federal é que os vários perfis, com o tempo, tendem a ser melhor aproveitados no órgão. A RFB, em sua grande parte, valoriza o bem-estar e satisfação dos seus servidores, tentando alocar todo mundo naquilo que ele faça melhor, ou que tende a deixar a vida profissional dele, e, conseqüentemente, seu rendimento funcional, melhor. A Receita proporcional, para quem realmente quer, várias oportunidades de crescimento profissional. Aproveitando e dando o seu melhor, o vôo pode (e deve) ser alto. Basta querer tomar vôo.
“E fácil voltar para a terrinha?” Tô ficando repetitivo, mas, novamente, depende. Se você for de Florianópolis, ou tem “tesão” por aquela capital “horrível”, e quer ir morar lá, tenho que admitir que irá demorar um pouco (muitos poucos, diria eu) para você voltar pelas vias normais. E sobre as vias anormais eu não falarei. J E isso vale, por exemplo, para Fortaleza, João Pessoa, Natal, Salvador, Recife, Curitiba…
Portanto, futuro colega, desapegue! Vá de peito aberto, como falei antes. Curta seu novo lugar. Não fique jamais contando as horas para voltar para casa, maldizendo o lugar que mora e deixando de aproveitar onde você está. Desapegue do fórumconcurseiro por um tempo, não fique vendo notícias sobre o próximo concurso (mesmo você estando na dentro da casa!!!!) e contando horas para a remoção chegar. Claro, para os que irão (caso venham a conseguir) ter internet em casa. J
Se não há muito que fazer na sua cidade, arrume! Se não há locais bons para comer, certamente deve ter uma cidade vizinha, um prato típico na Roça de Tia Laura que é de encher os olhos. Se a comida chega de barco, espere e curta ela chegar.
Nesse ponto, quero rapidamente contar a história de uma das colegas que passou comigo em 2009 e foi lotada na fronteira norte da Região norte. Sim! Bastante longe! Lembro-me do quanto ela tinha receio, preocupações e do tanto que maldizia o lugar que iria. Nem havia saído do curso de formação e já estava pensando em quando sairia da cidade que nem ao menos tinha morado um dia sequer. Em pouco tempo, descobrindo o lugar, descobriu algo, para muitos, difícil de imaginar: ir ao Caribe de ônibus, e quase todo fim de semana. Aproveitar a Venezuela, suas riquezas, curiosidades, curtir a cultura amazônica… resultado? Na remoção seguinte, em 2012, ela simplesmente não participou. Estava tão adaptada ao lugar que achou melhor passar mais um tempo, acumular pontos e ir direto para um lugar muito bom (na opinião dela). A estada no lugar já não era tão dolorosa. Melhor! Era proveitosa! Quem é ela e para onde foi? Curioso! Vamos em frente!
“É fácil falar isso estando num lugar relativamente bom!” Agora é sim. Mas também já fiquei a 4.000Km da minha terra, da minha família, dos meus amigos, do meu Sport Recife, indo para a fronteira com o Uruguai. Mas nesse tempo, conheci o Uruguai de carro, a cultura desse país maravilhoso, comi parrilla em Chuy/URU e no mercado de Montevidéu, fartei-me nos freeshops de Rio Branco, enjoei de ir a Gramado/RS e à Serra Gaúcha, fui na Fenadoce de Pelotas/RS, conheci os pampas (nunca tinha visto, só ouvia falar nas aulas de geografia), senti o frio abissal da fronteira (deixei os 36° de Recife para ir sentir os 3,6° da fronteira sul), comi churrasco gaúcho (que dispensa qualquer comentário) e desfrutei de muita coisa boa. E isso é porque Porto Alegre, a capital com aeroporto mais próxima, ficava a 400km, e Jaguarão, na fronteira sul, tinha apenas 29 mil habitantes. Chegar em Recife? Era quase uma peregrinação a Meca. Lembra dos dez dias de folga com os plantões? Pois é, quase dois dias desses dez eu gastava apenas indo e voltando. Ruim? Que nada! Tava tudo perfeito. Ser uma das autoridades da cidade, reconhecido e conhecido pelos desconhecidos que sabiam até seu nome, seja na padaria ou na farmácia da sinaleira da Rua 15, nem aquele cartão que tudo compra pagava!
Finalizando, outra característica da Receita Federal é que os vários perfis, com o tempo, tendem a ser melhor alocados e aproveitados no órgão. A RFB, em sua grande parte, valoriza o bem-estar e a satisfação dos seus servidores, tentando alocar todo mundo naquilo que ele faça melhor, ou que tende a deixar a vida profissional dele, e, conseqüentemente, seu rendimento funcional, melhor e maior. Pensem bem nisso!
É isso, amigos e amigas! Espero que tenham chegado a ler até aqui e tenham gostado um pouco da história e de como é minha segunda casa e, logo mais, a sua também. A Receita Federal os espera de braços abertos (para trabalhar muito, claro! A casa de mamãe, para alguns, ficou para trás)! Tenho certeza que serão muito bem vindos e acolhidos. Aos que não conseguiram dessa vez, muita força. Continuem na batalha e não desanimem. Fiquem tristes um, dois dias. É normal. Mas não desistam de vir trabalhar nesse super órgão. Tenho certeza que não se arrependerão! E tudo valerá a pena. Até as lagrimas que, talvez, tenham derramado agora.
Um grande abraço a todos! E, mais uma vez, parabéns a todos os aprovados! Sejam bem-vindos!
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