Olá, concurseiro, tudo bem?
Você passa pela insegurança de não entender quando um verbo é transitivo direto, transitivo indireto, bitransitivo ou intransitivo?
Tais nomenclaturas costumam assustar os alunos, porque não são termos usados no nosso cotidiano. Apesar disso, não se preocupe, este texto serve para auxiliar vocês a desmistificar, de vez, o tema da regência verbal!
Frequentemente, sabemos que as pessoas têm dificuldade quando o assunto é regência verbal. Isso ocorre porque poucos conhecem como o verbo se comporta na Língua Portuguesa.
Aquele que não sabe a natureza do verbo, isto é, se ele é transitivo direto (requer complemento direto) ou indireto (requer complemento indireto), bitransitivo (requer complemento direito e indireto) ou intransitivo (não requer complemento), dificilmente, compreenderá as estruturas sintáticas entre os verbos e o comportamento de seus regentes.
Com isso, a primeira dica é: observe o contexto no qual a sentença está inserida para averiguar como o verbo age em relação aos seus complementos ou adjuntos, pois, ao identificar a circunstância de inserção do verbo, você será capaz de descobrir sua transitividade.
Neste texto, apresentamos exemplos contidos na Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo (2013), e na Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla (2008), com o objetivo de facilitar a visão sobre o conteúdo (que é terror para a grande maioria).
Você perceberá que, ao conhecer a forma como se rege um verbo, tudo fica mais fácil de ser assimilado. E, com isso, será possível colocar em prática os elementos teórico-gramaticais que serão, também, desenvolvidos.
A regência verbal nada mais é do que a maneira como o verbo se interliga aos seus objetos, seus complementos ou suas adjunções.
O verbo, como núcleo mais importante de uma oração, comanda, por assim dizer, o modo como as outras estruturas sintáticas da frase se comportarão.
Perceba, desde já, que a regência verbal situa-se no campo da Sintaxe; enquanto o verbo, o da Morfologia.
Por exemplo, em Saiba a regência do verbo e, então, encontrará seu complemento, o verbo ‘saber’, nesse contexto, é apresentado como transitivo direto, pois necessita de um complemento (direto) para fazer algum sentido, qual seja: a regência do verbo.
Isso implica dizer que ‘saber’ necessita de um complemento (sem preposição) para ter seu sentido completo.
Para verificar a regência verbal, devemos perceber alguns pontos que serão discutidos, aqui, nesta seção.
Analisemos os casos 1 e 2:
Se dissermos que ‘os gatos correm’, podemos garantir que o ato de correr não implica, necessariamente, menção a um lugar. Embora, inicialmente, possa soar estranho, visto que você sabe que aquele que corre obviamente corre em algum lugar.
No entanto, perceba que não é disso que se trata este tópico, pois, se afirmamos que ‘gatos correm’, você concordaria com essa afirmação, pois ‘correr’, nesse caso, é intransitivo (de predicação completa).
Esse exemplo ilustra o termo adjacente ‘no telhado’, mas poderia ser ‘na rua’, ‘em casa’, ‘na calçada’ etc. Assim, é o termo adjacente que implica a presença de um núcleo verbal e não o contrário.
No entanto, esse fenômeno não ocorre com o verbo ‘estar’, pois se alegamos que ‘gatos estão’, entendemos que é preciso de pelo menos mais um constituinte para tornar a estrutura passível de compreensão.
Perceba que a resposta que precisamos para que a sentença (2) faça sentido totalmente é: os gatos estavam (onde/como)? Assim, o verbo de ligação ‘estar’ precisa, obrigatoriamente, de um termo adjacente.
Por isso, podemos garantir que a relação entre o núcleo e seu termo são de exigência mútua, porque ‘estar’ seleciona uma expressão locativa, e esta pressupõe algum verbo, cf. Azeredo (2013).
Nos casos em que o sentido completo da frase não puder ser captado, existem duas formas nas quais se apresentam os verbos, sendo elas, o verbo transitivo direto (requer complemento verbal sem preposição) e o verbo transitivo indireto (requer complemento verbal com preposição). Em resumo, esses tipos verbais são considerados de predicação incompleta.
Essa classificação sintática dispõe de verbos cujos complementos não são regidos por preposição. Azeredo (2013) demonstra, em sua gramática, o exemplo O trem fazia a curva devagar. Nele, observamos que o verbo ‘fazer’ requer um complemento sem o uso de preposição, na medida em que aquele que faz, faz alguma coisa.
Nesse caso, o objeto direto ‘a curva’ age como um complemento verbal direto. Em relação ao que já estudamos, a sentença exemplificativa não apresenta sentido completo.
Isso pode ser ratificado, pois, se retirarmos o complemento direto do verbo ‘a curva’, teríamos algo como *O trem fazia devagar, o que torna a estrutura agramatical, na medida em que é sintaticamente incompleta.
Essa categoria dispõe de verbos cujos complementos são regidos por preposição. O gramático Cegalla (2008) ilustra, em seu livro, um caso de VTI com o verbo ‘pertencer’: A terra pertencia aos índios.
Nesse exemplo, o complemento (os índios) se une ao verbo (pertencia) por meio da preposição a, o que faz com que o objeto indireto ‘aos índios’ atue, na frase, como um complemento verbal indireto.
Percebemos, no caso em análise, que a estrutura “A terra pertencia” não possui significação completa, pois aquele ou aquilo que pertence, pertence a. Assim, o verbo ‘pertencer’ precisa de, pelo menos, um constituinte para produzir, de fato, sentido.
O comportamento dos verbos bitransitivos se diferencia dos verbos transitivos diretos e indiretos, porque, ao contrário dos dois, ele ocupará ambos, simultaneamente, contemplando, com isso, tanto o VTD, quanto o VTI.
O VTDI é ilustrado em Azeredo (2013) da seguinte forma: Devolver o dinheiro ao dono. Nesse exemplo, temos um objeto direto, ‘o dinheiro’ e um objeto indireto, ‘ao dono’ e, para que tenha sentido completo, o verbo ‘devolver’ deve apresentar, pelo menos, dois constituintes que o complemente.
Isso ocorre porque aquele que devolve, devolve algo a alguém. Notamos que não se pode ‘devolver o dinheiro’ sem saber a quem ele foi devolvido. Entendeu?
Frequentemente, os verbos intransitivos, aqueles que não precisam de um complemento verbal, aparecem em sentenças declarativas, o que significa que o verbo em ação declara algo sobre o sujeito e não a um complemento propriamente dito.
Em outras palavras, cf. Azeredo (2013), o conteúdo disposto em uma assertiva formula uma informação sobre o sujeito da oração. Azeredo (2013) elucida isso com o verbo ‘decolar’: O avião decolou.
Percebemos que a frase possui sentido completo, pois o verbo ‘decolar’ requer apenas um constituinte [o avião] para ter seu sentido completo, isto é, essa informação pode ser dada integralmente por meio de um núcleo verbo. (AZEREDO, 2013, p. 212). No caso, ‘decolou’.
Nesse contexto, pode surgir uma dúvida: “Mas eu não posso dizer que ‘o avião decolou na pista do aeroporto’?
A resposta é ‘sim’, você pode! No entanto, ‘na pista do aeroporto’ não é complemento do verbo, na medida em que esse trecho não é imprescindível para que o verbo tenha seu sentido completo, esse fragmento da frase ressalta um termo adjacente à figura verbal e não o rege de fato.
Assim, também, você poderia pensar em “o avião decolou na pista do aeroporto em Madri”. Existem várias formas de estruturar uma sentença, contudo, é preciso atentar-se à regência verbal, isto é, àquilo que o verbo “não sobrevive sem” para compor um significado total. Está bem?
Dessa maneira, no exemplo em análise, podemos afirmar que o verbo (o núcleo) e seu termo adjacente possuem uma relação de coocorrência. Nesse sentido, o termo adjacente implica a presença do núcleo verbal, mas este não implica a menção daquele (Azeredo, 2013, p. 212).
Diante do que foi exposto, é importante que vocês percebam que a Língua Portuguesa apresenta diversas possibilidades de estruturação. Sabendo disso, não é possível determinar, muitas vezes, categoricamente, a transitividade de um verbo e, por consequência, sua regência, sem antes compreender o contexto no qual ele se apresenta.
Contextualizar o verbo implica reconhecê-lo na estrutura de uma sentença. Sendo, portanto, extremamente importante considerar o contexto, a circunstância ou o evento que enuncia a frase em análise.
Para aprofundar, ainda mais, nas reflexões que se referem a essa temática, conheça nosso curso de Português para concurso.
Um abraço a todos,
Igor Alcântara
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