Fala, pessoal! Tudo tranquilo? Segue o comentário da prova do TJ-CE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA, aplicada pela FGV.
Como comentamos em nossa correção ao vivo no youtube, havia algumas questões problemáticas que já sabíamos que seriam passíveis de recurso. Vou sugerir alguns argumentos para quem tiver interesse em recorrer elaborar o recurso. (questões 6, 7 e 18)
OBS: Não é válido usar modelos-padrão de recurso, pois recursos semelhantes são sumariamente indeferidos. Use a argumentação sugerido para elaborar a impugnação com suas próprias palavras. Ok?
A frase abaixo que mostra uma visão positiva da justiça é:
Comentários:
Em “Justiça seja feita…”, há uma ideia de que a justiça é imparcial, não depende dos criminosos. Nas demais opções, sugere-se que justiça falha ou se vende.
Gabarito letra E.
2- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
Um célebre crítico disse certa vez
sobre um político: “Era um deputado conservador. Seu único programa político
era conservar sua cadeira na Câmara.”.
O Humor dessa frase está no(a):
Comentários:
O humor está no jogo de palavras entre “conservador” no sentido de “apegado a valores tradicionais” e “conservador” com sentido de apenas conservar a cadeira, manter o cargo.
Gabarito letra E.
3- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
Sêneca, um filósofo latino, a respeito da autoria de crimes, declarou o seguinte princípio: “Cometeu o crime quem dele recebeu benefícios.”
Considerando-se que o crime aludido seja um assassinato, segundo esse pensamento:
Comentários:
Questão um tanto discutível, pois não fica claro se a banca vai considerar “pagamento” como sinônimo de “benefícios”, conceitos que são diferentes. As alternativas também trazem conceitos vagos como “um crime” e “os crimes”, não ficando claro se é o próprio assassinato ou se é outro crime, o que muda completamente a análise.
Passando o princípio para o caso do assassino, temos que o assassino necessariamente recebeu benefícios. Então, todo assassino recebe “pagamento” (assumindo como “benefício”)
A letra C também se encaixa na lógica, mas rigorosamente implicaria que o assassino recebe benefícios até por assassinatos cometidos por outras pessoas, o que seria uma falácia. Entendo então que há duas respostas possíveis, mas ambas com problemas.
4- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Quando mais a pena for rápida e
próxima do delito, tanto mais justa e útil ela será”.
Nesse pensamento, há uma correlação entre dois termos precedidos por “Quanto
mais” e “tanto mais”, que são:
Comentários:
A correlação está literal: quanto mais rápida e próxima do delito, mais justa e útil será.
Gabarito letra D.
5- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
A frase abaixo que foi construída exclusivamente por linguagem formal é:
Comentários:
“a gente”, “filho da mãe”, “tem” com valor impessoal (no lugar de haver) e “me deram” com erro de colocação pronominal configuram uso informal da língua.
Gabarito letra E.
6- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
O Antigo Testamento traz na frase “Olho por olho, dente por dente” uma indicação de como a justiça deve ser feita.
Essa recomendação defende que:
Comentários:
Na sua acepção original, “Olho por olho e dente por dente” significa que a pena deve ter a mesma extensão do dano causado. A letra B também é perfeitamente coerente, mas fala especificamente de assassinato, o que reduz a lógica da lei.
Gabarito letra B.
Argumento para recurso:
Como disse, a alternativa “o assassino deve sofrer perda idêntica à causada por ele” é correta também; contudo limita a justiça a apenas um crime: o crime de assassinato. Essa alternativa, embora traga o princípio contido no ditado, especifica demais o alcance da lógica que vale para todos os crimes, não apenas assassinato como distingue a alternativa.
7- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Querendo abolir a pena de morte, que comecem os senhores assassinos!”
Em relação à pena de morte, esse pensamento é:
Comentários:
O ditado é contrário à abolição da pena de morte, pois sugere que a abolição deveria começar já pelos assassinos deixando de matar. Como se dissesse: se querem o fim da pena de morte, deveriam vocês mesmos parar de matar.
Gabarito letra E.
A FGV entendeu que o gabarito era:
Favorável, pregando que sua abolição deveria começar pela ausência de crimes de morte. A letra A, gabarito da banca, traz uma contradição: dizer que é favorável à pena de morte e na mesma frase dizer que prega por sua abolição. Se é favorável à abolição é contra a pena de morte, não a favor. Dessa forma, entendo que não poderia ser esse o gabarito.
8- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Há uma espécie de conforto na autocondenação. Quando nos condenamos, pensamos que ninguém mais tem o direito de fazê-lo”.
Sobre a estruturação desse pensamento, a única afirmação adequada é:
Comentários:
O segundo período explica justamente qual seria a “espécie de conforto”: tirar o direito do julgamento.
Gabarito letra A.
9- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Há uma espécie de conforto na autocondenação. Quando nos condenamos, pensamos que ninguém mais tem o direito de fazê-lo”.
A frase abaixo em que o vocábulo “mais” mostra o mesmo valor que na frase acime é:
Comentários:
O sentido é de ninguém fará isso de novo, nenhum outro cavalo será roubado de novo. Um outro cavalo (cavalo a mais) não será roubado
Gabarito letra E.
10- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“O fim das penas não é atormentar, perseguir e afligir um ser sensível… Seu fim é apenas impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e dissuadir os outros de fazerem o mesmo”.
Se quiséssemos nominalizar todas as ações sublinhadas, deveríamos trocar os verbos por substantivos, nesse caso, a substituição inadequada seria:
Comentários:
Esta questão não traz gabarito, pois a palavra “atormentação”, embora de uso muito restrito, é também registrada no VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa); trata-se de um sinônimo de tormento. Além disso, ao trocar por “locuções”, passa a ser possível uma leitura com sentido de posse, como em “perseguição de um ser sensível”, expressão em que se pode ler que o ser está perseguindo ou sendo perseguido, igualmente. O mesmo vale para afligir um ser sensível: ao transformar em “aflição de um ser sensível”, há um possível sentido de posse/pertinência, “de um ser sensível é adjunto adnominal”, quando no original o termo é complemento, de valor passivo.
11- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Não se enforca um homem por ele ter roubado cavalos, mas para que cavalos não sejam roubados”.
Segundo esse pensamento:
Comentários:
O objetivo da pena é desencorajar novos crimes, servir como punição exemplar (exemplo social).
Gabarito letra B.
12- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Tive professores ruins. Foi uma boa escola”.
Esse pensamento de um poeta alemão é composto de dois períodos; a conjunção que pode ligá-los de forma adequada ao sentido pretendido por seu autor é:
Comentários:
As alternativas B e C possuem basicamente o mesmo sentido, então é preciso, por questão prática, descartá-las. Então, parece haver sugestão de uma relação de causa e efeito: a escola foi boa porque os professores eram ruins e dessa forma o poeta aprendeu mais por conta própria. Por isso, foi boa a escola.
Gabarito letra A.
13- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
Machado de Assis escreveu certa vez sobre a justiça: “É claro que a justiça, sendo cega, não vê se é vista, e então não cora”.
A forma oracional de gerúndio “sendo cega” poderia ser adequadamente substituída por:
Comentários:
A justiça não vê porque (já que) é cega. O gerúndio tem valor causal e deve ser substituído por oração desenvolvida com o conectivo causal “já que”.
Gabarito letra D.
14- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Em minha casa e em todo outro lugar aprende-se apenas com quem se ama”; nessa frase, o vocábulo de valor geral “lugar” substituiu um vocábulo de valor específico “casa”.
A mesma situação ocorre, respectivamente, com o seguinte par de palavras:
Comentários:
Aqui temos uma relação de hiperônimo (geral- sala) e hipônimo (específico-cômodo). A sala é um dos elementos do grupo geral de ‘cômodos’.
Gabarito letra A.
15- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Parece-me absurdo que as leis, que são a expressão da vontade pública, que abominam a punem o homicídio, o cometam elas mesmas e que, para dissuadir o cidadão assassino, orderem um assassínio público”. (Beccaria)
Esse pensamento pretende condenar:
Comentários:
O raciocínio condena a pena de morte pela seguinte lógica: como a lei pode convencer a não matar cometendo o próprio crime que visa a evitar?
Gabarito letra B.
16- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
O vocábulo “maior” se refere prioritariamente a realidades que tenham uma extensão física; nesse caso, a frase abaixo em que esse vocábulo foi bem empregado é.
Comentários:
Apenas a prisão é um lugar físico. Nos demais casos, temos “maior” com sentido de melhor. Gabarito letra E.
17- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
A frase abaixo cuja estrutura NÃO se apoia em uma comparação ou metáfora é:
Comentários:
Em “c”, a cidade de tijolos e a cidade de mármore são referências à evolução das construções de Roma, não é uma comparação, a afirmação é concreta. Nas demais, temos comparações explícitas A, B, D ou uma metáfora (comparação implícita), na letra E.
Gabarito letra C.
18- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“O bom juiz não deve ser jovem, mas ancião, alguém que aprendeu tarde o que é injustiça, sem tê-la sentido como experiência pessoal em sua alma; mas por tê-la estudado, como uma qualidade alheia, nas almas alheias”. (Platão)
Segundo Platão, a qualidade básica do bom juiz é:
Comentários:
Questão traiçoeira. A qualidade básica não é a idade em si, mas sim a experiência de ter estudado a justiça pela experiência impessoal e geral da natureza humana, não como algo puramente pessoal. Essa experiência e esse estudo vêm com o tempo, por isso a referência à idade.
Gabarito letra D.
19- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Todos aqueles que devem deliberar sobre questões dúbias devem também manter-se imunes ao ódio e à simpatia, à ira e ao sentimentalismo”.
A única substituição inadequada entre as propostas nas opções abaixo é:
Comentários:
Tornar-se indica mudança de estado; manter-se indica manutenção de um estado preexistente. Então, o sentido é bem diferente.
Gabarito letra C.
20- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
“Todos aqueles que devem deliberar sobre questões dúbias devem também manter-se imunes ao ódio e à simpatia, à ira e ao sentimentalismo”.
Nesse pensamento de um historiador latino, ocorreu duas vezes a utilização correta do acento grave indicativo de houve crase; a frase abaixo em que esse mesmo acento está equivocado é:
Comentários:
Não há crase antes de verbo (cometer)
Gabarito letra A.
21- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
Uma das leis da textualidade é a coerência; a frase abaixo em que a coerência está presente é:
Comentários:
Todas as alternativas são coerentes. No entanto, a FGV trabalha classicamente com a incoerência do ponto de vista formal, embasando seus gabaritos em relações de sentidos excludentes. Essa lógica está presentem, por exemplo, em “incluído fora”, “recuperação imoral”. A alternativa que não traz uma relação de aparente contradição é: Ter má fama quando morto não importa (não importa justamente porque se está morto)
Gabarito letra D.
22- (FGV / TJ-CE / TÉC. JUDICIÁRIO – ÁREA JUDICIÁRIA / 2019)
Algumas frases são construídas tendo por base outras já formuladas e conhecidas (intertextualidade); isso só NÃO ocorre em:
Comentários:
Há referência a diversos ditos populares: Cavalo dado não se olham os dentes; a justiça é cega; água mole em pedra dura tanto bate até que fura; a pressa é inimiga da perfeição. Isso apenas não ocorre em “Para mim, o verdadeiro valor é a prudência”.
Gabarito letra E.
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A questão 14 ele pede "respectivamente": seria do geral -> específico OU específico -> geral? Na frase contida nas aspas é evidente que é do específico para o geral, porém quando o comando explica a relação entre lugar e casa é do geral para o específico. Nesse caso, fica confuso a ordem que ele quer os termos.
Outra coisa, na questão 9, o professor coloca como gabarito item "E", mas descreve a alternativa "D".