“A trajetória de um concurseiro é muito solitária e mesmo as pessoas mais próximas, só convivem com parte dos problemas e dificuldades. Temos que ter calma e entender isso, para não exigir dos familiares mais do que eles podem dar. Tem uma parte da rotina que é só nossa e só nós conhecemos profundamente “
Confira nossa entrevista com Rafael Morena, aprovado em 2° lugar no concurso da Advocacia-Geral da União (AGU) no cargo de Técnico em Assuntos Educacionais:
Estratégia Concursos: Conte-nos um pouco sobre você, para que nossos leitores possam te conhecer melhor. Você é formado em que área? Qual sua idade? De onde você é?
Rafael Morena: Tenho 36 anos, moro em Nova Friburgo, região serrana do RJ. Sou psicólogo e tenho mestrado em Ciência Política.
Estratégia: O que te levou a tomar a decisão de começar a estudar para concursos?
Rafael: Eu trabalhei 10 anos com saúde mental, na rede pública de saúde (apesar de não ser concursado). Em janeiro de 2017, fui exonerado do cargo que ocupava, eu era coordenador de saúde mental de Nova Friburgo. Já vinha desiludido com a carreira, tanto em termos profissionais quanto financeiros. Estudar para concursos serviu para que eu buscasse melhor perspectiva remuneratória, uma nova experiência profissional e estabilidade de vida.
Estratégia: Durante sua caminhada como concurseiro, você trabalhava e estudava (como conciliava trabalho e estudos?), ou se dedicava inteiramente aos estudos para concurso?
Rafael: Eu só estudo. Tinha um dinheiro guardado para custear a educação do meu filho, mas decidi investi-lo para conquistar um bom cargo e, depois, recuperar o investimento.
Estratégia: Quantos e em quais concursos já foi aprovado? Qual o último? Em qual cargo e em que colocação?
Rafael: Fui aprovado no concurso do TRE/BA, em 2017, para técnico (posição 191) e analista (posição 74, se não me engano). Também fui aprovado, fora das vagas, na prova da CLDF, em 2018, para o cargo de Técnico Legislativo (fiquei na posição 202, não fiz a prova prática de informática e fui desclassificado).
Dentro das vagas, consegui a aprovação nos dois concursos que realizei esse ano: segundo lugar na AGU para o cargo de Técnico em Assuntos Educacionais (que, apesar do nome, é de nível superior) e primeiro lugar na DPE-RJ para o cargo de Técnico Administrativo na microrregião que tem Nova Friburgo como capital.
Estratégia: Qual foi sua sensação ao ver seu nome na lista dos aprovados/classificados?
Rafael: Foi surpreendente na AGU. Sabia que tinha feito uma boa prova, apesar da nota baixa (acertei 43 das 60 questões). Entrei com recurso em quatro e ganhei duas, passando para 45 acertos. As questões estavam bem difíceis. A banca IDECAN tem pouca tradição e a concorrência não era tão grande (4.500 candidatos). Tinha esperança de ver a minha redação corrigida, mas o segundo lugar foi bem mais do que esperava.
A sensação é a melhor possível e os estudos mudam depois do resultado, um peso sai das costas.
Estratégia: Como era sua vida social durante a preparação para concursos? Você saía com amigos, família, etc? Ou adotou uma postura radical, abdicando do convívio social?
Rafael: Estudar para concursos representou um rompimento radical com a vida que eu tinha antes, inclusive em relação às amizades. Eu buscava exatamente mudar de ares, conhecer outras pessoas e conviver em outros ambientes. Mesmo assim foi difícil, porque essa rotina caseira e regrada pode se tornar sufocante.
Estratégia: Você é casado? Tem filhos? Namora? Mora com seus pais? Sua família entendeu e apoiou sua caminhada como concurseiro? Se sim, de que forma?
Rafael: Sou casado e tenho um filho de 4 anos. Minha família apoiou, dentro do que é possível. A trajetória de um concurseiro é muito solitária e mesmo as pessoas mais próximas, só convivem com parte dos problemas e dificuldades. Temos que ter calma e entender isso, para não exigir dos familiares mais do que eles podem dar. Tem uma parte da rotina que é só nossa e só nós conhecemos profundamente.
Estratégia: Você acha que vale a pena fazer outros concursos, com foco diferente daquele concurso que é realmente seu objetivo maior?
Rafael: Meu objetivo principal é passar no concurso para o Senado/Câmara. Considero fundamental fazer outros concursos, principalmente quando aqueles que você deseja não têm perspectiva de sair no curto prazo. Desviar mais ou menos do conteúdo depende da sua experiência, bagagem de estudos e das perspectivas futuras.
Esse é um ano fraco para o Legislativo, então decidi abrir meus horizontes e fazer provas com uma regularidade de 4 em 4 meses, para não perder o ritmo. Como tenho uma base forte nas matérias básicas, posso estudar um Processo Civil, por exemplo, sem me prejudicar e me tornando competitivo em Tribunais.
Estou no meu terceiro ano de estudos e o dinheiro não é infinito, isso também é relevante. Precisarei de uma fonte de renda para continuar estudando.
Estratégia: Você estudou por quanto tempo direcionado ao concurso que foi aprovado?
Rafael: Para o cargo da AGU, estudei 20 dias. Eu ia fazer a prova só por experiência, mas o Estratégia lançou a assinatura ilimitada no início de janeiro e eu tive acesso ao material necessário para essa prova. Como não era tanta coisa diferente do que eu vinha estudando, me concentrei nas matérias que não dominava (uma parte de Pedagogia, principalmente) e fiz a prova.
Estratégia: Chegou a estudar sem ter edital na praça? Durante esse tempo, como você fazia para manter a disciplina nos estudos?
Rafael: Eu costumo estudar sem edital. Aprendi a começar pelas matérias mais básicas e que devem ter mais questões na prova, deixando matérias mais específicas, como regimentos, para frente (de preferência, depois do edital lançado). É preciso ter cuidado para não correr nos estudos, pois revisões em excesso podem tirar um pouco da motivação e nos fazer chegar na prova em declínio. É sempre bom ter coisas novas para ler, isso oxigena a rotina.
Estratégia: Que materiais você usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos em PDF, videoaulas? Quais foram as principais vantagens e desvantagens de cada um?
Rafael: Os PDFs são a base, é por onde fixamos melhor o conteúdo e também é o material mais flexível. Podemos fazer marcações, anotações, etc.
Videoaulas servem para assuntos nos quais tenho mais dificuldade ou quando vejo uma matéria desconhecida pela primeira vez. Toma muito tempo, o que pode ser ruim quando temos mais rodagem de concursos, pois nos tornamos mais ansiosos e objetivos.
Estratégia: Como conheceu o Estratégia Concursos?
Rafael: Pelo YouTube. Em 2017 fui aluno de outro curso online, mas já acompanhava os vídeos do Estratégia, análises de editais e dicas de estudo. Conheci alguns concurseiros em provas que recomendavam os materiais do Estratégia e acabei migrando, em dezembro de 2017.
Estratégia: Uma das principais dificuldades de todo o concursando é a quantidade de assuntos que devem ser memorizados. Como você fez para estudar todo o conteúdo do concurso? Falando de modo mais específico: você estudava várias matérias ao mesmo tempo? Quantas? Costumava fazer resumos? Focava mais em exercícios, ou na leitura e releitura da teoria? Como montou seu plano de estudos? Quantas horas por dia costumava estudar?
Rafael: Constumo estudar 4 horas diárias, de segunda à sexta. Duas de manhã e duas à tarde, uma matéria por horário, não mais do que 4 matérias por vez.
Com edital aberto, coloco mais uma hora extra à noite, só para as matérias básicas que eu já domino (português, constitucional, administrativo, RLM), pois as estudo apenas por exercícios.
Abandonei os resumos ainda no meu primeiro ano de concursos. Perda de tempo. Apenas faço anotações em fichas, de pontos específicos que tenho dificuldades de memorizar, para que elas fiquem fáceis de acessar quando necessário. Prazos e coisas do tipo. Só que bem pouco.
Estratégia: Você tinha mais dificuldades em alguma(s) disciplina(s)? Quais? Como você fez para superar estas dificuldades?
Rafael: Tenho dificuldades em Informática e não as superei até hoje (Rs). Gosto de alguns assuntos, como Segurança da Informação e Internet, e tento ficar o melhor possível nelas, para não zerar questões dessa matéria. Se eu for tentar ficar bom em Informática, vou ter que reduzir o estudo de todas as outras matérias e o custo-benefício não compensa. Às vezes é melhor não estudar uma disciplina que vai nos atrapalhar no resto. Ninguém é excelente em tudo, nem mesmo os candidatos que ficam nos primeiros lugares dos concursos. Tenho a sorte de ser forte em Português e RLM, compenso minhas fragilidades com um percentual de quase 100% de acertos nelas.
Estratégia: A reta final é sempre um período estressante. Como foi sua rotina de estudos na semana que antecedeu a prova? E véspera de prova: foi dia de descanso ou dia de estudo?
Rafael: Eu fico muito nervoso na última semana, meio irritadiço. É um ponto fraco que tento superar agora, com as Trilhas Estratégicas de Reta Final. Elas são montadas por um Coach que não está tão estressado quanto eu e posso seguir uma receita de bolo objetiva, que me dá um norte.
Em véspera eu estudo, só que apenas um pouquinho. Sei que não vou conseguir me dedicar normalmente, então adapto o estudo ao que eu consigo fazer (geralmente, ler um assunto mais decoreba pela última vez).
Para essa prova da AGU, se eu não me engano, dei uma lida rápida na parte de Pedagogia. Não levei mais do que uma hora.
Estratégia: No seu concurso, tivemos, além das provas objetivas, as provas discursivas. Como foi seu estudo para esta importante parte do certame? O que você aconselha?
Rafael: Eu sempre escrevi muito, desde a infância. Já participei de competições de poesia na escola, gosto de escrever contos, etc. Tenho facilidade em redação e tento gabaritá-la. Não costumo me preparar para ela, mas sei que quem tem dificuldade deve comprar um curso com correções, para enxergar seus erros.
Estratégia: Se você tivesse que apontar ERROS em sua preparação (se é que houve), quais seriam? Diga-nos também quais foram os maiores ACERTOS?
Rafael: Para esse concurso não deu tempo para cometer muitos erros, mas eu costumo ter alguns dias de desconcentração em que meu rendimento cai.
Perdi muito tempo com videoaulas e resumos no meu primeiro ano de estudos. Também fiquei um longo período me preparando para apenas uma prova (CLDF em 2018). Foram dez meses apenas estudando, o que me tirou o ritmo de provas e me fez passar muito tempo só revisando (acabei enjoando das matérias e cansei uns dois meses antes da prova). Não consegui a aprovação por conta disso. É fundamental gerir bem o tempo no mundo dos concursos.
Estratégia: O que foi mais difícil nessa caminhada rumo à aprovação? Chegou a pensar, por algum momento, em desistir? Se sim, como fez para seguir em frente?
Rafael: O mais difícil é que o concurseiro vive numa espécie de limbo, sem saber quando será aprovado, se será aprovado e em qual concurso conseguirá a aprovação. Viver alguns anos com uma interrogação na cabeça é angustiante. Além disso, para mim, esse tempo foi de rompimento com muitas coisas e é difícil suportar seus efeitos.
Não pensei em desistir. Sabia que não tinha volta, que não queria voltar a fazer o que fazia antes, mas fiquei muito mal depois de alguns resultados ruins.
Estratégia: Qual foi sua principal motivação?
Rafael: Fazer meu filho ter orgulho de mim e de ter minha trajetória como um exemplo a ser seguido.
Estratégia: Por fim, o que você aconselharia a alguém que está iniciando seus estudos para concurso? Deixe-nos sua mensagem para todos aqueles que um dia almejam chegar aonde você chegou!
Rafael: Saiba que a trajetória de um concurseiro geralmente é longa, mas trabalhe todo dia para que ela seja curta (Rs). Seja objetivo, escute o professores e coaches, pois eles sabem a melhor maneira de atingir os resultados. Não se apegue à maneira errada de estudar que aprendeu na escola ou mesmo com seus pais. Leia PDFs, faça marcações, anotações relevantes e muitas questões da bancas de suas provas (fique atento àquilo que costuma ser cobrado repetidamente). Nada de resumos e videoaulas só das matérias mais difíceis. Só isso. Rs
Confira outras entrevistas em:
Foi aprovado e deseja dividir com a gente e com outros concurseiros como foi sua trajetória até a aprovação?! Mande um e-mail para: comunicacao@estrategiaconcursos.com.br
Abraços,
Thaís Mendes
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