Segue abaixo uma entrevista concedida pelo colega Adalto Araújo de Oliveira Júnior, aprovado em 1º lugar no concurso de Auditor-Fiscal do Trabalho (AFT) 2013, concurso organizado pela Banca CESPE.
Mário Pinheiro: Parabéns pela aprovação no concurso de AFT, Adalto! Conte-nos um pouco sobre sua formação e trajetória.
Adalto Araújo: Sou graduado em Direito pela UFU, aqui de Uberlândia/MG. Acredito que minha experiência no mundo dos concursos começou com minha preparação para a prova de ingresso no estágio do Ministério Público do Trabalho, ainda durante a graduação. Foi no MPT que me apaixonei pelo Direito do Trabalho e conheci melhor a Auditoria Fiscal do Trabalho.
Durante esse período, decidi que seria auditor do trabalho, li e reli o antigo edital da ESAF e comecei a me sensibilizar com a carreira. Entretanto, como tive de me preparar para o exame da Ordem e fazer minha monografia de fim de curso, não me restou tempo durante a graduação para iniciar minha preparação de fato. Assim, apenas depois de apresentar o TCC, no dia 8 de fevereiro de 2013, sexta feira anterior ao carnaval, comecei a estudar de forma planejada para esse concurso, para o qual ainda não havia autorização. Lembro da dificuldade de abrir mão do carnaval e começar a estudar naquele dia. Passado o carnaval, o MPOG autorizou o concurso na quarta-feira de cinzas. Ou seja, a primeira abdicação me assegurou cinco dias de organização e estudo antes da autorização, o que, ao menos psicologicamente, fez muita diferença para mim.
Mário Pinheiro: Qual foi seu tempo de preparação focado no concurso de AFT? Tinha feito outros concursos para o cargo (2006, 2010)?
Adalto Araújo: Não fiz os concursos anteriores. Fiz apenas a prova para analista do MPU a fim de conhecer melhor o ambiente de prova e a banca examinadora (já havia boatos de que o CESPE seria o responsável pelo novo concurso).
Embora minha preparação exclusiva para esse concurso tenha se iniciado no início de fevereiro desse ano, não acho que tenha estudado apenas 8 meses para a prova. Digo isso porque sempre estudei durante a graduação e sempre acompanhei os principais concursos jurídicos, pelo que já tinha uma certa base nas disciplinas jurídicas. Acredito que o tempo de preparação para ser aprovado em um concurso é algo muito subjetivo e não guarda muita relação com “inteligência” ou outra característica semelhante. Decisivos, a meu ver, são os seguintes pontos: tempo diário disponível para estudo; bagagem que a pessoa já tem acumulada antes de iniciar sua preparação, tanto em relação a como se preparar para concursos, como em relação ao domínio das matérias que estarão no edital; e principalmente capacidade de cada um de se entregar ao propósito da aprovação.
Mário Pinheiro: Como era seu planejamento e sua rotina de estudos antes e depois do edital? Qual foi a média de horas de estudo por dia? Quantas matérias vc estudava por dia?
Adalto Araújo: Antes do edital, a primeira coisa que fiz foi escrever na parede do meu quarto, onde estudava, que seria Auditor Fiscal do Trabalho, e que seria aprovado em 1º lugar. Isso me obrigou a aumentar minha carga de estudos sempre que imaginava que alguém poderia estar estudando mais do que eu. Aconselho a todo concurseiro a fazer algo semelhante: coloque algo que te motive em um lugar estratégico, para onde você tenha de olhar sempre após acordar e antes de iniciar os estudos. Ler isso todos os dias acabou me empurrando para mais algumas horas diárias de estudo, que, somadas, acabaram rendendo uma boa quantidade a mais de HBCs.
Com uma planilha simples do excel, dividida em blocos de meia-hora, fiz um planejamento semanal de estudos, dividindo as matérias de acordo com o seu peso na prova e o domínio que já tinha sobre elas. Comecei com o edital da ESAF, deixando de lado apenas inglês, economia e sociologia. Estudava todo o restante, inclusive estatística, embora em quantidade muito inferior a SST, por exemplo. Imprimi esse planejamento e colei na parede. Para mim, que tenho problemas de insônia, é extremamente importante ir (tentar) dormir já sabendo o que iria estudar no próximo dia.
Então acordava todos os dias, por volta das 6h30, olhava essa frase, tomava um café, e começava a luta. Às 11h, fazia um intervalo para ir à academia e almoçar, e voltava aos estudos às 14h. Descansava mais uma hora às 18h e continuava estudando até por volta das 23h. Nas sextas feiras, parava um pouco antes e saia para comer algo, ir a uma festa, assistir a um filme etc. Estudei também todos os sábados e domingos, embora em ritmo mais devagar, algo em torno de 5h por dia. Durante a semana, tentava cumprir 60h líquidas, cronometradas, embora nem sempre conseguisse. O cronômetro foi essencial para mim. Além de passar um feedback mais exato, ele me forçava a não levantar da cadeira, pois cada minuto de enrolação significava que eu teria que estudar até mais tarde naquele dia.
Eu procurava estudar várias matérias em um mesmo dia. Como não fazia revisões programadas, estar sempre estudando matérias diferentes acabou servindo para relembrar o conteúdo das matérias, sem nunca passar mais de uma semana sem estudar qualquer uma delas (talvez estatística e administração pública tenham ficado um pouco de lado às vezes rs). Procurava estudar uma mesma matéria durante duas horas, e então passava para a próxima. Às vezes estudava menos que duas horas, outras vezes mais, mas tentava não fugir muito dessa duração. Assim estudava cerca de 5 matérias por dia. Procurava ser o mais fiel possível ao meu planejamento, mas, de vez em quando, trocava uma matéria por outra, quando estava muito cansado ou não aguentava mais ver alguma disciplina pela frente, como matemática financeira.
Não fiz cadernos ou fichas de resumo, mas tentava resumir o material na própria borda do texto. Meu material ficou todo rabiscado. Tinha ódio mortal dos materiais que não deixavam espaço para escrever (TOC de concurseiro haha). Então lia o material inteiro, escrevia bastante na borda, e depois, quando sobrava tempo, relia todo o material e mais as minhas anotações. Na segunda leitura, gastava praticamente 1/3 do tempo necessário para a primeira, pois tudo já se mostrava bem mais familiar. Cheguei a ler alguns materiais mais de 3x, principalmente quando não encontrava muitos exercícios sobre alguma disciplina.
Após a mudança da banca e o anúncio do edital maluco, achei, como muitos, que o sonho havia terminado ali. Não havia estudado nada de contabilidade, economia, auditoria, administração geral, medicina do trabalho, informática etc. Eu estava completamente focado no edital da ESAF, e ainda tinha deixado economia de lado, pois acreditava que, como ocorrera com a prova para AFRF, ela não mais seria cobrada.
Mas logo percebi que estava todo mundo no mesmo barco e decidi que iria aproveitar aquela oportunidade. Passei uma semana na internet apenas procurando informações, adquirindo materiais e me organizando. Refiz a planilha semanal com todas as matérias do edital. Achei muito arriscada a estratégia de abandonar algumas matérias. Não iria simplesmente correr o risco de ser eliminado por causa de contabilidade, auditoria ou informática. Já sabia da fama cespiana de fazer distribuições malucas das disciplinas e não iria colocar em risco toda minha preparação. Com um edital desses, é melhor ser mais ou menos em tudo do que muito bom em um grupo e não saber nada de outro.
Então voltei aos estudos, reduzi progressivamente a quantidade de vezes que ia à academia até não ir mais e me planejei para aumentar a quantidade de HBCs. Descobri que meu corpo tem limites não só psicológicos, mas físicos também. A ansiedade aumentou, e com ela vieram dores de cabeças, noites mal dormidas, vistas embaçadas e muitas horas de estudo pouco aproveitadas. Acabei estudando menos do que antes do edital. Hoje não teria largado a atividade física e teria cuidado mais do lado psicológico, respeitando meus limites e mantendo o mesmo planejamento de antes.
Mário Pinheiro: Após o edital você conciliava trabalho e estudo ou só estudava? Sobrava tempo para atividades físicas?
Adalto Araújo: Tive a oportunidade de apenas estudar durante minha preparação. Embora reste muito mais tempo para estudar, a responsabilidade nesse caso é também muito maior, e essa pressão pode acabar prejudicando um pouco os estudos, especialmente após o edital. Não é fácil se imaginar reprovado quando não se tem um emprego ou outra válvula de escape.
Aqueles que conciliam trabalho e estudo devem se adaptar e encontrar horário para estudar, seja em intervalos ou em finais de semana. E também devem aproveitar aquilo que o trabalho pode oferecer, como a menor responsabilidade, o acesso a materiais de qualidade e até o convívio com outras pessoas, que fica limitado quando “somente” se estuda.
Quanto à atividade física, penso ser muito importante sua prática. Ao menos pratique algo que te faça sentir bem no mínimo 30 minutos por dia. Para aqueles que “só” estudam, talvez devam dedicar até mais tempo para esse tipo de atividade. Quando deixei de fazer atividade física, não só a qualidade do meu estudo caiu como as próprias HBC diárias diminuíram. Fiquei tão nervoso que tinha que levantar e “tomar um ar” a cada meia hora.
Mário Pinheiro: Que materiais vc usou em sua preparação para o concurso? Aulas presenciais, telepresenciais, livros, cursos PDF, videoaulas?
Adalto Araújo: Minha preparação foi baseada 95% em livros e PDFs. Antes do edital usei mais livros. Depois do edital usei mais PDFs. Assisti a algumas poucas vídeo-aulas, mas pessoalmente penso que não apresentam um bom custo-benefício (tempo-aprendizado).
Embora fosse um apaixonado por livros – herança do Direito -, aprendi a valorizar um bom PDF. Percebi que muitos livros são mais abrangentes do que o necessário para um determinado concurso, e que um bom PDF consegue ser objetivo, focado na banca a ser enfrentada e com muitos exercícios selecionados. Lembro de alguns materiais que apresentavam questões de provas com menos de um mês de idade.
Vou listar os principais materiais que utilizei, os quais considero terem sido essenciais para minha aprovação. Adianto que boa parte da minha preparação se resumiu a ler a “lei seca” (Normas Regulamentoras, CF, leis, tratados internacionais, normas de auditoria etc.)
SST: Mário Pinheiro (NRs + Medicina do Trabalho) + Mara Camisassa (NRs) + Marcos Miranda (NRs)
Direito Constitucional: Vicente Paulo + Pedro Lenza.
Direito Administrativo: Marcelo Alexandrino + Di Pietro + consultas ao CABM.
Direito do Trabalho: Ricardo Resende + Mauricio Godinho.
Direito Previdenciário: Ali Mohamad Jaha
Economia do Trabalho: Jeronymo Marcondes + George Borjas para segunda fase.
Contabilidade: Luciano Rosa + Gabriel Rabelo
Auditoria: Davi Barreto
Português: Rodrigo Bezerra + Renato Aquino + Claudia Koslowski
Informática: Alexandre Lênin
RLQ: Sérgio Carvalho + Guilherme Neves
Direitos Humanos: Ricardo Torques + Flavia Piovesan
Segunda Fase: Curso do Estratégia + Ricardo Torques
Mário Pinheiro: Como foi sua preparação para a segunda fase (discursivas)? Treinava redação todos os dias ou só revisava as matérias que poderiam ser exigidas?
Adalto Araújo: Para a segunda fase, a primeira coisa que fiz foi ler um material específico para essa etapa, principalmente para ficar mais tranquilo em relação ao parecer técnico. Li alguns materiais mais aprofundados para algumas disciplinas, continuei revisando materiais antigos para outras, e também treinei um pouco a escrita. Devo ter feito cerca de 5 redações para cada disciplina, mas também me concentrei em revisar o conteúdo e aprender alguma coisa nova.
Mário Pinheiro: Quais foram os principais erros e acertos em sua preparação?
Adalto Araújo: Acredito que o principal acerto foi seguir fielmente meu planejamento, com pouquíssimos desvios. Mesmo questionando quase sempre se eu estava no caminho certo, tentava cumprir aquilo a que havia me proposto.
Outros acertos:
– Deixei 40 questões em branco na primeira fase – não sei se teria coragem de fazer isso de novo, mas naquela oportunidade deu certo;
– Estudei todas as matérias, sem deixar nada de lado (pouquíssimas exceções, como efeito inflacionário em contabilidade etc.);
– Li bastante os tratados internacionais, tanto de Direitos Humanos, como de SST, os quais foram bastante explorados nas provas (1ª e 2ª fases);
– Acompanhei a jurisprudência dos principais tribunais, o que foi importantíssimo para a prova – aliás, se soubesse o peso que ela teria na prova, acredito que reservaria algumas horas semanais só para ler os informativos;
– Fiz revisões importantíssimas durante a última semana;
– Separei alguns materiais para ler antes da prova, como o manual de redação da presidência e as normas sobre ética no serviço público. São pontos que sempre são cobrados pelo CESPE e que precisam ser decorados antes da prova;
– Cheguei três dias antes em Belo Horizonte para fazer 1ª fase (sou do interior), e cheguei ao local de prova com uma hora de antecedência e consegui me concentrar bastante antes de começar a prova. Tudo isso me deixou mais tranquilo e descansado para fazer a prova.
Como erros, cito:
– Despreparo de quem nunca havia feito um concurso público de verdade, o que me deixou meio desesperado após a publicação do novo edital; fiquei uma semana inteira praticamente perdido, sem saber o que fazer.
– Abandono da atividade física após o edital;
– Em relação à segunda fase, acabei chegando em Belo Horizonte às 22h do dia anterior ao da prova. Não consegui dormir, cheguei em cima da hora para fazer a prova, não consegui me concentrar na sala antes de começar e atingi a exaustão no meio do exame.
– só queria sair da sala e descansar. Enfim, embora tenha feito uma boa prova, não consegui fazer aquilo que esperava.
Mário Pinheiro: Antes da posse dos recém aprovados o MTE faz uma remoção interna para, em seguida, definir as localidades onde haverá vagas disponíveis aos novatos – quase sempre em localidades mais distantes. Está preparado para morar longe de casa?
Adalto Araújo: Quando decidi fazer esse concurso, já sabia o que me esperava, então me sinto preparado. Creio que será um momento importante em minha vida. Enquanto estudava, sempre ficava sonhando em entrar no grupo móvel de combate ao trabalho escravo. Quem sabe não realizo esse sonho agora.
Mário Pinheiro: Quais seriam suas dicas para quem vai prestar os próximos concursos para AFT? Deixe uma mensagem para quem irá lutar por uma vaga neste cargo.
Adalto Araújo: Sei que existem vários motivos para se prestar um concurso público, mas a minha dica é: apaixone-se pelo cargo que você deseja. Não só pela estabilidade e pelo contracheque, mas pelo cargo em si. Conheça a carreira que voce está prestes a integrar, seus pontos positivos e negativos. Passe a raciocinar como um membro dela. Isso tornará tudo mais fácil. E mais, saiba que as provas serão injustas e as bancas examinadoras pouco razoáveis, e que quase nada sairá como planejado; e esteja preparado para isso.
A partir daí, respire o seu concurso 24h por dia. Abdique, na medida do possível, de tudo aquilo que possa te afastar do seu objetivo. O lazer é importantíssimo, mas apenas até o ponto em que esteja potencializando seus estudos. Redes sociais são dispensáveis.Conheças os seus pontos fortes e os explore; mas saiba também de suas limitações e aprenda a contorná-las.
Aceite-se como concurseiro e entenda que é só uma fase, difícil, mas passageira, em que você terá que deixar de lado muito daquilo que te faz feliz.
Compreenda que há duas opções: dar o seu melhor e conseguir a aprovação, ou dedicar-se pela metade e jogar tempo e dinheiro fora. Quando estiver cansado e achar que a leitura não está rendendo, pare o cronômetro, vá ao banheiro e lave o rosto, se preciso chore por alguns minutos, mas volte aos estudos tão logo quanto possível, de cabeça erguida e pronto para mais HBCs.
Tenha certeza de que no final cada abdicação valerá a pena. Bons estudos!
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