Categorias: Concursos Públicos

Comentários às questões de Economia e Finanças Públicas do ISS/BH

Olá caros(as) amigos(as),

Neste Domingo, tivemos a aplicação das provas do ISS/BH. A prova de Economia e Finanças Públicas apresentou um bom nível, a meu ver. A banca focou bastante as questões de Macroeconomia e praticamente ignorou a parte de Microeconomia, o que é uma pena, pois Micro é a parte mais difícil do edital e isto acaba desvalorizando o esforço dos candidatos que se prepararam melhor para o concurso.

Vislumbrei a possibilidade de recurso em 02 questões (51 e 54). As considerações seguem abaixo, onde comentei todas as questões da prova, Gabarito A (com exceção da 46 e 54, por serem bastante simples):

47) Uma das circunstâncias que impede a alocação de recursos denominada “ótimo de Pareto” é a seguinte:

A) externalidade
B) pleno emprego
C) estabilidade de preços
D) distribuição justa da renda
E) inexistência de bens públicos

Comentários:

Em regra, o que impede o ótimo de Pareto é a existência de falhas de mercado. Dentre as alternativas, a única que nos apresenta uma falha de mercado é a letra A: externalidade.

Gabarito: A



………..

48) Numa economia, o setor fabril produz os bens X e Y. Um aumento da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados da principal matéria-prima utilizada na produção do bem Y provocou elevação de seu preço de venda.
Observe as informações abaixo:

Quantidade do bem X antes da elevação do preço de Y: 90.000 unidades;
Variação na quantidade demandada do bem X: 16.875 unidades;
Preço do bem Y antes do aumento: $ 20,00;
Variação no preço do bem Y: 25%.

Pode-se afirmar que a elasticidade cruzada da demanda do bem X em relação ao bem Y corresponde a:

A) 0,50
B) 0,57
C) 0,68
D) 0,75
E) 0,85

Comentários:

Exy = (var % Qx) / (var % Py)     (1)

onde,

var % Qx = 16.875/90,000
var % Qx = 0,1875

var % Py = 0,25

Substituindo os dados em (1):

Exy = 0,1875/0,25
Exy = 0,75

Gabarito: D

……………

49) Uma economia hipotética, num determinado período de tempo, registrou os dados a seguir especificados:

Depreciação 3.000
Importações 2.400
Impostos Diretos 6.000
Impostos Indiretos 4.500
Produto Interno Líquido a custo de fatores 45.000
Renda Líquida Enviada ao Exterior 3.400
Renda Recebida do Exterior 2.500
Subsídios 1.600

Conclui-se que Produto Nacional Bruto a preços de mercado apresenta o seguinte valor:

A) $ 41.500
B) $ 45.900
C) $ 47.500
D) $ 50.000
E) $ 53.500

Comentários:

Foi dado o PILcf = 45000

Foi pedido o PNBpm. Então, temos que converter o PILcf em PNBpm (deve-se converter o Interno em Nacional, o Líquido em Bruto, e o custo de fatores em preços de mercado). Façamos por partes:

Interno –> Nacional:
PILcf = PNLcf + RLEE
45000 = PNLcf + 3400
PNLcf = 41600

Líquido –> Bruto:
PNBcf = PNLcf + Dep
PNBcf = 41600 + 3000
PNBcf = 44600

Custo de fatores –> Preço de mercado:
PNBpm = PNBcf + II – Sub
PNBpm = 44600 + 4500 – 1600
PNBpm = 47.500

Gabarito: C

………….

50) Uma economia, num certo período, apresentou as informações a seguir enumeradas.

C = 40 + 0,80Y
I = 100 – 110i
G = 80
Ms = 380
Mt = 0,4Y
Me = 160 – 220i
Onde Ms é a oferta de moeda, Mt é a demanda transacional e precaucional de moeda e Me é a demanda especulativa de moeda.

Verifica-se que o nível da demanda especulativa da moeda corresponde a:

A) 45
B) 50
C) 55
D) 60
E) 65

Comentários:

O equilíbrio da economia acontece quando há equilíbrio no mercado de bens e no mercado monetário. Vejamos as condições algébricas de cada um destes equilíbrios:

Mercado de bens:

Y = C + I + G
Y = (40 + 0,8Y) + (100 – 110i) + 80
0,2Y + 110i = 220  (multiplicando tudo por 5)
Y + 550i = 1100    (1)

Mercado monetário:

Ms = Mt + Me    –> (oferta de moeda = demanda de moeda; onde a demanda de moeda é a soma das demandas transacional, precaucional e especulativa)
380 = 0,4Y + (160 – 220i)
0,4Y – 220i = 220 (multiplicando tudo por 2,5)
Y – 550i = 550     (2)

Temos um sistema de duas equações (1) e (2) e duas variáveis (Y e i). Resolvendo, encontramos:

Y = 825
i = 0,5

Substituindo o valor de i=0,5 na demanda especulativa, temos:

Me = 160 – 220i
Me = 160 – 220.0,5
Me = 50

Gabarito: B

………

51) Num certo período de tempo, uma economia hipotética apresentou os seguintes dados:

Função Consumo C = 25 + 0,80Y
Transferências do Governo R = 400
Despesas Governamentais G = 2.640
Função Imposto T = 20 + 0,15Y
Nível de Renda de Equilíbrio y = 16.500

Pode-se concluir que o nível de investimento equivale a:

A) 6.600
B) 5.280
C) 4.951
D) 3.690
E) 2.316

Comentários:

Esta questão apresenta uma incorreção. A função consumo, do jeito que está apresentada no enunciado, parece que já exclui da renda disponível a tributação e já inclui as transferências do governo (afinal, temos a variável Y, e não a variável Yd —> Renda Disponível). No entanto, pelo "suposto" gabarito da banca, devemos considerar a função consumo desta maneira:

C = 25 + 0,8Yd (1)

Onde Yd (renda disponível) é igual a:

Yd = Y – T + R
Yd = Y – (20 + 0,15Y) + 400
Yd = 0,85Y + 380

Substituindo Yd na função consumo (1), temos

C = 25 + 0,8(0,85Y + 380)
C = 0,68Y + 329 

Veja que a função consumo contendo a variável Y (e não Yd) é diferente daquela apresentada no enunciado. A banca, em seu enunciado, deveria ter colocado Yd, e não Y como foi posto. A meu ver, isto já ensejaria a anulação da questão.

A renda nacional de equilíbrio é:

Y = C + I + G
Y = (0,68Y + 329) + I + 2640
0,32Y = 2969 + I –> (como Y=16500)
5280 = 2969 + I
I = 2311  (não há resposta!)

Gabarito: E (a meu ver, não há resposta)

…………..

52) Uma economia sem o setor governo e fechada, num certo período, registrou propensão marginal a consumir de 80%. Um acréscimo de $ 2.800 no agregado Investimento acarreta elevação do produto nacional na ordem de:

A) 5.600
B) 11.200
C) 14.000
D) 18.200
E) 22.400

Comentários:

O multiplicador dessa economia é:

K = 1 / (1 – c)
K = 1 / (1 – 0,8)
K = 5

Assim, o um acréscimo de 2800 no Investimento provocará um impacto 5X maior no produto nacional. Ou seja, o acréscimo no produto nacional será 2800 X 5 = 14.000.

Gabarito: C

……………

53) A implementação de uma política fiscal interna expansionista provoca os seguintes efeitos sobre a poupança nacional, sobre a oferta de dólares e sobre a taxa real de câmbio, respectivamente:

A) elevação, elevação, elevação
B) redução, elevação, elevação
C) elevação, redução, redução
D) redução, redução, redução
E) redução, redução, elevação

Comentários:

– Poupança Nacional: A política fiscal expansionista (aumento de gastos e/ou redução de tributos) reduz a poupança nacional, pois a poupança do governo é reduzida.

– Oferta de dólares: Dentro da análise IS-LM na economia aberta, constata-se que a política fiscal expansionista desloca a curva IS para a direita e para cima, elevando os juros internos. Isto atrairá a entrada de capitais (dólares). Ou seja, haverá elevação da oferta de dólares.

– Taxa real de câmbio: O aumento da oferta de dólares tende a desvalorizar o dólar. Isto é o mesmo que a valorização do R$. Ou seja, haverá redução da taxa real de câmbio.

A questão deve ser anulada, pois não há resposta. O gabarito da banca aponta a letra E como gabarito. A divergência ocorre na questão da oferta de dólares e da taxa de câmbio.

Provavelmente, o examinador retirou a questão de algum livro norte-americano, onde o ponto de vista é inverso. Nestes livros, quando se fala em dólares, o autor quer se referir à moeda nacional. N. Gregory Mankiw, por exemplo, diz o seguinte (Macroeconomia, 6a. edição, página 100, figura 5-9):

"A política fiscal expansionista interna, do mesmo modo que um aumento das compras do governo ou um corte nos impostos, reduz a poupança nacional. A queda na poupança reduz a oferta de dólares a serem trocados por moeda estrangeira, de S1 – I para S2 – I. Esse deslocamento eleva a taxa de câmbio real de equilíbrio, de E1 para E2." (grifo meu).

Pelo trecho em negrito, podemos observar tranquilamente que o autor considera, na análise, o dólar como sendo a moeda nacional, o que não foi proposto pelo enunciado da questão. Isto inverte toda a análise subsequente. Em regra, aqui no Brasil, em questões de prova, deve-se considerar o dólar como sendo a moeda estrangeira. Deste modo, se considerarmos o R$ a moeda nacional e o US$ a moeda estrangeira, o correto seria o inverso: elevação da oferta de dólares e redução da taxa de câmbio.

A fim de resolvermos definitivamente a dúvida, buscamos um livro nacional, onde o autor considera o dólar a moeda estrangeira. Veja o trecho de um livro nacional (“Finanças Públicas”, Fernando Rezende, 2ª.edição, página 293):

“O aumento de déficit público pressiona o mercado monetário e eleva a taxa de juros. O diferencial dos juros interno e externo provoca o aumento na entrada de capitais, o que na hipótese de uma taxa de câmbio flexível, leva a sobrevalorização cambial.” (grifos meus)

Veja que, na publicação nacional, há aumento da oferta dólares (aumento na entrada de capitais) e redução da taxa de câmbio (=sobrevalorização cambial da moeda nacional).

Assim, pede-se a anulação da questão.

Gabarito: E (a meu ver, não há resposta)

…………..

55) Uma economia aberta, num determinado período de tempo, registrou variação na renda de equilíbrio na ordem de $ 84.350. Sabendo que a Propensão Marginal a Consumir é 0,7 e a variação na arrecadação de tributos, no mesmo período, registrou queda de $ 48.200, pode-se constatar que a Propensão Marginal a Importar é fixada em:

A) 10,0%
B) 17,5%
C) 30,0%
D) 40,0%
E) 45,0%

Comentários:

Se os tributos caíram $ 48.200 e a renda de equilíbiro caiu $ 84.350, então, o multiplicador da tributação é

84350/48200 = 1,75

Ao mesmo tempo, o multiplicador da tributação (kt) é igual ao multiplicador keynesiano (K) vezes a propensão marginal a consumir:

Kt = c.K
1,75 = 0,7.K
K = 2,5

Se essa economia possui propensão marginal a importar, então, seu a fórmula de seu multiplicador de gastos será:

K = 1 / (1 – c – i + m + ct)   –> (consideramos i=0 e t=0, pois nada foi passado)
2,5 = 1 / (1 – 0,7 + m)
m = 0,1 ou 10%

Gabarito: A

….

Abraços a todos e bons estudos!
Heber Carvalho

Heber Carvalho

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