Aprovado no Concurso Receita Federal
ENTREVISTA – THOMAS JORGENSEN- 1º COLOCADO – AFRFB / 2012
Caros (as) alunos (as),
Hoje é um dia muito especial, no qual tenho a honra de entrevistar Thomas Jorgensen, 1º colocado no concurso de AFRFB / 2012 e aluno do Estratégia Concursos. Ainda não saiu o resultado definitivo, que só teremos depois dos recursos. No entanto, mesmo que os recursos mudem a classificação do Thomas, o que ele fez nesse concurso vai para a história. Sem dúvida alguma, o concurso de Auditor-Fiscal da Receita Federal (2012) foi um dos mais difíceis de todos os tempos. Os aprovados, realmente, são verdadeiros guerreiros que sobreviveram a duras batalhas! Teve gente que até já comparou esse concurso com aquele filme dos “300 de Esparta”! J
O Thomas Jorgensen nasceu na Dinamarca, mas veio para o Brasil com 2 anos de idade. Ele tem apenas 27 anos de idade e mora em Uruguaiana, onde exerce o cargo de Analista Tributário RFB, concurso no qual foi aprovado em 2009.
Ricardo Vale: Thomas, antes de mais nada, quero te dar os parabéns. Ser aprovado nesse concurso de Auditor Fiscal RFB foi uma grande conquista. Você é um vencedor! Mas me diga uma coisa: quando foi que você decidiu que estudaria para a Receita Federal? Esse sempre foi seu sonho?
Thomas Jorgensen: Muito obrigado, professor Ricardo. Eu decidi que iria estudar para a Receita Federal em junho de 2009. Eu fazia mestrado na minha área e não me identifiquei muito com a carreira acadêmica. Passei a estudar para a RFB paralelamente, e consegui ser aprovado para ATRFB em 2009 mesmo. Desde essa aprovação, eu já sabia que iria continuar estudando para AFRFB.
Ricardo Vale: Quais as principais razões que o levaram a estudar para Auditor Fiscal RFB?
Thomas Jorgensen: Olha, o cargo de AFRFB é muito atrativo, pois possibilita o trabalho em inúmeras áreas diferentes. Gosto muito da área aduaneira, que envolve a análise dos processos de importação e exportação. Além disso, com o passar do tempo, existe a possibilidade de conseguir remoção para outros lugares do Brasil. Essa mobilidade com certeza foi um dos principais fatores que me levaram a escolher este cargo.
Ricardo Vale: Você sempre manteve o foco na RFB? Chegou a estudar para outros concursos?
Thomas Jorgensen: Eu sempre estudei para a RFB. Eu sabia que com disciplina, determinação e um horizonte temporal de médio a longo prazo eu teria boas chances de ser aprovado. Não acho produtivo ficar estudando matérias básicas (que caem na maioria das provas) e partir pra cima dos concursos à medida que os diferentes editais vão sendo publicados. Acho que o certo é pegar o último edital de um concurso e estudar ele inteirinho. Se fizer isso, quando o edital novo sair, fica mais fácil abrir mão das matérias “velhas” e se dedicar às novidades.
Ricardo Vale: Como foi a sua experiência de estudar para o concurso de Auditor trabalhando?
Thomas Jorgensen: Olha, foi tranquilo. Eu trabalho em área aduaneira, então a rotina de trabalho é um pouco diferente. Trabalhamos mais horas por dia, mas, em compensação, temos uma folga para cada dia de trabalho. Assim, para cada dia de trabalho, eu tenho um dia inteirinho para estudar. Além disso, acredito que o estudo rende proporcionalmente mais quando se trabalha. Eu costumava estudar 10 horas por dia nas minhas folgas. Com o trabalho intercalando esses dias de estudo, o meu cérebro ganhava um descanso e ficava renovado para o dia seguinte. Quando estudava nas férias, dificilmente conseguia manter o ritmo de 10 horas por mais de três dias consecutivos. A produtividade, inevitavelmente, caía.
Ricardo Vale: Dizem que a experiência como Analista Tributário RFB ajuda na compreensão das matérias do concurso de Auditor, bem como auxilia na dedução de algumas questões da prova. Você concorda com isso?
Thomas Jorgensen: Em alguns casos sim. Como eu trabalhava em área aduaneira, já estava familiarizado com muitos termos, como “despacho aduaneiro”, “desembaraço aduaneiro”, “trânsito de entrada”, entre outros. Isso facilitou muito o estudo de Legislação Aduaneira.
Ricardo Vale: E como era sua rotina de estudos? Quantas horas diárias?
Thomas Jorgensen: Eu exerço o cargo de ATRFB em Uruguaiana. Aqui trabalhamos 14 plantões de 12 horas a cada mês. Para estudar é uma maravilha, pois para cada dia de trabalho eu tinha um dia inteiro para estudar em casa. Assim, a minha rotina consistia em estudar aproximadamente 10 horas líquidas nas folgas. 5 horas no período da manhã (das 08:00 às 13:20, com alguns pequenos intervalos) e 5 horas no período da tarde (das 15:00 às 20:20, com intervalos). Nos dias de trabalho, eu tentava estudar após o serviço, mas era difícil, pois trabalhava 12 horas e chegava em casa morto. Às vezes estudava de 1 a 2 horas, às vezes não conseguia. A prova de AFRFB tem umas 20 matérias (se desmembrarmos o edital, chegaremos a esse número, aproximadamente). Se eu estudar uma por dia, no quarto dia já não lembro de mais nada da primeira (rsrs). Por isso, eu gostava de estudar 5 matérias por dia.
Estudava 2 horas cada uma. Eu fiz uma lista com todas as matérias do concurso e colei na parede. Eu as estudava na sequência, 2 horas cada matéria. Assim, as matérias mais importantes apareciam mais vezes nesta lista (como contabilidade, que aparecia 4 vezes). As menos importantes apareciam apenas uma, como economia e finanças (obviamente, isso foi antes do edital, uma vez que essas matérias saíram). Assim, as que apareciam mais vezes eu intercalava com as outras. Quando chegava ao final da lista, já havia estudado todas as matérias, mas mais horas aquelas mais importantes.
Olha, depois que lia um livro mais pesado de cada matéria, eu partia para cursos que continham teoria e exercícios misturados. Assim, minha revisão consistia em ficar lendo e relendo aquelas aulas. Após a parte de teoria, que nesses cursos costuma estar mais resumida, eu fazia os exercícios referentes ao assunto. Quando acabava o curso, eu o lia novamente.
Quanto aos resumos, isso é muito pessoal. Eu acredito que os resumos são muito importantes, mas eu me sinto agoniado fazendo-os. Sou hiperativo por natureza, então tenho dificuldades para fazer resumos, que geralmente são demorados. Eu prefiro usar a minha Constituição Anotada (de autoria do professor Vítor Cruz) e imprimir leis e encher todos eles de anotações e rabiscos. O importante é “personalizar” os materiais, fazendo coisas com o próprio punho. Isso facilita a memorização. Entretanto, para algumas disciplinas, principalmente aquelas que não têm muitos exercícios para resolver, eu me rendi e fiz os resumos. Fiz resumos para Comércio Internacional e Auditoria, sem contar as inúmeras fórmulas de estatística e análise de balanços que eu escrevia num papel e lia quase todos os dias. Os meus resumos eram feitos à mão mesmo, com lápis e caneta, bem “feio”.
O local de estudo é muito importante. Como eu morava sozinho, sempre estudei em casa mesmo, pois o ambiente estava sempre tranquilo, e sempre sozinho. Não acho produtivo estudar em grupo. Concentro-me melhor quando estou sozinho. Entretanto, acho que depois de estudar uma matéria pode ser interessante levar para algum amigo e tentar sanar eventuais dúvidas.
Ricardo Vale: Você fez cursos presenciais ou estudava apenas por vídeo-aulas e cursos em .pdf?
Thomas Jorgensen: Nunca cheguei a fazer cursos presenciais. Não me agrada o fato de ser possível interrupções com perguntas no meio da aula. Acho que dá mais certo quando são telepresenciais e as dúvidas são concentradas nos minutos finais.
Entretanto, salvo exceções, como o início dos estudos para contabilidade e raciocínio lógico (em sentido amplo, abrangendo estatística, matemática financeira etc…), acredito que quem estuda por livros, aulas em PDF e resolve vários exercícios, adquire um conhecimento muito mais sólido do que uma pessoa que apenas assiste a vídeo-aulas. Por isso, na minha preparação, predominaram os estudos por livros e aulas em PDF. A consolidação do conteúdo se tornou ainda mais importante com as discursivas. Marcar o “X” na letra correta não é mais suficiente.
Ricardo Vale: Ao estudar por cursos em .pdf, você imprimia ou lia tudo na tela do computador?
Thomas Jorgensen: Imprimia ABSOLUTAMENTE TUDO. Eu sei que a natureza não agradece, mas eu preciso imprimir, sublinhar, rabiscar, puxar setas e etc… Enfim, preciso personalizar os materiais…
Ricardo Vale: Você acha importante ter uma estratégia para fazer as provas?
Thomas Jorgensen: Com certeza! Eu defendo a tese de que o estudo tem que ser planejado e a médio/longo prazo. Não se pode ter pressa. Temos que respeitar esse horizonte temporal e aprender as coisas com calma. Isso torna tudo muito mais fácil. Aprender 20 matérias em 6 meses é muito mais sofrido. Como são muitas coisas para decorar, esse prazo é essencial para que o cérebro consiga digerir e assimilar essas informações com naturalidade. As pessoas costumam querer resolver tudo muito rápido e muitas acabam encontrando dificuldades.
Ricardo Vale: Você tinha mais dificuldades em alguma disciplina?
Thomas Jorgensen: Olha, eu não acredito nisso. Sempre tem um professor com uma didática que facilita as coisas para o nosso lado. Já ouvi muitas pessoas dizerem algo do tipo: “Ah, não estudo para a RFB porque tem contabilidade e estatística, e eu tenho um bloqueio mental contra essas matérias.” Na maior parte dos casos, essas pessoas não persistiram no aprendizado, ou sequer tentaram. Uma pena, pois iriam ter uma surpresa agradável.
Ricardo Vale: Como foi seu estudo para a prova discursiva?
Thomas Jorgensen: Como eu sabia que o meu horizonte temporal seria confortável (algo em torno de 1,5 anos) eu estudei para as discursivas ao mesmo tempo em que estudava para as objetivas. Isso facilitou bastante as coisas, de modo que quando o edital saiu eu já havia feito várias redações. O mais importante é tentar entender como se dá a correção das provas. No colégio, nós tentávamos fazer redações enfeitadas com palavras difíceis para impressionar a professora (rsrs). Para concursos públicos é exatamente o oposto. Pense em uma pessoa que está sentada em uma cadeira às 17:15, louca para ir pra casa, corrigindo a centésima redação do dia. Tudo que ela quer é uma redação simples, objetiva e que responda a todos os tópicos perguntados. Devemos estudar bastante a tabela fornecida pelo edital para entendermos quantos pontos são tirados para os mais variados erros cometidos.
Ricardo Vale: O que você aconselharia a alguém que vá iniciar hoje seus estudos para a Receita Federal?
Thomas Jorgensen: Olha, acho importante fazer as coisas com calma. Como disse antes, estabeleça um horizonte temporal confortável, para fazer as coisas com profissionalismo. Se informe em sites especializados sobre os materiais adequados e sobre as técnicas de estudo mais utilizadas e veja o que é mais adequado para a sua pessoa.
Ricardo Vale: Acho essa pergunta dificílima para um 1º colocado! Mas se você tivesse que apontar algum erro na sua preparação, qual seria? Por outro lado, quais você acha que foram seus maiores acertos?
Thomas Jorgensen: Acho que um dos erros que cometi foi começar a estudar sem me informar antes. Adquiri materiais de péssima qualidade e perdi bastante tempo com isso. Meu maior acerto foi a disciplina. Eu acreditava que estava batalhando por um bom motivo. Para mim, é tudo uma questão de matemática: sacrificar 1,5 anos para ganhar 80 anos de tranquilidade.
Ricardo Vale: Você parece ser um cara bem “descolado”, Thomas! Durante sua preparação, você ficou somente estudando ou tinha tempo para curtir um pouco a vida? Fazia atividades físicas?
Thomas Jorgensen: Olha, acho que posso dizer que nos primeiros 6 meses eu estudava rotineiramente, mas não deixava de sair nos fins de semana. Nos 6 meses seguintes, eu diminuí bastante as saídas noturnas, uma vez que a bebida prejudicava os estudos nos dias posteriores. Nos últimos 6 meses, mandei minha mãe me ligar menos (rsrs). Foi o momento de abrir mão de tudo e focar totalmente nos estudos.
Quanto às atividades físicas, considero muito importante fazer exercícios ao menos 3 vezes por semana. Depois que saiu o edital, eu acabei abandonando as atividades físicas para tentar dar conta das matérias novas. Com certeza esse foi um dos meus maiores arrependimentos, já que nas últimas duas semanas o rendimento dos meus estudos foi por água abaixo. Mesmo “perdendo” essas horas de estudo com a prática de exercícios, acabamos compensando com o ganho de resistência.
Ricardo Vale: Mudando completamente de assunto, agora que você já é quase um Auditor-Fiscal RFB, quais são seus planos para o futuro?
Thomas Jorgensen: Acho que agora é o momento de descansar um pouco e, na sequência, me dedicar às atribuições do novo cargo. O ingresso em uma nova carreira sempre é repleto de novidades e desafios, o que exige uma certa dose de adaptação também.
Ricardo Vale: Meu amigo Thomas, deixe uma mensagem para nossos colegas que sonham um dia chegar onde você chegou! Pode até ser uma frase, uma música, algo marcante e que te inspirou durante a preparação! Tem algum agradecimento especial a fazer?
Thomas Jorgensen: Amigos, se decidirem estudar para concursos façam um bom planejamento, e confiem na determinação de vocês. Tentem resistir às tentações imediatas porque o resultado é compensador. Gostaria de agradecer a todos que me apoiaram, principalmente minha família e meus amigos de Florianópolis que entenderam a minha ausência.